Mesa-redonda informativa sobre a Lei de Ajuste Cubano, realizada nos estúdios da Televisão Cubana, em 13 de novembro de 2002,

"Ano dos Heróis Prisioneiros do Império".

(Versões taquigráficas – Conselho de Estado)

 

Randy Alonso – Muito boa tarde, caros telespectadores e ouvintes.

Como foi denunciado ontem por nosso Ministério de Relações Exteriores, um novo ato de pirataria aérea, estimulado pela Lei de Ajuste Cubano, aconteceu com a ajuda do governo dos Estados Unidos, que deu abrigo ao seqüestrador da aeronave cubana e a seus cúmplices.

Desenvolvemos nesta tarde uma nova Mesa-Redonda Informativa sobre a assassina Lei de Ajuste Cubano, em cujo painel me acompanham Reinaldo Taladrid, jornalista do Sistema Informativo da Televisão Cubana; Arleen Rodríguez Derivet, editora da revista Tricontinental; Lázaro Barredo, jornalista de Trabajadores, e Rogelio Polanco, diretor do periódico Juventud Rebelde.

Nesta tarde, no estúdio, companheiros da União de Jovens Comunistas na Cidade de Havana, do Comitê Provincial da província de Havana e também membros do Comitê nacional da União de Jovens Comunistas.

(Transmitem-se imagens sobre o tema.)

Randy Alonso – Há dois dias, meios de imprensa internacionais divulgavam o seqüestro de uma aeronave cubana e sua aterrissagem nas ilhotas da Flórida. O Ministério de Relações Exteriores de nosso país informou esse incidente no dia de ontem, em uma nota divulgada a nosso povo, através dos órgãos de imprensa nacionais, denunciando essa nova provocação, auspiciada pela Lei de Ajuste Cubano, estimulada por recentes declarações do presidente norte-americano George W. Bush, e que constitui um novo ato de pirataria aérea.

A televisão espanhola foi uma das agências, televisões e jornais que divulgou esse acontecimento. Proponho-lhes ver como noticiaram o que sucedeu no dia 11.

Jornalista – Sete adultos e uma menina se encontravam a bordo do avião, um velho aparelho de fabricação russa utilizado para tarefas de fumigação nos campos de cultivo cubanos. Quando foi interceptado pelas autoridades norte-americanas, teve de aterrissar em Cayo Hueso, no estado da Flórida. Segundo o FBI, os oito cubanos estão sob a custódia dos serviços de imigração e, segundo a lei vigente naquele país, poderão ser aceitos em solo americano.

Para o Ministério de Relações Exteriores cubano, foi um seqüestro realizado pelo capitão do avião, que, no aeroporto de Pinar del Río, recolheu ilegalmente um grupo de pessoas, inclusive um menor de idade, para dirigir-se aos Estados Unidos.

O governo de Cuba enviou aos Estados Unidos uma nota diplomática de repulsa ao fato, em que mais uma vez reclama a imediata devolução a Cuba dos que, a seu juízo, cometeram essa ação vandálica.

Randy Alonso – Isso sucedeu em 11 de novembro passado. Ontem saiu a nota diplomática de nosso Ministério de Relações Exteriores. Estivemos buscando as informações sobre esse caso, para oferecê-las a nosso povo, e proponho-lhes começar com as notícias que nos traz Arleen Rodríguez Derivet.

Arleen Rodríguez – Obrigada, Randy.

Boa tarde a todos os telespectadores, ouvintes e, claro, aos presentes no estúdio.

Efetivamente, tal como dizia a declaração do MINREX, na manhã da segunda-feira, 11 de novembro, ocorreu esse seqüestro de um avião NA-2, de fumigação aérea, que partiria de manhã cedo da pista La Cubana, na zona de Los Palacios, em Pinar del Río, com um vôo autorizado para a capital provincial. Na pista do aeroporto "Alvaro Barba", a missão era receber a manutenção correspondente, mas, em lugar disso, Nemesio Alonso, o piloto, foi até um ponto da pista e aí recolheu a sete pessoas, dentre elas uma criança, que é sua neta, mais dois casais, uma pessoa vinculada a ele por outro tipo de relação e o filho dessa pessoa.

Além de Nemesio Alonso, que é o piloto que conduziu a aeronave seqüestrada, roubada às autoridades cubanas – porque essa aeronave pertence ao Estado cubano, está a serviço da fumigação nessa zona de Pinar del Río –, participaram do seqüestro ou roubo da aeronave: Isobe Alonso, filho de Nemesio; Maydilián Orama, esposa de Isobe; Brunilda, a menina de quatro anos de idade, filha de ambos; outro casal, Aldo Gutiérrez e Marisleidys Orama, evidentemente também família da outra pessoa; e Mercedes Valdés, que segundo os dados fornecidos por conhecidos e pessoas que trabalhavam com eles, era trabalhadora da pista La Cubana e mantinha relações amorosas com Nemesio; e um filho dessa pessoa, chamado Bernardo Amarán.

Em relação a essa notícia, é preciso dizer que, como sempre, em Miami, cada vez que se trata de cubanos, inventaram não sei quantas histórias sobre o tema, que eram pessoas que fugiram de Cuba, etc. A realidade é que eram todas pessoas integradas às organizações políticas e de massas comuns da sociedade cubana, sem nenhum tipo de problema ou de delito que necessitassem de algum tipo de acompanhamento; inclusive, consta que Nemesio teve apenas uma sanção administrativa no ano de 1994, sem maior importância, não implicando nenhum tipo de questionamento legal.

Volto aos fatos: essa aeronave partiu de Pinar del Río, inacreditavelmente atravessou o escudo antiterrorista norte-americano e foi acompanhada, escoltada para sua aterrissagem em Cayo Hueso, por dois aviões norte-americanos, e depois os passageiros foram imediatamente levados ao centro de Krome, do INS, também inacreditavelmente, porque todo mundo é testemunha da rapidez com que, nos últimos tempos, são despachados os imigrantes ilegais. No caso dessas pessoas, praticamente na própria segunda-feira, a porta-voz do INS ali havia dito que se esperava liberá-las durante o dia. Isto foi, inclusive, comentado por muitas agências de notícias, que recordam que os haitianos que chegaram às costas da Flórida em 29 de outubro continuam detidos.

O que se sabe dessas pessoas, particularmente de Mercedes Valdés Rodríguez, que é a que tem relações amorosas com o piloto, não é sua esposa (a família do piloto, salvo esse filho que foi com ele, não está envolvida no roubo do avião), é que, segundo tinha dito reiteradamente a seus vizinhos e conhecidos, tinha tentado ver seu filho, que reside nos Estados Unidos, e esse mesmo governo norte-americano que agora recebeu essas pessoas que roubaram o avião, tinha-lhe recusado o visto duas vezes, por considerá-la uma possível imigrante. Mercedes tem um filho ali, como eu disse, daí seu interesse em viajar para os Estados Unidos, e o outro filho é um dos participantes no seqüestro do avião.

Das demais pessoas, repito, o que se sabe é que tinham uma vida normal em nosso país, inclusive não são figuras conhecidas; são pessoas comuns. Não se sabe de nenhuma outra intenção, que não seja aproveitar a Lei de Ajuste Cubano, para utilizá-la dessa maneira.

Agora, depois que em Miami começaram a dizer que foi uma deserção política dessas pessoas, eu creio que é muito importante esclarecer que elas não têm nenhuma história que possa justificar essa infâmia.

Eu gostaria de sugerir aos ouvintes e espectadores, como também aos presentes, que suponhamos por um minuto que todas essas pessoas saíram de um país que não é Cuba – nem da América Latina ou Caribe, porque não teriam podido atravessar esse escudo antiterrorista dos Estados Unidos –, simplesmente não são cubanos, mas que puderam entrar, e que se trata de um homem que roubou um avião para escapar, mas não exatamente de seu país, e sim de sua família, a qual deixou abandonada (a esposa e o restante da família), por uma causa que se poderia descobrir facilmente, bastando perguntar às pessoas que conhecem as relações entre Mercedes e Nemesio e, bem, evidentemente ele se foi com outra mulher.

Eu creio que, se não fossem cubanos, o que esse fato teria merecido, ao chegarem aos Estados Unidos, seria, no máximo, uma manchete na página dedicada à crônica policial, sobre a pessoa que roubou um avião para abandonar sua família, para abandonar suas responsabilidades com sua família e, simplesmente, creio que também seria levado aos tribunais pelo fato concreto de que é uma pessoa que cometeu um delito tipificado tanto nas leis internacionais, como nas próprias leis dos Estados Unidos.

Se reunimos os elementos que já se podem levantar sobre essas pessoas, além do afã consumista do que podem, supostamente, conseguir nos Estados Unidos, em alguma medida, o desejo de reunificação familiar, que não lhe foi concedida legalmente pelo Escritório de Interesses, e também, evidentemente, interesses pessoais de fazer uma vida com outra pessoa, não creio que haja mais algum motivo. E, sim, há uma lei arbitrária, uma lei absurda, que é a que convida a tentar realizar seus propósitos, apesar de todos os riscos que seja possível assumir, mas, principalmente, através de delitos que não serão castigados.

Nesse sentido, arremataria dizendo, simplesmente, que estamos diante de um novo caso de utilização da Lei de Ajuste Cubano para objetivos pessoais. Por incrível que pareça, uma grande potência, um grande país, de repente é submetido; ou seja, tem uma lei capaz de subordinar sua política antiterrorista a mesquinhos interesses pessoais, coisa que não ocorre com outras pessoas. Por isso, eu dizia para tentarmos imaginar o que aconteceria, se não fossem cubanos.

Randy Alonso – E, sobretudo, uma pessoa que abandonou sua esposa, sua filha, para essa aventura, estimulada pela Lei de Ajuste Cubano, coisa que – como você disse – apareceria talvez na crônica policial de algum periódico, se não fosse Cuba e se não se tratasse de um ato de pirataria aérea, de um seqüestro de uma aeronave que pertence ao Estado cubano, que está matriculada em nosso país e foi seqüestrada por esse piloto e seus acompanhantes, em busca dessa miragem criada pela Lei de Ajuste Cubano e que, além disso, como você dizia, ali, em Los Palacios, era sabido que aquela mulher que estava com o piloto tinha declarado publicamente que havia enviado duas vezes sua solicitação ao Escritório de Interesses dos Estados Unidos, para visitar seu filho, e que o visto lhe havia sido negado; ainda assim, vai, rouba um avião de nosso país, e é acolhida pelas autoridades norte-americanas, em outro ato de pirataria aérea, que se soma ao longo histórico de ações contra nosso país, de roubos de aviões e de roubos de embarcações, estimulados pela Lei de Ajuste Cubano.

Sabemos essa história já há quase 40 anos, e esse novo ato é uma demonstração de que a Lei de Ajuste Cubano continua presente, continua sendo um instrumento da política dos Estados Unidos contra nosso país, seu papel foi reforçado pela atual administração norte-americana.

Creio que Lázaro poderia falar-nos sobre esse tema. Recordo uma mesa-redonda, cerca de dois anos atrás, em que estivemos recopilando, em uma ação similar, os casos de seqüestro de aeronaves que tinham ocorrido em nosso país, estimulados por essa assassina Lei de Ajuste Cubano.

Lázaro Barredo – Sim, Randy.

Quero primeiramente comentar que acabo de participar da Assembléia do Parlamento Latino-Americano, e o tema mais destacado pelos parlamentares latino-americanos, que inclusive será debatido em uma reunião a ser convocada em seguida para isso, é o problema migratório com os Estados Unidos. Ali havia delegados de 22 países, mais de 200 parlamentares de todos os estratos políticos, de todas as tendências políticas, da direita à esquerda, e estava generalizada a idéia da necessidade de discutir o problema da discriminação contra os emigrantes latino-americanos, que são devolvidos, são maltratados, são vilipendiados na fronteira, tema sobre o qual falamos aqui em inúmeras oportunidades, e a preocupação com a crescente tendência ao uso da violência e do maltrato contra esses migrantes, com a lógica exceção de Cuba.

Creio que hoje a máfia de Miami e, sobretudo, os contrabandistas de pessoas andam "soltos e sem vacinar". Ou seja, têm as mãos livres para fazer o que bem entendam, é uma licença de corso que acabam de dar-lhes, e é uma expressão de como a máfia está decidindo nesse tema, de como essa Lei assassina, com a absoluta cumplicidade do governo dos Estados Unidos, renova, em minha opinião, uma incitação muito perigosa, um fenômeno que não é novo, que começou contra a Revolução no próprio ano de 1959.

Estive buscando dados outra vez. Este é o seqüestro número 53 de uma nave aérea cubana. São 53 os aviões cubanos seqüestrados e, quase sem exceção, desviados para os Estados Unidos. Muitos desses aviões seqüestrados, a maioria, não foram devolvidos ao país. Muitos desses seqüestros provocaram a morte ou ferimentos a muitas pessoas: pilotos, vigias, pessoas que não tinham nada a ver com o fato, eram simples passageiros, como ocorreu com aquele avião que voava a Nueva Gerona, alguns anos atrás, cujos seqüestradores, ao se verem impedidos pela ação da tripulação, começaram a lançar granadas, ferindo a muitos civis dentro do avião. E nem estamos falando das tentativas frustradas, estamos falando de seqüestros que se efetivaram, criando precedentes e uma incitação cada vez maior para que as pessoas busquem formas de saída ilegais do país.

Isso renova, dá novos ares à Lei de Ajuste Cubano; isso volta a incrementar, mais uma vez, o crime contra nosso país, começa de novo a incitação a que as pessoas se lancem a essas aventuras, com o que se demonstra que o principal obstáculo para resolver esse problema é essa atitude do governo dos Estados Unidos.

Nossa população já viu centenas de pessoas – não tenho agora o número exato, mas sei que são centenas – que foram devolvidas, a maneira como dizem aqui, com total liberdade, diante das câmaras de televisão, que tentaram três vezes e que tentarão de novo, pela quarta vez. Toda essa gente se incentiva com essa ação, toda essa gente volta de novo à carga, ao ver aí uma efetiva porta de saída para sua atividade, porque não trabalham aqui, não se readaptam à vida em nosso país, e vêem a possibilidade: "Não me dão o visto na SINA, vou por esta via", e o perigoso é a insistência com que se produzem atos dessa natureza, pelo risco que traz consigo o seqüestro ou o ato de pirataria; porque, podemos fazer todas as discussões teóricas – eu tenho, para apresentar depois, uma grande quantidade de elementos de prova –, mas o fato é que, em matéria de segurança aeronáutica, há seqüestro e há atos de pirataria por sua natureza, assim está descrito nas normas que foram discutidas na OACI, a Organização Internacional de Aviação Civil, e se você se apodera de uma aeronave, dependendo da magnitude e do grau de violação da segurança pública, nessa mesma medida o ato deve ser avaliado. Se você pega um avião destinado a manutenção em outro aeroporto, e você desvia esse avião, imagine quantas coisas perigosas esse incidente poderia provocar. É um grande fenômeno.

Randy Alonso – É o roubo vergonhoso e descarado de uma aeronave cubana, e não tem outro nome jurídico ou legal para apresentá-lo, é um roubo, é um ato de pirataria – como você disse – e que pode ter conseqüências. Lembremos o sucesso de setembro de 2000, um roubo de um pequeno avião, nessa mesma província, e que terminou com a morte de um jovem no estreito da Flórida.

Lázaro Barredo – Por isso, parece-me que é válido reiterar o que Arleen dizia a princípio, pela amostra que já temos do que aconteceu em setembro; por duas vezes, aconteceu em setembro, e da última vez de setembro, o avião, que foi desviado da mesma zona de Pinar del Río, desviou-se muito em relação à fronteira dos Estados Unidos, o combustível foi insuficiente, e caiu no mar, morrendo uma pessoa. Se o barco panamenho que os resgatou não estivesse casualmente aí, todos haveriam morrido.

Assim, temos visto, não só pelo seqüestro de aeronaves, mas pelo próprio tráfico ilegal, que se incrementa em mais de 90% o perigo de morte, a quantidade de mortos que isso provocou nos últimos dois anos. Vimos aqui, anteriormente, nas mesas-redondas, e tudo isso será incentivado com essa política.

Randy Alonso – No ano passado falamos de mortes de mais de 30, mortes de mais de dez, em grupos. Poderíamos dizer que é como se a política principal do governo norte-americano, em seu enfrentamento com a Revolução Cubana, tivesse se convertido em uma política de morte, porque as recentes declarações do Presidente, e a maneira de agir das autoridades norte-americanas diante de fatos desse tipo nos dão a prova de que se converte em um dos principais instrumentos para enfrentar a Revolução Cubana, sobretudo quando é cada vez mais generalizado o sentimento antibloqueio, o rechaço à política daquele governo para Cuba na própria opinião pública norte-americana e em grandes setores empresariais e sociais daquele país.

Agradeço seu comentário.

(Transmitem-se imagens sobre o tema.)

Randy Alonso – Bem, não é por acaso que esse acontecimento de que estamos falando hoje, que estamos analisando, e de que nosso povo teve conhecimento através da nota do Ministério de Relações Exteriores, de fato não é casual que tenha ocorrido neste momento. Foi estimulado, foi realmente auspiciado, não só pela assassina Lei de Ajuste Cubano, que está presente desde o ano de 1966, senão que podemos dizer que foi potencializado pelas recentes declarações públicas do Presidente dos Estados Unidos, que realmente alentou essa política, não só de saídas ilegais, mas também de seqüestros de aeronaves e de embarcações, como método para enfrentar a Revolução Cubana.

Taladrid, você tem aí as palavras exatas que disse o Presidente. Creio que seria bom, a partir delas, expor a nosso povo como isso se converte em um estímulo para atos desse tipo.

Reinaldo Taladrid – Sim, Randy, com muito prazer.

Bem, aqui há uma seqüência de fatos que, como você diz, a palavra chave é que não há nada casual, estão concatenados, e uns condicionam e promovem outros.

Eu proporia começar, antes mesmo das palavras do presidente Bush, pelo escandaloso caso do barco dos haitianos.

Todos se lembram de um barco de contrabando de pessoas, de haitianos, que entra até a costa, em uma estrada que une Miami às ilhotas, e coincidentemente os helicópteros das redes de TV locais conseguem identificar o que está acontecendo e começam a cobrir aos vivo os fatos. Talvez seja a diferença em relação a outros casos ocorridos, que estava passando ao vivo por televisão. As cenas são pungentes, dramáticas, talvez estas não sejam as mais dramáticas. As mais dramáticas são aquelas em que vemos aqueles haitianos desesperados atirando-se, uma espécie de invasão desesperada para entrar nos Estados Unidos, e a recepção que têm: polícia, perseguição, tentando entrar em carros. Bem, aquilo foi um escândalo nacional, foi notícia em todos os meios nacionais. E o que aconteceu? Imediatamente houve um protesto na rodovia, um protesto na cidade de Miami, e os protestos tinham um centro, não há dúvida, e os protestos foram bem violentos, não foram leves. Houve gente caída, houve gente golpeada, houve golpes, houve repressão, o protesto tinha um foco: Por que nos tratam diferente – diziam os haitianos e a comunidade afro-americana – de como tratam aos cubanos que chegam? Por que a Lei de Ajuste Cubano, qual é a causa? Não houve resposta em Miami, não houve resposta nem mesmo em meio à campanha eleitoral em que se encontrava o estado da Flórida, para a comunidade haitiana.

Em todos os órgãos de imprensa nacional nos Estados Unidos saiu essa questão: Por que tratam diferente aos cubanos? Por que a Lei de Ajuste Cubano? O que eu nunca vi, em nenhum órgão de imprensa dos Estados Unidos, é uma resposta a essa indagação. Todo mundo se fez a pergunta, mas eu não vi uma só resposta do porquê. Dizia-se que o tratamento era distinto, que os cubanos..., que existia uma Lei de Ajuste, etc., mas ninguém respondia. O Presidente não pôde escapar a essas perguntas, poucos dias após o fato, e aqui está a transcrição textual do que disse, ele estava dando uma entrevista coletiva e lhe fazem esta pergunta: Por que o tratamento distinto aos haitianos?

Perguntam-lhe, inclusive, por que um tratamento com perfil racial, ou seja, discriminatório. Vou citar o que respondeu o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Disse:

"Antes de tudo, as leis de imigração são iguais para os haitianos e para todo o mundo, exceto para os cubanos, e a diferença, é claro, é que nós não mandamos as pessoas de volta a Cuba porque eles foram perseguidos." "Foram perseguidos", esta é a resposta textual que dá o Presidente dos Estados Unidos.

Coisa curiosa, aí mesmo se acabou a coletiva de imprensa: "Boa tarde", e saiu andando, deixando todo mundo ali, não se pôde nem sequer fazer outra pergunta, como se costuma fazer em coletivas de imprensa.

Agora, há algo aqui que não sei se coincide ou não com a verdade, Randy, isso que se disse aqui. Por exemplo: Diz o Presidente dos Estados Unidos que eles não devolvem as pessoas, porque, se o fazem, aqui elas "foram e são perseguidas".

Bem, vamos começar pelo termo "perseguidos". Já se esclareceu, primeiro, que os que se foram não são perseguidos de nada, não tinham nenhuma dívida pendente com a justiça, não tinham nenhum problema político com ninguém, nem sequer pertenciam a essas filiais de empregados do governo dos Estados Unidos, que cobram para fazer oposição, entre aspas; pelo contrário, pertenciam a muitas das coisas que existem nesta sociedade, em distintos setores da mesma. Portanto nem faziam política, nem eram perseguidos políticos, nem se dedicavam a nada que tivesse relação com isso. De maneira que, quando chegam cá, não são perseguidos.

Segundo, e é uma boa pergunta, que nunca se responde nos Estados Unidos: Por que o Escritório de Interesses recusou, por duas vezes, o visto a uma mulher que vai nesse avião? Por que não o recusam agora, no escritório de Cayo Hueso? Eles chegam de avião e vão para um escritório de Imigração em Cayo Hueso; nesse escritório, se é o mesmo governo – vai ver que é outro governo, ou na Flórida há outro governo –, se é o mesmo país, como há duas respostas distintas a uma mesma solicitação, de uma mesma pessoa? E nada mudou no status dessa pessoa, que por duas vezes pediu, aqui na Seção de Interesses, visto para ir aos Estados Unidos, duas vezes lhe negaram e, quando chegou a um escritório do mesmo departamento, em território norte-americano, lhe deram. Por que razão? O que mudou? Que o digam, porque talvez haja algo que não sabemos, secreto, oculto, misterioso; mas não mudou nada, e lhe deram. E isso se sabe por comentários que ela fazia no próprio bairro, ou seja, inclusive por isso, porque nunca se dão essas informações. Essa seria uma boa primeira pergunta.

Mas, com respeito a isso que diz o Presidente dos Estados Unidos, que os que são devolvidos a Cuba são perseguidos, não vou repetir o que nós, com toda a razão e direito, afirmamos aqui muitas vezes, de que nenhum devolvido foi perseguido.

Depois que se firmaram os acordos migratórios, vigentes atualmente, Cuba fez um gesto de boa vontade que não estava incluído nos acordos, permitindo – como gesto de boa vontade, repito, além dos acordos, inclusive – que os funcionários da Seção de Interesses dos Estados Unidos aqui verificassem in situ, em campo, com o povo, que as pessoas devolvidas não sofriam represálias e – vamos citar o Presidente dos Estados Unidos – não eram perseguidos.

Bem, a Seção de Interesses dos Estados Unidos usou e abusou desse gesto de boa vontade do governo cubano, porque foi a todo canto onde houvesse algum devolvido e, como parece que se cansaram de comprovar que não havia represálias, que não havia perseguição, então aproveitaram essas visitas para fazer outro tipo de coisa, que não tem relação com diplomacia, nem com os acordos migratórios, mas, sim, tem a ver com ações para subverter um governo legítimo de um país em que eles estão legalmente representados como diplomatas.

De maneira que, primeiro, as verificações da SINA não encontraram absolutamente nada; e não podemos dizer que sejam verificações imparciais, e sim, eu diria, preconceituosas, porque iam buscando a violação, buscando a represália, buscando – volto a citar o Presidente – a perseguição.

Mas, caso ainda houvesse alguma dúvida, o que acontece no dia seguinte ao dessas declarações do Presidente dos Estados Unidos? Incrivelmente, aparece na imprensa do estado da Flórida a declaração de um funcionário anônimo do Departamento de Estado – vejam bem, um funcionário anônimo do Departamento de Estado, um dia depois que o Presidente dos Estados Unidos disse isso, faz umas declarações, pedindo que se conserve seu anonimato, coisa em que ninguém acredita, é óbvio –, dizendo: "Parece que o Presidente se confundiu", exatamente assim, "pois nossa Seção de Interesses em Havana não pôde comprovar nenhum caso de perseguição aos que são devolvidos". Não somos nós que estamos dizendo, é um funcionário do Departamento de Estado, evidentemente tentando retificar algo dito pelo Presidente dos Estados Unidos.

Se um funcionário anônimo, que evidentemente mandaram que dissesse isso, porque nenhum funcionário anônimo se atreve a desmentir assim ao Presidente dos Estados Unidos, e muito menos na imprensa, não vamos ser ingênuos e acreditar nessas histórias; se um funcionário o diz, então parece que o Presidente dos Estados Unidos mentiu. Não encontro outro verbo, talvez não seja o mais correto, mas parece-me que aqui há uma mentira. Se dizem que a Seção de Interesse não pôde verificar nem um só, e se, ademais, um funcionário sai retificando, no dia seguinte, que não se pôde verificar nem um só, que parece que o Presidente se confundiu, então ou se confundiu ou mentiu, mas não é muito sério que alguém que não esteja seguro, que não saiba do que está falando, faça esse pronunciamento; assim que, evidentemente, há algo aí que não é real, o que afirmou o Presidente dos Estados Unidos.

E outra coisa: se o Presidente dos Estados Unidos se arrisca e diz isso, o que pode acontecer depois? Qualquer um que o escute, que o leia, que se informe ou a quem chegue, de maneira distorcida, através dos numerosos meios que, pagos pelo governo dos Estados Unidos, estão destinados a transferir, para dentro deste país, qualquer tipo de veneno que provoque algum problema, pode sair em um avião como esse. E já caiu um.

Eu me pergunto: se esse avião, que é um avião de fumigação, que não está projetado para fazer vôos Pinar del Río – Flórida ou Cayo Hueso, cai ao mar e essas pessoas morrem, incluindo a menina, não são pessoas alentadas pelo que acaba de dizer o Presidente dos Estados Unidos? Teria alguma relação, se tivesse havido mortos neste caso, com essa declaração que estimula as pessoas a fazer isso? Não é preciso ser responsável pelo que se diz, quando a pessoa é uma figura pública, um funcionário de primeiro nível, neste caso, o funcionário principal de um governo? Não é preciso ter um mínimo de responsabilidade, ao dizer isso, se há vidas humanas envolvidas? Porque já caíram aviões que não estão projetados com esse fim, tentando fazer isso.

Mas a história não acaba aí. Hoje o Serviço de Imigração e Naturalização fez um comunicado:

"Washington, novembro 13, NOTIMEX. – Com relação ao incidente pela chegada de haitianos a Miami, o Serviço de Imigração e Naturalização aplica uma deportação imediata a imigrantes ilegais que cheguem por mar, exceto a cubanos.

"Todos os indivíduos que cheguem ilegalmente por mar, serão submetidos a procedimentos de deportação imediata, e durante seu processo legal permanecerão nos centros de detenção, à disposição do Serviço de Imigração e Naturalização e do Departamento de Justiça, precisou a instituição."

E diz: "Os cidadãos cubanos estão sujeitos à Lei de Ajuste Cubano, e continuarão sendo processados de maneira consistente com essa lei, assinalou a agência migratória", ou seja, volta a repetir-se o mesmo.

O importante, Randy, é perguntar-nos por quê. Ninguém se pergunta: Bem, e por que? Por que a exceção? Porque, se a resposta é aquela dada pelo Presidente, e evidentemente ele foi desmentido, inclusive por um funcionário de seu governo, não pode ser essa a resposta, de que há perseguição, tem de ser outra. Alguém dá essa resposta? Ninguém pergunta? Ninguém responde.

E, finalmente, não podia faltar nessa história o Grande Vilão, o Vilão-Mor: Otto Reich falou sobre o tema. E o que disse o Grão-Vilão?

"O sub-secretário norte-americano de Estado para Assuntos Hemisféricos, Otto Reich, explicou na semana passada que a Lei de Ajuste Cubano originou-se no fato de que – ouçam isto, já sabemos quem é o homem e como trabalha – "havia causa provável de possível perseguição do governo de Havana". Isso de "causa provável" é um termo jurídico questionável, em que você diz que pode ser que aconteça alguma coisa, e então eu faço algo, porque tenho elementos de que pode acontecer.

Então, primeira pergunta: Que elementos o Grão-Vilão tem, para dizer que há "causa provável" de que serão perseguidos os que sejam devolvidos? Apenas um – como já nos acostumamos a fazer, é preciso situá-lo –, que apresente apenas um elemento de causa provável de que os devolvidos serão perseguidos; uma prova e, quem sabe, pelo menos na Heritage Fundation, que foi onde ele disse isso, fiquem satisfeitos.

Randy Alonso – O cenário habitual para difundir suas mentiras sobre Cuba.

Reinaldo Taladrid – Ele gosta, parece que aí são bem recebidas, ou parece que necessitam disso para financiar estudos.

Não esqueçamos a quantidade de milhões de dólares que estão aprovados para estudos de todo tipo, painéis sobre Cuba, neste orçamento e no próximo, não esqueçam, esse dinheiro tem de ser gasto, não se esqueçam disso.

Agora, ouçam esta frase do Grão-Vilão: "Não é discriminatório contra ninguém, pode-se dizer que discrimina a todos os demais, mas não está dirigido contra haitianos, ou trinitários, ou equatorianos", disse no discurso ante a Fundação Heritage.

Veja, senhor Reich, vilão-mor, a Lei de Ajuste Cubano está dirigida, nada mais e nada menos que à politicagem e ao banditismo de toda essa máfia, da qual o senhor é uma parte importante; porque essa é uma Lei de Ajuste que serviu para enriquecer-se, para fazer dinheiro, para tirar dinheiro do governo federal. À parte o objetivo político. Estou falando da parte mafiosa e da parte criminal dessa lei; estou descontando os mortos com os quais o senhor não se preocupa, com os quais ninguém se preocupa, porque ninguém fala dos mortos. Seria bom ver quem responde por todos os mortos dessa lei irresponsável e dessa forma de sair do país.

E vamos ver até onde chega a falta de ética como político e como ser humano, já que, para que exista algo contra Cuba, pois cada vez têm menos e têm de se valer de alguma coisa, qualquer coisa, para armar um show, para fazer propaganda, sem importar se arriscam vidas humanas, sem importar se morrem crianças, sem importar se as pessoas enganadas se lançam a aventuras irresponsáveis, – a questão é que exista algo contra Cuba, para justificar conferências, Fundação Heritage, discursos, cargos no Departamento de Estado e políticas e estratégias. Então, até onde vai a ética dos que são capazes de sacrificar vidas humanas, de mentir, como fez o Presidente dos Estados Unidos, publicamente, sobre isso, sem que nada lhes importe?

É mais um exemplo, Randy, de por que a essência é a Lei de Ajuste Cubano e, simplesmente, não há outra solução – porque não há resposta, nem do Presidente –, senão eliminar a Lei de Ajuste Cubano.

Randy Alonso – Uma lei que não foi aplicada a esses haitianos cujas imagens vocês viram e que, como você diz, foram vilipendiados, humilhados pelo tratamento que lhes deram. Vários deles foram devolvidos a seu país, e, como você mesmo diz, o Presidente norte-americano, nada mais, nada menos que o Presidente daquele país, disse que a política é igual para todos, exceto para os cubanos.

É a Lei de Ajuste Cubano, dirigida a objetivos políticos contra a Revolução, e a recente declaração do Serviço de Imigração e Naturalização dos Estados Unidos, que, aliás, hoje mesmo, no periódico Sun Sentinel da Flórida, Judy Orihuela, porta-voz do FBI, em Miami, acompanhada também de porta-vozes da polícia de fronteira e do INS, disse que as agências tinham desconsiderado o caso desse seqüestro, por entender que os integrantes do grupo chegaram aos Estados Unidos por sua própria vontade, e que é pouco provável que sejam acusados por ter roubado o avião.

Ou seja, um fato que está perfeitamente claro, que não deixa dúvida para ninguém de que é um seqüestro de uma aeronave, de que é o roubo de um avião, de nosso território nacional, para as agências federais dos Estados Unidos não há evidência, coisa que fica clara para quem ouve o Presidente dos Estados Unidos dizer que é legal que os cubanos sejam recebidos, roubem uma aeronave, roubem uma embarcação, ou cheguem de qualquer maneira aos Estados Unidos: "Podemos negar o visto no Escritório de Interesses, o que importa é que você roube uma delas, podemos criar o show político, são asilados políticos, são refugiados do governo comunista de Cuba, como dizem eles; mas o importante aqui é que a lei funcione e que seja parte de nossa política para Cuba".

O que realmente está em jogo, o que as autoridades norte-americanas continuam violando despudoradamente são os acordos migratórios, adotados por Cuba e Estados Unidos em 1994 e em 1995, acordos que colocam, realmente, uma busca de solução para o fluxo migratório de Cuba para os Estados Unidos, e uma violação que volta a estar presente neste caso de hoje.

Polanco, como você avalia?

Rogelio Polanco – Claro que é uma violação, Randy. É uma violação que não nos cansaremos de denunciar reiteradamente, porque reiteradas foram as práticas norte-americanas contra esses acordos migratórios, que, como você bem dizia, foram adotados entre as duas nações, em 1994 e 1995, precisamente para tratar de resolver o problema migratório entre os dois países.

A própria nota do Ministério de :Relações Exteriores, do dia 11 de novembro, recordava precisamente uma das cláusulas daqueles acordos de setembro de 1994, quando ficou explicitamente reafirmado o interesse comum em impedir as saídas perigosas de Cuba, bem como o compromisso dos Estados Unidos – e cito o documento, o acordo migratório de 1994 – "de interromper a prática de outorgar a admissão provisória a todos os migrantes cubanos que cheguem ao território dos Estados Unidos por vias irregulares, e tomar as medidas efetivas para opor-se e impedir o uso da violência por qualquer pessoa que tente chegar ou que chegue aos Estados Unidos, vindo de Cuba, mediante o desvio forçado de aeronaves e embarcações".

No texto dos acordos migratórios de setembro de 1994, estavam bem claros esses elementos que hoje são reiteradamente violados pelas autoridades norte-americanas.

É ou não é esta uma via irregular de chegar aos Estados Unidos: roubar, seqüestrar uma aeronave, pôr em risco a vida de pessoas, tanto dos viajantes que estavam na aeronave, como de outros cidadãos, inclusive cidadãos norte-americanos? Sim, porque, como podiam chegar aos Estados Unidos, onde iam aterrissar, e se houvesse um acidente, como já aconteceu em casos anteriores?

Por que promover, dessa forma, o roubo, o desvio de aviões para os Estados Unidos? Algo que esses acordos migratórios deixavam claro: "impedir o uso da violência e o desvio forçado de aeronaves", coisa que esteve presente nos acordos entre nossas duas nações.

Isto, como se sabe, provocou numerosas mortes em ocasiões anteriores; há antecedentes sobre isso. Recordemos o fato no qual aquela pessoa matou a um oficial de nossa Marinha de Guerra Revolucionária, Roberto Aguilar Reyes, que foi morto precisamente quando aquela pessoa tratou de ir, e levou uma embarcação de nosso país, roubou-a, chegou aos Estados Unidos e hoje está livre e impune.

Randy Alonso – As câmaras de televisão mostraram as imagens dele entrando em território norte-americano.

Rogelio Polanco – Como amostra da impunidade, que tem sido característica, sorria para as câmaras de televisão, e não se fez absolutamente nada. É algo reiterado por parte das autoridades norte-americanas, que se riram disso. E não são mais graves pelo fato de haverem morrido pessoas, porque todas essas ações de pirataria podem, potencialmente, provocar a morte de pessoas; a gravidade está em permitir e alentar esse tipo de ações, que podem levar, é óbvio, a acidentes fatais, à morte de pessoas e que, enfim, dão luz verde ao seqüestro.

Devia-se perguntar às autoridades norte-americanas o que desejam, se desejam seguir alentando mais roubos de aeronaves e de embarcações de nosso país, por essas pessoas, para chegar aos Estados Unidos; chegar por qualquer via e apresentá-las, enfim, como moeda de troca para emigrar àquele país, enquanto por outras vias não recebem vistos para emigrar.

Não pode haver uma prova mais evidente, mais clara, dessa manipulação política, de que os acordos estão sendo violados, e de que essa violação constitui, ademais, uma concessão à máfia. Como o foi sempre essa interpretação da política de "pés secos, pés molhados", que também foi uma manipulação dos acordos migratórios. Porque em nenhum lugar se fala dessa filosofia, que se aplica há vários anos e que significa, como eu dizia, uma concessão á máfia, essa mesma máfia que foi promovida pelas próprias autoridades norte-americanas e que, enfim, é quem provocou a morte, o sacrifício de vidas, o roubo e a manipulação grosseira da opinião pública com fatos como este.

Creio que o povo norte-americano deve saber dessa manipulação e ver que o que se faz com fatos como esse vai também em prejuízo das vidas de cidadãos norte-americanos, que também poderiam morrer por causa desses incidentes; vai contra a tranqüilidade do povo norte-americano e contra a segurança, de que hoje tanto se ufanam as autoridades dos Estados Unidos.

Randy Alonso – Sim, sem dúvida, é uma flagrante violação desses acordos migratórios, é a incitação ao seqüestro de aeronaves, às saídas ilegais; como dizia a Declaração do Ministério de Relações Exteriores, essas novas asseverações do presidente Bush, suas novas mentiras, de que o governo cubano persegue aos emigrantes ilegais devolvidos pelo Serviço de Guarda-Costas, é uma nova justificativa, para aceitar o maior número possível de emigrantes ilegais que saiam de Cuba para os Estados Unidos. E 90% deles – como afirma a Declaração do MINREX – são fruto do tráfico de imigrantes por lanchas piratas procedentes dos Estados Unidos, algo que continua acontecendo, algo que continua sendo aceito impunemente pelas autoridades norte-americanas, que sabem quem são os lancheiros, sabem onde se faz o tráfico e, na realidade, em pouquíssimos casos agiram contra essas pessoas, e quando agiram, fizeram-no com penas leves, que não vão resolver o problema do tráfico ilegal de imigrantes, porque, realmente, não é esse o propósito das autoridades norte-americanas.

Há poucos dias, deu-se um caso em que as autoridades norte-americanas demonstraram conhecer quem eram os lancheiros e, até o dia de hoje, não se sabe nada sobre o que aconteceu com esses dois criminosos.

Gladys Rubio – Esta lista (mostra) foi feita na guarda costeira norte-americana. Tem uma relação de nomes, dos homens, mulheres e crianças que iam na lancha interceptada, incluindo os dois indivíduos que realizaram a operação de tráfico de pessoas. Ao lado dos nomes de Jordán Sardiñas e Bruno Nápoles, a palavra smuggler; em espanhol, contrabandista.

Esse grupo foi devolvido pelo porto de Orozco, no dia 10 de setembro, mas saíram no dia 6 de Caibarién. Estavam muito perto das costas norte-americanas, quando foram interceptados pela guarda costeira estadunidense, que os obrigou a deter a marcha.

Emigrante ilegal – Eles atiraram uma corda, que os da nossa lancha atiraram para a água, na verdade não laçou a nada. E creio que atiraram outra por trás, que eu acho que se enredou com a hélice, uma coisa assim, e então já abordaram nossa lancha e depois nos passaram, porque nós nunca paramos a lancha – bom, os que iam pilotando. Já depois que eles cruzaram para cá, desligaram os motores e levaram todo o mundo para a outra.

Emigrante ilegal – Atiraram cordas e então seguraram a embarcação e subiram rápido e nos disseram que puséssemos as mãos na cabeça e nos deitássemos no chão. Então jogaram spray nos homens e seguraram muitos, pensando que iam se virar, mas nada mais.

Gladys Rubio – Idalmys tinha 45 dias de operada e chegou a Cuba sentindo-se mal. Foi rapidamente atendida e hospitalizada. Ela, como os demais, pôs sua vida em risco. Todos agora estão em suas casas, mas tiveram sorte; muitos, nessa perigosa aventura, nem chegam, nem voltam.

Randy Alonso – Bem, de Jordán Sardiñas e de Bruno Nápoles, não se sabe o que as autoridades norte-americanas fizeram com eles. Esse papel mostra que sabiam que eram os contrabandistas e, ainda assim, nada. Nem publicamente, nem através das informações que os guarda-costas trocam com os guarda-fronteiras cubanos, deu-se qualquer informação desses dois personagens, mais uma amostra de como as autoridades norte-americanas permitem esse tipo de tráfico ilegal que levou à morte – como lembrava Lázaro – a numerosas pessoas.

Falamos de 30 no ano passado, naquele fato lamentável do fim do ano; falamos de dez na costa de Pinar del Río, recentemente; falamos de outras oito pessoas na costa de Matanzas, há poucos meses, e são exemplos concretos, os que se sabem. Sabemos que há pessoas que desaparecem no mar e lamentavelmente não há sequer uma informação sobre sua saída ilegal do país. As declarações do presidente Bush, esse ato que acabamos de ver nessas imagens, são, sem dúvida, um estímulo para que essa gente continue atuando impunemente, como parte da política, ou como cérberos da política dos Estados Unidos para nosso país.

O fato recente que acaba de ocorrer não está apenas enquadrado nessa política da Lei de Ajuste Cubano; não apenas constitui, de fato, uma flagrante violação das leis de nosso país, com o roubo de uma aeronave; não é apenas uma violação das próprias leis e das próprias políticas executadas hoje pelo governo dos Estados Unidos em outros âmbitos e para outras nações, como diz o presidente Bush, senão que é também uma violação de importantes convênios internacionais em matéria de aviação subscritos por Cuba e pelos Estados Unidos. Arleen pode falar-nos disso.

Arleen Rodríguez – Sim, efetivamente, Randy. Como você dizia, e diz a Declaração do MINREX, somente elementos sem escrúpulos podem prestar-se a violar as mais elementares normas de segurança do tráfico aéreo internacional, as leis cubanas e norte-americanas, que tipificam o seqüestro de aviões como um ato de terrorismo, é preciso dizê-lo.

Agora, a partir do que estávamos analisando aqui, o céu não é uma pista a que as pessoas possam sair para voar quando bem entendem. Creio que Lázaro se referia a isso. A nossa zona mesmo, ou o sul da Flórida, têm um tráfico intenso; há, inclusive, pessoas que, dentro dos Estados Unidos, possuem aviões e voam, mas têm de ater-se, é claro, a uma aprovação de vôo. Quando esses seqüestros de aviões ocorrem, é óbvio, põe-se em risco tudo isso. Por isso é que se fizeram leis, e não apenas leis cubanas e norte-americanas, mas também há convênios, e parece-me que, entre os mais importantes, poderia citar o convênio para a repressão da tomada ilícita de aeronaves, firmado por Cuba e Estados Unidos, citado na Declaração do MINREX; esse é um convênio de 1970, em que se tipifica precisamente esse tipo de delito cometido no dia 11 passado, como um ato de terrorismo.

Por que é um ato de terrorismo? Bem, tenhamos em conta que essa pessoa que rouba um avião, tira-o de suas funções e o introduz em um tráfico aéreo para o qual não tem permissão. As autoridades teriam todo o direito de obrigá-los a retornar. Por que não se faz isso? Do mesmo modo que, nos Estados Unidos, os aviões o receberam e o escoltaram, aqui os aviões poderiam tê-lo feito abortar o vôo, pressionar esse avião. Não o fazem porque é um avião seqüestrado, porque leva uma menina de quatro anos, porque leva pessoal civil, que se tornam reféns do ato, do delito de terrorismo que essa pessoa está cometendo.

Creio, também, que com muita razão na nota se responsabiliza ao governo dos Estados Unidos, porque não apenas firmou esse convênio, senão que é bom lembrar que esse convênio foi o resultado de uma situação em que os Estados Unidos eram, possivelmente, o mais vulnerável de todos os países, ao delito de seqüestro de aviões e, justamente Cuba colaborou profundamente para que isso não se produzisse. Ao longo dos anos, Cuba respeitou religiosamente esse acordo firmado em 1970, para evitar que se converta em um risco para outras pessoas, o vôo ou a utilização da via aérea para o transporte. No caso dos Estados Unidos, o estímulo a essas ações é precisamente o que acaba de acontecer nesta segunda-feira.

Penso, ademais, que a nota responsabiliza o governo norte-americano desse delito porque não apenas estimula esses vôos, com a Lei de Ajuste Cubano com fins de propaganda, senão porque, também, concede uma indiscutível impunidade a seus executores. E a partir do que aconteceu, vimos que já se anunciou que sairão em liberdade, que lhes darão, sem dúvida, o direito à residência, depois de tê-lo negado pelas vias legais a uma das pessoas que é cúmplice desse seqüestro.

Agora, Randy, eu gostaria de voltar a por que dizemos que a Lei de Ajuste Cubano é uma lei assassina. Porque, quando ocorrem fatos como esse e não há uma morte, quando não se chega ao extremo do que aconteceu em setembro passado, quando houve uma morte, as pessoas dizem: "Bem, se ninguém morreu, onde está o crime?" Eu creio que o crime está, em primeiríssimo lugar, em pôr em risco a vida dessas pessoas, em utilizá-las como um escudo para amparar delitos.

Creio, também, que está amparando vários delitos ao mesmo tempo. Ampara um delito de roubo, porque – como você mesmo dizia no princípio – foi roubado um avião que pertence ao Estado cubano, a uma instituição que era proprietária dessa aeronave; ampara um seqüestro, que se produz ao desviá-la de suas funções, com isso que eu estava dizendo; viola as leis da segurança aérea. Suponhamos que esse avião perdesse combustível e ficasse no meio do caminho; ou seja, o abastecimento desse avião não era para um itinerário desse tipo, podia ter morrido uma menina, podiam ter morrido essas pessoas, tudo isso converte a lei em assassina.

Mas, inclusive, eu não o diria de nossa perspectiva. Eu citaria exatamente o que disse a porta-voz do INS, o que disse o INS, ao explicar sua ação contra os haitianos, que comentávamos há pouco. Eles disseram que, quando se devolvia automaticamente aos imigrantes haitianos ilegais a seu país, era com o objetivo de evitar que arriscassem suas vidas, era com um objetivo humano superior do governo dos Estados Unidos, evitando aventuras perigosas.

Quando isso, em lugar de ser evitado, é estimulado, creio que, em definitivo, o que se está apoiando é o contrário, com essa lei que contradiz todas as leis cubanas, norte-americanas e os acordos internacionais – aliás, os 12 convênios que foram firmados a partir do 11 de setembro, e que Cuba estava entre os primeiros a ratificar, tipificam o seqüestro de aviões como um delito de terrorismo.

Ou será que a vida dos seres humanos de Cuba não vale nada? Neste caso não é importante, não se responde a um objetivo humano superior? Porque, se eu digo que, em nome da segurança das pessoas que emigram através do Caribe para chegar aos Estados Unidos, eu paro e detenho esse ato ilegal e devolvo as pessoas a seu país, para não estimulá-lo, então, quando não as devolvo, o que significa? Pois creio que eles mesmos disseram o que estão fazendo, embora o INS, como se provou várias vezes, seja também cativo dessa absurda Lei de Ajuste Cubano.

E creio que tudo isso se deve ao mesquinho interesse político de um grupo. Permito-me recordar que exatamente em conseqüência do 11 de setembro, dos abomináveis atentados que ocorreram naquele dia nos Estados Unidos, Colin Powell disse que não se podia permitir nenhum grupo nem nenhuma força que quisesse atingir objetivos políticos com atos de violência, porque isso é terrorismo. Exatamente isso é a Lei de Ajuste Cubano, porque há um grupo político por trás delas, utilizando a morte ou os riscos assumidos por famílias cubanas, precisamente com fins políticos. Daí que digamos que a Lei é um ato terrorista em si mesma, embora possa não parecer à primeira vista. É uma maneira mais sutil de aplicar o terrorismo, ao levar as pessoas mais lentamente à morte, e fazendo que pensem que estão sendo ajudadas. Enfim, que o que estamos vendo, com a Lei de Ajuste Cubano, é um ato de violência política cotidiana, neste caso utilizada por um grupo político, que é a máfia de origem cubana, para obter fins políticos não alcançaram durante todos esses anos. Esse é o propósito da Lei de Ajuste Cubano, e por isso reitero que é uma lei assassina.

Randy Alonso – Depois desse ato criminal que acaba de acontecer, depois de todas as violações desses tratados entre nossos países, depois dessas flagrantes violações de convênios internacionais, como o firmado em 1970, como outros que têm relação com a segurança aérea internacional, como é possível, então, entender o discurso do governo norte-americano, que desde 11 de setembro de 2001 está alentando uma cruzada antiterrorista, dizendo que está em defesa da segurança nacional dos Estados Unidos, que reforçou a vigilância do espaço aéreo dos Estados Unidos. Bem, como então argumentar com segurança nacional, segurança aérea? Como argumentar com luta antiterrorista, depois desses acontecimentos, Lázaro?

Lázaro Barredo – Randy, essa é uma das perguntas feitas pela Declaração do MINREX. Como entender essa atitude do governo dos Estados Unidos, depois que se realizam esses grandes esforços?

O presidente Bush, depois dos acontecimentos de 11 de setembro, fez um investimento de 500 milhões de dólares em segurança aérea. Tomou um conjunto de decisões; inclusive foi dada até autorização, a dois generais norte-americanos, para derrubar aviões civis em pleno vôo, sem necessidade de consultar o Presidente dos Estados Unidos, nem ninguém mais, se consideram que há uma ameaça à segurança nacional. Com esse critério, fechou-se a possibilidade de sobrevôo em determinadas áreas, como, por exemplo, Washington; esteve-se até discutindo se seria conveniente ou não fechar aeroportos.

Randy Alonso – O aeroporto "Ronald Reagan", da capital, esteve, inclusive, a ponto de ser fechado; esteve fechado durante várias semanas, porque está próximo da Casa Branca.

Lázaro Barredo – Nós dizemos que essa é a política – como diz a Declaração do MINREX – que estimula a pirataria aérea e o seqüestro, isso é fundamental. Você mencionou a porta-voz do FBI de Miami, Judy Orihuela, e é de se esperar que do escritório de Héctor Pesquera, com todos os vínculos que tem com a máfia, venham declarações desse tipo, em que ela está expressando sua consideração de que o FBI não vai ocupar-se disso, como não se ocupa de tantas coisas que têm a ver com o tema da máfia, porque, segundo eles, não é um seqüestro e não se trata de um ato de pirataria aérea.

É um seqüestro, é preciso insistir nessa idéia; é um seqüestro de uma aeronave, e é, de acordo com a norma internacional, um ato de pirataria.

A norma internacional – aqui a tenho –, "o critério de distinção entre pirataria e roube deve ser buscado na lesão adicional à segurança pública, por sua magnitude, por lugar e forma em que se verifica". Quando estou falando da segurança pública, não estou falando de Cuba, para que fique claro, estou falando da segurança pública dos Estados Unidos; é aí onde está a irresponsabilidade e o ato criminal do governo dos Estados Unidos.

Cuba tem três corredores aéreos. A cada sete ou oito minutos, durante as 24 horas do dia, transitam por esses corredores milhares de cidadãos norte-americanos, dos Estados Unidos ou para os Estados Unidos, mais de 400 vôos diários.

No ano passado – ou neste ano, não me lembro agora – o povo de Cuba pôde observar, nas reportagens de televisão, o acidente do avião da linha que transporta a correspondência DHL e um avião de passageiros ucraniano que, por desviar-se da rota, chocou-se com o outro, e o desastre aéreo que isso significou.

Está provado que um desvio de avião nessa área tão transitada pode trazer consigo um acidente de incalculáveis proporções; é aí onde está ainda mais a criminalidade dessa política do governo dos Estados Unidos, pelo dano que pode infligir a seus próprios cidadãos, para saudar, para confraternizar, para recompensar o gesto da máfia de Miami, porque, no fundo, a isso respondem as palavras de Bush, respondem à política da máfia.

Essa expressão do presidente Bush não é mais que referendar os resultados eleitorais, pelo dinheiro e por todo o respaldo que a máfia deu a ele e a seu irmão, nas recentes eleições.

Com tamanha falsa moral, não se pode combater o seqüestro aéreo, o desvio de aviões, porque está provado – Cuba já provou em uma oportunidade – que, para interromper essas ações, é preciso pôr em vigor medidas verdadeiras para impedir fatos tão grotescos. Quando eles começaram a seqüestrar aviões, isso se converteu em um bumerangue, e para Cuba converteu-se, então, quase em um fenômeno de turismo, o desvio de aviões norte-americanos para a ilha.

Está documentado que, entre setembro de 1968 e dezembro de 1984, foram registrados 71 casos de seqüestros de aviões, desviados dos Estados Unidos para Cuba, e esses seqüestros se acabara, única e exclusivamente, quando Cuba disse: "Acabou". A partir daquele instante, 69 participantes foram julgados e fortemente sancionados por nossos tribunais, e aí se acabou o desvio de aviões dos Estados Unidos para Cuba. Foi Cuba quem protegeu os Estados Unidos, com essa decisão de sancionar duramente àquele que seqüestrasse um avião, de território norte-americano para nosso país, e a prova é que, desde que implementamos essas medidas, acabaram os seqüestros; levamos quase 20 anos, porque os seqüestradores sabem que não podem vir aqui, porque as leis penais cubanas sancionam fortemente qualquer violação nesse sentido.

Enquanto não haja uma mudança dessa política, insistimos, o que vai haver é o estímulo a esse vandalismo, a esses atos, que só vão trazer consigo a desgraça e a morte de muitas pessoas.

E insisto, Randy, na importância da pergunta que faz o MINREX: "Como é possível compreender que o governo dos Estados Unidos pratique uma política que estimula a pirataria aérea e o seqüestro de aviões, com suas trágicas conseqüências, em momentos em que se realizam grandes esforços para garantir a segurança nacional dos Estados Unidos e proteger suas fronteiras e a navegação aérea?" Esse ó e xis do problema, dessa nova irresponsabilidade do governo norte-americano.

Randy Alonso – Eu me lembro, Lázaro, do discurso do Comandante-em-Chefe, no dia 6 de outubro, quando comemorávamos o aniversário do vil atentado de Barbados, ao assinalar que houve a expressa vontade de Cuba de buscar a maneira de deter atos desse tipo, criminal, terrorista, como é o seqüestro de aeronaves; que se fez esse acordo bilateral com os Estados Unidos e que, realmente, tem havido disposição somente da parte cubana de cumprir esse compromisso. É uma prova da irracionalidade, da estreiteza de mente, do pouco senso ético e moral que tem a política norte-americana para nosso país, que é capaz de pôr em risco a vida de pessoas, não importa de que grupo sejam, cubanos ou norte-americanos, em função dessa política irracional em relação à Revolução e da política irracional em relação a nosso povo, e creio que é uma demonstração concreta de qual é o senso ético que realmente anima a essa administração, que não apenas o permite, senão que o estimula, através das declarações de seu próprio Presidente.

Agradeço teu comentário, Lázaro.

(Transmitem-se imagens sobre o tema.)

Quando falamos desse ato que acaba de ocorrer, que não tem outro qualificativo – como dizíamos – que de roubo ou de pirataria aérea; de um ato que é condenado internacionalmente como um ato de terrorismo, inclusive nas próprias leis internacionais, recentemente ratificadas por nosso país, imediatamente após o 11 de setembro, a pessoa também se pergunta como as autoridades norte-americanas podem alardear, podem falar de combate ao terrorismo, de enfrentamento de todos os atos terroristas, quando realmente estão permitindo e alojando, em seu próprio território, pessoas que cometem um ato dessa natureza. Taladrid, como se pode responder a essa pergunta?

Reinaldo Taladrid – Creio que foi Hegel, grande filósofo alemão, que, tratando de racionalizar o Estado alemão – prussiano, naquela época – dizia que tudo que era real era racional, e é Marx quem critica a Hegel, precisamente com seu conceito de que nem tudo que é real é racional.

Vamos considerar dois fatos, e ver se podemos entender o que pode haver de hegeliano ou não nessa atitude, se é racional ou irracional.

No ano passado, depois do 11 de setembro, ocorreu um incidente – tratamos dele aqui –: Sai um avião de Miami rumo ao Chile, parece que havia uma aeromoça muito bonita, muito formosa, e um passageiro, um chileno, quis fazer uma piada, e lhe diz: "Há uma bomba no avião". Imediatamente, como reação, o momento que se vivencia, etc., imobiliza-se o passageiro e se faz retornar o avião imediatamente a Miami. Mas não só isso, senão que se pediu 25 anos de privação de liberdade ao homem, por essa piada. Não havia nenhuma bomba, não havia nada.

Lázaro Barredo – A bomba era a mulher, segundo essa piada. (risos)

Reinaldo Taladrid – Bem, a bomba caiu nele, pela piada. A bomba caiu nele, pela piada, mas é preciso ver que quem atira a bomba, neste caso, é o Estado norte-americano, evitando qualquer incidente que tenha relação com uma bomba, com um avião e com a vida das pessoas que estão a bordo dos aviões. Esta é a essência, estão protegendo esse bem tão valioso, a vida de pessoas que vão a bordo de um avião e que podem ser vítimas de uma bomba que esteja aí.

Eu diria que essa pode ser a parte hegeliana dessa história, racional. Porém o que acontece? Onde estão duas pessoas que puseram uma bomba em um avião e mataram, assassinaram a dezenas de pessoas.

Luis Posada Carriles, onde está? Bem, está no Panamá, em uma espécie de semifarsa judicial, em que goza de uma liberdade quase total, vamos dizer assim, têm pouquíssimas limitações, e toda a sua vida, a defesa, seus movimentos, tudo o que faz, paga-se com dinheiro que sai dos Estados Unidos, do gabinete de Alberto Hernández, levado por Santiago Álvarez, levado por gente mencionada com nomes e apelidos; ou seja, de território norte-americano lhe chega dinheiro, enviado por cidadãos norte-americanos que estão sujeitos à mesma lógica e às mesmas leis que fizeram que pedissem 25 anos de prisão a esse chileno, por fazer uma piada, e, então, não acontece nada, ninguém lhe pede contas por ter posto uma bomba real em um avião e por ter assassinado a dezenas de pessoas em um avião.

E Orlando Bosch? Bem, está na cidade de Miami, tem até um dia em sua comemoração, ninguém se mete com ele, não aconteceu absolutamente nada, participa de atos públicos, inclusive com as mais altas figuras do estado da Flórida e da nação. Esse homem, responsável direto por haver posto uma bomba em um avião, por haver assassinado a dezenas de pessoas.

Então, aí voltamos à segunda parte: o que sobra da lógica que levou a tomar a primeira atitude, de pedir-lhe 25 anos? O Estado norte-americano pede 25 anos de prisão a esse chileno, pela piada, e a Luis Posada Carriles e a Orlando Bosch, um deles legalmente dentro de território norte-americano, o outro preso no Panamá, mas sendo pago, da cidade de Miami, por cidadãos norte-americanos e residentes em território norte-americano, a essa gente, tanto a eles como aos que os sustentam, os mantêm e estimulam – o que pede o Estado norte-americano, o que lhes exige? Exige-lhes algo? Exige-lhes que respondam pelos assassinatos? Exige-lhes que respondam pelos mortos? Exige-lhes que respondam pelo avião? Exige-lhes que respondam pela bomba? O que lhes pede? Não lhes pede absolutamente nada.

Então, talvez isto, sim, seja muito racional; porque talvez esse incidente desses dois assassinos, livres e sem que ninguém lhes peça nem lhes exija nada, explique que essa atitude é tão irracional, que somente se pode explicar por causas alheias à mais elementar razão humana; além de qualquer consideração política, a mais elementar razão humana.

Onde fica a lei? Onde fica o papel de uma procuradoria para proceder de ofício diante de culpados de delitos que estão aí? Onde fica o respeito às vítimas? Onde fica a luta contra o terrorismo? Onde fica a moral de tratar de proteger os aviões, tanto de que sejam utilizados como mísseis, como foram utilizados em 11 de setembro, como de que sejam explodidos em pleno vôo? Onde fica a moral? Isso, sim, é falsa moral; isso, sim, é agir com dois pesos e duas medidas, isso, sim, é agir, realmente, sem nenhum tipo de moral. E sem falar da racionalidade ou irracionalidade da atitude; é uma atitude irracional, é uma atitude cúmplice, é uma atitude, no fundo, assassina, porque é fruto de toda essa política.

Toda aquela máfia... E eu insisto em que a palavra máfia se aplica quando alguém se coloca acima da lei, não é um qualificativo gratuito. Você é parte de uma máfia, quando se põe acima da lei, e essas pessoas, quando mantêm a Luis Posada Carriles e declaram um dia de Orlando Bosch, põem-se acima da lei, porque estão sendo cúmplices de dois assassinos que devem estar condenados e presos, por serem organizadores diretos e participantes diretos de um horrendo assassinato em massa, portanto novamente se põem acima da lei, e, por isso, são uma máfia.

São filhos dessa política e estão ali, e tenhamos claro que não agir estimula essa máfia a pensar em fazer outra coisa.

Não nos esqueçamos de que, no ano 2000, neste mesmo lugar, denunciaram-se todos os planos que, da América Central, de El Salvador, precisamente, estavam fazendo para pôr de novo uma bomba em um avião comercial, aqui mesmo se denunciou. Quem estava fazendo isso? Os filhos dessa política, cidadãos norte-americanos, a partir de território norte-americano, com cúmplices na América Central.

E não faz muito tempo, nosso chanceler, Felipe Pérez Roque, denunciou, através de um foro na Internet, que se havia entregado informação, às autoridades norte-americanas, de um novo plano, outro plano, dos tantos que houve, para pôr uma bomba, em pleno vôo, a um avião Miami – Havana, dos vôos charter que fazem Miami – Havana. Ou seja, não parou a política, não pararam as intenções, e essa política os mantém estimulados, e vai mantê-los estimulados, a esses assassinos e a essa máfia.

Isso, Randy, é absolutamente irracional, não tem a menor explicação, sob nenhum ponto de vista.

Randy Alonso – E é prova da falsa moral daquele governo, que se proclama paladino da luta antiterrorista mundial, que fala de defender a segurança nacional do povo norte-americano, e acolhe seqüestradores de aviões em seu país, e pior ainda, acolhe os terroristas que executaram um dos piores atos de terrorismo na aviação civil mundial durante toda a história, e que são uma prova – como você dizia – de até aonde chega o absurdo dessa política.

Frente a essa irracionalidade, frente a esse ódio visceral que se reflete numa política tão criminosa como a Lei de Ajuste Cubano, Cuba manteve uma posição construtiva, uma posição honesta, de cumprir os acordos migratórios e, sobretudo, de resolver esse tema da imigração ilegal, que é um problema, tanto para o povo de Cuba, como para o próprio povo norte-americano.

Rogelio Polanco – É um tema essencial para o povo norte-americano, é parte das questões que hoje têm mais debate público nos Estados Unidos, o tema migratório, que decide a essência daquela sociedade, uma sociedade fundada sobre a base da imigração, e que hoje recebe a milhares e milhares de imigrantes do mundo inteiro, e que converteu esse tema em parte fundamental do debate político dos Estados Unidos, neste momento.

Os Estados Unidos se opõem, no caso de Cuba, a tratar o tema migratório de maneira civilizada, faz tudo ao contrário do que deveria fazer para abordá-lo de maneira racional. Enquanto isso, Cuba, como dizíamos, cumpre os acordos migratórios, cumpre os acordos internacionais; mas Cuba vai além, Cuba propõe aos Estados Unidos cooperação nessa matéria. Ou seja, os Estados Unidos não cumprem os acordos e, ainda assim, Cuba insiste em que se cumpram, denuncia seu descumprimento, mas, ademais, propõe novos regulamentos, novos acordos bilaterais em matéria de imigração e para atacar o tráfico ilegal de pessoas, um problema crescente também, que hoje perturba as autoridades norte-americanas. Isto foi parte dessas propostas, como se disse em várias ocasiões, que se somam à cooperação que Cuba também esteve disposta a oferecer em matéria de luta contra o terrorismo e de luta contra o narcotráfico, oferecimentos que receberam o rechaço das autoridades norte-americanas.

O povo dos Estados Unidos tem de saber disso, porque suas próprias autoridades estão rechaçando a cooperação internacional com um país vizinho, que está propondo resolver de maneira bilateral esses problemas, que hoje são verdadeiros flagelos mundiais, para toda a humanidade. E sem dúvida, os Estados Unidos continuam mentindo, em lugar da cooperação, propõem o enfrentamento com Cuba; propõem, está claro, deixar a política exterior em relação a Cuba em mãos de terroristas, em mãos de mentirosos, como esse Otto Reich. E, além disso, continua consentindo e continua levantando essa máfia terrorista de Miami, que tem essa política controlada.

Já vemos que não são somente esses funcionários – mas também os funcionários máximos daquele país, o próprio Presidente –, que em suas declarações públicas alentam essa política, alentam o seqüestro de aviões, alentam que os cidadãos cubanos cheguem por qualquer via, não importa o delito que tenham cometido; ou seja, que estão santificando, desde as máximas autoridades, essa política de falsa moral, que não tem outro qualificativo senão de ser totalmente politizada, unilateral e criminal.

Creio que isso cria para os Estados Unidos uma contradição irreconciliável com sua própria opinião pública e com a opinião pública internacional, que faz que o governo norte-americano continue ancorado em uma política da era da guerra fria. Sabemos que a guerra fria com Cuba não terminou, que se mantém uma política obsoleta, uma política fracassada e que não tem nenhum argumento moral, ético ou legal.

Devia-se perguntar onde está a responsabilidade dessas autoridades que continuam insistindo nessa política fracassada, e quando vão compreender que os cantos de sereias, estes com os quais querem atrair os cidadãos cubanos, por qualquer via, incluindo a morte de pessoas, não vão destruir a Revolução, não vão servir para que se coroe com êxito essa política.

É preciso destacar hoje, como dizia Arleen agora há pouco, que não pode haver nenhum apreço pela vida humana, quando, por trás dessa política, estão esses personagens do império e da máfia que na cidade de Miami, que hoje é a capital de terrorismo, a capital da corrupção, da fraude e também da pobreza nos Estados Unidos, utilizam esses fatos e os imigrantes ilegais cubanos como combustível de suas campanhas contra a Revolução, meros instrumentos de propaganda, que depois são abandonados a sua sorte. Somente essa filosofia explica que ocorram fatos como esse que tenho aqui, que acaba de ser divulgado nas últimas semanas, por vários meios de imprensa do sul da Flórida, e que está relacionado com esses cantos de sereia da imigração, e vemos como tratam, então, a esses cubanos que viajaram de maneira ilegal para os Estados Unidos, quando já não lhes são úteis.

Leio textualmente a informação:

"Um grupo de cubanos e colombianos enterraram ontem a um casa de balseiros, cujos corpos, por falta de dinheiro para o enterro, estiveram por três meses em uma funerária. Os corpos foram entregues depois que foram pagos à Funerária Nacional a soma de 3.826 dólares, e o diretor do cemitério católico doou o terreno necessário e os serviços de um sacerdote. Esse casal veio entre os refugiados da base de Guantánamo, mas há três meses morreram em um acidente automobilístico, quando se dirigiam a Orlando, em companhia de sua filha de quatro anos.

O falecimento do casal criou um drama humano, a menina foi recolhida por uma prima de sua mãe; mas, como seu pai nunca a reconheceu, o Departamento de Crianças e Famílias quer tirar-lhe a menor."

É um fato real, publicado na imprensa do sul da Flórida há apenas algumas semanas, e uma demonstração daquela cidade decadente, profundamente injusta, onde se chega à aberração de maltratar até os mortos, como vimos aqui. Essa é, enfim, a cidade que essa máfia seqüestrou, para seus mesquinhos interesses e que pretende apresentar-nos como vitrine.

Por essas razões, e pelas razões que discutimos hoje, e pelo que denunciamos hoje, creio que não podemos cansar-nos, não podemos esgotar-nos em nossa demanda de que acabe essa Lei assassina, terrorista, de Ajuste Cubano, que provoca o horror e a morte de cidadãos de nosso país e que, ademais, alenta a pirataria, o seqüestro e o roubo de aviões, como parte dessa política hipócrita, ilegal, premeditada, criminal e cínica do governo dos Estados Unidos.

Randy Alonso – Sem dúvida, é o espírito de nosso povo, é o que colocamos no Juramento de Baraguá, continuar essa luta contra a Lei de Ajuste Cubano e contra todos os inventos que o governo dos Estados Unidos tenta impor contra nosso país, em sua absurda política de bloqueio e de agressões contra nosso povo.

Agradeço aos participantes do painel, que me acompanharam nesta tarde, em nossa mesa-redonda, e agradeço também aos convidados que estiveram conosco no estúdio.

Compatriotas:

Um novo ato de pirataria aérea foi executado, sob o estímulo da assassina Lei de Ajuste Cubano, e com o amparo e a cumplicidade do governo dos Estados Unidos.

Isolados em sua política agressiva contra Cuba, repudiados na Assembléia Geral das Nações Um idas, por 173 países, por seu criminoso bloqueio contra nosso povo; cada vez mais questionados pela opinião pública norte-americana, por sua irracional política em relação a nosso país, a máfia terrorista e o governo dos Estados Unidos aferram-se à Lei de Ajuste Cubano, como arma política contra a Revolução, como grosseiro show anticubano e como maneira de justificar suas agressões contra nosso povo.

Como se pode compreender que o próprio Presidente dos Estados Unidos – que tenta erigir-se como paladino da luta antiterrorista mundial e defensor à antiga da segurança nacional dos Estados Unidos – seja quem alente, com suas declarações, atos de pirataria aérea e seqüestros de aeronaves, que são condenados pela comunidade internacional?

Como podem explicar às famílias das vítimas do horrendo ato de 11 de setembro, cujas esposas, esposos, filhos ou familiares morreram naquele dia, após o ato terrorista de seqüestro de aeronaves, que a famosa política de segurança nacional, alardeada por seu governo, pode ser impunemente violada por imigrantes ilegais de Cuba, em função de uma mesquinha política contra outro povo?

Cuba, que cumpriu os Acordos Migratórios de 1994 e 1995, propôs às autoridades norte-americanas, reiteradamente, acordos concretos que permitam enfrentar o terrorismo e a emigração ilegal. As autoridades dos Estados Unidos rechaçaram esses acordos, que iriam beneficiar o povo norte-americano e o povo cubano.

Como expressou ontem a declaração do Ministério de Relações Exteriores, Cuba exige a devolução dos seqüestradores e da aeronave, e demanda, da administração dos Estados Unidos, que deixe de aplicar a Lei de Ajuste Cubano.

Nosso povo lutará sem descanso contra tão assassino e terrorista engenho, e enfrentará com valor as agressões e as mentiras do governo do poderoso vizinho do Norte.

Continuamos em combate!

Muito boa noite.