Intervenção de Felipe Pérez Roque, ministro das Relações Exteriores de Cuba, na mesa redonda informativa, efectuada nos estúdios da Televisão Cubana, no dia 20 de Novembro de 2000.

Penso que a informação que seguidamente vou vos transmitir reveste-se de grande importância para o nosso povo.

Devo começar por dizer-vos que de Junho a Outubro de 2000, a Direcção Geral da Inteligência do nosso país foi obtendo várias informações acerca da organização e dos preparativos de um plano de atentado contra o
Comandante-em-Chefe, concebido e financiado pela Fundação Nacional Cubano Americana e cuja execução estaria a cargo do terrorista Luis Posada Carriles e outros contra-revolucionários sediados em Miami e na América Central.

Este foi o ponto de partida de um profundo trabalho de compilação e análise de informação. Foram-se tomando as medidas pertinentes até à véspera da partida da delegação cubana para a Cimeira no Panamá. Desde o princípio que o companheiro Fidel decidiu assistir à Cimeira quaisquer que fossem os planos do inimigo, denunciá-los abertamente e confrontá-los com a opinião pública e com as leis internacionais pelos seus monstruosos crimes e os repetidos planos de atentado contra ele em cada uma das cimeiras ibero-americanas. A mafia cubano-americana subestimava o povo e as autoridades panamenses. Pensavam que lá tudo seria fácil.

Passo então a relatar os dados cronológicos descrevendo como todo este processo se passou.

16-17 de Novembro

Entre a 1:00 h e as 3:00 hrs da madrugada, reunião do companheiro Fidel com o Chefe da Direcção da Inteligência cubana, general Eduardo Delgado e com o general Humberto Francis, Chefe da Direcção Geral de Segurança Pessoal. Questão fundamental nessa reunião: Se Posada Carriles ainda estava no Panamá. Sabia-se que estava lá desde o dia 5 de Novembro. Antes da partida, a preocupação fundamental era que, segundo o hábito inveterado deste personagem, ele deixasse o atentado organizado e saísse do país. A essa hora da madrugada de 17 de Novembro confirmou-se a sua presença na cidade de Panamá.

Das instruções recebidas e distribuídas pelo companheiro Fidel fazia parte a de eu enviar nessa mesma madrugada um telegrama ao Embaixador cubano no Panamá para que convocasse os principais órgãos de imprensa nacional e internacional, para as 15:00 hrs do dia da chegada, no hotel onde se hospedaria a delegação.

Tenho aqui a cópia do telegrama que enviamos a Zamora, embaixador de Cuba no Panamá, e que passo a ler:

Zamora:

Deves coordenar juntamente com Ponce e com os companheiros de Francis - gente nossa que tinha ido à frente - o seguinte:

Primeiro, preparar no hotel onde se hospeda o Comandante uma sala que permita a realização de um encontro com aproximadamente 30 jornalistas da imprensa nacional e internacional.

Segundo, esse encontro realizar-se-á às 15:00 de sexta-feira 17. Consistirá na leitura de uma declaração perante a imprensa.

Terceiro, deves seleccionar e enviar-me a lista dos 30 órgãos de imprensa que devem ser seleccionados de acordo com a sua importância e seriedade; serão aproximadamente10 orgãos locais do Panamá e 20 internacionais, da televisão, rádio, agências de imprensa e jornais. Distribuiremos cópia da declaração no final.

Espero com urgência a proposta dos 30 órgãos de imprensa que serão convidados.

Saudações,

Felipe.

Segundo instruções do companheiro Fidel, envia-se esta comunicação para o nosso Embaixador de madrugada e antes de nos retirar verificamos que se estava a trabalhar no cumprimento desta indicação.

Decisão no plano concebido e preparado e contida nas instruções dadas pelo companheiro Fidel: que assim que chegasse ao Panamá, o que aconteceu às 11:15 da manhã, o Chefe da nossa Segurança Pessoal se comunicasse com o Coronel Carlos Rodríguez, que tinha ido quatro dias antes, no domingo 12, para examinar a informação existente e a localização dos terroristas, em especial a referente à presença e localização de Posada Carriles. Essa foi a decisão prévia, horas antes da partida da nossa delegação.

Dia 17 de Novembro

11:20 da manhã: a nossa delegação chega ao Panamá. Recepção pela presidente da República, Mireya Moscoso, sob chuva. Breves palavras à imprensa nas quais o companheiro Fidel saúda o povo panamense e anuncia que mais tarde fará uma declaração pública. Essas imagens foram vistas pelo nosso povo.

12:40 da tarde: chegada ao hotel Caesar Park onde se hospedaria a nossa e a maioria das delegações participantes.

12:50 da tarde: 10 minutos após a chegada ao hotel realiza-se uma reunião entre o companheiro Fidel, o Chefe da nossa Segurança Pessoal e o Coronel Carlos Rodríguez, que tinha ido para lá previamente como já referi. Comprovação exacta da presença de Posada Carriles e demais terroristas. Actividades realizadas até esse momento. Selecção dos dados exactos para entregar ao secretário executivo do Conselho de Segurança Pública e Defesa Nacional, ao chefe do Serviço de Protecção Institucional e ao chefe da Polícia de Panamá, que esperavam por uma reunião com os nossos companheiros que tinha sido previamente solicitada para o início da tarde.

13:30: isto é, uns minutos depois de concluída esta reunião com o companheiro Fidel, o general Francis e o coronel Carlos Rodríguez entregam a informação pertinente aos chefes panamenses, confiando totalmente na seriedade e profissionalidade dos ditos chefes, o que os nossos companheiros tinham podido apreciar durante os contactos que tiveram com eles durante o período de preparação da visita. Entrega-se-lhes o documento que contém a documentação referida. Solicita-se-lhes que actuem em relação a este assunto com a maior rapidez possível pois hora e meia mais tarde a delegação cubana comunicaria às imprensas nacionais e internacionais a declaração anunciada no aeroporto pelo companheiro Fidel.

Seguidamente referirei nomes, dados e localização de pessoas envolvidas no plano de atentado que foram entregues a estes três chefes panamenses. Tenho aqui uma cópia do material entregue. Penso que é muito importante que o nosso povo tenha exacto conhecimento do conteúdo deste material, que não tinha sido divulgado até agora.

Luis Faustino Clemente Posada Carriles. De 72 anos de idade. Mede 1, 90 m. Tem pele branca, olhos verdes, cabelo grisalho. Possui cicatrizes no rosto. Apresenta dificuldades na fala. Nasceu em Cuba.

Reside no aparthotel Coral Suites, na avenida Primeira A norte, entre Segunda A norte e rua 49B oeste, El Cangrejo, Cidade de Panamá. Quarto nº 310.

Para comunicar utiliza o telefone celular com o nº 620-4335.

Desloca-se num carro de marca Mitsubishi, modelo Lancer, de côr vermelha. Como motorista utiliza um jovem panamense negro de nome Pepe Hurtado, homem de confiança de César Andrés Matamoros Chacón.

Utiliza, entre outras, as seguintes identidades: Ramón Medina, Ignacio Medina, Juan Ramón Medina, Ramón Medina Rodríguez, José Ramón Medina, Rivas López, Juan José Rivas, Juan José Rivas López e Julio César Dumas.

Tem muitos antecedentes como terrorista. É o principal autor e organizador do plano de atentado contra o presidente cubano planificado para ser executado durante a X Cimeira Ibero-americana.

Pedro Remón Rodríguez. De 55 anos de idade, apesar de aparentar ter cerca de 40. Mede 1,80 m. Tem pele branca, olhos castanhos, cabelo castanho e uma constituição forte. Nasceu em Cuba. Tem cidadania norte-americana.

Reside em 170099 NW 98 Avenida Hialeah Gardens, Florida, Estados Unidos. Caixa postal: 52-0865 Miami, Florida. Telefone de casa nº 412-6330, do trabalho nº 825-2501 e fax nº 825-9088.

Mantém-se envolvido em planos terroristas contra Cuba. Mantém vínculos com Luis Posada Carriles. Encontra-se desde o início envolvido no plano de atentado contra o Presidente cubano, sendo um dos principais organizadores e possivelmente um dos executores da acção.

Antonio Iglesias Pons, conhecido por "Tony". De 65 anos de idade. Mede 1,69 m. De constituição normal. tem pele branca, olhos claros, grisalho, com uma calvície acentuada. Cubano, residente nos Estados Unidos. Tem cidadania norte-americana.

Mantém vínculos com Luis Posada Carriles. Foi utilizado como correio para levar dinheiro que utilizariam na organização do plano de atentado contra o Presidente cubano Fidel Castro. Participou na aquisição do armamento.

É possível que não participe pois há alguns dias sofreu um acidente cérebro-vascular.

Santiago Alvarez Fernández Magriña. Tem 61 anos de idade. Mede 1,84 m. Tem pele branca, olhos castanhos, cabelo castanho com uma ligeira calvície. Nasceu em Cuba. Tem cidadania norte-americana.

Reside em 1005 Belle Meade Island Drive, Miami, Florida. Telefone celular nº 588-4884; do escritório nº 821-3241; telefone de casa 756-6115.

Desempenhou um papel importante na organização do plano. Estava prevista a sua participação na sua execução.

César Andrés Matamoros Chácon. De 63 anos de idade. Mede 1,74 m. Tem pele branca, corpulento. Cabelo grisalho e olhos castanhos. É peludo. Tem bigode e usa óculos. Nasceu em Cuba.

Reside na esquina 140 oeste e beco sem nome, no andar de cima de uma casa de dois pisos, Cidade de Panamá. É proprietário de uma fábrica de barcos de nome Acuarius Flexifoam, S.A. situada na Avenida Domingo Díaz (Tumbamuerto), esquina com rua 140 oeste sem número, em frente à empresa Cochez y Cia, Bairro Pedregal. Telefax do trabalho nº 266-8797 e telefone nº 220-0324. Número de telefone celular nº 620-5559. Está a construir um motel na praia Gorgona e perto tem um negócio que vende peixe frito e banana frita. Tem alugada uma casa na referida praia.

Para se chegar ao referido hotel vai-se pela estrada Pan-americana em direcção à Costa Rica. Ao chegar ao sinal que indica a entrada para Gorgona, dirigir-se por esse caminho até um letreiro que diz Gorgona Hyatt. Tomar o caminho que vai para a direita até ao fim.

Matamoros tem um Nissan Centra, de côr verde metálico de 1992, com vidros escuros, um jeep Cheroke branco de 1988 e uma "pick-up" Ford de côr castanho de 1980.

Mantém vínculos com Luis Posada Carriles, é um dos seus principais apoios no Panamá para a execução do plano e lhe proporcionou um carro com motorista.

Roberto Carrillo. Tem cerca de 60 anos de idade. Mede 1,75 m aproximadamente. É forte, tem pele branca, olhos castanhos, cabelo grisalho. Nasceu em Cuba. É cidadão panamense.

Reside na rua Mitre de Saint Malo, casa nº 7, Bairro Altos del Doral, Cidade o Panamá. Telefone de casa nº 230-3180; telefone celular nº 618-4490 e 621-4771. Utiliza um jeep 4 x 4 Ford Explorer branco com matrícula 138505. Trabalha na empresa Casamar, situada no final da rua Lewis entre a rua Diablo, a Avenida Gaillard e a rua Puerto, Balboa.

A esposa chama-se Iris e trabalha na fábrica Decofierros, situada na Avenida La Pulida, entre a rua 91 leste e a rua 93 leste, Bairro Altos del Río, Distrito Río Abajo. Telefones: 221-7959 e 221-8044. Utiliza uma caminhonete "pick up" branca.

Mantém vínculos com Luis Posada Carriles e é um dos seus apoios principais no Panamá para a execução do plano. Ocasionalmente guardou armas e explosivos na sua casa para os planos de Posada Carriles.

Carlos Vicente López Sánchez, conhecido por Chente. É hondurenho. Idade entre os 30 e os 35 anos de idade. É magro e tem uma deficiência no olho direito, usa óculos pequenos.

Reside em Barrios Cavanna nº 1337, rua 14 Sudoeste, San Pedro Sula, Honduras. Telefone nº 554-1500. Telefone celular nº 981-4976.

Mantém vínculos com Luis Posada Carriles e é utilizado por este em tarefas relacionadas com o plano.

José Hurtado, conhecido por Pepe Hurtado. É jovem de raça negra. Panamenho.

Conduz o carro Mitsubishi modelo Lancer vermelho que Luis Posada Carriles utiliza quando se encontra no Panamá.

É homem de confiança de César Andrés Matamoros Chacón que mantém vínculos estreitos com Posada Carriles e é um dos seus apoiantes nesse país.

Essa foi a informação que os oficiais da Segurança cubana entregaram aos chefes da Segurança panamense imediatamente após a conclusão da reunião que tiveram com o companheiro Fidel.

É preciso referir que durante todo o período que antecedeu a chegada da delegação, o grupo avançado cubano discutiu todas as questões fundamentais relativas à segurança da delegação com as pessoas designadas pelo Governo do Panamá.

Altos funcionários do Governo queixaram-se, através de declarações, de que o companheiro Fidel não comunicou à presidente Mireya Moscoso o tema do plano do atentado ao chegar ao aeroporto. Isso teria sido absurdo, desnecessário e impossível. A Presidente tinha estado a receber as delegações desde a tarde anterior até madrugada adentro sem nenhuma pausa até esse dia às 16:00. Tal como fizeram os das demais delegações, os nossos representantes da Segurança abordavam tais temas com os oficiais designados por ela e da sua obsoluta confiança. Teria sido ridículo abordar este tema com ela no aeroporto.

Depois das 15:00 hrs: 10 minutos depois da hora prevista - houve um atraso devido a dificuldades na instalação sonora no salão do hotel onde se encontrava a imprensa que tinhamos convocado -, foi então divulgada a declaração com a denúncia e levou-se a cabo a conferência de imprensa pelo companheiro Fidel, que terminou às 15:50 hrs.

16:00 hrs: Terminada a conferência de imprensa e realizada a denúncia perante a imprensa nacional e internacional, saímos imediatamente, acompanhando o companheiro Fidel, rumo à igreja San Pablo Apóstol, onde num nicho jazem os restos mortais do general Omar Torrijos.

16:15 hrs: Quinze minutos após a saída do hotel, chegamos à igreja onde um grande número de pessoas se tinha reunido espontaneamente. Essas imagens também puderam ser vistas.

16:30 hrs: Concluída a homenagem a Torrijos, homenagem íntima do companheiro Fidel na cripta onde de forma modesta se encontram os seus restos, o Comandante-em-Chefe fala para as pessoas que se congregaram no átrio da igreja, havendo também uma multidão do lado de fora que não pode entrar. Isto aconteceu às 16:30 hrs, o Comandante está a falar com aquele público entusiasta e solidário que, ao saber que Fidel estava ali, tinha enchido a igreja.

16:35 hrs: Cinco minutos depois do companheiro Fidel ter começado a falar, o Chefe da Segurança Pessoal cubana, o general Francis, recebe a notícia de que Posada Carriles tinha sido preso. Pede que a notícia seja confirmada. Minutos depois, a informação é-lhe confirmada, Posada Carriles foi efectivamente preso. Eu estou de pé junto do companheiro Fidel quando ele me comunica essa informação.

16:43 hrs: Enquanto o Comandante falava para as pessoas que estavam reunidas na igreja, mostro-lhe a notícia para que ele tome conhecimento, tinha acabado de chegar uma nota. Pareceu-me impossível demorar a entrega da informação mas ele estava a falar e por isso esperei pelo momento em que os aplausos da multidão o interromperam e, no desdobrável com o programa das actividades que tinha no bolso, que era o único papel que tinha à mão, tirei a caneta do bolso e escrevi o seguinte bilhete: "Já apanharam Posada ", e a coloquei diante do companheiro Fidel enquanto o aplaudiam; ele não estava a falar porque as pessoas estavam a aplaudir, faz uma pausa, interrompe o discurso, lê o bilhete e diz ao público que "tinha recebido uma excelente notícia" - como anotei aqui - "que queria partilhar com os presentes" - anotei o que ele disse nesse momento -, "mas não quer desviar a atenção do tema sobre o qual ele gostaria de falar nessa ocasião. Que mais tarde, quando se desse a conhecer, todos entenderiam a sua importância".

Penso que o nosso povo deve compreender o que sentimos todos nesse momento quando tomamos conhecimento dessa notícia, pensamos nos familiares dos companheiros assassinados no avião de Barbados, de tantas famílias enlutadas pela acção terrorista e no pai do jovem di Celmo. A nossa mente nesse momento exultava pensando que tinha sido preso o autor e o responsável confesso destes crimes horrendos.

Os responsáveis panamenses da Segurança tinham actuado com tanta eficiência que entre as 14:15 hrs, hora a que tinha terminado a reunião com eles, e as 16:30 hrs, isto é, em duas horas e 15 minutos tinham capturado os principais responsáveis pelo atentado.

Oito dias antes, a 9 de Novembro, o grupo avançado cubano, na Cidade de Panamá, tinha entregue a Ramiro Jarvis, a conexão dos órgãos de Segurança panamenses com os serviços de inteligência cubana para efeitos dos preparativos da Cimeira, uma lista de 55 terroristas residentes nos Estados Unidos e América Central, potenciais participantes no plano de atentado que realizaria Posada Carriles seguindo instruções da Fundação Nacional Cubano Americana. Nessa lista entregue a 9 de Novembro estavam os nomes de Guillermo Novo Sampoll e Gaspar Jiménez Escobedo que - como já foi referido -, foram capturados juntamente com Posada Carriles. Esta é uma cópia do material entregue a 9 de Novembro às autoridades panamenses, com os nomes e os dados de 55 terroristas residentes nos Estados Unidos e América Central que poderiam eventualmente participar. Nele estão Gaspar Jiménez Escobedo e Guillermo Novo Sampoll. Aparecem nesta lista que tinha sido entregue previamente à conexão da Segurança Panamenha com os nossos companheiros da Segurança.

Durante a noite do mesmo dia 17 - o dia da Cimeira - e na manhã de 18 de Novembro, ocorre a detenção dos cúmplices de origem cubana, cujas fichas li aqui: César Andrés Matamoros Chacón e Roberto Carrillo, residentes no Panamá, e ocorre também a detenção do panamense José Hurtado, o tal Pepe Hurtado, que servia de motorista de Posada Carriles nesse país.

No dia 18 de Novembro trabalha-se intensamente nas actividades da Cimeira. O nosso povo pode acompanhar pela televisão o programa de actividades que cumpriu a delegação e a sua participação nos debates. A noite fomos à Universidade onde os estudantes nos esperavam, que ofereceram a Fidel o acolhimento, lá fora e no salão nobre, que o nosso povo pôde ver pela televisão. Segundo instruções do Comandante - em - Chefe, começamos ali mesmo a tratar de localizar o Chanceler panamense para entregar-lhe nessa mesma noite do dia 18 a nossa Nota Diplomática, relacionada com a extradição para Cuba dos terroristas de origem cubana capturados no Panamá, para serem julgados no nosso país, expondo nessa Nota as razões legais e exigindo que não fossem libertados sob condição alguma. Não podiam ser deixados em liberdade porque, como é óbvio, era necessário esperar pela realização de todos os trâmites pertinentes, e devido à gravidade dos crimes cometidos contra o nosso país que custaram numerosas víctimas.

Tenho aqui uma cópia da carta que entreguei aproximadamente às 23:00 hrs do mesmo dia 18, enquanto decorria o acto no salão nobre da Universidade, ao Vice-ministro das Relações Exteriores panamense - que estava à frente dos trabalhos da Chancelaria, porque nesse momento o Chanceler panamense não estava localizável. Entregamos-lhe a Nota datada de 18 de Novembro:

"O Ministro das Relações Exteriores da República de Cuba, saúda atentamente…" Aqui explicamos e exigimos, e com isto começam os trâmites da extradição oficial destes terroristas para serem julgados pela justiça cubana. Essa Nota é entregue na noite anterior à nossa partida para Cuba.

Devo referir mais dois elementos:

O primeiro: Hoje de manhã falei por telefone com o chanceler do Panamá, o senhor José Miguel Alemán, reiterando-lhe o conteúdo da Nota diplomática entregue na noite de sábado e também o nosso pedido de manter estes terroristas presos como primeiro passo no processo de extradição para Cuba que solicitamos e cuja informação adicional entregaremos nos limites do prazo requerido. Esta é uma das questões.

A segunda questão: Agora está em curso a entrega de uma Nota diplomática da Chancelaria cubana, outra nota nova para o Ministro das Relações Exteriores da República do Panamá, que a nossa Embaixada no Panamá está a entregar, na qual solicita que, relativamente à Nota que entregamos a 18 de Novembro, transmita ao governo panamense os seguintes factos:

Qual é a questão? Na Nota que entregamos no sábado à noite aparece o nome de Luis Posada Carriles, Guillermo Novo Sampoll, Pedro Remón Rodríguez e aparece o nome de Manuel Díaz, que era o nome que nesse momento se conhecia como o possível nome de um dos terroristas; mas nesta Nota dizemos o seguinte:

Pudemos determinar que a pessoa que aparece na Nota mencionada com o nome de Manuel Díaz, corresponde na realidade ao conhecido terrorista de origem cubana Gaspar Eugenio Jiménez Escobedo - como o companheiro Taladrid já explicou -, com o seguinte historial de delitos:

Esta pessoa, isto é, Gaspar Jiménez Escobedo, também já foi processada pela Procuradoria Geral da República de Cuba, na Instrucção Fiscal nº 1/2000, pelo delito de terrorismo e atentado denunciado pelo Presidente da Delegação cubana à Décima Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Ibero-americana e é uma das principais conexões deste grupo com a Fundação Nacional Cubano Americana.

Tendo em conta tudo isto, o Governo da República de Cuba espera que o Governo do Panamá tome as medidas conducentes a evitar que Gaspar Eugenio Jiménez Escobedo, bem como Guillermo Novo Sampoll e Pedro Remón Rodriguéz e outros implicados nos actos de delito denunciados no passado 17 de Novembro pelo Chefe de Estado e do Governo da República de Cuba, Fidel Castro Ruz, possam escapar à acção da justiça.

A documentação comprovativa dos actos criminosos cometidos pelas pessoas acima referidas apresentar-se-á dentro do prazo estabelecido às autoridades da República do Panamá.

O Ministro das Relações Exteriores da República de Cuba aproveita a ocasião para reiterar ao honorável Ministro das Relações Exteriores da República do Panamá o testemunho da sua mais elevada consideração.

Datada de 20 de Novembro de 2000, e Nota diplomática que está a ser entregue.

Quero finalmente expressar ao nosso povo, em especial ao companheiro Justino di Celmo aqui presente conosco, aos familiares dos nossos companheiros assassinados no avião de Barbados, aos órfãos, às viúvas, aos pais que perderam os seus filhos na flôr da idade; aos familiares do diplomata cubano Félix Garcia, assassinado por um comando do qual fez parte um dos que está preso, nas Nações Unidas nos anos 70; aos familiares do companheiro Artagñán Díaz, assassinado no México, e a todos os familiares, vizinhos e companheiros dos nossos companheiros que foram assassinados à traição, não de frente nem no campo das batalhas, mas sim em planos manhosos mediante o uso de explosivos, mediante a utilização do ataque à traição; a todos, em nome do nosso governo, quero expressar a certeza de que o governo de Cuba, com o apoio do nosso povo e da opinião pública internacional, demandará justiça, fará tudo o que for necessário para impedir que estes terroristas, que foram finalmente presos, escapem de novo.

A diplomacia cubana, as autoridades judiciais do nosso país, a direcção da Revolução liderada pelo companheiro Fidel, conhecem bem o sofrimento de muitas famílias cubanas que têm todo o direito a que seja feita justiça pelo assassinato dos seus entes queridos.

Acho que depois de terem conhecimento de toda esta informação, o povo panamense, as suas autoridades, os seus chefes da segurança que actuaram tão diligente e profissionalmente, compreenderão bem a expectativa e o interesse com que o nosso povo acompanha toda esta situação.

Os familiares exigem justiça. A comunidade internacional reconhece que existem todas as provas para julgar estes assassinos de pessoas civis inocentes.

Nós não podemos devolver ao companheiro Justino a vida do seu filho, nós não podemos devolver aos nossos companheiros os seus familiares assassinados. Nós podemos oferecer-lhes solidariedade, podemos mais uma vez deixar bem claro que todos nós, o nosso povo é a sua família desde esse momento. O companheiro Justino tem em cada um de nós um filho; e sim podemos garantir que não haverá forma humana possível que possa impedir que continuemos a exigir até que seja feita a justiça necessária neste caso.