Tribuna aberta da juventude e dos estudantes na mesa redonda informativa sobre a manipulação da Comissão de Direitos Humanos em Genebra e as últimas informações sobre o menino seqüestrado nos Estados Unidos, Elián González. 21 de Abril de 2000.

 

(Versões Taquigráficas - Conselho de Estado)

 

Carmen R. Báez.- Prezados telespectadores, a tribuna aberta da juventude e dos estudantes prossegue em mesa redonda desde os estudos do Instituto Cubano de Rádio e Televisão, nesta batalha anti-imperialista que viemos travando, desde há já quase cinco mêses, pela libertação do nosso menino Elián González Brotons; uma batalha anti-imperialista pela dignidade e a verdade.

Permitam-me lhes apresentar aos painelistas que estarão conosco no dia de hoje.

Acompanha-nos Reynaldo Taladrid, jornalista da Televisão Cubana, que tem estado compartilhando conosco durante estas mesas redondas, tanto como paneilista, bem como ajudándo-nos a entrevistar a personalidades em todo o mundo; a jornalista do jornal "Granma", Nidia Díaz; o companheiro Arsenio Rodríguez, tambén jornalista de "Granma"; o companheiro Lázaro Barredo, jornalista do jornal "Trabajadores"; Eduardo Dimas, jornalista da Televisão Cubana; a companheira Marina Menéndez, jornalista do jornal "Juventud Rebelde"; ao seu lado está Rogelio Polanco, diretor desse diário; e também incorpora-se conosco nesta mesa redonda o companheiro Pedro de la Hoz, jornalista do jornal "Granma".

Antes de começarmos a nossa mesa redonda, eu queria oferecer-lhes desculpas em nome do Instituto Cubano de Rádio e Televisão, bem como em nome dos nossos painelistas aos nossos telespectadores mais jovens, aos meninos e adolescentes, porque durante esta semana nossas mesas redondas tem-se extendido um bocado no tempo. A importância dos temas que temos abordado, tanto o vinculado com Elián quanto a situação do voto na Comissão de Direitos Humanos em Genebra, fizeram com que a programação infantil e para os jóvens fosse afetada.

O Instituto Cubano de Rádio e Televisão esforça-se para reajustar os seus horários habituais durante o fim de semana e poder reforçar essa programação.

Contudo, achamos que a batalha que estamos desenvolvendo por o menino, que é símbolo também de todos os meninos cubanos e os elementos que estamos oferecendo a nossa população sobre o que aconteceu em Genebra é muito importante para o nosso povo.

Por isso, lhes proponho começar falando, para que possam estar à par disso, sobre qual tem sido a repercussão na República Tcheca da marcha desenvolvida pelo nosso povo e a indignação provocada nele pela moção apresentada pelo governo da República Tcheca na Comissão de Direitos Humanos em Genebra.

Permitam-me lhes leer trechos de uma informação datada em 21 de abril pela agência cabográfica EFE, que diz:

"O primeiro-ministro tcheco, o social-democrata Milos Zeman, afirma ironicamente que aprecia tanto ao senhor Fidel Castro como ao Augusto Pinochet, ao reacionar, numa entrevista que foi publicada hoje no diário "Pravo", perante as críticas dos representantes cubanos dirigidas contra a República Tcheca.

"Acho que o senhor Castro não é um intelectual e por isso é inútil comentar suas expressões contra um intelectual como é Václav Havel (o presidente tcheco), acrescentou Zeman, ao referir-se às declarações dos representantes cubanos no que diz respeito a que o Presidente tcheco é um contra-revolucionário profissional e que os Estados Unidos fizeram dele uma lenda para que chegasse ao poder.

"O Primeiro Ministro tcheco disse que gostaria dum melhoramento das relações bilaterais, mas não ao preço de servir a ditadores, bem seja de direita ou esquerda.

"Julgo, que agora que somos um país livre e democrático, temos a obrigação de pagar também essa dívida com respeito a Cuba, concluiu o Primeiro Ministro tcheco", e refere-se, evidentemente, a uma dívida por ter sido um país socialista e nós ter o sistema que eles tinham anteriormente.

"O Ministério das Relações Exteriores tcheco rejeitou as acusações cubanas e através do seu porta-voz, Ales Pospisil, indicou que os diplomáticos tchecos em Havana não desenvolvem nenhum tipo de atividade anticubana.

"Acrescentou que a República Tcheca esforça-se por elevar o estatuto diplomático da sua delegação para que ambas as nações tenham relações a nível de embaixador e não como agora a nível de encarregado de negócios."

Parece que, o Primeiro Ministro tcheco deseja que lhe mostremos as fotos e vídeos de tudo o falado na anterior mesa redonda, mas na verdade achamos, como se diz popularmente que não é preciso matar passarinhos com disparos de canhão.

Por isso, se já nesta altura eles têm feito o maior ridículo, vale mais não fazer-lhes caso e julgo melhor dar leitura à mensagem que nos foi enviado pela Sociedade de Amizade Tcheco-Cuba em protesto pela atitude do governo da República Tcheca.

Diz assim:

"A Sociedade de Amizade Tcheco-Cubana protesta contra a decisão do governo da República Tcheca de apresentar também neste ano na Comissão da ONU para os Direitos Humanos a Resolução que condena a violação dos direitos humanos em Cuba. Julgamos o dia em que, sob uma evidente pressão, foi aprovada em Genebra, o dia de vergonha da diplomacia tcheca. Como um lacaio obediente, a República Tcheca assumiu o poder que tinham rejeitado anteriormente todos os Estados do Hemisfério Ocidental, isto é, os vizinhos diretos ou próximos de Cuba. Nem sequer os Estados Unidos, que podem ser considerados os verdadeiros autores da Resolução, tiveram o valor moral para pedirem a condena duma nação contra a qual têm estado praticando o bloqueio ilegal, que tem-se tornado durante 40 anos, num genocídio.

"Nossa sociedade, de acordo com os seus estatutos, promove o alargamento dos vínculos de amizade entre os povos da República Tcheca e da República de Cuba em todas as esferas da vida da sociedade de ambos os países. Levando em conta a longa tradição de relações econômicas, culturais, técnico-científicas e esportivas, consideramos incompreensível e inaceitável que o governo da República Tcheca esteja fazendo todos os possíveis para quebrar essas relações. Essa política representa um bofetão não só no rosto dos orgulhosos patriotas cubanos que durante dezenas de anos têm expressado sua gratitude ao nosso país e a nossa nação pela ajuda desinteressada oferecida no período de crise depois da Revolução, senão também aos patriotas da América Latina toda e dos países do mundo que apreciam o heroísmo do povo cubano e pedem que seja respeitado seu direito à autodeterminação e à verdadeira independência.

"Compreendemos plenamente a justa indignação do povo cubano exprimida pela manifestação de 100 000 pessoas perante a nossa Embaixada em Havana. Estamos decididos a continuar lutando ainda nestas condições, utilizando todas as vias possíveis para restabelecer a confiança do povo cubano respeito ao povo do nosso país e demonstrar que a traição é totalmente alheia à maioria absoluta da nossa nação."

Acho que com esto está-se respondendo um bocado a opinião do próprio Primeiro Ministro da República Tcheca.

Por aquí temos a declaração do Comitê Central do Partido Comunista de Tchecoslováquia ao respeito da vergonhosa Resolução sobre os chamados direitos humanos, apresentada pela República Tcheca e a Polônia em Genebra o dia 18 de Abril de 2000.

Diz asim:

"O Partido Comunista de Tchecoslováquia, junto dos cidadãos tcheco-eslovácos honestos, condenam de forma dura e afastam-se totalmente do ato anticubano (em forma duma Resolução sobre os direitos humanos em Cuba) que, promovido pela diplomacia tcheca constituiu um abuso da organização da ONU em Genebra o día 18 de Abril de 2000. O Partido Comunista de Tcheco- Eslováquia, consciente da dolorosa experiência que teve Tchecoslováquia faz 10 anos, producto do chamado esforço honesto do Ocidente em matéria dos direitos humanos e liberdades sociais na Tchecoslováquia, salienta que no caso de Cuba os círculos reacionários do capital, chefiados pela administração norte-americana também não perseguem o bem do povo cubano senão que trata-se dum jogo sujo combinado internacionalmente que tem como objectivo a instabilidade, o isolamento dos regímenes progressistas e o seu aniquilamento ainda que seja ao custo das operações bélicas, tudo esso sob a bandeira da globalização. O embargo econômico não tem podido destruir a Cuba, ainda numa situação a qual tinham contribuido para a liquidação do socialismo na Europa e na União Soviética, coisa esta pela qual estão preocupados os círculos reacionários do capital internacional.

"Os comunistas tcheco-eslovacos, amigos de Cuba, apoiam plenamente as ações da direção cubana para assegurar os programas econômicos e sociais de Cuba, que só pretendem a prosperidade da maioria e o exercício do direito humano básico, o direito à vida.

"Resulta digno de ser condenado o facto de que esta iniciativa inamigável contra Cuba tenha partido precisamente da República Tcheca. É óbvio que a Resolução não tem por alvo temas concretos, mas objectivos puramente políticos. Confirma a bem conhecida experiência de que a República Tcheca tem se tornado, na Europa, no regime fantoche, chave e mais evidente nas mãos dos Estados Unidos. Nas suas conseqüências, essa posição também prejudica os direitos sociais e económicos da maioria dos cidadãs da República Tcheca. Hoje, 10 anos depois da contra-revolução preparada internacionalmente, sob a palavra de ordem dos direitos humanos e democracia, os cidadãos da República Tcheca já sabem disso; o desemprego, a humilhação da dignidade do homem, as drogas, o colapso económico, a insuficiência social, a criminalidade, são o resultado da luta pelos direitos humanos regulados pelos Estados Unidos e os seus aliados, através dos chamados dissidentes há 10 anos atrás, e na actualidade, lacaios dos que envenenam o ambiente em torno a Cuba. O verdadeiro autor da Resolução são os Estados Unidos.

"O Partido Comunista da Tchecoslováquia é ciente de que Cuba conhece muito bem o que está a fazer e porquê o está a fazer. Estamos do lado da República de Cuba, do povo de Cuba e apoiamos os passos da direcção política e estatal de Cuba. A Resolução apresentada em Genebra não reflecte a opinião do povo Tcheco, prejudica as perspectivas do mundo futuro e os actuais esforços da colaboração económica internacional. É prejudicial e inaceitável. Exprimimos a nossa plena solidariedade com a República de Cuba.

"Miroslav Stephan,

Secretário Geral do Comité Central

do Partido Comunista de Tchecoslováquia."

Ora bom, isto faz parte da repercusão que teve a marcha que se realizou no nosso país, e também da indignação -como eu apontava ao começo- do nosso povo perante a votação realizada na Comissão de Direitos Humanos em Genebra.

Há dois dias também foi realizada uma mesa redonda em que foram abordados todos esses temas por parte de um grupo de peritos do nosso país.

Essa condenação -como ja lhes disse- causou uma profunda indignação no nosso povo, e na mesa redonda anterior ajudavam-nos a analisar primeiro, como funcionava essa Comissão, e permitam-me lembrar-lhes, para poder entrar no tema que hoje nos convoca.

Em segundo lugar, viam-se os antecedentes do tratamento do tema Cuba no seio desta Comissão.

Terceiro, acho que foi muito importante analisar quem foram os que ousaram apresentar essa moção contra Cuba na Comissão de Direitos Humanos em Genebra e, nomeadamente, o governo da República Tcheca e os Estados Unidos, ainda que também foi patrocinada pelo governo da Polônia.

Em quarto lugar, também foi muito importante a intervenção feita pelo nosso chanceler explicando as nossas posições e como Cuba defende os direitos humanos do Terceiro Mundo -não só das posições cubanas, mas também do Terceiro Mundo- no seio desta Comissão, e como os Estados Unidos manipulam este tema lá em Genebra.

Agora analisamos como se comportou a votação, e para muitos cubanos resultou de grande importância o facto de poder analisar quem eram os países que tinham votado em favor da Resolução, quem se abstiveram e quem votaram em contra.

Proponho-lhes ir-nos adentrando já no tema desta mesa redonda; mas refrescando um bocado como foi essa votação. Proponho-lhe à companheira Patricia, que nos irá assessorar nestes momentos mediante a imagem, que nos ajude a colocar aos nossos telespectadores como se comportou a votação, usando tabelas regionais.

Acho que seria importante começar pelo Grupo da Europa Ocidental e da Europa Oriental, se for possível, para analisar bem como foi a posição dos países.

(Projectam uma tabela)

Eis a posição do Grupo da Europa Ocidental e outros Estados. Vemos que votaram a favor: Alemanha, o Canadá, a França, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal, a Espanha, o Reino Unido e os Estados Unidos.

Como podem constatar, aqui estão os países europeus e também os Estados Unidos e o Canadá. A esse grupo somam-se Nova Zelândia e Austrália, mas que neste ano não fizeram parte da Comissão e, se tradicionalmente têm votado em contra de Cuba, este ano não participaram nessa votação.

Julgo que é importante que vocês saibam que este grupo tem ido mudando, aos poucos, o carácter da Comissão, tornando-a praticamente num tribunal da inquisição para o Terceiro Mundo. Acho que é muito importante que o nosso povo saiba disso, e que esta Comissão tem-se tornado, pela influência deste grupo em quase um foro de imposição, de pressão e de chantagem.

Nisso estaremos a falar.

Continuemos observando como se comportou a votação, e lhes proponho que vejamos como se comportou por parte do Grupo da Europa Oriental, entre eles estão os países ex-socialistas. Nesse caso aí estavam a República Tcheca, Letônia, Polônia e Romênia.

(Projectam tabela)

Aí está no ecrã.

Estiveram a favor da Resolução apresentada pela República Tcheca, Letônia, Polônia e Romênia. Polônia é dos patrocinadores. A Rússia votou em contra.

Estimo que também seria importante ver como se comportou a votação por parte da América Latina. Inclusive, é uma das votações que mais interessam aos nossos telespectadores.

(Projectam tabela)

Entre eles, esteve a favor da Resolução da República Tcheca: a Argentina, Chile, El Salvador, a Guatemala. Em contra, Cuba, é claro, o Perú, a Venezuela; e abstiveram-se o Brasil, a Colômbia, o Equador e México.

Também gostaríamos que vocês pudessem observar como se comportou a votação por parte dos países asiáticos.

(Projectam tabela)

Acho que seria importante que soubessem que votaram em favor da Resolução tcheca: o Japão e a Coréia do Sul. Em contra: Bhutão, a China, a Índia, Indonésia e o Paquistão. Abstiveram-se: Bangla Desh, Nepal, as Filipinas, Katar e Sri Lanka.

E um grupo que para nós é de muita importância; concluimos a Cimeira Sul e houve uma grande representação de todos eles aqui, em Cuba. Vejamos como votaram os países da África sobre esta Resolução anti-cubana apresentada pela República Tcheca no seio da Comissão de Dirietos Humanos em Genebra.

(Projectam tabela)

Votou em favor dessa Resolução, apenas Morrocos. Contra: Burundi, o Congo, a Libéria, Madagáscar, o Níger, a Nigéria, o Sudão, Tunícia e a Zâmbia. Abstiveram-se: a Botswana, Maurício, Rwanda, o Senegal e a Swazilândia.

Hoje nos queremos concentrar um pouco e analisar por dentro essa votação.

Acho que é justo reconhecer, se formos começar por um grupo regional -que gostaria que fosse a Europa Ocidental, se for possível, e a Europa Oriental, na mesma ordem em que os fomos apresentando-, que dentro dessa Comissão nem todos os países actuam por igual, e se bem neste grupo da Europa Ocidental votaram em contra de Cuba: a Espanha, a França, Itália e Portugal, parece-me que é muito digno da nossa parte reconhecer que estes quatro países não realizam activismo anti-cubano no seio da Comissão. Votaram em contra, o que não lhes resta no mais mínimo essa acção que nós hoje também queremos analisar; mas julgo que também é bom reconhecer que eles não co-patrocinaram resoluções em contra de Cuba apresentadas na Comissão, e que também não se dedicam a pressionar ou a realizar acções directas que conduzam outros países a votar contra.

Ora bom, parece-me que seria interessante analisar o exemplo e o paradigma que quase, de forma fundamentalista, tentam-nos vender esses defensores dos direitos humanos. É como o espelho que lhe vendem ao índio, para que se veja nele, mas à semelhança deles.

Julgo que a pergunta de, quem votaram contra Cuba?, começa a se impor, visto que nesta mesa redonda se falou em dupla moral, e gostaria que os nossos painelistas nos ajudassem a nos responder se seria justo aceitar que a culta Europa -tal e como temos falado muitíssimas vezes dela, aqui também neste estúdio-, que com o dedo indicador sempre nos está a dizer, nos dissesse: Faz o que digo e não o que faço."

Gostaria começar com o companheiro Dimas, que está habituado a nos ajudar na televisão com comentários de política internacional, se nos pudesse dizer se lhe devemos aceitar isto ao Grupo da Europa Ocidental.

Eduardo Dimas.- Acho que evidentemente não, pelo simples motivo de que se observares, em primeiro lugar, o que tem sido a vitória das nações europeias, e em segundo lugar, os factos mais recentes, isto é, os do ano passado, evidentemente não são países nem governos que realmente respeitem os direitos humanos.

Vamos pensar apenas na Iugoslávia. De quem é a responsabilidade directa do acontecido, dos bombardeamentos durante 78 dias a Sérvia e a Kosovo? Evidentemente, a responsabilidade directa é dos países europeus, dos membros da NATO, que também inclui o Canadá e os Estados Unidos, e foram precisamente os Estados Unidos o encarregado da direção dessas operações.

Um pretexto que é muito socorrido e que fazem parte de todos os pretextos que eles utilizam, o de supostas violações massivas e flagrantes dos direitos humanos da população albano-kosovar de Kosovo. Esse foi o pretexto e com ele criaram uma grande propaganda. Os médias dedicaram-se a magnificar o que estava acontecendo.

Não digo que não tenham ocorrido coisas; o que digo é que não foram nem do tamanho, nem do volume como para as qualificar de genocídio, ou de massacre; e tornaram o presidente da Iugoslávio, Slobodan Milosevic, num homem mau. Isto é, no rapaz mau do filme; satanizam-no, tal e como fizeram anteriormente com Noriega, em Panamá, para invadir o país, e tal e como fizeram também no Iraque.

Na verdade, os objectivos desses bombardeamentos à Iugoslávia foram outros. Diria que, em primeiro lugar, a fragmentação; ou seja, concluir a fragmentação da Iugoslávia, que já paenas estava integrada por Sérvia e Montenegro. Lembremos que a começos dos anos 90 se dividiram. Em segundo lugar, eliminar por completo a pouca ou muita influência que lhe restava à Rússica nos Balcãs e, em contraparte, aumentar a influência dos Estados Unidos e da NATO nos Balcãs. Esse é um dos aspectos.

Se analisamos como foram as negociações, isto é, como foram manipuladas e como foram encaminhadas as negociações, resulta evidente que a Europa tentou fechar todas as portas para qualquer tipo de negociação que permitisse um arranjo do problema albano-kosovar.

A Comissão Medianeira criada -uma comissão que fez tudo para obrigar Iugoslávia a não aceitar aquelas questões que eram verdadeiramente as que tivessem sido justas-; depois vieram as conversações de Rambouillete, caracterizadas em primeiro lugar pelo facto de que a Europa lhe colocou à Iugoslávia toda uma série de assuntos que resultavam inaceitáveis, entre eles, a autonomia de Kosovo.

Além disso, os Estados Unidos e a NATO apoiaram o Exército de Libertação de Kosovo -um exército que até ao ano 1995 ou 96 era uma força de contrabandistas, de narcotraficantes, armada, treinada e financiada pelas máfias albanesas, pela máfia de Montenegro que se dedicavam ao tráfico de drogas, ao comércio de brancas, e o tornaram da noite para o dia, num Exército de Libertação. Apoiam-no, ajudam-no, dão-lhe dinheiro, e obrigam o governo iugoslavo, de facto, nas conversações de Rambouillet, a se sentar a discutir com o Exército de Libertação de Kosovo.

O Exército de Libertação de Kosovo, por razões óbvias, aceita tudo o que lhe colocam; ou seja, tudo o que era colocado para os acordos de Rambouillet, o que foi rejeitado pelo governo da Iugoslávia.

Essa é a conjuntura em que começam os bombardeamentos no dia 23 de Março, bombardeamentos que supostamente tinham o objectivo de destruir o exército iugoslavo, e obrigar esse exército a se retirar de Kosovo. Na prática, destruíram todas as fábricas, destruíram todos os pontos principais dos caminhos-de-ferro, todos os depósitos de alimentos e combustíveis, as pontes sobre o Danúbio. Quer dizer, destruíram praticamente toda a infraestrutura económica do país.

Essa foi uma questão interessante que ocorreu durante esses bombardeamentos. Vocês se lembram dos partes de guerra que fornecia o Centro de Informação da NATO. Nesses partes -depois farão referência a isso outros companheiros- houve uma coisa muito interessante, as vítimas civis daqueles bombardeamentos eram chamadas de "prejuizos colaterais".

Esses bombardeamentos duraram 78 dias, e lhes repito, é destruída praticamente toda a infraestrutura económica da Iugoslávia. Foram mais de 2000 mortos, mais de 6 mil feridos, se não me engano.

Posteriormente, quando já o governo iugoslavo não tinha outra alternativa do que aceitar, que se houvesse demorado mais alguns dias, acho que o problema poderia ter sido resolvido de outra maneira, mas, aos 78 dias, com Rússia como medianeira, o governo aceita. O exército iugoslavo, que apenas tivera baixas, se retira de Kosovo, isto é, as baixas foram civis principalmente, incluindo casos como o daquele famoso comboio que bombardearam, ou uma concentração de tratores com trailers que também bombardearam.

Ora bom, há um aspecto que gostaria salientar. Partamos da base de qual foi o pretexto para proceder ao bombardeamento de Sérvia e de Kosovo: o pretexto foram as violações massivas e flagrantes dos direitos humanos em Kosovo.

Evidentemente, a primeira coisa que fizeram foi ir procurar os mortos, as enormes quantidades de mortos. Não quer dizer que não tenham encontrado mortos, encontraram albano-kosovares mortos; porém não na quantidade suficiente como para poder criar um grande escândalo internacional. Portanto, o pretexto inicial não era válido, isto é, aquele pretexto inicial de que era preciso salvar os albano-kosovares da maldade dos sérvios. Em tudo isso sempre é necessário criar um bonzinho e um malvado; os bons eram, neste caso, os albano-kosovares, e os maus eram os sérvios, tambem, lembremos que os mulsumanos e os croatas eram os bons e os sérvios eram os maus. Quer dizer, sempre se procura esta situação.

Não têm encontrado essa quantidade de valas comuns; não encontraram essa quantidade de mortos como para poder criar um escândalo e como para poder justificar. Por conseguinte, sobre isso, pelo menos até onde chega a minha informação, tem-se criado uma espécie de silêncio. Ninguém fala nisso. De vez em quando aparece que encontraram três mortos numa vala, que encontraram quatro mortos numa vala. Mas deveriam identificá-los para ver se eram sérvios assassinados pelos albanos-kosovares, ou albanos-kosovares assassinados pelos sérvios, porque ali houve de tudo.

Carmen R. Báez.- Quero dizer que quando estamos a falar de "faz o que digo e não o que faço", haveria que ver como defendem os direitos dos "prejuízos colaterais."

Eduardo Dimas.- E além disso, como utilizaram o pretexto dos direitos humanos para proceder a uma ação que era eminentemente política, que obedecia a um objectivo político, que era concluir a fragmentação da Iugoslávia e acabar com a pouca ou muita influência que ainda a Rússia tinha nos Balcãs. Esses eram os objectivos básicos.

Carmen R. Báez.- Nidia, estava a me pedir a palavra neste tema. O problema é que vocês -Nidia e Dimas-, durante a guerra da Iugoslávia, e todo esse tema de Kosovo, estiveram também a escrever alguns artigos, que acho que resulta muito importante que possamos contar com vocês dois aqui, e que nos possam ajudar, não só a lembrar o que aconteceu, visto que a nossa população esteve acompanhando tudo isso, mas qual a interpretação que podemos dar à luz do que está acontecendo e do que aconteceu hoje na Comissão de Direitos Humanos. Lembrar essa pergunta, e desculpem se sempre lhes vou lembrar isto: quem são. Acho que isso é muito importante para não perder o fio da meada na nossa mesa redonda.

Nidia Díaz.- Sim, acho que ao que disse Dima seria necessário apenas acrescentar-lhe que uma das causas fundamentais pelas quais se produz a guerra de agressão e a guerra genocida contra a Iugoslávia, é a necessidade que tinham os Estados Unidos, não apenas de findar com a influência russa nessa zona, mas estar eles já dentro da Europa Central, o que vai em detrimento da própria soberania dos países europeus que os acompanharam nesta guerra genocida contra a Iugoslávia.

Quero dizer, efectivamente, quem é esta gente que tão hipocritamente falam dos direitos humanos em Cuba, das violações dos direitos humanos em Cuba.

Há alguns dias atrás li um telex, desses telexes em que você se faz a pergunta: bom, e como isto não foi cabeçalho nos mais importantes meios de imprensa do mundo? Há dias li num jornal da Grécia que o general alemão aposentado Heins Locke, numa entrevista que é publicada nesse país, disse que o documento que foi invocado pela NATO no ano passado para realizar o bombardeamento à Iugoslávia, resultou que era um documento falso. Assim, esse homem o confirmou categoricamente.

Ele disse: "O relatório segundo o qual as autoridades iugoslavas preparavam o aniquilamento dos albanos-kosovares, em Kosovo, foi preparado pelos Serviços Secretos da Bulgária, e carecia de credibilidade, conforme assinalou este alto oficial alemão, Locke, que agora trabalha na Organização de Segurança e Cooperação Européia."

ATENAS, 4 de Abril (PL).- "O documento invocado pela NATO para realizar o bombardeamento da Iugoslávia no ano passado, foi falso, afirmou o general alemão retirado Heinz Locke, numa entrevista publicada hoje pelo jornal grego. O relatório segundo o qual as autoridades iugoslavas preparavam o aniquilamento dos albano-kosovares em Kosovo foi preparado pelos serviços secretos da Bulgária e carecia de credibilidade, apontou o ex-oficial alemão. Locke, que actualmente trabalha na Organização de Segurança e Cooperação Europeia (OSCE), afirmou que essa manipulação foi empregue pela NATO para começar os bombardeamentos contra território iugoslavo, e obter a aprovação da opinião pública europeia. Todas as pessoas envolvidas nessa jogada, devem assumir a responsabilidade histórica por esta agressão, incluído o Ministério de Defesa alemão, pontoalizou o entrevistado. Nos seus depoimentos, o ex-general alemão sublinhou que ninguém, em nenhum momento se deteve a comprovar a veracidade desse relatório, preparado de uma forma pérfida com o deliberado objectivo de justificar os bombardeamentos da NATO contra a Iugoslávia."

Não quer dizer que este foi o único relatório; inclusive, há relatórios, relatórios aéreos, desses de que fala Dimas, que supostamente existiam túmulos colectivos de albano-kosovares. Quer dizer, houve muita informação falsa ao redor da fabricação do tema iugoslavo e do tema de Kosovo. Contudo, o facto de que os Serviços Secretos Búlgaros se prestassem para construir um pérfido relatório sobre deste tema, só nos demonstra novamente, sobre tudo a nós os cubanos neste momento, o facto de que, igual que a República Tcheca agora se prestou para preparar uma moção de censura contra Cuba na Comissão de Direitos Humanos, a Bulgária também o fez em favor da NATO e em favor dos Estados Unidos naquela altura contra a Iugoslávia.

Evidentemente, a Bulgária e a República Tcheca caíram baixo: do socialismo, passaram a ser, obviamente, activistas do imperialismo.

Também é preciso colocar que o caso de Kosovo, como muito bem disse Dimas, é um caso que esteve fabricado com essa dupla moral, com essa hipocrísia com que agem esses países que fazem parte do grupo dos países ricos, o grupo da NATO, o grupo dos que hoje, dirigidos pelos Estados Unidos, controlam ou tentam controlar o mundo.

Lembro que naqueles dias se falava muito de como foi construída essa situação de Kosovo, isto é, falava-se, como disse Dima, que os albano-kosovares eram reprimidos, eram vítimas de uma limpeza étnica por parte dos sérvios. Porém, um relatório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, revelou que 85% das quase 860 000 pessoas que emigraram de Kosovo, não o fizeram durante a suposta limpeza étnica, mas, fundamentalmente, nos 79 dias de bombardeamento a que foi submetido esse país e essa província em particular.

Seria bom que os nossos telespectadores soubessem que a província de Kosovo estava integrada por 1 800 000 albano-kosovares e por mais de 200 000 pessoas de outras nacionalidades, entre eles, sérvios. Um ano antes, quando se estava pré-fabricando todo este tema de Kosovo, da limpeza étnica, do genocídio que supostamente era cometido na Iugoslávia, propiciou-se a emigração de Kosovo de 170 000 albano-kosovares. Contudo, agora vemos que o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados diz que durante os dias da guerra 860 000 pessoas, entre eles a maioria albano-kosovares, emigraram por medo aos bombardeamentos e por medo à própria guerra.

Quer dizer, que o tema da limpeza étnica, o tema da emigração albano-kosovar, de que não podiam continuar a viver em Kosovo pelas repressões de que eram vítimas, é um tema hipócrita, um tema falso, construído pelos mesmos que certificam na América Latina a boa ou má conduta dos nossos países, pelos mesmos que tentam que Cuba seja desta ou de tal maneira.

Dimas disse que na Iugoslávia houve 2000 mortos e 6000 feridos; mas na Iugoslávia também houve quase 36000 ataques aéreos naqueles 79 dias de agressão.

Para demonstrar mais uma vez a hipocrísia desses países, desta Europa e desses Estados Unidos civilizados, desses Estados Unidos e dessa NATO supostamente amantes da paz, amantes dos valores éticos, dos valores religiosos, que se erguem como paladinos disso, tenho que dizer que a guerra começou no dia 23 e, contudo, no dia que mais ataques aéreos teve esse país até esse momento foi precisamente na Quinta-feira Santa, no dia 2 de Abril. Nesse 2 de Abril foi atacado um acueduto, foi atacada uma fábrica, a capital, Belgrado, sofreu os maiores ataques aéreos e houve dois mortos e seis feridos civis e, segundo os partes de guerra dessa sacrossanta aliança de morte, eram atacadas "instalações militares".

Dizem que nós violamos os direitos humanos, porque supostamente neste país não há liberdade de culto, liberdade de expressão e demais coisas. Contudo, num dia santo, num dia de recolhimento, num dia em que para a Europa cristã e para os Estados Unidos deve ser um dia de paz e de amor, esse foi o dia de maior massacre contra objectivos civis na Iugoslávia. Acho que isso fala por si próprio quem é essa gente e quais são, na verdade, os objectivos políticos que perseguem contra aqueles que por uma razão ou outra não se dobram aos seus interesses conjunturais ou estratégicos.

Marina Menéndez.- Resumindo o que estiveram a narrar Dimas e Nidia, gostaria sublinhar um pouco que a falácia daqueles que hoje acusam Cuba, no caso da Iugoslávia não esteve só no facto de usar como argumento, como excusa, como justificativa, a suposta defesa dos direitos humanos dos kosovares de origem albanesa, mas no facto de que supostamente defendendo-os, tivesse sido certo ou não que existiam casos de limpeza étnica, como eles acusavam, supostamente defendendo-os violaram os direitos humanos dos milhares de civis, não só kosovares de origem sérvia, mas inclusive, albaneses que, como lembrava Nidia e também Dimas, também foram prejudicados pelas suas bombas.

Acho que nesse sentido houve manipulação; em tudo; desde o momento em que se prepara a opinião pública para esta intervenção e ocupação que, afinal, foi no que acabou toda essa operação em Kosovo e na Iugoslávia: desde a satanização de Slobodan Milosevic, até a do próprio povo sérvio que, efectivamente, sempre era quem terminava sendo acusado, tanto no caso da guerra de Bósnia-Herzegovina, como agora, no caso de Kosovo.

Isto é uma manipulação a partir do momento em que se está a usar o alegado recurso da suposta assistência, intervenção humanitária, que depois será tratada com maior profundidade, até o facto hipócrita também e é claro que mentiroso, de utilizar os chamados prejuízos colaterais para encobrir o que foram agressões contra a população sérvia e kosovar civil e, finalmente, contra a infraestrutura económica da Iugoslávia.

O que colocou Eduardo Galiano, sempre tão preclaro, no seu artigo «Fe de Errata», que foi publicado aqui em Cuba por Juventud Rebelde, que onde diz "prejuízos colaterais" deve dizer "benefícios colaterais", e toda uma série de termos que começaram a ser empregados. Também, supostamente, eram erros os que provocaram esses prejuízos à população civil e à infraestrutura económica de Iugoslávia, erros cometidos pelos mísseis inteligentes que obviamente seriam então muito torpes, como também frisou Galiano nesse artigo.

Entre esse "erros" Nidia mencionou alguns e gostaria lembrar outros: No dia 5 de Abril, os 17 mortos que houve na cidade de Aleksinac, no sul de Sérvia, supostamente o alvo era um objectivo militar; também no dia 12 de Abril houve 55 mortos quando vários mísseis destruíram um comboio no momento em que passava por uma ponte, havia um menino de 11 meses de nascido entre as vítimas mortais. Assim, outros muitos casos até chegar no dia 8 de Maio em que, inclusive, a Embaixada da China na Iugoslávia foi agredida e essa agressão deixou como resultado três jornalistas mortos e vinte feridos.

Acho que também foi resumido de forma muito eficaz pelo analista norte-americano, professor de sociologia -de ética política, apontava-me há pouco Dimas-, James Petras, quando falava da ladainha de falsidades, dos mitos que se tinham fabricado justamente pelos agressores, pelos Estados Unidos e por essa Europa que hoje nos acusa, para materializar a agressão a Iugoslávia, supostamente sob o pano da "ajuda humanitária", aos supostos ou realmente -digo como Dimas, agora não vamos analisar isso-, afectados pela limpeza étnica.

Ele falava do mito um, o presidente Milosevic, que é um ditador, um Hitler; a satanização de Milosevic. "Mito dois: Milosevic se nega a negociar, nega-se a alcançar um compromisso, a aceitar uma força de paz internacional" -já Dimas falou dos esforços de Rambouillet. "Mito três: Albânia e a Europa estão a ajudar os refugiados kosovares." "Mito quatro: Milosevic cometera genocídio." "Mito cinco: o Exército de Libertação de Kosovo representa a maior esperança kosovar na sua luta pela democracia e pelos direitos humanos."

Ele responde a todos esses mitos; eu não vou empregar tanto tempo, mas gostaria ler, com a sua resposta, o mito número seis mencionado por James Petras: "A estratégia dos Estados Unidos consiste em salvar os kosovares da operação sérvia. Realidade -diz o autor-: o bombardeamento dos Estados Unidos tem obrigado a centenas de milhares de albano-kosovares e de sérvios a procurar abrigo. Os ataques da NATO em Kosovo destruíram povoados, lojas, lares, indústrias albano-kosovares, mataram dezenas de civis e deixaram centenas de feridos.

"Mais de 90% dos refugiados fugiu depois que começaram os bombardeamentos. A destruição da sua economia tem convertido Kosovo num baldio económico que será incapaz de manter à população que regresse. A falsa proposta de paz de Washington, baseada na ocupação de Kosovo pela NATO, não tem nada a ver com uma missão humanitária, mas está formulada para mostrar o poder militar dos Estados Unidos e impor a paz norte-americana na Europa."

Julgo que resulta bastante eloqüente e que também dá um bocado mais de claridade e de fé sobre toda a falácia e toda a ladainha de falsidades que foram utilizadas para agredir Iugoslávia, e que, no seu momento, foi vista com clareza como perigo e anúncio do que poderia significar para os países do Terceiro Mundo, onde sempre se está à procura dessa palha no olho alheio, que eles é que a têm.

Carmen R. Báez.- Mutíssimo obrigada, Marina. Inclusive, alegra-me imenso essa intervenção que você me pediu fazer nesta mesa, porque há uns dias o actor José Antonio Rodríguez me dizia que se durante a guerra da Iugoslávia tivesse tido a oportunidade de contar com mesas redondas que lhe esclarecessem um pouco o que estava acontecendo, ele julgava que tivesse sido de muita utilidade. Sempre os países como o nosso têm dito que a justiça se impõe, e esclarecer coisas como estas é também fazer que a justiça se imponha para que todos fiquemos mais esclarecidos sempre de como interpretar e como ver do ponto de vista crítico o mundo em que nos coube viver.

Aqui a mesa redonda tem vários jornalistas, como os apresentei. Todos estão fazendo assim (ergue o braço) é preciso começar a organizar um por um, aos poucos. Tenho por aqui a Dimas, que está a pedir a palavra; tenho a Lázaro por este lado e também tenho um convidado no público, que depois lhes explicaré, que também deseja participar neste ponto.

Portanto, vamos a nos organizar desta maneira: Dimas primeiro e depois lhe dou a palavra a Nidia, que também a está pedindo. Então, depois continuaremos a nos organizar.

Eduardo Dimas.- Acho que não é possível esquecer o que aconteceu depois que se retiraram as tropas iugoslavas de Kosovo. Houve uma altura em que se retiram as tropas de Kosovo e Kosovo fica nas mãos do famoso Exército de Libertação, que já dissemos quem era realmente, e depois entram as tropas da NATO, basicamente sob a proteção da ONU, como sempre, com um corpo de policiais das Nações Unidas que nunca foi completado. E nesse lapso de tempo, ou seja, desde que se retiraram as tropas iugoslavas até ao presente, os crimes cometidos -que inclusive tiveram que ser publicados pelos meios de imprensa- pelo Exército de Libertação de Kosovo diante dos olhos dessa força de intervenção da NATO: norte-americanas, europeias, italianas, incluindo, em um sector, tropas russas, foram enormes, e se apropriaram das propriedades dos sérvios, das terras, das casas; levaram ao éxodo a mais de 26 000 sérvios. Lembremos que já essa era uma população atemorizada pelos bombardeamentos, quer dizer, que vira-se obrigada a se deslocar pelos bombardeamentos. Então, de quê direitos humanos falam?

Bombardeiam Iugoslávia durante 78 dias por supostas violações dos direitos humanos dos sérvios aos albano-kosovares, e as violações dos direitos humanos dos albano-kosovares aos sérvios não são violações massivas, nem flagrantes dos direitos humanos. Percebes a dupla rasa, percebes a dupla moral e percebes outras coisas que resulta melhor não dizer porque vou dizer palavras que não devo pronunciar.

Nidia Díaz.- Era apenas para sublinhar isso que Dimas está a colocar. Já há um dado mais recente, precisamente desta semana, que eleva a cifra de 50 000 sérvios que tiveram de abandonar Kosovo, mas, aliás, de uma maneira violenta; são lançados das varandas, queimam as suas moradias com eles dentro... Isto é, o que fazem os sérvios são atrocidades perante os olhos de toda essa gente, desses europeus representantes das supostas forças de paz que lá estão.

Também queria dar como dado que ao começo falei de que quando foi fabricado o caso da Iugoslávia, o caso de Kosovo, falou-se de 170 000 albano-kosovares que saíram de ali porque supostamente estavam sendo vítimas de uma limpeza étnica. Bom, desses 170 000 albano-kosovares que foram incitados e estimulados a sairem de Kosovo para poder dar-lhe forma a essa futura agressão contra a Iugoslávia, os Estados Unidos apenas receberam no seu território 0,7%; ou seja, que eles agora andam espalhados por essa Europa que os instou, que os estimulou a sair do país para fazer propaganda com a sua emigração contra essa suposta limpeza étnica que, repito como Dimas fez, não se sabe em que medida ou quantia aconteceu, mas que já se demonstrou que não foi como se disse naqueles momentos.

Ou seja, reiterar o caso de que são os mesmos argumentos que se empregam também com outros povos, isto é, são estimulados a irem embora para fabricar casos que lhes permitam justificar futuras intervenções e depois, esse pessoal fica, como diríamos vulgarmente, no ar. Quer dizer, apenas 0,7% de 170 000 albano-kosovares que foram estimulados a sair antes da guerra, foram recebidos em território norte-americano. Acho que isso fala da hipocrisia com que foi facturado este caso.

Carmen R. Báez.- Dizia-lhes que cá no estúdio havia um convidado ao qual queríamos dar-lhe a palavra. Além dele, cá estão dirigentes estudantis, jovens em representação de todos os que têm estado participando nas tribunas, inclusive, convidamos alguns dos oradores que estiveram ontem na Tribuna Aberta Antimperialista "José Martí".

Entre esses oradores esteve Fernando Rojas, presidente da Associação "Hermanos Saíz".

Nós, nos preparativos desta mesa redonda, quisemos convidá-lo, porque durante os dias da guerra da Iugoslávia, Fernando teve a possibilidade de visitar alguns países europeus e teve a oportunidade de partilhar ali com alguns intelectuais.

Lembro-me que nesses dias, entre os jovens e, nomeadamente, entre os jovens criadores, falava-se muito da guerra, do quê era que estava acontecendo; todos os dias chegavam notícias a Cuba e o pessoal reagia e queria saber cada vez mais, e queria ver quando seria o ponto final e como reagiam os europeus.

Parece-me que seria muito bom poder escutar as opiniões que nesses dias Fernando partilhava conosco.

Fernando Rojas.- Mais do que nada, eu queria efectivamente contar a minha experiência de leitor de jornais e de telespectador naquela oportunidade, no intuito de denunciar uma violação tão flagrante dos direitos humanos, como é a manipulação das consciências que se originou nessa tão culta Europa Ocidental durante a guerra da Iugoslávia.

Bom, vou começar mesmo aí.

Durante todo esse período, nos cabeçalhos dos jornais, na fala coloquial, em reuniões, na televisão, a guerra era chamada «A guerra do Kosovo». Essa era a forma de se referir à guerra em todos os meios.

Os títulos e os nomes -as pessoas que temos trabalhado no mundo editorial sabemos disso- têm muita importância para começar a impulsionar uma recepção da informação, e desde a mesma maneira de considerar como se chamava o que lá estava acontecendo, a gente percebe que se começa a silenciar o que estava acontecendo fora dessa província da Iugoslávia: as bombas a cairem em Belgrado e o cabeçalho era: A guerra de Kosovo. Os aviões saindo de países da Europa Ocidental para bombardearem Belgrado, e o cabeçalho era: A guerra de Kosovo.

Fora de ali acontecia simplesmente uma coisa que já conhecíamos da guerra do Golfo, que é essa ideia de passar a guerra na televisão, não é?, de que a gente tenha a oportunidade -essa coisa tão macabra, tão frívola também- de assistir a guerra pela televisão e de "desfrutar" os partes das autoridades militares do que acontecia nessa guerra que, como é lógico, todos esses partes tinham a ver com os sucessos das operações militares da NATO contra o exército do malvado Milosevic, como aqui já foi dito; contra outros objectivos militares e num cantinho do jornal, numa altura do parte, num pequeno anúncio de televisão, essa referência ténue ao prejuízo colateral, como aqui se disse. Que, logicamente, o prejuízo colateral já se sabe, são as vítimas civis, são os alvos civis destruídos; porém, disso não haviam artigos, disso não haviam reportagens, simplesmente aparecia como parte dessa ideia macabra de que a gente possa -e isso não diz nada bom dessa culta Europa- "desfrutar" da guerra.

Com muita fruição eram feitas reportagens a respeito de qualquer coisa que fizesse qualquer sérvio no Kosovo, fosse lá o que fosse; isso logo era magnificado, exagerado. Inclusive, prestei-lhe atenção ao facto de que as raízes desse conflito não eram documentadas, não eram analisadas; um conflito que data nas suas origens -o conflito quero dizer ao interior desse estado-, de séculos. Estamos falando sobre uma região da Europa com uma conhecida composição multinacional e multiétnica, onde o convívio, é claro, sob sistemas de dominação de diferentes etnias, de diversas nacionalidades, durante séculos, deu origem a não poucos conflitos. E para perceber porquê acontecem esses conflitos é preciso fazer, ou deveriam ser feitas análises rigorosas, deveriam os colunistas, os jornalistas, os intelectuais se dedicar a os analisar a rigor para os explicitar. Bom, isso nunca acontecia.

As origens do conflito, ou a maneira em que se explicavam as origens do conflito, estava directamente subordinada ao objectivo, à razão da manipulação, ao que aqui se tem dito, isto é, a apresentar Iugoslávia como agressora, como império do mal, a apresentar Milosevic como uma sorte de novo Hitler, a manipuar os sentimentos anti-fascistas dos europeus -é claro que são sentimentos conhecidos-, e eu diria também, embora talvez em menor grau -mas achei-o nalguns textos, achei-o nalguns programas-, a manipular os sentimentos anticomunistas dos cidadãos desses países, o que tem a ver com uma coisa que apontava Dimas, que é o tema da influência russa nessa região. Quer dizer, ora podia ser identificado o terrível agressor que estavam a enfrentar, como um tipo de fascista ao estilo do Hitler, que como um tipo de resíduo macabro do que restava do terrível comunismo da Europa do Leste, e a imprensa e a televisão moviam-se constantemente nessa direcção, sem interesse nenhum em razoar, sem nenhum tipo de análise e, além disso, companheiros, uma coisa que foi notável, com uma unanimidade incrível.

Essa coisa da imprensa livre e da liberdade de imprensa é uma história para o boi dormir. Todo o mundo, todos os médias diziam mesma coisa, movimentavam-se nessa direcção que estou tentando explicar. Inclusive, isso de razonar, de não analisar, de não pensar, quando eram mencionadas as etnias, quando eram mencionadas as partes em guerra -segundo o esquema deles, é claro-, eles eram os salvadores, não é?, os membros da NATO, o exército, as tropas, eram os salvadores, os que estavam a resolver aquele conflito.

Quando se falava das partes em conflito, não era difícil encontrar um tom um bocado racista, ora quando falavam de um sérvio, ora de um albanês, ora de um bósnio, ora de um croata, porque essa gente não, eles eram os grandes salvadores desses povos, os que vinham solucionar os problemas deles. Tanto é assim que se apresentava constantemente a intervenção da NATO em qualquer tipo de meio como o cumprimento de uma demanda da comunidade internacional, em qualquer tipo de meio, como o cumprimento de um tipo de necessidade, de um tipo de pedido, como o exercício da representação do que o mundo realmente queria, do que a comunidade internacional realmente queria; ou seja, isso eram os bons fuzileiros navais, os bons soldados que lá chegavam para resolver o problema de uns gajos que não sabiam viver em paz e que constantemente estavam a se matar uns aos outros.

Atrevo-me a introduzir a idéia de que nesta forma de apresentar na imprensa, de apresentar na televisão esse assunto, não falta um tema, ao meu ver, muito importante -que com certeza será analisado em algum momento- que é a idéia de começar a compreender de maneira limitada a soberania nacional; isto é, existe um tipo de crise mundial, porque a comunidade internacional considera que há uma violação flagrante dos direitos humanos num lugar e, portanto, existe todo o direito de intervir nesse lugar, quando o que está a ser violado é algo tão essencial como a soberania de um Estado.

O tema dos refugiados, dos que se falava há pouco, e se mencionava que os refugiados não estavam a ser recebidos ou se dizia que estavam a ser recebidos e realmente não era assim. Bom, como era isto manipulado a nível de imagem e de notícia? Quando se recebiam os poucos que eram recebidos num acampamento, era feita uma poderosa reportagem, horas de televisão, páginas nos jornais; os que não eram recebidos, os que continuavam a sofrer os rigores da guerra, simplesmente eram ignorados. E, repito-lhes, com a mesma unanimidade, toda a gente a se movimentar na mesma tessitura, todos os colunistas de imprensa, reparem, não apenas os jornalistas, não só os repórteres, todos os colunistas da imprensa sujeitavam-se a esse esquema quase sem excepções, e entre eles -é preciso dizê-lo- figuras destacadas da intelectualidade europeia, a escrever as suas colunas nos jornais e atendo-se rigorosamente a esse esquema. Colunas inteiras dedicadas a desenhar a idéia desse império do mal que os "bons" soldados da NATO iam arrasar. E, digo-lhes, salvo bem contadas excepções, não se introduzia um matiz, nem sequer um tipo de posição um pouco equidistante de uma opinião ou da outra. Não, não, era preciso arrasar com essa gente, era preciso dar cabo da Iugoslávia.

Lembro-me de uma história desses dias também: Levei um pouco de tempo indo às bibliotecas, revendo jornais, tentando procurar algo diferente, e encontrei a condenação ao que estava acontecendo fora de Kosovo, isto é, aos bombardeamentos de Belgrado, ao que acontecia na Iugoslávia, só no jornal de um pequeno partido comunista e no boletim de uma igreja local; o resto da imprensa era, contrariamente ao que eles próprios dizem todos os dias, completamente unânime na posição que acabo de explicar.

Acho que isso nos permitr concluir que esses médias, os médias desses países, cujos governos são os que precisamente votavam em favor da Resolução anticubana, não fizeram outra coisa durante essa guerra do que ser órgãos ao serviço dos interesses do império, de ser órgãos ao serviço da NATO, e, quê violação mais flagrante pode existir dos direitos humanos do que ser cúmplice da manipulação da consciência, exercê-la, de ser cúmplice da idéia de limitar a soberania de um Estado? E, contudo, estamos a falar da mesma gente -como lhes dizia há pouco- que votaram em favor da Resolução anticubana, da mesma gente -e esse é um outro elemento que não deve ser, ao meu ver, desprezado, quando se pensa integralmente nestas coisas- que nestes dias da Cimeira Ibero-americana se dedicaram a enaltecer os mercenários que eles chamam de dissidentes aqui no nosso país, nesses mesmos médias.

Julgo que é muito importante que estas coisas sejam conhecidas, que tenhamos a oportunidade de denunciá-las, para conhecer quem são os que estão a votar em favor da Resolução anticubana na Comissão de Direitos Humanos.

Carmen R. Báez.- Muitíssimo obrigada, Fernando. Também Lázaro nos pediu a palavra, para ao menos ir fechando este tema que temos analisado a respeito da civilizada Europa.

Lázaro Barredo.- Acho que, como te dizia esse famoso artista, teatrista cubano, a verdade sempre se abrirá passo ao final, e aos poucos as pessoas saberão do que realmente aconteceu dentro de toda esta barbárie.

Cá tenho um artigo publicado por uma revista norte-americana, a Cover Action, que se dedica precisamente a aprofundar em temas de operações encobertas ou de guerra suja; eles publicam um artigo extenso: "Um pretexto somamente suspeitoso", e quero ler apenas três pequenos parágrafos para que as pessoas possam ter uma idéia de como os Estados Unidos e os seus aliados europeus também utilizam a máfia, porque na Europa há também uma máfia que pode ser utilizada, e isto é uma prova disso.

Segundo essa publicação, Cover Action, "os cruéis bombardeamentos da NATO contra Belgrado e Pristina, vão muito mais além da violação do direito internacional. Enquanto Milosevic é satanizado e apresentado como um ditador impiedoso, o Exército de Libertação de Kosovo é apresentado como um movimento nacionalista respeitado e que luta pelos direitos da etnia albanesa.

"A verdade do assunto, -diz a publicação- "é que esse exército de libertação é mantido pelo crime organizado com a aprovação dos Estados Unidos e os seus aliados".

E acrescenta: "O multimilionário tráfico de narcóticos nos Balcãs tem desempenhado uma função decisiva no financiamento do conflito em Kosovo, segundo os objectivos económicos estratégicos e militares ocidentais."

Diz mais, uma coisa que sempre nós temos dito, explica como os Estados Unidos e os seus aliados convertem essa gente de terroristas em sócios políticos. É o mesmo que fizeram com os terroristas cubano-americanos da década de 60 e 70, que depois dos 80 são transformados em políticos da Fundação Nacional Cubano-Americana.

Diz: "Com o fim de conseguir a aceitação do plano de paz por parte dos albaneses, a Albright, a Ministra das Relações Exteriores dos Estados Unidos, ofereceu um incentivo dirigido a demonstrar que Washington é amigo de Kosovo. Oficiais do Exército de Libertação de Kosovo seriam enviados aos Estados Unidos para treinar e passar de grupo guerrilheiro a força policial ou entidade política, por interesse dos Estados Unidos."

Por último, esta publicação asevera tacitamente: "O padrão em Kosovo é semelhante a outras operações encobertas da CIA na América Central, em que os lutadores 'pela liberdade' foram financiados mediante a lavagem de dinheiro das drogas.

"Desde o ataque da guerra fria, as agências de inteligência dos Estados Unidos e os seus principais aliados europeus, tem desenvolvido uma complexa relação com o tráfico ilegal de narcóticos. Caso após caso, o dinheiro da droga lavado no sistema bancário internacional, tem financiado estas operações encobertas."

Parece-me que esta publicação oferece bastantes elementos que denunciam as barbáries desta gente, que dizem ser os paladinos dos direitos humanos.

Eduardo Dimas.- Apenas um elemento muito breve, sobre este mesmo tema. 90% das bombas, das armas que foram empregues na Iugoslávia, foram norte-americanas; o restante 10% é europeu. Isto é, os Estados Unidos se encarregaram de destruir Sérvia e boa parte de Kosovo, mas deixou para a Europa a reconstrução.

Agora, a Europa, com um cinismo que vamos qualificar de habitual, tem condicionado a reconstrução de Sérvia, em primeiro lugar, ao desaparecimento -para eles é o mesmo que o matem, que o dimitam, ou que o encarcerem-, de Slobodan Milosevic, e, por outro lado, inclusive, chegou ao extremo de condicionar a ajuda segundo a posição que tivessem os diferentes governantes dos municípios, etc. Se o prefeito era de um partido opositor a Milosevic, dava-lhe ajuda; se era do partido de Milosevic não lhe dava ajuda. Quer dizer, até isso, até aí chegam.

Carmen R. Báez.- Agradeço-lhes imenso este aspecto que temos abordado da participação de todos esses países na guerra da Iugoslávia.

Dou-lhe a palavra a Polanco para continuar com este tema a respeito de quem é a Europa Ocidental que nos está a dizer: Faz o que digo, mas não o que faço.

Rogelio Polanco.- Julgava que podia falar no outro tema que se discutia, visto que, precisamente, muitas das coisas que ocorreram em Kosovo aconteceram também há já alguns anos, aquando da invasão ao Iraque, e, além disso, o Iraque é uma amostra evidente do fariseismo desta política de duplo estandar do Ocidente, em defesa dos direitos humanos.

O Iraque está submetido, há já uma década, a um brutal bloqueio económico imposto pelas Nações Unidas, pelo Conselho de Segurança que não tem justificação nenhuma e que recebeu a rejeição da comunidade internacional, e que lhe impede, logicamente, comercializar todo tipo de produtos, incluídos alimentos e medicamentos.

Este bloqueio cruel tem sido utilizado para estabelecer unicamente a hegemonia dos Estados Unidos numa área que é considerada vital para os seus interesses e o dos seus aliados, e para tal foram utilizados numerosos pretextos e justificações; mas na prática, o que está por trás disso, é o interesse destas nações ocidentais, nomeadamente os Estados Unidos e a Grã Bretanha, de controlar reservas de petróleo, das quais dependem numerosos rivais económicos da Europa e o Japão; e, do ponto de vista geo-político, a região lhe oferece aos Estados Unidos e a Europa uma base de operações a partir da qual podem projetar o seu poder para a zona do Cáucaso e a zona da Ásia Central.

Portanto, as cifras do efeito deste bloqueio económico sobre o Iraque, são um dedo acusador contra Ocidente, e especialmente os Estados Unidos e a Grã Bretanha, país que se dobra docilmente perante os Estados Unidos, aos interesses norte-americanos neste sentido.

O bloqueio agravou substancialmente as conseqüências da devastação a que foi submetido o povo iraquiano durante a Guerra do Golfo. De facto, também foi um realily show, uma guerra televisiva, e afinal, também lembrávamos isto quando falávamos de Kosovo, onde aliás foi anunciada com exagero a Nova Ordem Mundial que era estabelecida no planeta depois da queda do campo socialista.

Acho que seria importante mencionar algumas dessas cifras. Em primeiro lugar, sobre o Iraque foram lançadas naquela altura 140 000 toneladas de explosivos, com uma potência oito vezes superior às bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Onde está a declaração da Comissão de Direitos Humanos que condena os países que fizeram este genocídio? Desses explosivos, um milhão de projécteis foram disparados por aviões e estavam revestidos de urânio empobrecido.

Segundo dados, inclusive do próprio Departamento de Defesa dos Estados Unidos, 40 toneladas deste material radioactivo estão ainda sobre territórios do sul do Iraque, o que resulta uma explicaçã lógica do facto de que hoje existam povos inteiros em que as crianças nascem cegas ou com malformações congênitas no coração e nos pulmões, e que tenha aumentado o número de abortos em mulheres com avançado estado de gravidez. Onde está a declaração da Comissão de Direitos Humanos que condena os países que fizeram isto?

O Iraque se converteu num laboratório de provas de material não experimentado e desconhecido nesta altura.

Há outras cifras, como por exemplo, a da UNICEF que referem que o bloqueio tem provocado que a mortalidade infantil do povo iraquiano tenha passado nestes 10 anos, em menores de cinco anos de idade, de 56 por cada mil nascidos vivos a 131 por cada mil na actualidade; ou que a taxa de mortalidade infantil em menores de um ano tenha passado de 17 por cada mil a mais de 100 por cada mil, e que se tenha impossibilitado, por suposto, a adquisição de medicamentos e alimentos para reverter essa situação.

Por outro lado, as fontes colocam dados como estes: as mortes por doenças diarréicas passaram de 106 por mês a 1811 -a primeira cifra é de há 10 anos, e a segunda que estou a mencionar é da actualidade-; ou as mortes de crianças por problemas de pneumonia, de 93 por mês a 1507; ou as cifras de mortes por malnutrição em crianças, de 73 por mês a 2051; ou o aumento, a duplicação das crianças que têm nascido com doenças, como lábios leporinos, de 1 cada 1200 a 1 cada 600; isto é, tem-se duplicado. Onde está a Declaração da Comissão de Direitos Humanos que condena os países que fizeram este genocídio?

Mais de 1,2 milhões de pessoas morreram por causa deste bloqueio, e mais de 6000 crianças morrem cada mês por causa das conseqüências deste bloqueio, ou seja, que acho que resulta evidente a responsabilidade que têm tido os países que hoje continuam a advogar pelo mantimento deste bloqueio criminoso sobre o povo iraquiano, e esses não foram condenados na Comissão de Direitos Humanos. De quê direitos humanos vão falar esses países que pretendem acusar Cuba?

Nidia Díaz.- Quero aprofundar sobre o tema do Iraque, porque, realmente, se num lugar igual do que na Iugoslávia se demonstra esta dupla moral, esta dupla rasa para tratar dos direitos humanos, é no caso do Iraque.

No caso do Iraque não é que tenha acontecido, é que está a acontecer, e ocorre o que colocou Rojas: os Estados Unidos e a Grã Bretanha conseguiram silenciar os bombardeamentos sistemáticos que desde Dezembro até hoje estão acontecendo contra o povo iraquiano; isto é, que não houve um dia em que não tenha havido um ataque aéreo contra esse país.

Mas hoje, a isto soma-se-lhe o facto de que têm um bloqueio que não lhes permite satisfazer os requerimentos alimentares dessa população e, como disse Polanco, por exemplo, no passado mês de Julho morreram 10 000 iraquianos e deles, 7000 eram crianças. A gente se faz a pergunta: Com que direito a Grã Bretanha e os Estados Unidos levam a cabo esses bombardeamentos, esta agressão económica contra esse povo? Bom, a única resposta é a prepotência de um império que, simplesmente, vai à cabeça do hegemonismo mundial, ou as presunções coloniais, às que ao que parece não quer renunciar a conhecida por todos como a pérfida «Albión».

Eu me pergunto porquê no Conselho de Segurança não se tomam e não se adoptam medidas para pôr termo a esta tragédia do Iraque, apesar de que constantemente o tema está a ser promovido.

Há alguns dias no Conselho de Segurança, perante tantas crianças mortas no Iraque por falta de alimentação e por doenças, houve personagens públicas das Nações Unidas, altos funcionários a quem lhes passou pela mente dizer que talvez para aliviar a situação das crianças no Iraque se lhes podia distribuir bolachas vitaminadas. Vejam só, se isso não fosse trágico, se não fosse imoral, realmente produziria risos. Bolachas vitaminadas para uma população que em um mês perde 7000 crianças e 3000 adultos por fome.

Mas é que, além disso, precisamente por essa situação, há alguns dias foi discutida a possibilidade de alargar os termos dessa cláusula que existe no Conselho de Segurança e mediante a qual é-lhe permitido ao Iraque vender uma parte da produção do seu petróleo, para com uma parte desse dinheiro pagar a dívida que tem com o Kuwait e com outros -por causa da invasão, como todos sabemos, esse escorregão que fez o Iraque-, e com outra parte, comprar alimentos para a população; mas, evidentemente, alimentos que, por um lado, têm a sua compra bloqueada e não lhes são vendidos e, por outro, não são suficientes.

Então, quando parecia que todo o mundo concordava com que devia ser assim, que tinha que ser assim, lembremos que há umas semanas atrás foi movido o tema do preço do petróleo, e então não era conveniente dar-lhe maior cota de venda ao Iraque para o seu petróleo, visto que isso incidiria no descenso dos preços do combustível. Isto é, que é um padrão, uma rasa imoral, na verdade, de interesses que apenas beneficiam essas potências, esses países que, aliás, são os responsáveis do subdesenvolvimento dos nossos povos, são os responsáveis de que não nos tenhamos desenvolvido, são os responsáveis de todas estas situações étnicas que foram criadas nos nossos países; ou seja, que são os responsáveis de tudo, e ainda por cima outorgam-se a faculdade de nos atacar. Por quê?

Bom, simplesmente o Iraque é atacado e a causa fundamental é, ou deve ser, ou eu acho que seja, simplesmente, porque eles não conseguiram ainda -isto é, os Estados Unidos e a Grã Bretanha, que como disse Polanco se dobra nesta guerra de agressão contra o Iraque- criar um movimento de resistência interna que consiga derrubar o governo actual; governo actual que, além disso, ao nacionalizar o petróleo, afectou os interesses estratégicos-comerciais dos Estados Unidos em relação ao hidrocarboneto.

Porém, além disso, porque o Iraque é um polígono militar; o Iraque não é apenas esse país que está bloqueado, senão que é hoje um polígono militar onde os Estados Unidos pode colocar um rótulo que diz: combat provent; isto é, todas as armas provadas em combate, e esse é o maior carimbo de qualidade que pode ter uma arma no mercado. Portanto, os Estados Unidos têm no Iraque esse polígono militar que faz com que as suas armas sejam alí provadas e sejam mais competitivas no mercado de armamentos a nível internacional, inclusive, em detrimento dos seus próprios aliados.

Que direito tem esta gente a cometer isto? Porquê então acusam outros de violarem os direitos humanos quando eles é que o fazem? Que violações dos direitos humanos se produzem no nosso país? Antes pelo contrário, no nosso país é que está garantida a educação para as crianças, está garantida a alimentação; somos um povo exemplo, inclusive, de cooperação com países do Terceiro Mundo. Ou seja, realmente esta acusação contra Cuba resulta imoral.

Mas gostaria de lhes ler, finalmente, um telex da agência IPS que demonstra como é expressada esta imoralidade por parte desses que encabeçaram a votação contra Cuba na Comissão de Direitos Humanos.

O telex de IPS diz assim:

"Em Abril do ano passado estourou um escândalo na Grã Bretanha ao se revalar que as universidades de maior prestígio, os institutos de caridade mais piedosos, e os principais hospitais investem os fundos de pensão dos seus empregados na indústria armamentista. Os responsáveis da educação, a caridade e a saúde explicaram que colocaram o seu dinheiro nas empresas que rendem maiores lucros."

Um porta-voz da Universidade de Glasgow disse-o com todas as letras, segundo revelou o despacho da agência IPS:

"Não fazemos distinções morais. Preocupa-nos que os investimentos sejam rentáveis, não que sejam éticos."

Se eu fosse Taladrid, diria que os nossos telespectadores tirassem as suas próprias conclusões, mas como não sou Taladrid digo: isto é imoral; simplesmente, isto é imoral, isto não tem outro qualificativo.

Rogelio Polanco.- Carmen, acrescentando ao que apontava Nidia, acho que é importante reiterar uma coisa, e é que hoje a soberania do Iraque está a ser limitada, não apenas por tudo isso que foi colocado aqui, pelo bloqueio, mas porque esses bombardeamentos acontecem a partir de zonas de exclusão aéreas que foram estabelecidas unilateralmente pelos Estados Unidos, pela Grã Bretanha e pela França, e a partir das quais se tem bombardeado pessoal civil, cidades, tem-se bombardeado determinados pontos do território iraquiano e a essa nação não lhe é permitido o exercício pleno da sua soberania sobre todo o seu território. Faz parte dessas novas concepções que o imperialismo utiliza para limitar a soberania nestes momentos nos países do Terceiro Mundo.

Mas queria referir-me muito sucintamente a um telex de Reuters, de ontem, e que fala que a guerra no Iraque continua, isto é, isso que também apontava Nidia, continuam os bomabardeamentos.

"O Iraque disse na quinta-feira" -ou seja ontem- "que os ataques de aviões do ocidente nas suas regiões septentrional e meridional deixaram por volta de 295 mortos e 860 feridos desde meados de Dezembro de 1998." Quer dizer, é uma questão sistemática o que tem estado acontecendo com esses bombardeamentos.

"Na semana pasada" -isto não é uma coisa que ocorreu há muito tempo, mas na semana pasada- "funcionários iraquianos informaram de 15 mortos e 18 feridos quando aviões ocidentais atacaram diversos objetivos no sul do Iraque."

Isto é, que perante os olhos do mundo continua a ser cometida uma violação flagrante dos direitos humanos do povo iraquiano. Onde está a Resolução da Comissão dos Direitos Humanos que condena Estados Unidos e Grã Bretanha por esses mortos, por esses feridos?

Mas, Carmen Rosa, não só se provoca a ciolação dos direitos humanos dos iraquianos, mas também estas nações desenvolvidas, estas nações imperialistas violaram os próprios direitos dos seus cidadãos. Lembremos o que se fala da doença que é conhecida como Síndrome do Golfo, que tem sido um grande escândalo e que é considerada um enigma da medicina, que açoita pelo menos 100 mil soldados norte-americanos e a um número considerável, mas não determinado, de militares canadianos e britânicos, desde o mesmo momento da retirada dessas forças da guerra contra o Iraque em 1991; é uma questão que tem sido tocada em numerosos meios de comunicação, e está claro que foram utilizados como carne-de-canhão os próprios cidadãos norte-americanos e de outras nações imperialistas e europeias, e que isto não foi suficientemente investigado.

Cá tenho uma informação da Rand Corporation, um centro de pesquisas norte-americano, sediado em Califórnia, e que com financiamento do Pentâgono, elaborou um documento de 385 páginas, após dois anos de estudos, e que colocou ao dispor do Departamento de Defesa estadunidense, e em que é afirmado que o brometo de pyridostigmina, conhecido pelas siglas Pb, poderia ser o causante da Síndrome do Golfo, que é essa doença que tem provocado numerosos padecimentos nos soldados que participaram na Guerra do Golfo, desde a perda do cabelo, problemas neurológicos, até digestivos.

"The New York Times, o influente jornal de Nova Iorque, assegurou que entre 250 000 e 300 000 soldados norte-americanos receberam o Pb" -isto é, essa substância-, como antídoto para gases neurotóxicos antes da Guerra do Golfo. Washington desdobrou ali 700 000 efectivos."

E continua este documento: "Beatrice Golomb, acadêmica de São Diego, é a autora do relatório da Rand Corporation e quem encontrou semelhanças entre as afecções da Síndrome do Golfo e os efeitos secundários deste brometo de pyridostigmina. À sua investigação, se lhe acrescenta um estudo Israelense em que se demonstra que essa substância, que está em uso desde os anos 50, penetra com mais facilidade no cérebro quando o indivíduo que o recebeu está em condições de estresse. Também aumenta a actividade muscular, a reflexão e as funções respiratórias e digestivas."

"Ninguém duvida que estar ou ir à guerra é uma situação altamente estressante. Portanto, poderia se prever que o uso desta substância deixava seqüelas imediatas." Isto é, que era conhecido que essa substância ia ter essas seqüelas sobre os soldados destes países.

"O Pentâgono lhe deu essas pílulas às tropas que enviava ao Golfo, e depois foram necessárias injeções e medicamentos adicionais para garantir os seus efeitos preventivos. As tropas deviam tomar pílulas de 30 miligramas 3 vezes por dia, enquanto durava o tratamento.

"Sobre a Síndrome do Golfo há outras intenções ocultas que põem em causa o proceder do Pentâgono com os seus próprios homens e mulheres, visto que as fêmeas também estiveram na região bélica.

"O Departamento de Defesa dos Estados Unidos não acelerou as pesquisas sobre a doença, visto que embora a Síndrome do Golfo apareceu logo após que concluiu o conflito bélico, só a partir de 1994 dedicou financiamento para a sua investigação", ou seja, que esta questão não foi atendida, que também foi uma violação flagrante dos direitos humanos dos seus próprios cidadãos de forma expedita.

"Além disso, levou mais de um ano para admitir que por volta de 100 000 soldados norte-americanos tinham sido expostos também a doses mínimas de gases neurotóxicos durante a destruição de um depósito de substâncias da indústria química iraquiana.

"Ainda o Pentâgono descarta que essa explosão pudesse ter ocasionado conseqüências nas tropas", quer dizer, ainda hoje não é reconhecido.

"Só agora, as investigações feitas pelo Pentâgono aprovam as suspeitas sobre uma possível causa para o mal.

"Também se soube que os soldados, durante a Guerra do Golfo, foram expostos a pesticidas, repelentes e outros agentes nervosos, fornecidos pelas suas próprias forças para os proteger."

Isto é, evidentemente, como diz uma das pessoas que participaram na Guerra do Golfo, uma canadiana: "Somos como cogumelos mantidos na escuridão, assim é como os nossos governos nos têm tratado."

Uma resolução de uma comissão de direitos humanos tinha que ter condenado essas coisas feitas por essas nações, que fizeram aqueles que pretendem condenar Cuba e quem, obviamente, não têm moral nenhuma para nos denunciar e, além disso, continuam a violar os direitos humanos de outros povos e dos seus próprios cidadãos.

Carmen R. Báez.- Polanco, eu te escutava, e apontavas que onde está a Resolução da Comissão dos Direitos Humanos a condenar tudo isso que tem acontecido no Iraque, e me lembro que há apenas alguns dias no Noticiário Nacional de Televisão -acho que há dois ou três dias disso-, comentava-se a denúncia feita pelo Iraque dos bombardeamentos com urânio empobrecido; as conseqüências que traziam para a população iraquiana, e, não obstante, neste mesmo noticiário se nos informava que o Iraque era quem fora condenado pela Comissão de Direitos Humanos de Genebra, pela situação interna desse país.

É algo relativo à hipocrisia de que etamos a falar aqui, e como de certa forma, até esta altura temos estado a abordar algumas formas de intervenção em outros países que começaram a proliferar como pretexto nos últimos anos, e em muitas dessas formas - e pelo menos, das que temos estado a falar- participaram países -acho que sempre resulta bom sublinhá-lo- como a Alemanha, o Canadá, a França, Itália, Portugal, a Espanha, o Reino Unido, os Estados Unidos, que são países que votaram contra Cuba na Comissão de Direitos Humanos que nos estão a condenar. E esses países que de certa maneira têm participado, ou se pronunciaram, ou têm apoiado formas de intervenção, também estão envolvidos com a NATO. Parece-me que seria muito bom analisar profundamente o quê é a NATO, quais os seus antecedentes.

Estimo que neste caso, Arsenio, que tem estado tratando temas como este no jornal Granma, nos poderia ajudar um bocado para nos esclarecer ainda mais sobre o quê é a NATO, quais são os seus antecedentes, o quê pensa a NATO de tudo isto, como se pronuncia nestes dias.

Arsenio Rodríguez.- Pois não. Antes de entrar em matéria, acho que no momento de ser conhecida a decisão da Comissão de Direitos Humanos em Genebra, a indignação do nosso povo foi justa, e agora, com a informação que está a receber através destas mesas informativas, imagino que será ainda maior, sobre tudo porque resulta tão evidente que isso responde a uma intenção dos Estados Unidos e os seus comparsas de condenar Cuba, por algo tão sensível que o cubano não pode aceitar por muitas e convincentes razões.

Quero fazer algumas reflexões sobre aqueles que votaram em favor da Resolução em contra do nosso país.

Como bem apontavas, estão os Estados Unidos e o Canadá, estão alguns países membros da Europa comunitária, e tanto os primeiros quanto os últimos fazem parte da NATO. Também está o fantoche, que penso que não é necessário dizer em Cuba o nome dessa República, e dois aspirantes a capitalistas da Europa Oriental.

Num primeiro olhar, quando vemos a lista dos países que votaram contra nós, aparece, antes do mais, o pai da criatura: os Estados Unidos. Ora bom -e tento responder assim ao ouvir os meus colegas a se fazerem algumas perguntas: porquê não há uma resolução de condenação; porquê nas Nações Unidas não se fala nada nisso; porquê, como dizia Fernando, na imprensa desses países que dizem que estão bem informados, porém não se diz nada-, este facto e outros que foram aqui mencionados, demonstram mais uma vez a confusão reinante que existe neste mundo de fim de século.

Cá aparecem vários destes países que são os que dizem o quê deve ser feito e como, e quem tencionam impor para o novo milênio as regras que regirão o destino da humanidade.

Qual o papel destas nações na comunidade internacional e como explicitar esta dupla moral que, simplesmente, façam tudo o que quiserem e não acontece nada? Entre eles, antes do mais, há antigas metrôpoles -que Nidia comentava um pouco nesse sentido-, que foram os que destruíram as nossas culturas, os que nos colonizaram, os que nos escravizaram, os protagonistas de duas guerras mundiais e sabe-se lá quantas agressões e intervenções militares a nações soberanas; são além disso, os principais fabricantes e exportadores de armas, os actuais credores da maior parte da humanidade, e para não serem menos, agora são os paladinos mundiais na defesa dos direitos humanos. Estou a falar nos países da Europa Ocidental, o Canadá e os Estados Unidos, que aparecem na lista; os outros três, ora bom, seguem mansamente esses países de primeira ordem.

Bom, dizia que fazem parte da NATO; mas, além de integrar a NATO, ocupam também vagas privilegiadas no Conselho de Segurança da ONU, e com isso têm, aliás, o direito ao veto. Fazem parte também do Grupo dos 7; mas também presiden e predominam na Comissão de Direitos Humanos de Genebra; são os donos dos médias principais e também os teóricos da globalização neoliberal -e apenas estou a citar parte do poderio que detentam neste planeta.

Afinal, qual é a imagem que se lhe fornece ao mundo? Agressores que aparecem como defensores da paz; credores que se nos apresentam como almas caritativas, preocupadas pelo desenvolvimento do Terceiro Mundo, que casualmente esse Terceiro Mundo constitui a maioria dos 6 bilhões de habitantes com que conta o nosso planeta.

Ora bom, como você me perguntava, quero deter-me na NATO.

Esta organização bélica celebrou o seu 50 aniversário, não precisamente com fogos de artifício, como foi aqui demonstrado, mas com o lançamento massivo e indiscriminado de mísseis e bombas sobre a Iugoslávia, e que ao faltar-lhe a URSS e o comunismo, que eram os seus principais inimigos desde a sua criação, simplesmente têm encontrado, além disso de forma perigosa, novos inimigos para poder demonstrar o seu poder de destruição.

A NATO -e isso é bem fácil de demonstrar, a imprensa, os telexes, diariamente o reflectem-, possui o maior paiol da história, suficiente para destruir este planeta várias vezes; isso foi denunciado em numerosas ocasiões; contudo, os membros da NATO, esses que votaram contra nós, são os que mostram uma enorme preocupação sobre as possíveis e modestas armas com que tencionamos nos defender os que nascemos e vivemos nas nações pobres ou subdesenvolvidas.

Durante uma das cimeiras desta organização bélica -e gostaria entrar já nalguns pormenores- celebrada em Madrid em Julho de 1997, o secretário norte-americano de Defesa William Cohen, definiu a doutrina militar do seu país -e quando falo em seu país, entenda-se a NATO, porque os Estados Unidos é quem dirige a NATO-, com o princípio fundamental de atacar rápido.

É nessa época em que o Secretário Geral da Aliança Atlântica, ou NATO, era o espanhol Javier Solana, que, segundo a própria imprensa do seu país e da Europa, converteu-se de mansa pomba em falcão -esta terminologia é porque esse homem era quase pacifista e de repente se converteu em falcão dirigindo uma organização bélica-, e a finais de 1999 Solana afirma que a sua tarefa e a da organização era desenvolver o novo conceito estratégico dessa organização. Porém, não haviam detalhes nesse momento.

Depois da Iugoslávia, é substituído no cargo por George Robertson, ex-ministro de Defesa da Grã Bretanha, quem é definido como defensor de uma identidade de defesa europeia, velha aspiração dos europeus, embora ao ocupar o cargo declarou paladinamente que a política chave desta organização era manter os fortes laços que existem com os Estados Unidos na defesa da Europa. Ou seja, por uma parte querem ter uma defesa própria e por outra, inevitavelmente continuar a depender do poder dos Estados Unidos.

Aqui não foi dito, ou foi dito em parte, que durante a agressão à Iugoslávia eram os norte-americanos quem atiravam os mísseis, davam as ordens e simplesmente, eles eram a tropa que lhes secundava.

Algum do que outro analista europeu, precisamente, comentou que talvez este senhor -o novo Secretário Geral- acedia ao cargo como prémio à sua actitude beligerante durante a agressão à Iugoslávia. É considerado um pragmático e um pouco amante da argumentação política.

Como dado adicional, a própria rainha Isabel lhe outorgou o título de Lord de Port Alen, nome da localidade em que nasceu no seio de uma família de polícias.

Já sabemos quem é a pessoa; vamos ver como é que pensa.

Quais foram os objectivos que se colocou o sobredito Lord? Numa frase o diz: " A minha primeira prioridade é a capacidade militar; a segunda e a terceira é a capacidade militar, porque a credibilidade da Aliança depende da capacidade militar que tenhamos."

Este é o homem, Carmen Rosa, ao qual lhe coube instrumentar a nova conceição estratégica da NATO.

Carmen R. Báez.- De la Oz está a pedir a palavra, imagino que também é para falar de um intelectual como Solana, não é?

Pedro de la Oz.- Sim, infelizmente para falar de um intelectual como o espanhol Javier Solana.

O espanhol Javier Solana foi Secretário Geral da NATO precisamente num momento terrível, e o qualificaria como uma personagem muita curioso, que concentra em si próprio, como parte da cúpula do poder destes Estados europeus, desde a NATO, e sob a égida do imperialismo norte-americano que pretendem ser gendarmes globais; visto que não é outra coisa o que pretendem fazer, é uma gendarmeria global o que se tem desatado a partir dessa organização.

Essa gente se propôs, porém de uma maneira muito séria e muito perigosa, impor práticas incivilizadas que desmentem a tradição cultural do continente.

O travestismo de Solana -e não o posso qualificar de outra forma- é muito eloquente. Alguma vez este homem se opôs com tenacidade, e acho que até sinceramente, à entrada da Espanha na NATO e, não obstante, de uma maneira supersônica se converteu em Secretário Geral, esteve a chefiar a Aliança Atlântica. Mas depois o giro foi muito mais violento do que dizê-lo assim simplesmente, visto que Solana foi ministro de Cultura, e sabemos o que representa ter essa responsabilidade, os valores que se defendem desde esse cargo, e me lembro precisamente como Solana, numa dada altura, até se opôs e falou bastante sobre os perigos da invasão audiovisual da subcultura norte-americana para a Europa, da qual eram vítimas os europeus.

Contudo, eis à cabeça da NATO, inaugurando uma etapa tremenda -como eu dizia-, a defender valores que estão a mil quilômetros-luz de todo tipo de valor cultural, tornando-se uma alavanca dos falcões ianques, sendo ele próprio um falcão. E eis também na NATO inaugurando essa etapa com o gatilho genocida, que esa é a etapa a que fazia referência Arsenio precisamente na sua intervenção.

García Márquez, ao chamar à atenção sobre esse travestismo de Solana, manifestava assombro e também sentimento irônico, numa crônica -que lhe deu a volta ao mundo- maravilhosamente escrita, ao ver como este homem tinha mudado dessa forma tão absurda.

Para mim, simplesmente, resulta um caso lamentável que resume a inconsistência e a baixaria moral desta cúpula do poder que se move à volta da NATO. E também essa era a própria inconsistência e baixaria moral que evidencia a Resolução anticubana aprovada pela CDH.

Carmen R. Báez.- Arsenio, você falava da nova concepção estratégica da NATO. Acho que não podíamos ficar assim, mas aprofundar mais um bocado.

Arsenio Rodríguez.- Acho que, aliás, devemos aprofundar visto que é um tema muito importante, não só para os países que até há bem pouco estavam sob a influência da NATO, senão simplesmente, porque é uma nova concepção que afecta a todos no Caribe e em qualquer parte do mundo. E vou explicar porquê.

Em essência, trata-se de oficializar a doutrina do direito à intervenção global e por múltiplas razões. Esta doutrina foi dada a conhecer precisamente ao concluir o injustificado genocídio contra a Iugoslávia e durante as celebrações do 50 aniversário da fundação da organização.

Ora bom, em quê está baseada esta doutrina e quais são os pretextos que os do pacto atlântico argumentam para a sua implementação?

Tomei notas, e quero ser muito exato para que o nosso povo conheça a argumentação, porque, repito, toca-nos a todos.

A letra desta doutrina diz, vou ler: "Com o propósito de fomentar a paz e a estabilidade na Europa, e num contexto mais amplo, os aliados europeus elevam a sua capacidade para a ação, incluído o aumento do seu poderio militar."

Mais adiante se fala da segurança da Aliança, que está sujeita -segundo eles- a riscos militares e não militares que assume" -e aqui vem outra citação do documento reitor- "diversas direções e soem ser difíceis de predizer. Entre esses riscos estão a incerteza, a instabilidade na região e nos seus arredores e a possibilidade de crises regionais na periferia da Aliança.

"Utilizam-se outros conceitos como: Os interesses de segurança da Aliança podem ver-se afectados por outros riscos de um carácter mais amplo.

As forças militares combinadas da Aliança devem estar dispostas para contribuir à prevenção de conflitos e realizar operações de resposta às crises não previstas." Isto é, abrange tudo.

"A dimensão, a preparação, a disponibilidade e o desdobramento das forças militares da Aliança reflectirão o seu compromisso com a defesa coletiva e o desenvolvimento de operações de resposta às crises, por vezes com pouca antecedência, longe dos seus quartéis, incluídas as operações longe do território dos aliados.

Depois, reiteram que "as forças da NATO podem ser chamadas a agirem para além das suas fronteiras". Não estou a repetir o mesmo parágrafo, é a argumentação que em cada parágrafo se insiste, de forma obsessivamente, de como podem agir onde quiserem.

E para rematar esta virtual declaração de guerra contra tudo aquilo que, segundo os membros da NATO, coloque em perigo a sua segurança, assegura -e cavem outra citação do documento- "resulta mais provável que as possíveis ameaças à segurança da Aliança emanem de conflitos regionais étnicos ou outras crises mais além do território da Aliança, bem como a proliferação das armas de destruição massiva e os seus vetores."

Acho que a bom entendedor meia palavra basta.

Agora, em quê consiste -para o dizer às claras- a nova política atlântica? A NATO inaugurou na Iugoslávia -país agredido sem declaração de guerra nenhuma, uma nação soberana à qual lhe foi desconhecida a sua soberania- a sua nova concepção estratégica que, segundo disse Solana, esse que Pedro caracterizava, "marca a transição de uma Aliança preocupada principalmente pela defesa coletiva para uma que defenderá os valores democráticos tanto dentro quanto fora das nossas fronteiras".

Então, a NATO se converte numa aliança de carácter ofensivo que agirá no que chamam de, entre parênteses, a periferia euro-atlântica. Isto, simplesmente, é em qualquer parte do mundo, ou seja, nos nossos países do Terceiro Mundo.

A nova concepção estratégica descreve que a NATO agirá frente às chamadas "ameaças globais", que incluem a posse ilegal de armas de extermínio em massas, o tráfico de drogas, o terrorismo, as violações massivas e flagrantes dos direitos humanos e os conflitos internos dos Estados.

Simplesmente, a NATO se atribui o direito à chamada "intervenção humanitária", que não é outra coisa do que o direito à intervenção a escala global em qualquer um dos países do Terceiro Mundo, com pretextos humanitários ou de outra natureza. Creio que este tipo de definição é muito claro.

Como dizia, e repito, acho que é muito fácil de entender, estamos nas mãos da interpretação de quem possam decidir em um momento determinado um ataque com uma ou outra excusa, justificando-o depois como Conselho de Segurança da ONU e talvez ajudando economicamente, nalguma reunião, à reconstrução do que foi destruído, ora seja do Grupo dos 7, do FMI ou do Banco Mundial, visto que, como dizia anteriormente, são os mesmos: são os mesmos que bombardeiam, são os mesmos que colocam o veto para que sejam ou não sancionados, são os mesmos que depois dão o dinheiro para que te ajudem ou não naquilo que eles mesmos destruíram, e que, aliás, entre parênteses, há ajudas dessas que nunca chegam, fala-se, diz-se, mas nunca chegam.

Eles, este grupo que faz parte da elite belicista deste planeta, nomeadamente os Estados Unidos, já sabemos que decidem tudo. Não se limitam a certificar a boa conduta dos países que lhes ajudam na luta contra as drogas, aquele papelzinho em que cada ano dizem se é bom ou é mau, a quem deve ser entregue um ou outro empréstimo, e afinal, agora querem se impor como os juizes do mundo, e além disso, com o poder das armas, com o agravante de que as suas sentenças são inapeláveis.

Nestas aventuras bélicas são acompanhados pela culta Europa, que não obstante considera como gente atrasada e de outro nível, não só aos emigrantes que chegam aos seus territórios procedentes de países subdesenvolvidos, os negros, mulatos, os índios, mestiços, os ciganos, mas também os próprios brancos da Europa do Leste, aquela que era socialista e que agora está a tentar ser capitalista, pois são considerados cidadãos de segunda classe.

Quero concluir recordando as palavras do companheiro Fidel ao abordar este tema durante a primeira sessão de trabalho da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da América Latina e o Caribe e a União Européia, celebrada no Rio de Janeiro a 28 de Junho de 1999.

"Há uma questão política muito importante, que não posso deixar de sublinhar a respeito do novo conceito estratégico da NATO. Referir-me-ei a quatro parágrafos.

"Um: 'Com o propósito de fomentar a paz e a estabilidade na Europa e num contexto mais amplo, os aliados europeus elevam a sua capacidade para a ação, incluído o aumento do seu poderio militar.'

"Dois: 'A segurança da Aliança continua a estar sujeita a uma larga variedade de riscos militares. Esses riscos estão na incerteza e a instabilidade na região euro-atlântica e nos seus arredores, e a possibilidade de crises regionais na periferia da Aliança.'

"Três: 'Contar-se-á com um maior número de elementos de força nos níveis de preparação adequados para realizar operações prolongadas, ora dentro do território da Aliança ora fora deste.'

"Quatro: 'Resulta mais provável que as possíveis ameaças à segurança da Aliança emanem de conflitos regionais, étnicos ou outras crises mais além do território da Aliança, bem como a proliferação das armas de destruição massiva e os seus vetores.'

"Desejo colocar três brevíssimas reflexões e interrogantes.

"Um: desejaríamos que nos esclarecessem, se for possível, se os países da América Latina e o Caribe estão ou não compreendidos dentro da periferia euro-atlântica definida pela NATO.

"Dois: A União Européia, depois de muitos debates, apoiou uma declaração desta Cimeira, que diz: 'esta associação estratégica está sustentada no pleno respeito ao direito internacional e nos propósitos e princípios contidos na Carta das Nações Unidas, os princípios de não intervenção, o respeito à soberania, à igualdade entre os Estados e à autodeterminação'. Isto significa que os Estados Unidos também se comprometem a respeitar os princípios contidos neste acordo dos seus aliados? Qual será a atitude da Europa se os Estados Unidos decidem pela sua própria conta lançar bombas e mísseis, com qualquer pretexto, contra qualquer um dos países da América Latina e o Caribe aqui reunidos?

"Três: Todo o mundo sabe que, por exemplo, Israel possui centenas de armas nucleares feitas com determinada ajuda ocidental, sobre o que se tem guardado um esquisito e hermético silêncio.

"Isto significaria que num qualquer dia a NATO, partindo do ponto quatro antes referido, em virtude de uma proliferação clandestina, não só de armas de destruição maciça, mas também de uma produção massiva destas armas, poderia proceder a lançar milhares de bombas sobre Jerusalém, Telavive, cidades israelenses e palestinianas; destruir sistemas eléctricos, cidades, estradas e todos os meios essenciais de vida desses povos, matando diretamente dezenas de milhares de civis inocentes e ameaçando a existência do resto da população? Pode ser esta a solução civilizada de tais problemas? Poderia assegurar-se que não conduziria a um conflito nuclear? Aonde nos conduziria a nova e insustentável doutriona da NATO?

"Depois de ter expressado só uma mínima ideia no que se refere a este tema delicado, não tenho nada mais a dizer. Peço desculpa."

Depois de fazer estas perguntas na primeira sessão da reunião cimeira, o presidente do Brasil, Fernando H. Cardoso, que presidia a mesma, disse que essas perguntas eram muito importantes e que na reunião privada dos Chefes de Estado e de Governo que seria celebrada logo após, esperava que fossem respondidas. Porém, naquela reunião, que segundo fontes diplomáticas durou por volta de duas horas, nenhum dos representantes da UE e membros da NATO disse nada a respeito do tema.

Esses são os comentários que queria fazer, Carmen Rosa.

Carmen R. Báez.- Lembro-me, tal e como você apontava, Arsenio, que esta reunião foi celebrada em Junho de 1999; não me lembro de que as perguntas estejam respondidas nem de que se tenham recebido respostas. Inclusive, quando você começou a falar desta nova concepção estratégica da NATO, quando eles falavam de toda a zona euro-atlântica, você apontava: "quer dizer, nós, os países do Terceiro Mundo." Essa é a resposta que nós próprios nos damos, isto não quer dizer que eles nos tenham respondido.

Arsenio Rodríguez.- Não, não, e queria esclarecer-te isto. Todos os autores que conceberam esta nova concepção da NATO são os mesmos que agora, na Europa, como se fosse uma desforra ou uma maneira de respondê-lo, promoveram e apoiaram estas resoluções, que realmente é o que fazem tradicionalmente os políticos em favor dos Estados Unidos. Mas pareceria ser a resposta às palavras do Comandante-em-Chefe, porque realmente, como não têm respostas, então vem a desforra, vem a rejeição, vem a proposta de sanção para algo que realmente nos doi.

Carmen R. Báez.- Julgo que eles nos respondem quase todos os dias, o que acontece é que nos devemos interpretá-lo. Respondem-nos na Comissão de Direitos Humanos, respondem-nos com as suas ações contra outros países, respondem-nos sempre a nos olhar por cima do ombro, sem reparar também que aqui há países com imensa dignidade, e se eles não forem capazes de rectificar, nós então devemos denunciar.

Essa é a batalha que hoje estão a levar a cabo os nossos diplomatas na sede da Comissão de Direitos Humanos de que falava há pouco o nosso Chanceler.

Bom, creio que até aqui falamos bastante também das agressões, de violência e de hipocrísia. E falando em hipocrísia, acho que a Europa tem outras coisas no dia a dia que por vezes não parece de grande magnitude, e como vão aparecendo quase todos os dias no Noticiário e se vão aglomerando, tal parece que não nos matam algumas das penas que se vivem dentro da Europa.

Julgo que aqui há companheiros que nos poderiam ajudar a falar sobre algumas destas questões.

Você, Lázaro, está a me pedir a palavra? É para se referir a hipocrísia da Europa, ou não?

Lázaro Barredo.- Não é tanto da Europa como de um dos seus aliados estratégicos que não queria deixar de parte, que é membro da NATO, vizinho... é uma extensão dos Estados Unidos para o norte, o Canadá; quero falar do Canadá.

Na verdade, quando o tema da Aliança foi discutido no Conselho de Segurança das Nações Unidas, é claro que o país que mais se mobilizou na discusão deste programa foram os Estados Unidos, que é o mais interessado em arrastar Europa e subordiná-la cada dia mais.

Estamos a pagar o custo do desafio de não render-nos perante essa unipolaridade, porém até os europeus se rendem, e isso poderá ser provado aqui em múltiplas ocasiões.

Dizia que quando isto foi discutido na ONU, um dos países que mais apoiou Estados Unidos nesta posição foi o Canadá e acho que a Holanda, se não me engano, e mesmo aí, no cenário das Nações Unidas começaram a dizer que esta política não podia ser detida pelos conceitos da soberania, que isso era um conceito obsoleto e que todos os princípios do direito internacional deveriam ser revistos, assim como a própria Carta das Nações Unidas. Chegaram até esse grau de ousadia no governo mundial.

Acho que a posição do Canadá foi bastante -repito- movida nesse sentido. Isso motiva-me a fazer três preguntas que estimo que seria bom deixar no ambiente desta mesa redonda, visto que para mim são interessantes, e é apartir da própria situação que o Canadá defronta.

Está livre o Canadá de um conflito interno após os problemas cessionistas que enfrenta em Quebec, e que são sérios? O quê aconteceria se um dia se desatar um conflito intenso entre os canadianos de fala francesa e os de fala inglesa e põem em risco a segurança nacional dos Estados Unidos e os interesses estratégicos da Aliança? Aceitaria o Canadá que no seu território se produzesse uma acção da NATO?

A questão que se coloca é se esta medida é igual para todo o mundo, e como eles não falam, não dizem, não respondem, não esclarecem as interrogantes que o Terceiro Mundo e, sobre tudo, os países pequenos têm a respeito destes problemas, seria interessante colocar estas interrogantes neste ambiente para ver se motiva uma explicação nesse sentido.

Carmen R. Báez.- Dos próprios canadianos e da NATO.

Lázaro Barredo.- Bom, suponho que da NATO e também dos canadianos, se quiserem. Eles fazem parte activa da NATO, são aliados de primeira fileira dos Estados Unidos e dos europeus em todas as concepções da Aliança.

Carmen R. Báez.- Dizia-lhes -e vamos deixar, como bem o diz Lázaro, as perguntas para ver se chegam as respostas-, quando Lázaro nos pediu a palavra, que até estes momentos falamos aqui de hipocrísia, de violência, de guerra de intervenção; porém, há muitas coisas que no dia a dia vão acontecendo, são penas que na Europa também vão se aglomerando, e às vezes parece que não matam, mas matam um pouco.

Gostaria que Reinaldo Taladrid nos ajudasse a aprofundar sobre algumas destas questões da hipocrísia europeia, visto que ele falou que tinha alguma coisa a acrescentar nesse sentido.

Reinaldo Taladrid.- Veja só, vou te propor uma coisa: vamos usar a linguagem da NATO, vamos passar da periferia, que é o resto do mundo, para o interior, vamos adentrar-nos na Europa. Quero falar da Europa por dentro, da Europa Ocidental e, sobre tudo, dos países que votaram em Genebra por uma condenação à situação dos direitos humanos em Cuba.

A história nunca deixa de desempenhar um papel nestas questões, e acho que alguns destes países, desses governos, são em certa medida um produto, em maior ou menor grau, da sua história.

Se falarmos de história na Europa, numa ocasião li que a Europa era o continente, na história da humanidade, em que o Estado, em proporção à sua população, tinha morto mais pessoas. Repara que, em proporção à sua população, à quantidade de população que tenha a Europa. E quem não se lembra, se disso se tratar, a quantas pessoas queimou a Inquisição espanhola. Há quem diga que é uma co-produção ítalo-espanhola, porque tinha um componente religioso muito forte; mas, podemos dizer, sem discusão, a Inquisição espanhola.

Mas, por vezes a história -as estatísticas dessa época não eram iguais às actuais, não eram tão exactas, nem confiáveis-e com o tempo soube-se que na mesma época da Inquisição espanhola, por exemplo, Enrique VIII da Inglaterra matou -e digo matou porque eram executadas pelo Estado- mais pessoas do que a própria Inquisição espanhola, incluída uma das suas oito esposas. Os que conhecem a história sabem que para resolver um problema religioso legal, Enrique VIII decidiu executar uma das suas esposas.

Na Suécia -que nessa época não era exactamente Suécia- no que é a península escandinava, foram queimadas mais mulheres acusadas de bruxas do que em toda a história, e executar mulheres é uma questão que sempre tem sido delicada. E o quê dizer dos processos judiciários que nessa época ocorriam na França e no sul, na parte mediterrânea que incluia várias zonas, em que, sem prova nenhuma, havia pessoas às quais lhes tiravam os olhos, acusados de roubo.

Isso acontecia nessa Europa que realmente -repito, as estatísticas o referem- é onde mais pessoas tem morto o Estado em proporção à sua população, de tudo o que conhecemos como história da humanidade.

Agora, vamos à actualidade. O quê acontece? Há muitas coisas e muitos indicadores de direitos humanos, e muitas formas de violar os direitos humanos e muitas violações de direitos humanos; mas quero me concentrar numa e usei a palavra assassinato. Agora quero falar das execuções extrajudiciárias que fazem e têm feito os países da Europa que votaram contra Cuba em Genebra.

Execução extrajudiciária é quando é morta uma pessoa sem que tenha sido condenada em julgamento. Repito, o Estado mata pessoas que não condenou em nenhum processo legal. E vamos começar por abaixo, vamos começar pelo sul, pela Espanha e a França; ambas votaram em favor de condenar Cuba.

Bom, um pouquinho de história. A Espanha é um país que tem multinacionalidade, inclusive, tem três línguas -fala-se catalão, vasco e castelhano-, e isto tem sido manipulado em muito diferentes formas na história da Espanha; mas perante o aumento, o auge que tiveram certos grupos extremistas com motivações políticas, o Estado espanhol moderno -vou falar do Estado espanhol moderno, a Espanha moderna, economicamente adaptada à Europa, já estava a entrar na NATO, estava a sair de tudo o que eles chamam o seu atraso-, decidiu enfrentar este problema. Como o enfrentaram? Vocês sabem que o País Vasco tem fronteiras com a França, e por isso tem parte na França, tem parte na Espanha. O quê fizeram? Em Junho de 1984 -sempre em muitas destas coisas aparece o dinheiro no meio- é assinada uma coisa secreta, que se chamou o Pacto da Castelhana, acho que foi assinado no Passeio da Castelhana em Madrid, entre a polícia francesa e a espanhola. Se comprometiam ao quê? A França se comprometia a colocar toda a logística e a cooperar materialmente em todas as actividades contra os vascos, e a Espanha, em troca desta cooperação, comprometeu-se a comprar-lhe 130 bilhões de pesetas em armamentos à França; e cumpriu; assim foi.

Nessa altura surgiu uma coisa que se chamou os GAL. Vou dizer-lhes o quê quer dizer os GAL -esta é uma instituição criada pelos espanhóis-: Grupos Antiterroristas de Libertação. Penso que se os sofistas gregos vissem o uso que lhe é dado hoje às palavras, iriam palidecer de inveja. Oiçam isto, Grupos Antiterroristas de Libertação.

O quê fez o GAL? Vou lhes dizer o que fez o GAL em coordenação com as autoridades e a polícia francesas, desde 1984 até hoje.

Conhecem-se mais de 100 casos documentados de torturas.

Colocaram quatro bombas em estabelecimentos em que haviam militantes vascos.

Seqüestraram -não na Argentina e no Chile, não com Pinochet e Videla-, na Europa, 17 pessoas, e actualmente há quase 10 -e digo quase 10 porque há alguns que não estão claros, e quero ser exacto-, desaparecidos; sem mães da Praça de Bilbao, sem nada disso, porque aí não se fala muito nisso, mas de 10 desaparecidos no meio da Europa, e finalmente assassinaram ou -não quero me tornar também um sofista- têm executado extraoficialmente 41 pessoas, todos vascos.

Querem ter um exemplo de como foi tudo isto? Vou-lhes contar apenas três casos, talvez dos mais conhecidos. No Bar Hendayis entrou um comando desses dos GAL e metralhou, para matar dois militantes vascos que lá estavam; mas matou os dois vascos e deixou 10 feridos graves com conseqüências posteriores, que eram inocentes. Ou seja, entraram num bar e metralharam. Não quer dizer que com um franco atirados você lhe disparou a um; não, não, não, metralharam o bar. Ora, em 1985 -já esta é a Espanha da NATO, moderna, integrada, que ultrapassou todos esses complexos de que se a África findava nos Pirinéus e todos esses complexos racistas que eles tinham- mataram mediante torturas, numa Comissaria em plena Madrid -essa Madrid já modernizada, cheia de anúncios e coisas assim bem europeias- um militante vasco. Torturaram-no, não souberam parar a tempo, talvez podiam ter aprendido um bocado dos militares chilenos e argentinos que sabiam bastante disso, e o mataram na Comissaria; mas tudo ficou complicado e não conseguiram ocultá-lo. Se alguém tiver alguma dúvida, mesmo na Espanha, o vasco chamava-se Joxe Arregi; aquele que quiser o pode comprovar.

Finalmente, em 1989, já mais recente, num restaurante de Madrid se encontrava um grupo de cinco deputados ao Parlamento, entre eles, quatro vascos e mais um grupo de pessoas; entraram os GAL e metralharam o restaurante, mataram um dos deputados e deixaram mais dois, com a sua imunidade parlamentar e tudo, feridos gravemente.

Esses são os GAL na Espanha e na França.

Vamos para um outro acusador de Cuba: a Alemanha.

Na Alemanha também, a década de 70 sobre tudo -na minha opinião, isto é uma ressaca de toda essa grande inconformidade que teve a juventude europeia nos anos 60 contra o sistema; e digo contra o sistema porque não era que lhe molestasse um governo; do que se falava nos anos 60 na Europa era de mudar o sistema, e mudar o sistema é muito mais complexo do que mudar um partido ou um governo-, originou diversas manifestações, desde os que se dobraram ao sistema, desde os que se tornaram críticos, até os que adoptaram posições extremistas; houve de tudo. Mas na Alemanha houve vários grupos desses.

O quê fez o Estado alemão? O Estado alemão, naquela época a RFA -embora legalmente ainda se chama República Federal da Alemanha, mas naquela época haviam duas-, a República Federal da Alemanha, a que fazia parte da NATO nesse momento, a da Europa livre, a parte livre, a parte boa, criou um sistema de cárceres da alta segurança. Ora bom, esses cárceres de alta segurança tinham as suas tipicidades.

Reparem no nome deste cárcere, para ver se antes de eu findar alguém a associa com algum período da história da Alemanha: um cárcere desses, de alta segurança, se chamava Lar de Pedra. Esses cárceres -é pena que nem Patrícia nem Aurora estejam aqui, as duas psicólogas- estavam todos pintados de branco; isto é, o réu só via branco por todo lado e por vezes estava meses sem falar com alguém, porque lhe introduziam as refeições mediante um sistema que nem sequer podiam falar com o guarda.

Ora bom, precisa-se de maldade realmente. Oiçam o que fez o BND, que era como se chamava a polícia secreta da RFA naquela época. Em um desses cárceres -eles conseguiram apreender um desses grupos grandes de militantes, mas lhes faltavam alguns que ainda estavam fora e não tinham conseguido capturá-los-, eles próprios organizaram uma fuga, com alguns que conseguiram comprar lá dentro, eles próprios fizeram um buraco com uma explosão e por aí fugiram vários, para depois seguir o rasto deles e que os conduzissem até àqueles que ainda não tinham sido localizados.

Vou-lhes contar o quê se passou, como os foram localizando, não vou fazer referência a todos os casos, são demais; mas vou-lhes contar de dois que foram localizando.

Na estação de Baden -uma estação de comboios em Badem- localizaram um dos que não tinham podido localizar; chegou esse comando secreto -são policiais do Estado, isto não é uma questão fora do controle, cobram um ordenado, procurem ver de quem dependem, quem os avalia e tudo o mais- e rodearam o homem e atiraram nele. Mas o quê aconteceu? Havia uma pessoa, um amador, com uma máquina de cinema -ainda não havia vídeo com tanta massividade como agora, estávamos nos finais dos anos 70- e quando ouviu os tiros filmou, e o mais espectacular é que filma o momento em que, depois que atiraram no homem e este cai, vêm dois policiais vestidos à paisana e arremataram-no. Arremataram-no no meio da estação. Este filme foi passado na televisão alemã, e se alguém perdeu a memória histórica o pode procurar.

É claro que, isso não foi a Genebra este ano, nem foi a nenhuma Comissão de Direitos Humanos, nem houve sanção para a RFA, que era o bastião no momento da luta contra o império do mal, como lhe chamava Reagan.

Bom, o quê aconteceu com aqueles que conseguiram apreender, os que não foram ultimados na rua, ou os que não mataram? Vou-lhes dizer o quê se passaou e quero ser exacto nisto para que não haja dúvidas, no caso de que alguém tenha perdido a memória histórica na Europa.

Nesses grupos haviam bastante mulheres. Quando conseguiram apreender Margrit Shillen, acusaram-na de associação criminosa e posse de armas. Quer dizer, não conseguiram acusá-la de nenhum cargo sério. Associação criminosa é que fazia parte de um grupo, mas não lhe provam nada sério; e que possuia armas proibidas, não tinha possivelmente licença para uma arma. Mas, vejam o que lhe fizeram numa prisão alemã, segundo este livro: "colocaram-na numa cela em solitário -suponhamos que se comportou mal-, colocaram-lhe algemas às costas para sair da cela, algemas às costas durante uma hora diária para que se movimentasse, luz na cela durante o dia e a noite, cela vazia, sem nenhuma mobília, roupa do cárcere, sem nenhum objecto pessoal, e à noite era obrigada a estas sem roupas", tudo isso a uma mulher no cárcere.

Vou ver se lhes pergunto aos companheiros da Direcção de Assuntos Multilaterales do MINREX, se nos arquivos existe alguma denúncia ou condenação, nessa época, de algum desses países europeus. Tenho a certeza de que não, mas vamos ser mais exactos.

Vejam, este foi um caso famoso: Ulrike Meinhof, que era uma das líderes de um desses grupos que descrevemos. Foi detida, é das pessoas que, mediante esses rastejos, conseguiram apreender, e de repente -este caso se repete, não vou mencionar todos, apenas dois- apareceu morta na sua cela. "Enforcou-se, supostamente, com várias toalhas que conseguiu empatar (diz este livro). As autoridades alemãs não deixaram ver o cadáver, e arguíram que se tinha suicidado por divergências dentro do seu grupo."

Quero lhes comentar duas coisas: reparem nisto, ela fica presa numa cela isolada e dizem que há divergências dentro do grupo deles, sei lá com quem falava nem como o fazia, mas o mais curioso não é isto, senão que na cela apenas havia uma toalha, que era deste tamanho (mostra), isto é, que ela não podia empatar várias toalhas dentro da cela.

Em 1997 eles, o BND, conseguiram apreender estas três pessoas: Andreas Baader, Gudrun Ensslin e Jan Carl Raspe. Ora bom, Jan Carl Raspe e Baader foram encontrados mortos nas suas celas. Oiçam isto: "tinham nos seus corpos vários disparos feitos à queima-roupa. Nas mãos de Raspe, segundo as autoridades, havia uma pistola. Ensslin" -a outra que apareceu morta na cela- "contudo, disse-se que apareceu enforcada na sua cela com um fio de rádio" -em nenhuma dessas celas haviam rádios. Em todos os casos declarou-se oficialmente suicídio", e obviamente, não se abriu nenhuma investigação.

Quero concluir -já falei da Alemanha- num país que tem sido muito activo na condenação contra Cuba: fez lobby, pressionou, os seus discursos são dos mais militantes. É um país onde os sofistas gregos também poderiam participar pelos múltiplos nomes que tem; não quero deter-me nisso, pode ser Reino Unido, pode ser a Grã Bretanha, há quem lhe diz Inglaterra e outros a chamam a Pérfida Albión. Então, alguém me perguntava: e por quê Pérfida? Bom, vejamos por quê Pérfida Albión.

Quaisquer destes nomes que vocês desejem colocar-lhe, a Grã Bretanha tem um conflito sério na Irlanda. Vocês sabem que na Irlanda existe uma zona católica, a Inglaterra é protestante e tem a Irlanda do Norte ocupada.

Ora bom, quero que vocês tenham uma ideia do quê é a Irlanda do Norte, porque, para além de que se passaram filmes e demais, por vezes não fazemos idéia.

Tive a oportunidade de falar com várias pessoas que foram testemunhas oculares de algumas das coisas que cá vamos contar.

A Irlanda do Norte é um país ocupado. Vejam, nas ruas há câmaras de televisão por zonas, e os ingleses têm desenvolvido um sistema que lhes permite logo fechar um bairro com uma coisas enormes de ferro e todo aquele que está ali fica preso, para meter 'raids policiais' e fazer o seu bel-prazer. Ah!, têm helicópteros que sobrevoam. Há pessoas que estiveram na guerra do Vietname e compara hoje a Irlanda do Norte com o que se sentia no Vietname com os helicópteros e todo aquele ambiente.

Mas vamos ver o quê acontece para termos uma idéia. Da Irlanda eu tinha muitos papéis. Realmente, por consideração a vocês e não por abusar da violência nos médias, não trouxe tudo que tinha.

Em 1998 -reparem, isto foi há um ano e tal-, eles fazem uma dessas operações e fecham a rua de Garvahy Road -estão à procura do pessoal do IRA, o Exército Republicano Irlandês-, e começaram a dar rajadas impunemente, e entre os que mataram estava um padre e várias crianças no meio da rua. O quê aconteceu? que não se abriu nenhuma investigação e ninguém foi acusado; e há uma advogada que se chama Rosemary Nelson, que tentou começar a acusar e apresentou cargos contra os responsáveis da matança.

Bom, sabem o que lhe aconteceu a Rosemary Nelson? que um dia -e isto para que vejam, aí não há General Contreras, nem os contra-revolucionários de Miami, nem Omega 7-, a advogada Rosemary Nelson, em plena Inglaterra ou na Pérfida Albión, como desejarem chamar-lhe, abriu de manhã o seu carro, ligou-o e estourou uma potentíssima bomba que a matou e destruiu tudo o que estava a sua volta, e nunca até ao dia d'hoje, se abriu uma investigação nem sobre a matança na rua, nem sobre quem lhe colocou a bomba à advogada no carro.

Ora, quero que vejam que isto não é uma coisa isolada, nem de grupos isolados. Não sei se muito se lembrarão de uma coisa que ocorreu em 1982.

Em 1982 houve um grupo de prisioneiros do Exército Republicano Irlandês que recebem tratamente de presos comuns. Eles exigem: Nós somos presos políticos -e agora vou falar um bocado dos cárceres ingleses, que é outro dos temas do qual se fala muito em Genebra, dos cárceres, das condições dos cárceres, muitas dessas coisas-, queremos ser reconhecidos como presos políticos -além disso queriam ser reconhecidos como prisioneiros de guerra, etc. A Thatcher, que estava nesses momentos no poder, nega-se a reconhecê-los. Eles iniciam uma greve de fome -e para aqueles que são mais jovens, que talvez não se lembrem-, o quê aconteceu? que o governo inglês do Reino Unido, da Grã Bretanha, ou da Pérfida Albión, deixou morrer os dez na prisão.

Isso você o pode chamar como quiser, diz: Não, eles decidiram fazer a greve de fome voluntariamente. Sim, mas acontece que em qualquer lugar do mundo quando a pessoa está em greve de fome e chega um momento em que se torna inconsciente, você a alimenta artificialmente por um problema elementar de evitar que morra, e o governo inglês deixou que os dez morressem na cadeia. Chame-o como quiser.

Finalmente, vejam isto (Mostra-o); alguns pequenos dados: "Entre 1983 e 1991, o governo do Reino Unido recebeu mais acusações que nenhum outro país na Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Em 1971, as autoridades britânicas empregaram privadores de sensibilidade como técnica de tortura em catorze interrogados" -ou seja, um aparelho, que segundo sei, insensibiliza a pessoa. Na verdade, a Inglaterra é o lugar onde se inventaram mais engenhos relacionados com a tortura, inventaram as balas plásticas, isto é, ao que parece têm pelo menos imaginação para isso. Em mais de catorze casos foi comprovado o uso de aparelhos para tirar a sensibilidade do corpo humano; faziam sei lá o quê, e parecia que lhe estavam tirando algum conduto nervoso. Sei lá como é que o conseguiam. Isto deve ser bastante retorcido, não o imagino.

"Entre 1971 e 1975, mais de 2 000 pessoas foram presas sem julgamento na Irlanda do Norte." Duas mil pessoas presas sem julgamento!

Ora bom, vejam isto: "Entre 1969 e 1994, 357 pessoas foram assassinadas" -e a palavra que aparece é Killed, não é outra coisa, não é Executadas- "pela polícia e pelos soldados britânicos, e 911 pessoas foram assassinadas por assassinos pro-britânicos." E aqui quero me deter.

Geralmente -e aqui o racismo tem a ver com isto, estou convencido disso-, você lhe diz a alguém: esquadrões da morte, e sempre, por anos e anos de informação, a gente associa com Roberto D'Aubuisson em El Salvador e a Triple A na Argentina, etc.

Bom, os ingleses criaram os esquadrões da morte na Irlanda, e vou lhes falar muito sucintamente dos esquadrões da morte. Têm outro nome, têm uma siglas inglesas, mas para que os companheiros, o povo, percebam melhor, vamos chamá-los assim como o que são, esquadrões da morte. Os ingleses criaram esquadrões da morte e os têm a trabalhar, e parece que são mais eficientes, porque não lembro que a Triple A na Argentina lhe tenham dito que matou 911 pessoas. Não lembro o dado exacto, mas acho que a Triple A na Argentina e todos esses grupos nunca chegaram a matar 911 pessoas, como fizeram os ingleses.

Reparem. No ano 1972, há uma coisa que se conhece como O domingo sangrento, esses esquadrões da morte mataram treze civis em Derri -Isso é lá em cima na Irlanda do Norte. E ninguém até hoje foi encausado por esse massacre. Esses não eram militantes do IRA; esses eram civis que assassinaram; sei lá, enganaram-se ou o MI-6 não funcionou bem, não sei como foi isso. O serviço interno é denominado de MI-5 e o externo de MI-6. Falando nisso, os soviéticos lhes deram golpes duros aos dois serviços. Há vários casos famosos.

Em 1989 -oiçam isto- uma mulher foi morta por uma bala pelas costas, por parte de um soldado do exército inglês -isto não é um polícia, foi um soldado do exército inglês. Esse soldado foi julgado e lhe impusseram uma multa, e depois que pagou a multa foi reintegrado sem limitação nenhuma aos seus deveres no exército. Isto foi em 1989, quando começa a ofensiva contra Cuba, nesses anos em Genebra, nos Direitos Humanos.

Ora bom, este é o melhor dos casos, diz Brian Nelson -assim se chama esta pessoa, e se alguém tiver dúvida lá na Inglaterra, podem comprová-lo- é um soldado britânico, ele se tornou parte activa deste esquadrão da morte que responde às siglas em inglês de UDA. Estas são as siglas em inglês durante os anos 70. Ele foi preso por ter seqüestrado e torturado um homem católico. Depois que cumpriu esta pena leve, Nelson se reintegrou ao esquadrão da morte, a UDA, e a pedido -oiçam isto- da Contra-Inteligência britânica, em 1980, começou a trabalhar estreitamente com o MI-5, isto é, o Serviço Interno de Contra-Inteligência inglês. Ele se converteu no director de inteligência dos esquadrões da morte, e era o responsável de escolher os alvos para os esquadrões da morte, ele era quem escolhia quem iam assassinar.

Desde 1988 até 1994 os esquadrões da morte pró-britânicos são os responsáveis da morte de mais de 200 pessoas só nesses anos na Irlanda.

Então, isto aconteceu em pleno coração da Europa.

Julgo que Pedro foi quem falou aqui da culta Europa. Eu não gosto muito desse termo, porque não sei se a Europa hoje, Pedro, não sei se você o considera assim, é mais culta do que nos anos 60. Creio que asistem mais a televisão norte-americana. Não sei se agora são mais cultos do que nos anos 60, por isso, esse termo da culta Europa a mim não me convence muito.

Porém, depois de ver isto, perguntar-lhe-ia -como tínhamos falado de uma tarefa, não é?-, Por quê lhe dizem à Inglaterra a Pérfida Albión. Bom, Albión é uma frase histórica, cultural, e pérfida... sobram as palavras.

Carmen R. Báez.- Acho que Pedro de la Hoz também queria falar um pouco sobre este tema que tem sido abordado por Taladrid, ou deseja referir-se também à Europa?

Pedro de la Hoz.- Sim, Carmen Rosa, este é um tema tão vasto que não se esgota com o que disse Taladrid. Há diversos matizes, todos realmente pérfidos, perversos, na manipulação que se faz dos direitos humanos por parte destes países que votaram em favor da Resolução anticubana e que têm um dossier bastante sujo. Não há moral nenhuma para estar a acusar outros quando têm que resolver gravíssimos problemas no plano interno.

Taladrid focava esta problemática dentro de uma perspectiva histórica, e é preciso ver como a violência e a repressão são componentes da história europeia e estão firmemente enraizadas no devir social destes povos da Europa Ocidental.

Para ninguém resulta um segredo como têm sido reprimidos os movimentos operários, como têm sido reprimidos os estudantes, como tem sido reprimida qualquer manifestação de estalido social com uma brutalidade tremenda. E há expressões de brutalidade policial anteriores e actuais que devem ser denunciadas, que por vezes aparecem em filmes. Existe uma documentação abundante e, contudo, não há um acompanhamento nem uma condenação dessas situações. Acho que esta mesa redonda deve deixar isto bem esclarecido.

O nosso povo deve saber que muitos destes países que votaram contra Cuba, historicamente têm exercido a repressão, a brutalidade; meteram na cadeia a muitas pessoas à toa.

A situação nos cárceres -que depois irei fazer uma referrência a isso que Taladrid esboçava-, não é apenas na Grã Bretanha; em vários lugares existe uma situação que deixa muito que pensar e julgo que também devemos saber disso.

Às vezes é tanto o cinismo que fica escondido por trás destas coisas, que no caso do Ulster, que já Taladrid abordou, têm empregado instrumentos para a repressão cada vez mais sofisticados, feitos pela indústria inglesa para esta macabra especialidade. Um deles são as famosas balas de plástico, você as mencionava. Contudo, no cúmulo do cinismo das autoridades governamentais e das autoridades policiais britânicas, encontra-se um que -segundo um relatório que tenho aqui- no ano 1998 o número de pessoas que sofreram lessões na cabeça e na parte superior do corpo por impactos de balas de plástico, foi maior do que em anos anteriores.

Oiçam, isto é um relatório de fontes inglesas -destas famosas organizações de direitos humanos, que por vezes não se sabe se são de direitos ou de "torcidos" humanos que lá têm-, que diz que esses disparos de balas de plástico deveriam ser por debaixo da cintura, para desta forma não causar danos perduráveis às pessoas.

Veja só, uma bala de plástico doe em qualquer lugar e, além disso, apenas o facto de conceber uma bala de plástico é um facto de refinamento criminoso que resulta inaceitável.

Reinaldo Taladrid.- Pedro, cá tenho um dado. As balas de plástico são feitas de rochedo duro, com um componente sintético chamado PVC. Têm 3,5 polegadas de longitude, e viajam a uma velocidade de 160 milhas por hora. Isto é, que também depende da distância em que for disparada. Segundo o exército dos Estados Unidos, elas podem causar danos tão severos, que podem originar feridas e afectações incuráveis, para além de que podem fragmentar o fígado no caso de ser atingido nesse lugar. Houve já 17 mortos e milhares de feridos. Nenhum membro da força de segurança inglesa tem sido condenado por nenhuma destas ofensas.

Pedro de la Hoz.- Porém, além disso, quando dá na rótula a pode fazer em fanicos perfeitamente; e se bate na virilha, já podem imaginar o quê acontece, e a virilha está debaixo da cintura. Daí o cinismo desta apreciação.

Temos muitas outras coisas que dizer também desta situação de brutalidade policial que acontece na Grã Bretanha, no Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda.

Reinaldo Taladrid.- Ou a Pérfida Albião.

Pedro de la Hoz.- Sim, e que estão perfeitamente documentadas e reportadas, e que disto não se fala em Genebra quase nunca.

Na verdade, fala-se na ONU, num organismo da ONU: nos comités que a Assembléia Geral tem. Mas como a Assembléia Geral não tem mecanismos de acompanhamento destes problemas, ficam no ar, não se importam com isso, e terminam saindo incólumes na opinião pública internacional.

Referir-me-ei a dois casos para que se veja como se manipula a lei e a repressão entre os britânicos:

Em 1997 o Relator Especial das Nações Unidas sobre a independência de juízes e advogados, concluiu que a polícia de Irlanda do Norte tinha levado a cabo actividades que constituem intimidação, obstaculização e fustigação dos advogados que defendem as causas dos patriotas irlandeses.

O Relator Especial recomendou nessa ocasião que fossem investigadas essas práticas, e que fosse aberta uma investigação judiciária por um homicídio, visto que em 1989 tinham assassinado um advogado em circunstâncias obscuras -igual do que advogada de que falavas, Taladrid. A investigação destas denúncias foi encarregue aos funcionários, mas depois isso ficou meio estagnado, a justiça fica demorada e não há uma conclusão plena do caso.

Contudo, em contraposição, a Procuradoria Geral do Estado da Grã Bretanha decidiu nesta mesma época, não formular cargos contra nenhum dos sete policiais aos que se lhes atribuia a falsificação das provas que tinham originado um erro judiciário nas actuações contra um destes famosos casos de violência pelas lutas dos grupos extremistas. Quer dizer, há uma conduta hipócrita, uma dupla moral inaceitável nestes casos.

E há uma pérola que não queria deixar de colocar: o que disse o Comité da ONU contra a tortura em 1998 quando expressou a sua preocupação pelas mortes ocorridas sob custódia policial na Grã Bretanha, e pelo facto de que o Estado não parecia ter estabelecido mecanismos eficazes para a investigação de denúncias de abusos cometidos por agentes da polícia e funcionários das prisões. Isto também ficou no ar, e não houve nenhuma resposta efectiva neste caso.

Sobre os cárceres, há situações de amontoamento, situações de torturas na maioria dos países europeus; estes que pretendem condenar-nos mediante esta Resolução em Genebra.

Há um país, Portugal, que por estar a presidir o actual período da União Europeia, foi o exponente do voto que justificava à União Europeia na sessão de Genebra. Se bem é verdade que este país não co-patrocina a Resolução, votou, sim, contra Cuba, e precisamente por estar a chefiar a União Europeia, devia ter também um bocado de pudor ao considerar os estatutos dos direitos humanos, porque o próprio presidente, Jorge Sampaio, ainda não faz um ano que descreveu a situação das prisões portuguesas - e faço citação textual- como "um verdadeiro escândalo nacional".

A situação do cárcere do Porto, que alguns meios de imprensa portugueses a têm documentado, é uma situação da que se fala e se diz que vão melhorar as condições nesse cárcere, e, não obstante, continuam as situações de amontoamento, de corrupção e de maus-tratos.

Estimo que é preciso ter um bocado de pudor quando se apoia uma Resolução em que se tentam questionar as condições humanas nos cárceres cubanos, quando todo o mundo sabe bem que cá tiveram acesso visitantes de credos diversos, de tendências filosóficas de qualquer tipo, que visitaram Cuba e conseguiram ver as prisões; e são situações diametralmente opostas a essas prisões que são denunciadas nestes casos. Há provas muito bem documentadas de tudo isto, e há reportagens e materiais em vídeo que temos no nosso poder e nas nossas vídeotecas.

Por último, queria contrastar tudo isso da brutalidade policial, da situação nos cárceres e da forma em que se reprime muitas pessoas e grupos sociais nestes países, com o que realmente acontece entre nós.

Em contraposição a tanta história indigna desempoeirada nesta mesa, quero lembrar os acontecimentos daquele 5 de Agosto de 1994, quando um grupo de vândalos, encorajados pelo imperialismo, pelas camapanhas anticubanas e pela máfia de Miami, tentaram montar um show para desestabilizar a Revolução. Para conjurar a situação não se precisaram polícias a cavalo, gases lacrimogênios, balas de plástico, disparos nem tanques nas ruas. Fidel, que se encontrava no seu gabinete, ao conhecer das novidades, ordenou que não fosse empregue nenhuma força policial ou militar e se encaminhou para o lugar dos distúrbios com o chefe do seu gabinete, Felipe Pérez Roque, e sete homens da sua escolta, aos quais lhes proibiu categoricamente o uso das armas. No trajecto se uniu o companheiro Carlos Lage. Ao chegar Fidel, desceu do carro, e logo toda a população dos arredores se juntou a ele e cessaram os distúrbios. Não houve nem um tiro nem uma pancada só. Uma multidão entusiasta o seguiu até a esplanada de La Punta, à entrada da baía de Havana. Desde então não houve nenhum outro distúrbio. Bastou com a moral do povo e um dirigente respeitado e sério.

Perante uma situação dessas, na Europa saíram para as ruas polícias, deram-se pancadas. Eu não posso esquecer as imagens de repressão de Maio de 1968 em Paris, e da situação dos estudantes naquele ano de 1968 em vários países europeus. São imagens inesquecíveis para mim, como o são também as imagens do dia 5 de Agosto de 1994. Acho que não devemos perder a memória.

Carmen R. Báez.- Nisso de não perdermos a memória, não é preciso ir muito atrás nos anos, visto que inclusive, cá na mesa, temos o Polanco, e me lembro que em 1993 um grupo de organizações de esquerda... não sei se Polanco se lembra disso, que ele estava em Praga a nos representar na União Internacional dos Estudantes, e houve um grupo de dirigentes estudantis cubanos que fizeram um percurso pela Europa -foi em Maio de 1993- e existiam na Alemanha protestos pela Lei de Imigrantes que queriam aprovar, e em que se responsabilizavam os imigrantes, é claro, os estrangeiros que chegavam na Alemanha, dos problemas económicos que se estavam apresentando. Um grupo importante de organizações estudantis, juvenis, de solidariedade -lembro-me disso- com a Nicarágua, de solidariedade com Cuba, organizações sociais se mobilizaram para bloquear o Parlamento durante o dia em que seria discutida a lei, a protestar em contra dela e evitando que os próprios parlamentares chegassem àquela sede em que se discutiria a lei.

Lembro-me que começou desde muito cedo de manhã a chegada da polícia a cavalo -lembro-me que a brincar dizíamos que pareciam elefantes-, cães, helicópteros e polícias que pareciam extraterrenos. Essa concentração começou desde as 06h:00, e por volta das 17h:00, quando a delegação conseguiu sair do Parlamento -porque se permitiu o acesso à delegação cubana, visto que seria celebrado um encontro para discutir os problemas do bloqueio; naquele momento estávamos afectados pela epidemia da neuropatia e fazíamos toda uma campanha na Europa para denunciar o bloqueio e procurar também solidariedade com Cuba-, e a delegação se encaminhava para a sede da nossa Embaixada, e era muito grande o espancamento que estavam recebendo os jovens que lá estavam.

Quando chegamos à Embaixada e assitimos a televisão, constatamos o espancamento que receberam os estudantes e à noite encontramos muitos deles, e muitos dos jovens que conhecíamos tinham sido espancados e, companheiros deles tinham sido reprimidos e apreendidos. Era uma manifestação pacífica em que se tentava protestar contra uma lei que ia em contra dos imigrantes, uma lei racista e xenófoba, dentro das muitas coisas que também nós temos que dizer dessa chamada culta Europa.

Nidia Díaz.- Você fazia referência a Praga há três anos atrás, não é? Mas ainda não faz um ano, em Seattle o mundo foi testemunha da brutalidade da polícia dos Estados Unidos sobre os que se manifestavam contra aquela reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio.

Nós, pessoalmente, fomos testemunhas de como com aqueles paus, com as bengalas de plástico da polícia, eram destroçados os rostos dos manifestantes. E isso aconteceu há menos de um ano.

Marina Menéndez.- E se continuarmos a actualizar a informação neste domínio, há quatro ou cinco dias em Washington, durante a reunião do Banco Mundial e do FMI também se repetiu a mesma actitude repressiva; mas, além disso, como se fosse pouco, já a República Tcheca anunciou que tinham estudado a forma em que se enfrentaram estes protestos, porque a próxima reunião do Fundo e do Banco será em Praga.

Bom, aí é que sobram os comentários.

Nidia Díaz.- Em Washington agora os manifestantes, já com experiência, protegeram-se com tubos de plástico para evitar as pancadas, visto que também os manifestantes tiram as suas próprias experiências.

Marina Menéndez.- Na verdade, o Fundo e o Banco também serão temas de conversação, a causa e a justeza destes protestos, porque se diz que querem impedir a reunião e sempre tenho pensado que esse não é exactamente o propósito, mas chamar a atenção, como reconhecia um funcionário nesta reunião, que não passe mais inadvertido, para que não passe mais por alto, não seja mais incólume a actividade do Fundo e do Banco sem que as pessoas se pronunciem contra as suas políticas.

Carmen R. Báez.- Bom, proponho-lhes o seguinte: Taladrid tinha dito que ele queria ir para o interno da Europa, e se deteve em tudo o que diz respeito às execuções extrajudiciárias. Pedro de la Hoz esteve a falar da brutalidade policial. E aproveitamos e chegamos aos Estados Unidos e passamos perto de muitas questões que os cubanos conhecemos que lá acontecem todos os dias.

Mas lhes proponho voltar à Europa, mas não já dentro da Europa, mas também da hipocrísia da Europa para fora. Por isso desejo que falemos rapidamente, tendo em conta também as horas, mas acho que não devemos deixar de o analisar, porque ficaria incompleta esta disecção que estamos tentando fazer -poderíamos dizer assim- dos que votaram na nossa contra.

Dimas, ouvi você a falar muitas vezes a respeito do tema da Indonésia, não sei se nos poderia ajudar um bocado a aprofundar num tema desses. Falo da Indonésia por apenas colocar um exemplo, por ser uma questão que fala da Europa para fora.

Eduardo Dimas.- Bom, vamos primeiro falar de mais de um milhão de mortos em 48 ou 72 horas.

Carmen R. Báez.- Então, falando em direitos humanos.

Eduardo Dimas.- Sim.

Sabe-se que em 1956 o general Sukarno assinou os Acordos de Bandung, que dão origem ao Movimento de Países Não Alinhados.

Evidentemente, o general Sukarno era uma figura de prestígio dentro do mundo asiático, uma figura que tinha o apoio de uma boa parte do povo indonésio.

Em 1962-63 foi evidente a tentativa da CIA dos Estados Unidos e doutras organizações de inteligência europeias por tirar Sukarno do poder, e em 1965 acontece precisamente o golpe de estado dado pelo general Suharto, o que lhe custou a vida a mais de um milhão de pessoas. Assassinaram a mais de um milhão de militantes comunistas.

Devemos dizer que o Partido Comunista Indonésio era o partido mais forte, o mais numeroso da Ásia naquela altura, e assassinaram a mais de um milhão de militantes comunistas. Há inclusive uma história de que os vazadouros de uma represa que está próxima da capital se entupiram devido a enorme quantidade de cabeças dos assassinados, e os familiares destes militantes -isto soa grotesco, soa terrível, mas foi realidade- foram recenseados e semanalmente deviam apresentar-se nos quartéis.

O regime do general Suharto recebeu o apoio imediato de todo Ocidente, do governo norte-americano, empréstimos do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, foi um regime muito corrupto e durou até 1999, em que é afastado do poder precisamente pela crise económica asiática e todos os protestos que houve na Indonésia.

Ora bom, dentro deste problema da Indonésia está o caso do Timor Leste.

Como recordarão, em 1975, depois da Revolução dos Cravos, o governo português resultante desta Revolução, decide acabar com as colónias que tinha, e dentro destas colónias estava precisamente Timor Leste.

Portugal se retira de uma maneira talvez um bocado caprichosa, e isso é aproveitado pelas tropas da Indonésia, precisamente do general Suharto, para penetrar em Timor Leste. Chegaram a ter 200 000 soldados naquele país.

Isto foi visto com muito agrado por parte dos governos ocidentais, pelos Estados Unidos e pelos países membros da NATO, visto que ali existia uma Frente de Libertação, que era a FRETILIN, a Frente de Libertação de Timor, que tinha vínculos com a esquerda mundial: tinha relações com partidos comunistas, tinha vínculos com organizações que não eram do agrado, é óbvio, destes países, e viram com agrado, inclusive, a invasão por parte da Indonésia.

Cá tenho uma análise da Assembleia Geral de 2 de Dezembro de 1975, do caso de Timor Leste.

O saldo de toda a reunião, em que foram apresentadas várias moções diz que "a Resolução exprime uma profunda preocupação pela crítica situação resultante da intervenção militar das forças armadas da Indonésia no Timor português.

"a). Faz-se um apelo a todos os Estados para respeitarem o direito inalienável do povo do Timor português à livre determinação, a liberdade e a independência.

"b). Insta-se à potência administradora -neste caso Portugal- a que continuasse fazendo quanto estiver ao seu alcance para encontrar uma solução pela via pacífica, mediante conversações com todos os partidos políticos do território, etc., etc.

"c). Deplorava-se profundamente a intervenção militar das forças armadas da Indonésia no Timor português e fazia-se um apelo à Indonésia para que se abstivesse de toda nova violação da integridade territorial do Timor português, e à retirada sem demora das suas forças armadas do território."

Quer dizer, é uma Resolução de condenação nas Nações Unidas.

Esta Resolução foi aprovada, segundo os resultados da votação, por 69 votos em favor, 11 em contra e 38 abstenções.

Entre os países que votaram em favor desta Resolução de condenação está, é óbvio, Cuba. Entre os países que se abstiveram estão: os Estados Unidos, a Alemanha, Austria, a Bélgica, o Canadá, a Dinamarca, a Finlândia, a França, Noruega, a Nova Zelândia, o Reino Unido da Grã Bretanha, a Irlanda do Norte, etc. Isto quer dizer que é uma prova irrefutável de como, neste caso, já em 1975 pensaram que o melhor para este país -e não é que o pensassem, era a sua conveniência- era que estivesse nas mãos da Indonésia em vez de que chegasse à sua independência, visto que lá existia uma organização, que era a FRETILIN, que era uma organização de esquerda, uma organização revolucionária, como o eram as das colónias portuguesas da Guiné, Cabo Verde e Angola.

Se quiserem, poderia tratar tudo aquilo que tem acontecido até agora, mas acho que é onde mais se ve, visto que agora houve grandes massacres em Timor Leste, ou seja, em 1999, no ano passado, foi feito um referendo convocado pelas Nações Unidas em que 78% da população de Timor Leste exprime o seu desejo de se independizar da Indonésia.

Os grupos pró-indonésios e o próprio exército indonésio se lançaram a reprimir isso, tentando manter custe o que custar o domínio da Indonésia sobre Timor Leste, até que foi determinada pelas Nações Unidas a criação de uma força de intervenção. Resulta interessante que essa força de intervenção tenha como elemento básico à Austrália, quem se declara com um grande interesse em toda a zona, e para além disso, que o componente principal das forças que estão em Timor Leste nessa altura, fazendo parte dessa força das Nações Unidas, sejam tropas portuguesas; e lembremos que Portugal era a velha metrôpole de Timor Leste.

A questão que se põe é que ainda Timor Leste não tem a sua independência, e tudo parece indicar que há tentativas de escamoteação no sentido de que assumam o poder em Timor Leste aqueles elementos que são mais propensos aos interesses da Europa e dos Estados Unidos da América.

Carmen R. Báez.- Julgo que até aqui estivemos a fazer uma análise dos países que votaram contra Cuba na Comissão de Direitos Humanos em Genebra, e me parece que seria muito bom que pudéssemos, talvez fechando um bocado esta análise, deter-nos aqui. Ainda não terminamos, há muitos aspectos que poderíamos continuar abordando; mas lhes proponho não aborrecê-los com tanta informação desagradável, visto que é preciso analisar isto aos poucos, é preciso pensar um bocado sobre tudo o que temos escutado, e cada um de nós, ao final, terá também o direito de tirar as suas próprias conclusões.

Quando preparávamos parte desta mesa redonda e analisávamos quem são os que votaram contra Cuba, o quê fizeram, qual tem sido a sua actitude em fenômenos como os que cá temos referido, a Iugoslávia, o Iraque, a Indonésia, os aspectos que abordava Taladrid, perguntava-me como poder saber quê direitos humanos em si foram violados por eles e, numa lista que tivemos a ousadia de fazer, chegamos a cifra de 25 direitos humanos, dos que tanto se defendem e que nos parece que têm sido violados em todas estas questões que abordamos na tarde de hoje.

Proponho-lhes que me permitam mencionar alguns:

1. O direito à vida,

2. O direito à liberdade,

3. O direito à segurança pessoal,

4. O direito à saúde,

5. O direito à paz,

6. O direito à igualdade e à protecção contra todas as formas de discriminação por motivos de raça, sexo, nacionalidade, pertença a determinado grupo social ou crença religiosa;

7. O direito a uma nacionalidade,

8. O direito à alimentação,

9. O direito à livre determinação dos povos e ao estabelecimento livre da sua condição política e o seu desenvolvimento social e cultural;

10. O direito a não ser submetido a qualquer forma de escravatura ou servilismo,

11. O direito a não ser submetido a torturas ou outros tratos ou penas crúeis, desumanas ou degradantes;

12. O direito ao cuidado e assistência especial para a maternidade e à infância,

13. O direito a uma ordem social e internacional justa,

14. O direito a um nível de vida adequado,

15. O direito dos povos a dispor livremente das suas riquezas e recursos naturais,

16. O direito dos povos a não serem privados dos seus próprios meios de subsistência,

17. O direito também ao desenvolvimento.

Acho, que todos estes direitos dos que temos estado a falar nos motivariam talvez a continuar mais uma mesa redonda. E lhes proponho aos nossos telespectadores que poderia ser no próximo domingo, para continuar com um tema como este.

Permitam-nos também dedicar alguns minutos ao tema de Elián, porque julgo que é importante. Temos notícias que gostaríamos compartilhar com vocês, e fechar aqui uma coisa que não é completamente alheia ao tema em que entraríamos; estamos a falar do direito de um pai, do direito de um filho, e estimo que também estamos falando de direitos humanos, direitos humanos pelos quais estamos a discutir também há cinco meses.

Bem à tona com este tema e relacionado com alguém que nos acusa, o principal acusador, parece-me que seria muito bom que observásemos o vídeo que Esther Barroso nos preparou com um resumo a respeito do que tem acontecido sobre o caso de Elián nas últimas horas.

Esther Barroso.- Um comovedor apelo ao povo dos Estados Unidos fez Juan Miguel González, para ser apoiado na sua luta por se reunir com o seu filho de seis anos de idade; humildemente, mas com firmeza. A declaração de Juan Miguel foi transmitida pelas cadeias de televisão mais importantes dos Estados Unidos.

Juan Miguel.- Queria comunicar que nestes momentos há duas semanas que estou nos Estados Unidos e vim aqui junto da minha mulher e o meu outro filho de seis meses. Vim aqui porque me foi prometido que me reuniria com o meu filho Elián. Já passaram duas semanas e isto ainda não aconteceu.

Sempre entendi e percebi que os Estados Unidos era um país de leis, aspecto este que tem sido incumprido, porque ainda não tenho o meu filho comigo.

Para mim, realmente, tem sido uma grande mágoa e para toda a família, estar a ver o meu filho Elián durante estes cinco meses a ser utilizado e os abusos que cometeram com ele.

Na verdade, por este intermédio gostaria, visto que sou o único que posso falar em seu nome, sou o seu pai, desejo muito estar ao seu lado, ele é o meu filho, me pertence, deve estar ao meu lado, junto da sua família; gostaria pedir-lhe, por favor, ao povo norte-americano, aos que realmente se sentem como pais, segundo me foram apoiando até agora, tanto o povo norte-americano como os latinos, os cubanos que têm estado ao meu lado, que verdadeiramente querem que o meu filho esteja comigo, pedir-lhes, por favor, que me ajudem, que lhe enviem mensagens, que lhe escrevam ao Presidente deste país, à Procuradora Geral deste país, para que se proceda a agir logo e que acabem de unir o meu filho comigo, que não deixem que continuem à toa os abusos com o meu filho.

Eu quero muito o meu filho, preciso que ele esteja ao meu lado, que esteja comigo.

Peço-lhes de favor que me ajudem, que acabem de tornar realidade isto. Viajei até aqui para estar com o meu filho, e já passaram duas semanas e ainda não estou com ele. Doe-me imenso ver o que estão a fazer com o meu filho e o abuso que estão a cometer com ele.

Por favor, peço-lhes que chamem o Presidente, que lhe escrevam cartas, que façam tudo o possível, o que possa ser feito.

O meu filho é um menino de apenas seis anos, é um filho igual que qualquer um dos filhos de qualquer cidadão norte-americano, não é um filho diferente. Por favor, que toda a pessoa que tenha sentimentos e que realmente saiba o que é o amor de um pai e de um filho, que me ajudem, que não deixem que continuem a colocar a política por em cima de tudo isto, simplesmente é um pai e um filho. Ajudem-me.

Muito obrigado.

Esther Barroso.- Pouco menos de duas horas depois, o Presidente William Clinton fazia declarações à imprensa na Casa Branca e reiterou o que outras vezes tem dito: "Elián deve estar com o seu pai." Clinton invalidou os argumentos da parentela.

Jornalista.- Tem alguma mensagem para Juan Miguel González e quê passos pensa dar para resolver essa situação?

Clinton.- Antes do mais, julgo que ele deve se reunir com o seu filho, essa é a lei, e o argumento principal da família em Miami para o não fazer já sumiu. Isto é, o argumento principal deles era que se permitíamos que voltasse junto do seu pai antes que o tribunal ditasse sentença, ele poderia regressar a Cuba. Agora o tribunal ditaminou que não deve regressar a Cuba; o Departamento de Justiça concorda com isso e ele concorda com isso, de tal maneira que agora não há nenhum argumento para que não possa se reunir com o seu filho, e isso é o que tem dito o processo legal.

A lei de imigração é clara, e a determinação do INS e do Tribunal Federal é clara, portanto, acho que ele deve se reunificar com o seu filho ordenadamente e tão rápido como for possível.

Jornalista.- O quê acha do ditame do Tribunal de Apelações de que uma criança de seis anos pudesse ter direito a ficar onde está e a solicitar asilo político?

Clinton.- Mesmo que o Tribunal de Apelações diga isso, o que significa um dramático afastamento do que estipula a lei, então seria necessário um julgamento para se determinar isso e, no entanto, enquanto conclui todo esse processo legal em cumprimento da lei, o INS determinou e um Tribunal Federal ratificou que o pai deve ter a custódia. Portanto, é claro que ele deve se reunir com o seu filho e o argumento de que poderia regressar a Cuba antes de que este assunto possa se resolver nas cortes já não existe, já não é um argumento; o Tribunal de Apelações já eliminou essa possibilidade.

Esther Barroso.- Hoje, sexta-feira, as agências de imprensa reportam que depois destas palavras de Clinton e de uma longa conversa telefônica entre o Presidente e Janet Reno, a Procuradora decidiu retirar Elián da casa de Lázaro González, uma questão que já foi anunciada tantas vezes, e que poderia acontecer, segundo estimativas, a meados da próxima semana. Mas quanto a isso, nada há de seguro. Do lado de fora da casa onde está Elián seqüestrado, no dia em que se soube do diteme da corte, estiveram a festejar e Elián foi exibido, mais uma vez, como um trofeu e como se pode constatar aqui (Mostram vídeo), foi obrigado a cumprimentar até avançadas horas da noite.

Mas as coisas mudaram, muitos manifestantes hoje apareceram com estas cruzes, com as quais parecem estar mais à ofensiva do que pedindo a Deus. O desafio às autoridades continua.

Lázaro González.- Estou emocionado ao ver todo este povo aqui a apoiar a causa de Elián, estou muito contente.

Jornalista.- E sentem otimismo no que vai acontecer agora? Janet Reno diz que pode vir à procura do menino.

Lázaro González.- Bom, Janet Reno diz uma coisa e Deus diz outra. Esquece-te disso.

Esther Barroso.- Os cabecilhas anticubanos quase montaram um acampamento ali, e ainda que alguns médias reportam certas manifestações de violência e alteração da ordem pública, personagens tão pouco acreditáveis como Ninoska Pérez, negam-no.

Ninoska Pérez.- A pesar da distorsão de alguns médias sobre esta história, a realidade é que esta é uma comunidade pacífica, que como você tem apontado, têm estado unidos na prese advogando para que este menino tenha o seu dia na corte.

Esther Barroso.- Tentando dar uma imagem de conciliadores, os advogados da parentela voltaram a dizer que Lázaro está disposto a uma reunião familiar com Juan Miguel, em que participe o menino; porém, deixam ver actitudes desafiantes, ofensivas e absurdas.

Advogado.- A família González continua a pedir uma reunião familiar. Ainda mais, soube que hoje Lázaro convidou Juan Miguel para que venha aqui no domingo para a celebração da Páscoa, e jantar com a sua família e o seu filho.

.- Não existem garantias de que se formos ali se nos abram as portas. Lázaro González tem dito que nunca irá se render, que nunca trairá, que nunca entregará Elián González sob circunstância nenhuma, sem uma batalha.

O critério de que tirá-lo desse ambiente resulta perturbador e pô-lo novamente em contacto com o seu pai, com o qual conviveu durante seis anos, esse critério não tem fundamento. O melhor para o menino é que o devolvam logo sob a custódia do seu pai.

Esther Barroso.- As cadeias de televisão informaram também o conteúdo do ditame do painel dos três juizes de Atlanta. Analistas consideraram que o painel está a se inclinar para favorecer à parentela, para que Elián tenha o seu dia na corte e o pedido de asilo político.

.- De falar, sim, terá direito a falar, mas quê importância irá ter por em cima do que deseja o seu pai.

.- Você tem que demonstrar que provavelmente será perseguido devido às suas opiniões políticas se for enviado para Cuba. Quais são as opiniões políticas de um menino de seis anos. As crianças não têm a maturidade nem a experiência necessária na vida para poder adoptar uma decisão dessa magnitude em relação à sua vida.

Esther Barroso.- O Vice-Presidente Albert Gore, que serviu quase de porta-voz à Fundação Cubano-Americana em contraposição com o seu próprio governo e a regatear os votos da Flórida, é partidário da separação entre pai e filho.

Albert Gore.- Normalmente a opinião do pai é determinante nesses caso, porém nem sempre é assim. E se você valorar o quê é melhor para o menino, por vezes há outros fatores que entram em jogo.

Esther Barroso.- O psiquiatra Henry Wiener, um dos três profissionais que interviram no caso, em nome do governo norte-americano deita por terra os critérios de Albert Gore e dos sequestradores.

Henry Wiener.- Não julgo que o perigo seja iminente neste sentido, mas que tem sido real, é real e continuado. O perigo é que há um enorme estresse psicológico sobre este menino, apanhado numa batalha que tem a ver mais com os elementos políticos e ideológicos do que com os melhores interesses para o menino. É por isso que penso que o menor deve voltar ao cuidado do pai que o tem criado quase toda a sua vida, com o qual viveu e com o que tem uma relação muito estreita. É preciso devolvê-lo ao pai o antes possível.

Porém, não imagino ninguém que lhe faça vídeo a um menino de seis anos e que o passe pela televisão da forma que aconteceu com Elián, não posso imaginar-me que a essas pessoas lhes interesse o melhor para Elián e que, ao mesmo tempo, façam uma coisa semelhante.

Carmen R. Báez.- Pela sua vez, o nossa Repartição de Interesses em Washington, emitiu o parte 165 que diz:

"A reverenda Joan Campbell compareceu na ABC e reiterou as suas posições em favor do regresso de Elián, e na CBS se apresentou García Pedrosa, advogado de Lázaro González, quem foi duramente questionado por Brian Gambed, apresentador do programa. Este último criticou a posição dos seqüestradores de Miami por não aceitarem nem cooperarem com a transferência da custódia de Elián, e restou credibilidade às propostas de Lázaro González.

"Como reacção às declarações de ontem, os advogados dos seqüestradores reiteram a sua proposta de internar Juan Miguel, Elián e os seqüestradores em um lugar da Flórida durante 30 dias, sem condições, ao mesmo tempo que se faria uma avaliação psicológica do menino.

"Fontes em Miami apontam que por trás desta proposta estão os principais cabecilhas da Fundação Nacional Cubano-Americana, quem têm estado a propô-la a funcionários do Departamento de Justiça.

"Continuamos a receber na Repartição de Interesses de Cuba em Washington, cartas, chamadas, correios eletrônicos e faxes de todas partes dos Estados Unidos e do Canadá, com mensagens de solidariedade e apoio para Juan Miguel. Hoje recebemos a visita dos vizinhos da Repartição para patentizar o seu apoio a Juan Miguel."

O parte número 166 nos diz também:

A CNN informou às 12h:00 que não existiam discrepâncias entre a Procuradora Geral, Janet Reno e o Presidente Clinton sobre os próximos passos a serem dados no que se refere à devolução de Elián ao seu pai.

Assinalou que funcionários encarregados de fazer cumprir a lei, tinham-se deslocada para Miami e estudar a situação no terreno.

"O porta-voz da Casa Branca, Joe Lockhart, referiu-se hoje à crescente frustração do governo pela actitude dos seqüestradores.

"O Washington Post aponta que a Procuradora Geral, Janet Reno, tem decidio retirar Elián da casa dos seqüestradores, e que tem dado instruções a funcionários federais para que eles determinem qual é o momento mais propício para o fazer, e que teve em mente diversas variáveis, desde a situação do tráfego em Miami até as condições metereológicas.

"Acrescenta que a principal preocupação da Reno é a segurança do menino e de quem executem a operação de resgate.

"O jornal destaca que a suposta decisão da Procuradora Geral se produz depois das declarações do Presidente Clinton ontem, e que pela sua vez, o pronunciamento do mandatário ocorreu despois do apelo público de Juan Miguel à procura de apoio em favor da recuperação do seu filho.

"O artigo faz referência a uma carta remetida pelo advogado de Juan Miguel quarta-feira à Reno, em que reitera que os seqüestradores resistiram toda tentativa por realizar uma transferência pacífica de Elián ao seu pai, e, portanto, não há motivos para esperar cooperação nenhuma da parte deles nem dilapidar tempo em tais esforços."

Além disso, cá temos -e queremos compartilhar com vocês- o resumo de uma conversa mantida por Juan Miguel com Elián na noite de quinta-feira 20 de Abril. Diz:

A chamada ocorreu por volta das 19h:00. Juan Miguel se interessou pela saúde de Elián, porque o menino está com gripe.

No começo não conseguem falar bem porque há meninos à volta de Elián, e este não o ouvia. Diz-se-lhes que o deixem ouvir e parece que vão-se embora.

Durante a conversa, lembrando coisas de Cuba, Juan Miguel lhe conta que falou com as avós, e que estas lhe mandam a dizer que os cachorros estavam muito grandes. Juan Miguel lhe pergunta se se lembrava do nome dos cães. Ele respondeu que não, mas logo lhe diz o nome dos cachorros.

Mantêm um diálogo centrado em Hianny, a quem Elián em várias ocasiões e de forma muito carinhosa lhe chama de irmãozinho Hianny.

Ante a pergunta de Juan Miguel de se está com vontade de vê-lo a ele e ao seu irmão, rapidamente responde que sim.

Também Nersy falou com Elián, e quando ela lhe contou que Hianny era muito intranqüilo e dormia pouco, Elián lhe disse que ele também acorda muito cedo e que estava acordado até bem tarde, isto para se igualar um bocado à situação de Hianny.

No momento em que Juan Miguel lhe pergunta se estava com vontade de ter o seu irmãozinho no colo, responde-lhe que sim, e ouvem-se vozes que interrompem, ao qual Elián reclama: "Deixem-me tranqüilo!", reiternado-o mais uma vez.

Juan Miguel refere anecdotas de quando estavam juntos, e ele responde positivamente perante as lembraças de jogos entre eles. Ouvem-se pessoas a gritarem; Juan Miguel lhe pergunta e Elián lhe responde que eram pessoas que estavam a gritar lá fora.

A uma pergunta de Juan Miguel interessado por saber o que estavam a gritar aquelas pessoas, Elián baixa sensivelmente a voz como para não ser ouvido e lhe diz: "que eu vou ficar." Juan Miguel lhe diz que não tome conta disso, e Elián com a voz muito baixa, apenas ouvia-se, refere-se ao que dizem "que ele não ia embora".

Juan Miguel percebe que há alguém próximo do menino e dialoga em forma de despedida a dizer que não preste atenção a essas coisas e que logo estariam juntos.

Cá temos um telex de AP que diz: "A Secretária de Justiça, Janet Reno, reuniu-se hoje com o pai de Elián González, mas rejeitou se comprometer com um tipo particular de acção ou fixar um cronograma para tirar o menino da casa dos seus familiares em Miami.

A reunião que se realizou no Departamento de Justiça, concluiu quando Juan Miguel González e o seu advogado saíram 15 minutos mais tarde sem fazer comentários; mas numa declaração escrita Reno disse que não podia se comprometer a adoptar um curso determinado de acção nem fixar um cronograma.

"Reno disse que o pai, que deseja levar o seu filho para Cuba, manifestou uma profunda admiração e solicitou uma reunião urgente com o menino, que tem estado aqui quase cinco meses desde que sobreviveu a um naufrágio próximo das costas da Flórida em que a mãe dele morreu.

"Comoveu-me profundamente o evidente amor do senhor González pelo seu filho, disse Reno, garanti-lhe que continuaria a trabalhar visando reuni-lo com o seu filho.

"Estou tentando arranjar isso, disse Reno aos jornalistas. Estou a explorar toda possibilidade para que isto possa ser resolvido de forma pacífica, imediata e adequada.

"Quando foi perguntada se se dispunha ordenar-lhe às autoridades policiais arrebatarem o menino da casa de Miami, respondeu: 'Se pensasse fazer alguma coisa assim, de facto, não o diria, não o diria'.

"Na Casa Branca, o porta-voz Joe Lockart disse hoje que a entrega do menino ao pai devia ser feita de forma expeditiva e ordenada. Acrescentou que tinham sido recebida inúmeras chamadas na linha de comentários da Casa Branca, maioritariamente em favor de reunir o menino com o seu pai."

No parte número 167, a nossa Repartição de Interesses diz: "Às 14h:30, o correspondente da CNN no Departamento de Justiça informou que acabava de culminar uma reunião breve entre a Procuradora Geral Janet Reno e Juan Miguel González. Acrescentou que nessa reunião o pai de Elián lhe reiterou o seu desejo de uma rápida reunificação com o seu filho."

Faz referência também ao telex que li anteriormente.

"Aproximadamente entre as 14h:15 e as 14h:35, um grupo de seis elementos contra-revolucionários estiveram na calçada da sede da Repartição de Interesses de Cuba em Washington, com câmaras de vídeo, filmando e assinalando a todo aquele que entrava e saía, nomeadamente os funcionários, numa actitude evidentemente provocativa. O Serviço Secreto foi avisado disso.

"Membros do Congresso que estão a favor da devolução de Elián, têm estado a chamar à Repartição de Interesses de Cuba em Washington, para dar-nos uma idéia da ampla repercução que teve entre os seus eleitores a declaração de Juan Miguel ontem. Acrescentam que têm recebido numerosas chamadas nos seus respectivos gabinetes distritais.

"O senador Patrick Leahy declarou que está satisfeito pelo pronunciamentos do Presidente Clinton de que Elián deve ser devolvido ao seu pai. Apontou que se está em andamento um processo para cumprir tal objectivo, ele se sente comprazido, e se ainda não foi adoptada uma decisão nesse sentido, então solicita à Procuradora Geral que o faça.

"O Novo Herald assinala hoje que numa acção estimulada pelo ditame da Corte de Apelações de Atlanta, os advogados dos seqüestradores têm já contactado um provável mediador para que ajude a solucionar o cado de Elián, e que essa pessoa já estava a negociar com representantes do Departamento de Justiça. Especialistas em temas legais apontam, segundo o Herald, que nunca tinham ouvido da participação de mediadores em casos de imigração.

"Fontes de Miami referem as seguintes informações:

"Existem boatos referentes à celebração de reuniões entre aguazis federais e as autoridades da cidade, para discutirem pormenores de uma operação conjunta a respeito do caso de Elián, que inclui o controle do tráfego e a neutralização de distúrbios, entre outros aspectos. A Procuradoria local está a participar nessas coordenações.

"Informações ainda por confirmar assinalam que a Polícia de Miami tem estado a registar as casas próximas da casa dos seqüestradores, à procura de armas e explosivos que podem estar escondendo elementos contra-revolucionários, visando se opor a qualquer tentativa por tirar Elián.

"Directivos da Fundação Nacional Cubano-Americana, estão a tomar providências urgentes para alugar uma residência nos subúrbios da cidade, onde supostamente se instalariam Juan Miguel, Elián e os seqüestradores, num ambiente de 'paz e tranqüilidade' que lhes permita chegar a um acordo sobre o futuro do menino. Não foi confirmado se a freira O'Laughlin participaria no processo.

"Informações ainda sem confirmar referem que recentemente houve um escândalo, quando a esposa de Jorge Mas Santos conheceu das relações que ele mantinha com Marisleisys, e que aquando disso, o cabecilha contra-revolucionário se retirou temporariamente da cena. A fonte acrescenta que a suposta relação da filha de Lázaro com um guarda-costas de Mas foi uma cortina de fumaça que lançaram para encobrir o escândalo.

"A emissora contra-revolucionária, La Poderosa, está a exortar à Comunidade para que realizem chamadas telefônicas à Corte de Apelações de Atlanta em apoio à permanência de Elián nos Estados Unidos. Também estão fazendo uma citação para um comício às 16h:00 nos arredores da casa dos seqüestradores.

"O Miami Herald aponta hoje que o prefeito Joe Carollo está a receber crescentes críticas na Comunidade, devido ao seu conotado oportunismo e campanha anti-cubana, que tem por fim conseguir custe o que custar o apoio de amplos sectores na área, que anteriormente tinham apoiado o seu rival Xavier Suárez. Os críticos sublinham que os ataques contra Carollo representam apenas o último capítulo de uma longa carreira de demagogia anti-cubana. Segundo o jornal, Carollo se queixa de que a televisão cubana tenha passado imagens dele e que tenha sido criticada a sua recente campanha contra o nosso país."

A gente não sabe o quê é que eles vão criticar, ou não vão criticar; se o passamos, muito bem, e se não o passamos também é um problema.

Então, o parte número 168 da nossa Repartição de Interesses diz:

"Segundo o jornal Sun Sentinel, vários ex-membros das Forças Armadas dos Estados Unidos declararam que se mantêm perto da casa dos seqüestradores, e que estão dispostos a sacrificar as suas vidas para evitar o regresso de Elián a Cuba, inclusive, se isso significa enfrentar os agentes federais no caso em que se decidam tirar o menino da casa. O artigo acrescenta que essas pessoas agora estão sob vigilância, visto que houve denúncias de que possuem armas escondidas nas proximidades do lugar.

"O porta-voz do Departamento de Estado, James Rubin, exprimiu hoje que se continuariam considerando as solicitações de vistos do grupo de apoio que participaria no processo de readaptação de Elián aqui" -refere-se aos Estados Unidos-, "uma vez que seja entregue ao seu pai.

Acrescentou que não especularia sobre o que pudesse acontecer nos próximos dias, que continuariam analisando o assunto, e que qualquer elemento novo que possa surgir seria tido em conta.

"Um artigo do Miami Herald assinala que segundo a advogada da família, Lynne Gold Bikin, numa reunião recente da Academia Americana de Advogados de Pleitos Matrimoniais, 98 de 100 advogados concordaram em que Elián seja devolvido ao seu pai.

"Membros da Aliança para uma Política Responsável para Cuba valorizam de muito positivas as declarações de Juan Miguel ontem a solicitar ajuda para recuperar o seu filho.

"O porta-voz da Casa Branca, Joel Lockhart, apontou que tinha sido recebido um volume considerável de chamadas telefônicas nesse escritório demandando a devolução de Elián a Juan Miguel.

"Também na Repartição de Interesses de Cuba em Washington recebemos numerosas chamadas telefônicas de pessoas que expressam apoio perante uma eventual acção do Departamento de Justiça para tirar Elián da casa onde se haja seqüestrado e para que seja devolvido ao seu pai. Consideram que depois do apelo de ajuda feito por Juan Miguel ontem, a situação é mais favorável do que nunca antes, visto que mais de 70% da opinião pública favorece a reunificação de pai e filho."

E lhes convido a escutar o que tem Grisel Pérez a respeito das últimas notícias recebidas via telex.

Grisel Pérez.- Porque já não se fala de um intermediário, mas de intermediários que estão localizados em Miami. E diz assim um telex de AP desde Washington:

"A secretária de Justiça, Janet Reno, hoje trabalhou com intermediários em Miami para um possível acordo que permitiria a transferência imediata da custódia de Elián González dos seus familiares de Miami para o seu pai, disse uma porta-voz do Departamento de Justiça.

"As partes seguem trabalhando nos pormenores de um acordo, disse a porta-voz Carole Florman. O plano ainda não tem sido apresentado a Juan Miguel González. Florman não identificou os intermediários, limitando-se a dizer que eram membros da comunidade de Miami; disse que estavam em contacto com o tio-avô de Elián, Lázaro González e a sua família, que tem desafiado a ordem de Reno de entregar o menino.

"Porém, Florman não disse se os familiares de Miami tinham aceitado a transferência imediata de Elián ao seu pai.

"As autoridades de Justiça estavam dispostas a admitir um mediador se ambas as partes o aceitavam, embora fosse apenas para discutir a forma e não se Elián seria entregue ao seu pai."

Quer dizer, já se fala em intermediários, ainda não foi revelado quem são, a que facção de Miami pertencem, embora supõe-se, são especualções, mas é provável, que pertençam ao bando de Lázaro.

No entanto, as cadeias de televisão, como a ABC, continuam a informar com os seus correspondentes, ao que parece desde Washington, que os intermediários são da comunidade em Miami, que estiveram a falar com a família e com Reno, que a condição da Procuradora Geral é que entreguem logo a custódia a Juan Miguel, e que Reno deu pouca margem de negociações. "Apenas têm horas", disse Reno.

"É provável que Juan Miguel não aceite o acordo que está a ser negociado e insiste em que o Departamento de Justiça envie forças federais para tirar o menino da casa.

"Para além de que muitas pessoas têm dito que resulta pouco provável que nos dias que restam de Semana Santa se produza a acção do governo, verdade é que há vários funcionários da Casa Branca a trabalhar o tempo todo em função deste plano.

E expressa outro correspondente da ABC -neste caso Ron Claybor, a outra era Linda Dougla- que "fontes da polícia de Miami informaram à ABC que nestes momentos têm 25 polícias nos arredores da casa, um reforço de 70 oficiais na zona colindante e uma reserva de mais 500 polícias prontos para entrar em acção, no caso em que for necessário.

"A polícia de Miami já estabeleceu dois perímetros de segurança: o primeiro ao redor da casa, e o outro ao redor do quarteirão. A família está solicitando que no momento em que os aguazis entrem haja uma equipe da televisão no interior da casa para filmar o comportamento dos agentes federais."

Também tenho outro dado.

Os inquéritos dizem que a cobertura televisiva do caso de Elián tem quebrado todos os recordes de publicidade, que inclusive superou o da morte da princesa Diana e o da morte do filho de John Kennedy. Só as três cadeias principais, ABC, CBS e NBC, dedicaram até 13 de Abril, 261 serviços, e tinham dedicado ao da princesa Diana 200 serviços e ao do filho de John Kennedy, 161. A obsessiva atenção com que foi acompanhado o caso, diz a informação, foi sintetizada por um desenho que apareceu hoje no The New York Post, onde diz: "Televisores que falam de Elián são jogados pelas janelas", quando se sabe que já há 7 000 chamadas telefônicas que foram recebidas no Departamento de Justiça e se diz também que duas terceiras partes da população norte-americana está a apoiar dicididamente que Elián se reúna com o seu pai.

Carmen R. Báez.- E como se diz na sala das nossas casas: a mesa está servida de novo.

Durante estes cinco meses nos aproximamos muitíssimo à possibilidade de que realmente se cumpra o facto de reunir Juan Miguel com o seu filho, e confiamos em que isso se consiga, e que as condições que existem nos Estados Unidos sejam aproveitadas para poder ver feito realidade esse sonho, não apenas de um pai, mas que partilham muitos pais nos Estados Unidos, em Cuba e um pouquinho mais além.

Estimados telespectadores, durante quase três horas e quinze minutos mais ou menos, temos estado compartilhando com vocês muitas notícias que nos resultam quotidianas, da Europa de pernas para o ar, que também nos coube conhecer e que nos condena.

Hoje estivemos analisando essa Europa com o objectivo de conhecer quem nos quis dar de presente um espelho para que possamos nos olhar bem maquiados com os cosméticos da democracia, dos direitos humanos, da nova concepção estratégica que eles consideram serem mais efectivos.

Também tentamos cumprir com o objectivo de conhecer quem são os que nos condenam, porque queremos nos parecer a nós próprios, não queremos usar esses cosméticos que nos querem dar de presente; queremos fazer as coisas como consideramos que podem servir muito melhor ao nosso próprio país, e também como o decide a maioria de um povo representado nos 100 000 cubanos que desfilaram em frente da Embaixada Tcheca há uns dias e que também ontem se concentraram, representando os 11 milhões de cubanos, em frente da RINA, na Tribuna Aberta Antimperialista "José Martí".

Hoje quisemos abordar questões relativas aos direitos humanos e também falamos do direito humano de um pai de se reunir com o seu filho.

A batalha continuará. Poderemos contar com estes painelistas, mas também sabemos que contamos com um povo inteiro para continuarmos uma batalha que amanhã fará com que estejamos juntos numa tribuna aberta que se realizará na fábrica de açúcar Austrália, na província de Matanzas, às 17h:00. E convidamos-lhes a estarem presentes também, como parte desta batalha, em mesa redonda no próximo domingo, às 17h:00.

Muito obrigada pela atenção que nos dispensaram.