Mesa-redonda informativa sobre "Otto Reich: um terrorista no governo norte-americano", realizada nos estúdios da Televisão Cubana, em 14 de março de 2002, "Ano dos heróis prisioneiros do império".

 

(Versões taquigráficas – Conselho de Estado)

 

Randy Alonso – Muito boa tarde, caros telespectadores e ouvintes.

Porta-voz dos piores interesses da extrema direita norte-americana e representante dos mesquinhos objetivos da máfia anticubana, padrinho de destacados terroristas – como Luis Posada Carriles e Orlando Bosch –, vinculado ao vergonhoso escândalo Irãgate, em que se exercitou como profissional da mentira, lobista da Bacardi e impulsionador da Helms-Burton, classificado por muitos de medíocre e lerdo, Otto Reich assumiu, esta semana, como Secretário Assistente de Estado para a América Latina, após ser imposto pela administração estadunidense, que se aproveitou do recesso do Congresso.

Desde seus primeiros atos em posição tão importante, começou a destilar seu enfermiço ódio contra a Revolução Cubana.

Desenvolveremos, esta tarde, a mesa-redonda informativa "Otto Reich: um terrorista no governo norte-americano", para a qual, acompanham-me no painel Reinaldo Taladrid, jornalista do Sistema Informativo da Televisão Cubana; Juana Carrasco, chefa da redação internacional do jornal Juventud Rebelde; Arleen Rodríguez Derivet, editora da revista Tricontinental e condutora do programa Fazendo Rádio; Eduardo Dimas, comentarista internacional do Sistema Informativo da Televisão Cubana; e Rogelio Polanco, diretor do jornal Juventud Rebelde.

No estúdio, compartilham hoje conosco, como convidados, companheiros do Ministério de Relações Exteriores, da Procuradoria Provincial da Cidade de Havana, do Ministério da Indústria Básica e do Corpo de Bombeiros.

(Projetam imagens sobre o tema)

Neste 11 de março, um cabo da agência EFE, de Washington, dava a conhecer que "exatamente dois meses após o presidente estadunidense George W. Bush usar seus poderes especiais para nomeá-lo, Otto Reich assumiu hoje, no Departamento de Estado, seu cargo como Secretário de Estado Adjunto para a América Latina.

"A partir de agora" – diz EFE – "Reich, que é cubano-americano, será o encarregado de todos os assuntos relacionados com a América Latina, no Departamento de Estado.

"A posse de Reich nesse novo cargo deu-se durante uma cerimônia que teve lugar no Departamento de Estado, à qual esteve restrito o acesso da imprensa."

Otto Reich, nomeado e já em seu posto, como Secretário de Estado Adjunto para a América Latina.

Quem é o novo representante do governo dos Estados Unidos, em sua relação com os povos da América Latina? Quem é Otto Reich?

Proponho-lhes, nesta mesa-redonda informativa de hoje, fazer uma dissecação desse sinistro personagem da máfia cubano-americana, que chegou a ocupar tão importante posição no governo dos Estados Unidos.

Sobre Otto Reich, peço a Eduardo Dimas que comece a dar-nos alguns detalhes.

Eduardo Dimas – Bem, nasceu, por equívoco, em Havana, em 16 de outubro de 1945. Filho de um emigrante austríaco de origem judia, chamado Walter Reich, e de uma cubana.

Estudou no colégio "Baldor" até os 15 anos, e até o primeiro ano do colégio. Emigrou com seus pais para os Estados Unidos em 1960, e em 1966 graduou-se bacharel em artes na Universidade de Chapel Hill, Carolina do Norte, e posteriormente, em 1973, gradua-se de master em artes na Universidade de Georgetown, uma das universidades, precisamente, em que a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA, faz a captação de boa parte de seus agentes e quadros. Ali conhece a Frank Calzón, um conhecido agente da CIA, terrorista, com quem estabelece uma amizade que, segundo informações, dura até hoje.

Vincula-se ao exército norte-americano em 1967. Gradua-se como oficial na escola de candidatos ao exército e, a partir de 1967, até 1969, trabalha como funcionário de Assuntos Civis do exército norte-americano no Panamá.

Volta à vida civil em 1970 e, de 1970 a 1971, é assistente legislativo da Câmara de Representantes do Congresso; ou seja, começa já a desenvolver uma "vida política".

De 1972 a 1975, é presidente da companhia Cormorat Enterprises, com sede em Miami, que se dedica à exportação e importação de produtos, e, ao mesmo tempo, trabalha como representante internacional do Departamento de Comércio do estado da Flórida.

De 1975 a 1976, é coordenador para o desenvolvimento comunitário da cidade de Miami, e de 1976 a 1981, atua como diretor em Washington para as operações do Conselho das Américas (COA).

Em toda essa etapa que lhes apresento, Reich manteve uma posição de total enfrentamento à Revolução Cubana. É um homem, aparentemente, sem grandes luzes, e é bastante grosseiro em suas colocações relativas à Revolução Cubana.

Muitas pessoas que o conheceram nessa etapa diziam que era agente da CIA ou, pelo menos, que tinha vínculos com ela, não apenas porque estudou em Georgetown e é amigo de Frank Calzón, que nesse momento era um captador de agentes na universidade, senão porque, além disso, ele se dedicou a fazer investigações de forma encoberta, segundo alguns que o conhecem.

Também realizou estudos sobre as razões e as causas da derrota de Praia Girón, mas não chegou a conclusões objetivas reais sobre por que perderam em Praia Girón, nem sobre o papel do povo nessa vitória.

De 1981 a 1983, trabalha para o governo de Ronald Reagan, como administrador assistente da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que se conhece por sua sigla USAID, também conhecida como uma fachada pelos agentes da CIA e por terroristas de origem cubana. Dou-lhes dois exemplos: Dan Mitrione, que era um agente da CIA enviado ao Uruguai e que foi justiçado pelos revolucionários uruguaios, tinha precisamente uma fachada da USAID. E, além disso, os três elementos terroristas que tentaram assassinar ao Comandante-em-Chefe no Chile, em 1971, tinham também fachada dessa agência dos Estados Unidos; e esse senhor é, durante um período de três anos, precisamente o administrador assistente de uma entidade que serve de fachada para à CIA.

Esse é Otto Reich até 1083.

Randy Alonso – Também, creio que é importante particularizar, Dimas, aquele momento da história desse sinistro personagem, quando está ocupando uma importante responsabilidade dentro da Agência para o Desenvolvimento dos Estados Unidos, a partir da qual dirige as relações com América Latina, como você dizia, num momento em que imperam as ditaduras em quase todos os países dessa zona, e um momento em que esta agência dedicou-se à financiar as forças reacionárias em nosso continente e, além disso, está começando o que, depois, seria a grande ofensiva norte-americana na América Central, que provocou dezenas de milhares de mortos nessa região, dizem que mais de 200.000, considerando Guatemala, Nicarágua, Honduras, El Salvador. Ou seja, creio que é também uma amostra de toda a vinculação que, desde o primeiro momento, Otto Reich tem com a extrema direita norte-americana e com os projetos da extrema direita norte-americana para nossa região.

Eduardo Dimas – É um momento, Randy, em que havia ditaduras em praticamente toda a América Central, salvo a Revolução Sandinista, que havia triunfado em 1979, e ele precisamente vai desempenhar um importante papel contra a Revolução Sandinista; e quando você se volta para a América do Sul, praticamente em quase todos os países havia também ditaduras militares: estava a ditadura argentina, a ditadura chilena, a ditadura uruguaia, que durou até 1985, ainda estava no poder a ditadura brasileira; ou seja, havia uma grande quantidade de ditaduras na América Latina, e é exatamente nesse momento que ele ocupa o cargo de Administrador Assistente da Agência Internacional para o Desenvolvimento, dos Estados Unidos.

Randy Alonso – Que subministrou vultosos recursos a esses países, durante aqueles anos em que Otto Reich teve essa responsabilidade dentro de uma organização, de que conhecemos a triste história em nosso continente e também em relação com a Revolução Cubana.

Mas Otto Reich não teve apenas esse papel, podemos dizer, de certa categoria na Administração Ronald Reagan, senão que também foi chamado, pouco depois, para assumir uma importante responsabilidade no Departamento de Estado, a qual levou esse sinistro personagem a envolver-se, de maneira direta, na guerra suja que os Estados Unidos desenvolveram na década de 80, especialmente contra Nicarágua, mas que abarcou todos os países da América Central. Creio que é uma das etapas mais sinistras desse personagem, e sobre isso pode-nos falar Reinaldo Taladrid.

Reinaldo Taladrid – Sim, Randy, como não.

O cargo para o qual é nomeado na administração Reagan, no ano de 1983, chamava-se Conselheiro Especial para a Diplomacia Pública do Secretário de Estado.

Eu vou contar essa história do que foi a guerra suja na América Central e tudo mais, a partir de relatórios do governo norte-americano, um do General Accounting Office, o Escritório Geral de Contadoria, que faz investigações a pedido do Congresso, e outros por investigações feitas pelo próprio Congresso; mas, com sua permissão, Randy, vou acrescentar umas coisinhas que não aparecem nesses relatórios.

Por exemplo, diz este relatório do General Accounting Office, que "Otto Reich, enquanto esteve nesse cargo, violou a restrição que pesa sobre o orçamento anual do Departamento de Estado, que proíbe utilizar fundos federais para propósitos de publicidade ou propaganda não autorizados pelo Congresso", e este é o primeiro dos três grandes temas em que podemos dividir isto: Usar dinheiro do governo para publicidade, ou propaganda não autorizada pelo Congresso.

De que se trata? De que a nação norte-americana, o Congresso, todos os seus poderes não estavam legalmente em guerra contra a Nicarágua, e tudo que se estava fazendo era uma guerra e uma ação pelas costas do Congresso, pelas costas da lei norte-americana, e esse homem, Otto Reich, diz este relatório, "usou fundos federais para publicidade, ou propaganda não autorizada".

Mas vamos traduzir isto ao espanhol e, se querem, ao cubano também. Que é que faziam, concretamente? Vou dar alguns exemplos de a que se refere essa frase "propósitos de publicidade, ou propaganda não autorizada pelo Congresso".

Um: desinformação da mais grosseira. Por exemplo, que fazia Otto Reich? Deram-lhe um tremendo gabinete, com um grande orçamento, participava diretamente das reuniões da Casa Branca, e qual era uma das coisas que fazia em seu gabinete? Fabricavam artigos em seu gabinete e punham a assinatura de contras que estavam nos acampamento financiados pelos norte-americanos na América Central, que nem sequer ficavam sabendo de que esses artigos seriam feitos ou que estavam feitos, ou seja, falsificavam as assinaturas e os mandavam a numerosos órgãos. Isso que fazia Otto Reich é um delito, ademais previsto e sancionado em qualquer código penal dos Estados Unidos ou de qualquer outro país.

Volto a citar agora o relatório do General Accounting Office: "Utilizava os nomes dos cabeças dos contras para divulgar artigos em importantes meios da imprensa".

Mais outro exemplo de coisas que fazia: Desinformava e falsificava grosseiramente a informação, mas com uma particularidade que creio que é uma contribuição desse grupo na história de métodos sujos da política. Por exemplo, fizeram um relatório dizendo que na Nicarágua havia Migs de combate soviéticos, que era uma arma ofensiva, e que isso era um perigo iminente para praticamente toda a nação dos Estados Unidos, toda a América Central, e todo o mundo; e era falso, não havia nenhum Mig soviético na Nicarágua, havia helicópteros armados, mais nada, não havia nenhum Mig, era falso. Mas o pior não é isso, o pior é que Otto Reich fazia o relatório, levava-o a um de seus cúmplices e um deles o assinava. Quem o assinou? Pois bem, assinou-o o assessor do Conselho de Segurança Nacional, Robert McFarlane, vinha o relatório, assinavam e "plantavam" – é assim que se plantam notícias na imprensa –, "documentos obtidos por fontes que pediram para não ser reveladas", etc., etc. "dizem que na Nicarágua há Mig soviéticos", tudo isso inventava Otto Reich em seu gabinete; isso também é um delito.

Se nos Estados Unidos, há pouco tempo, por um escândalo íntimo, privado, sexual, houve não sei quantos problemas de perjúrio, de que se você não declarou isso... e isto o quê? isto é perjúrio? não, isto é um superperjúrio, porque inclusive atenta contra a segurança dos Estados Unidos, contra o prestígio dos Estados Unidos e contra o prestígio de outra nação.

Randy Alonso – Ademais, pôs em perigo uma região inteira, é preciso recordar aqueles momentos de tensão vividos ali na América Central.

Reinaldo Taladrid – Sim. Parecia que aqueles Migs iam atacar a Califórnia, que naquele momento estava sendo atacada por outra coisa, que eu vou explicar depois, e que não eram exatamente Migs soviéticos; parecia que aqueles Migs estavam arrasando, que iam invadir os Estados Unidos, e tudo isso ele se encarregava de fazer, ele inventava.

Que métodos usavam, para que a mensagem chegasse bem, forte e clara, como eles queriam?

Diz este relatório do GAO: "Segundo se confirmou em documentos que então eram secretos, e atualmente estão desclassificados, Otto Reich chegou a ameaçar" – e aqui já está fazendo sua irrupção a máfia de Miami – "a dirigentes de redes televisivas e outros meios de comunicação, e tinha agentes especiais, contratados com a exclusiva função de vigiar o que levavam ao ar sobre o conflito interno da Nicarágua, Cuba e outros tópicos." Preste atenção, ameaça grosseira e, além disso, agentes especiais vigiando, informando e ameaçando, aí está a máfia em ação na administração; este é – e depois vou falar disso – um dos riscos que isto tem.

Há um testemunho muito revelador, que não está neste relatório, que é de Francisco Campbell – hoje presidente da Comissão de Relações Internacionais do Parlamento Centro-Americano –, que naquele momento era o ministro Conselheiro da Embaixada nicaragüense nos Estados Unidos; ele declara o seguinte ao diário La Prensa: "nós conseguimos aproveitar as distintas manifestações e expressões de solidariedade que vinham do próprio povo norte-americano, e as canalizávamos contra a guerra; Reich foi posto para evitar isso." Que curioso: o povo norte-americano, nobremente, tinha sentimentos de solidariedade, dava-se conta de que aquela era uma guerra injusta, já havia passado pelo Vietnam. De que se encarregava Otto Reich? De que, simplesmente, fosse freado esse sentimento espontâneo de solidariedade, de justiça do povo norte-americano, de não se ver envolvido em outro Vietnam, como se havia visto antes.

Randy Alonso – Esse gabinete de Reich, Taladrid, tinha dois objetivos fundamentais naquele momento; por um lado, abafar qualquer movimento de solidariedade com Nicarágua, e, por outro, criar as condições necessárias para que o Congresso norte-americano levantasse o embargo de armas para os "contras" nicaragüenses, que estava estabelecido naquele momento.

Reinaldo Taladrid – Emenda que existia, precisamente, a partir das experiências anteriores.

Mas segue dizendo Francisco Campbell, que naquele momento estava na Embaixada nicaragüense nos Estados Unidos: "A partir daquele gabinete" – o de Reich – "tentavam dificultar-nos o trabalho, era uma guerra de baixa intensidade e desgaste em todos os níveis; impediam-nos de fazer turnês de solidariedade pelos Estados Unidos, punham equipamentos de espionagem frente à Embaixada e depois nos acusavam de espiões."

Continua contando Francisco Campbell – "desses gabinetes saíam constantemente campanhas anti-sandinistas, referentes a: ‘Os sandinistas estão perseguindo aos judeus’, depois não era aos judeus, falaram de genocídio com pessoas negras, misquitos, e apresentaram fotos que depois se descobriu que eram de guerras em países africanos." Ou seja, pegavam uma foto de uma guerra em um país africano e diziam: "Estes são os sandinistas perseguindo aos misquitos", e isso faziam Otto Reich e seu gabinete. Observem o nível de ética, ou de respeito à lei que havia nesse gabinete dirigido por Otto Reich.

"Ademais", segue dizendo Francisco Campbell, "insinuavam que pelo chamado ‘efeito dominó’, os sandinistas invadiriam os Estados Unidos pelo setor de Arlington, no Texas, coisas como essas saíam constantemente daí e se transmitiam ao mundo inteiro."

Aí está o que você dizia, estavam preparando a opinião pública: "Os sandinistas iam invadir os Estados Unidos", inclusive, lembrem-se da famosa frase de Reagan com respeito a El Salvador, mas aplicável à Nicarágua: "El Salvador está mais perto de Houston, que Houston de Nova York", ou seja, portanto "estamos em perigo nacional". E dessa intoxicação do povo norte-americano – e a isso quero me referir depois –, Otto Reich foi protagonista.

Bem, e aonde chegava tudo isso, Randy? A isso você se referia, para que se tenha uma idéia de aonde chega isto, e isso aconteceu com Cuba também, por isso estou fazendo essa comparação, com toda intenção, de como se intoxica uma opinião pública, como se cobre de mentiras, com dinheiro do contribuinte ele é enganado, e cada vez que começa a aparecer um sentimento de solidariedade, se cai em cima.

Para dar uma idéia da magnitude de seu trabalho, cito o diário La prensa: "Mencionou-se que no lapso de 15 meses, já mencionado, o gabinete de Reich organizou e impulsionou um total de 1.570 compromissos de apresentações diretas de entrevistas por rádio e televisão, bem como de reuniões com conselhos editoriais, sobre o tema da América Central".

Isso é muito simples, as pessoas também se deixam usar, você toma o conselho editorial de um órgão, traz-lhe um especialista do gabinete do senhor Otto Reich, conselheiro de não-sei-que-coisa de diplomacia pública, e lhe diz todas essas mentiras, e depois as imprimem e divulgam por todo o mundo, e é o mesmo na televisão.

E não apenas assim, dizia Otto Reich: "Em uma recente correspondência de três folhetos sobre a Nicarágua, chegamos a 1.600 bibliotecas de colégios e universidades, 520 faculdades de relações internacionais e ciências políticas, 162 redatores de editoriais e 107 organizações religiosas", relatava orgulhoso Otto Reich, dizendo com suas próprias palavras aonde chegava toda essa quantidade de mentiras.

Aqui, Randy, há delito, violou-se a lei americana, manipulou-se o povo americano, e observe que curioso – se qualquer semelhança com a atualidade pode ser real – a quem se necessita agora? A alguém que persiga alguns estudantes em um barco, se querem se reunir com o companheiro Fidel, que diga que Cuba é uma ameaça; Bem, tudo isso se fez com a Nicarágua, fez-se com a América Central – por que não aplicá-lo agora? se de tudo isso já se encarregou Reich. E vejam como eram mentiras, que quando se diz que eram mentiras, são mentiras puras, usando fotos de países africanos para dizer que era perseguição a misquitos, ou qualquer coisa nesse estilo.

Agora, havia uma segunda variante no trabalho de Otto Reich nesse gabinete, e diz o relatório do General Accouting Office, do Escritório Geral de Contadoria do Congresso dos Estados Unidos:

"O uso de recursos orçamentários para propaganda favorável aos contras nicaragüenses e" – aí vem a chave – "para arrecadar fundos a fim de comprar armas para os anti-sandinistas." Esta é a segunda vertente: arrecadar fundos. O que quer dizer isso?

"A rede em que participava Otto Reich arrecadou e canalizou dinheiro para contas de banco no exterior", onde? Observem como essas palavrinhas soam familiares: "nas Ilhas Caimán ou em uma conta secreta do Banco Lake Resources, na Suíça."

Muitas das pessoas chaves envolvidas nunca foram questionadas ou entrevistadas pelos comitês que investigavam o chamado escândalo Irã-Contras.

"O relatório do General Accouting Office descobriu que o gabinete de Reich geralmente não seguia os regulamentos federais estabelecidos para os procedimentos contratuais, em suas contratações com numerosos indivíduos e várias companhias. Esse Escritório cita a Reich, dizendo que ‘ele’ – ou seja, Otto Reich – ‘não estava, em geral, familiarizado com os detalhes sobre os procedimentos de contratação de seu gabinete’."

Aqui se diz, mais ou menos, que ele não sabia a quem estavam contratando. Eles não podem dizer, Randy, e não está no relatório do General Accouting Office, a quem eles estavam contratando e de onde estavam sacando fundos.

Está certo isso de Irã-Contra, mas eu prefiro dizer o Coca-Contra, porque, para financiar as armas da "contra", obteve-se muito mais dinheiro vendendo droga e vendendo cocaína, que com o tão falado escândalo das armas no Irã, e disso não se fala. E como era o sistema? Era muito simples: saíam aviões da Flórida, de Homestead, saíam aviões da Califórnia, aterravam em uma base que se chama Ilopango, em El Salvador, descarregavam as armas e aí carregavam maconha e cocaína, que na volta se vendia nos Estados Unidos. Aqui vou fazer uma pausa.

Quem estava na base de Ilopango, naquele momento, trabalhando na mesma equipe de Otto Reich, encarregado de receber os aviões, distribuir as armas e garantir que se carregassem de novo os aviões com cocaína e maconha, para que voltassem aos Estados Unidos? Luis Posada Carriles. Portanto Otto Reich foi colega de trabalho, ou trabalhou na mesma rede, no mesmo que Luis Posada Carriles; portanto Otto Reich, e que o desminta quem se atreva, é cúmplice de narcotráfico, porque esses aviões regressaram carregados de cocaína, e não o digo eu, quem o disse – aproveitando que hoje é o dia da imprensa – foi um jornalista do San José Mercury News, Garry Weeb, que publicou uma série de três artigos chamada "A Aliança Escura", em que investigou como oficiais da CIA, trabalhando para essa rede, venderam cocaína no distrito de Watts, em Los Angeles, para financiar as compras de armas. A coca que Luis Posada Carriles mandava de Ilopango, e que Otto Reich se encarregava de garantir que tivesse uma aparência perfeita, chegava a Los Angeles; mas onde a venderam, em Beverly Hills? Não. Foi vendida no distrito de Watts, o distrito dos negros de Los Angeles, do qual é representante Maxine Waters, e Maxine Waters o denunciou e exigiu que se criasse uma comissão, e o diretor da CIA na administração Clinton teve que reconhecer que era verdade, que a CIA havia vendido cocaína nos Estados Unidos, em Los Angeles, para arrecadar armas, e disso sacaram muitíssimo mais dinheiro que das armas do Irã. Portanto seria mais justo chamá-lo de Coca-Contra, porque todos – Félix Rodríguez, que pôs Luis Posada Carriles, quando a Fundação sacou-o da prisão na Venezuela, a trabalhar aí; Luis Posada Carriles; Donald Greg, que era o elo dessa gente com o general Richard Secord, e que trabalhava no gabinete do então Vice-Presidente dos Estados Unidos; Otto Reich, que se encarregava de que nada disso transpirasse, e que o povo norte-americano acreditasse exatamente no contrário, que estavam protegendo-se de uma ameaça sandinista – todos participaram, de uma maneira ou de outra, no contrabando de cocaína, no narcotráfico, para financiar uma operação política, e isto é o que não se diz aqui.

Randy Alonso – É bem lembrar, inclusive, Taladrid, que quando um dos aviões foi abatido sobre a Nicarágua, com aquele piloto, Eugene Hassenfus, este declarou, entre outras coisas, que os que o haviam abastecido, que os que se encarregavam dessa operação ali em Ilopango eram Félix Rodríguez e Luis Posada Carriles; ou seja, os dois mencionados contra-revolucionários e terroristas, cujo longo histórico conhecemos, aos quais estava relacionada essa grande operação, dirigida pelas mais altas autoridades dos Estados Unidos. O senhor Otto Reich sabia tudo o que estava acontecendo ali e, ademais, era um partícipe direto do que se decidia, pois sabia exatamente a quem estava recorrendo o governo dos Estados Unidos, para desenvolver essas ações em El Salvador e na Nicarágua.

Reinaldo Taladrid – É cúmplice de narcotráfico. Legalmente, em um tribunal, essa figura jurídica é cúmplice de um delito de narcotráfico, estavam introduzindo cocaína e maconha, e ele mentia no sentido oposto.

Randy, aqui há mais, o tempo não é suficiente, e talvez tenhamos de falar mais de Otto Reich, mas aqui há mais coisas, e há declarações de como chegavam os pilotos. Um piloto contou à CBS como ele descarregava a maconha em Homestead. Há declarações de como vendiam a cocaína em Los Angeles, de como Posada e Félix Rodríguez estavam diretamente nos aeroportos, e, enquanto isso, com dinheiro dos mecânicos de Detroit, dos agricultores de Kansas, de todos esses norte-americanos alheios a tudo isso, Otto Reich estava dizendo ao povo norte-americano o contrário: que tivessem cuidado com os Migs sandinistas – que não existiam – e com a ameaça cubana. Isso é o que fez e isso é o que vai tornar a fazer, porque não sabe fazer outra coisa.

Há uma terceira orientação, durante esse período de Reich nesse gabinete, e volto a citar o relatório do Escritório Geral de Contadoria do Congresso dos Estados Unidos.

"Otto Reich esteve envolvido em atividades de propaganda encoberta e proibida, e foi além do aceitável em atividades de informação pública." Esses relatórios às vezes falam com eufemismos, propagandas encobertas. Isso me recorda Propagandas silenciosas, de Ramonet.

Neste caso, não se trata de vender produtos às pessoas, trata-se de introduzir mentiras abertamente, e transmiti-las, imprimi-las e fazê-las dar a volta ao mundo.

Isso de propaganda encoberta trata-se do seguinte:

O gabinete de Otto Reich não era mais que um gabinete da CIA. Esse trabalho, até a administração Reagan, era feito pela CIA, e havia um escritório que se especializava nisso, como todo esse invento da NED, isso também era feito pela CIA, fizeram na Europa, quando quiseram impedir que os comunistas chegassem ao poder na Itália e na França, após a Segunda Guerra Mundial, isso mesmo; depois, na época de Reagan, simplesmente legalizou-se, fez-se público; e com quem se fez? com a mesma gente da CIA que o fazia antes.

Vou citar outro relatório, para que você veja que não o digo eu, disse o Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, em um relatório do ano 1988. Diz:

"Oficiais de categoria da CIA, com experiência em ações encobertas, e especialistas em operações psicológicas do Departamento de Defesa, estavam profundamente envolvidos no estabelecimento e na participação nas operações de política interna e de propaganda que se desenvolviam no escuro gabinete" – diz o relatório do Congresso dos Estados Unidos, "do Departamento de Estado, e que respondia diretamente ao Conselho de Segurança Nacional, e não como está estabelecido pelos canais normais do Departamento de Estado."

Outro relatório, um relatório bipartidário de novembro de 1987, do Comitê do Parlamentar que investigou o chamado escândalo Irã-Contra, determinou que "na prática a diplomacia pública converteu-se em um assunto de relações públicas, corporativismo às expensas do erário público".

Uma crítica detalhada das operações da diplomacia pública, que foi escrita por um membro do pessoal do Comitê Irã-Contras foi apagada – e repito – apagada do relatório final, depois que se acalorou o debate bipartidário. Que quer dizer isso? Que aqui não está, talvez, nem a metade das coisas feitas por esse gabinete.

Que acontecia com esse gabinete? Muito simples, que o alvo – como se diz nessa linguagem, creio que Dimas uma vez falou disso aqui, de medidas ativas – dessa gente era o povo norte-americano, não era o povo nicaragüense, neste caso. O alvo da desinformação, para o qual se elaboraram as técnicas, as táticas, o que vamos dizer, como vamos dizer, uma entrevista aqui, uma entrevista ali, era o povo norte-americano, o que era alvo, e nessa parte que foi suprimida do relatório se reconhece que os objetivos eram: o grande público, os líderes de opinião e os líderes empresariais do país, ou seja, as forças vivas, enganar a todo mundo, confundir toda a população com isso. Esse era o alvo dessa operação. Esse era um gabinete da CIA e, de repente era, por um lado, a CIA, Otto Reich, Luis Posada, essa gente que vendia cocaína nos Estados Unidos e, por outro lado, tendo como alvo – o que se supunha que eles fizessem no exterior – o próprio povo norte-americano, disso se tratava nesse gabinete.

Dizem que o ser humano tem capacidade de arrependimento, que a pessoa pode arrepender-se, pode acontecer, não discuto; mas eu quero citar-lhes o que acaba de dizer Otto Reich há uns dias, na quarta-feira, 13 de março, como registra El Universal, desde Washington.

"Não pôde escapar" – diz o diário – "da sombra de seus problemas dos anos oitenta, quando foi acusado de haver mentido ao Congresso sobre seu papel no escândalo Irã-Contra." E respondeu Otto Reich: "Não nos envergonhamos de nada", disse o funcionário.

Isso é o que pensa Otto Reich, de tudo que fez naquele gabinete; isso é o que pensa Otto Reich, de que se tenha introduzido drogas nos Estados Unidos, de haver trabalhado com terroristas, com gente que tem as mãos sujas de sangue de centenas de mortos; isso é o que pensa Otto Reich de haver enganado o povo norte-americano, com dinheiro que o próprio povo norte-americano estava pagando para essas coisas; isso é o que pensa Otto Reich de praticamente haver destruído a região centro-americana, pelo que custou não apenas em vidas, mas em subdesenvolvimento, em problemas sociais, a essas regiões, que estão provocando essas emigrações violentas, porque agora já não se ocupam desses problemas que criaram, porque é preciso ver se Otto Reich vai resolver os problemas que ele mesmo criou, de pobreza, desemprego, miséria. De todo esse desastre social que provocaram nessa zona com essa guerra, disso ele não se arrepende.

O que é que acontece, Randy? Que quando um sistema, qualquer sistema de governo, põe um homem como Otto Reich em um cargo de direção dentro de um governo, simplesmente está governando contra o povo, contra o povo e contra o povo. Diferentemente do que devia ser um governo do povo, pelo povo e para o povo, enquanto Otto Reich for governo, essa parte do governo será como um câncer: contra o povo, contra o povo e contra o povo.

Randy Alonso – Sem dúvida, o Otto Reich dos anos oitenta deu, desde o princípio, a certeza de que estávamos diante de um cúmplice de narcotráfico, diante de um cúmplice de terrorismo e diante de um cúmplice de genocídio, do genocídio de centenas de milhares de pessoas que na América Central perderam a vida na guerra suja dos Estados Unidos contra essa região.

Obrigado, Taladrid, por seu comentário.

Quando estourou o escândalo Irã-Contra e começaram as pesquisas do Congresso, quando se pôs em perigo a permanência no poder dos principais dirigentes daquele governo norte-americano, quando já não era muito conveniente que Otto Reich estivesse em Washington, a administração Reagan nomeou esse senhor como seu embaixador na Venezuela, onde se converteu, uma vez mais, em padrinho de terroristas.

Rogelio Polanco pode falar-nos desses momentos.

Rogelio Polanco – Depois dessas ações escandalosas na América Central, esse gabinete da mentira, da calúnia, dirigido por Otto Reich na América Central, além de traficar – como dizia Taladrid – com armas e com drogas, é premiado, nada mais e nada menos, que com o cargo de embaixador dos Estados Unidos na Venezuela. Ali esteve entre 1986 e 1989. É preciso dizer que sua chegada a esse país foi com muito rechaço do governo, que estava sob as pressões, naquele momento, de vários setores progressistas, fundamentalmente do setor estudantil, que conhecia, evidentemente, esses antecedentes do personagem nomeado pelos Estados Unidos na Venezuela, e que eram contrários a que ele fosse o representante naquele país.

Muitas fontes informam que, nesse período de estadia de Reich como embaixador, sua atuação foi medíocre, a avaliação não podia ser outra, e que, além disso, foi questionado pelo setor empresarial norte-americano, por sua pobre atividade nessa área, nas relações comerciais entre os dois países, já que se alinhou completamente ao grupo econômico venezuelano de origem cubana, e com posições extremistas contra Cuba. Inclusive se diz que, naquele momento, Otto Reich foi criticado fortemente por ingerência nos assuntos internos da Venezuela, quando se opôs publicamente à visita de nosso Comandante-em-Chefe para a posse de Carlos Andrés Pérez, convidado pelo chefe de Estado venezuelano; não faltava mais nada, que esse procônsul norte-americano se opusesse publicamente a uma decisão soberana daquele Estado.

A ponto de renunciar, no ano de 1989, após todos esses incidentes na Venezuela, tratou de procurar apoio em diferentes setores, para permanecer ali um período de tempo maior; mas, finalmente, não atingiu seu objetivo.

Um dos elementos muito interessantes dessa estadia de Otto Reich na Venezuela é novamente sua vinculação com o terrorismo, algo usual nesse personagem, porque durante esse período vinculou-se, nada mais e nada menos, que com Orlando Bosch. Orlando Bosch, sobre o qual o próprio senador Christopher Dodd, que foi contrário à designação de Otto Reich como Sub-Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Latino-Americanos, disse, em uma informação sobre essa designação, "que enquanto Reich foi embaixador na Venezuela, serviu como uma espécie de encobridor de Orlando Bosch".

Isso é assim porque, à chegada de Reich à Venezuela – sabe-se depois, por cabos desclassificados, em virtude da Lei de Liberdade de Informação –, este perguntou ao Departamento de Estado se Bosch podia candidatar-se a um visto norte-americano. Creio que não é preciso mencionar os antecedentes de Orlando Bosch, que foram amplamente debatidos e que são conhecidos por nosso povo, um dos terroristas mais procurados do continente, e que hoje passeia livremente pelas ruas dos Estados Unidos.

Em outra ocasião, informou a Washington que amigos de Orlando Bosch – sabemos que são esses amigos – estavam preparados para retirá-lo rapidamente da Venezuela, a apenas quatro horas de sua liberação da prisão; ou seja, que estava totalmente informado das gestões que fazia a máfia anticubana e a extrema direita norte-americana para absolver a Orlando Bosch, para tirá-lo da Venezuela e para, é claro, conseguir que se consumasse a impunidade.

Randy Alonso – Gestões nas quais ele teve um importante papel.

Rogelio Polanco – Uma participação direta porque, ademais, há evidências. Pouco tempo depois de ali apresentar suas cartas credenciais, Bosch sai absolvido e procede a sua entrada nos Estados Unidos. Recordemos aquele momento, no qual a máfia apostou tudo. Sabemos das gestões feitas pela "loba feroz", para conseguir sua entrada nos Estados Unidos, e sabemos também o que disseram as autoridades norte-americanas naquele momento.

Randy Alonso – Gostaria de marcar esse momento, porque é muito interessante.

Há pouco, Taladrid falava do gabinete público do Departamento de Estado, onde esse homem se converteu em um fazedor de mentira, e esse momento de Bosch é outro momento em que demonstrou suas habilidades para a mentira; porque Otto Reich, para poder justificar o pedido de entrada do senhor Orlando Bosch nos Estados Unidos, não apenas perguntou primeiro, a seus contactos no Departamento de Estado, se havia possibilidades de conceder visto a um terrorista que era buscado pelas próprias autoridades norte-americanas, mas chegou a dizer, para justificar essa presença, que Orlando Bosch, se saía absolvido, estaria em perigo de ser assassinado por forças cubanas e que, portanto, necessitava proteção do governo dos Estados Unidos.

Rogelio Polanco – Essa foi uma das invenções. Disse naquele momento que tinha de ser imediatamente protegido, entrar nos Estados Unidos porque, segundo fontes que tinha, havia uma equipe de choque de Cuba que ia assassinar a Orlando Bosch, que isso era iminente e que, portanto, tinha de ingressar nos Estados Unidos. É outra das grandes mentiras, das grandes falácias, usadas pelo próprio Otto Reich, conhecedor desses métodos da calúnia e da mentira.

O próprio Procurador Geral Adjunto, em ação nos Estados Unidos naquele momento, Joe Whitley, havia dito quem era "Orlando Bosch"; ou seja, era uma autoridade dos Estados Unidos que havia declarado que "Orlando Bosch tem estado resoluto e firme em sua ideologia de violência terrorista. Ele ameaçou e empreendeu atos de terrorismo violento contra numerosos alvos, inclusive nações amigas dos Estados Unidos e seus funcionários de alto nível; expressou repetidamente e demonstrou satisfação por causar lesões graves e até a morte. Suas ações têm sido as de um terrorista que ignora as leis e a decência humana, e inflige violência, sem considerar a identidade de suas vítimas."

Ou seja, isso foi declarado pelo Procurador Geral Adjunto dos Estados Unidos, naquele momento, em um relatório para rejeitar a apelação que se apresentou diante de uma Corte Federal, para que Orlando Bosch não fosse extraditado dos Estados Unidos. Depois disso, finalmente ele recebeu o perdão presidencial, como todos sabemos, no ano 1990, e Orlando Bosch hoje caminha livremente pelas ruas de Miami.

Creio que é mais uma evidência de que Otto Reich foi e é cúmplice de terroristas, porque ajudou também a tirá-lo da prisão, porque, contra as leis dos Estados Unidos, facilitou sua entrada naquele país, facilitou que hoje se mantenha a impunidade em relação a esse terrorista internacional. Por isso, "dize-me com quem andas, dize-me a quem libertas, e te direi quem és".

Randy Alonso – E Otto Reich, ademais, segundo estive lendo em uma das coisas publicadas, que é preciso dizer que se alguém entra na Internet pode passar horas e horas lendo coisas sobre esse sinistro personagem, e uma das coisas que se dizia é que o homem, inclusive, organizou uma festa no ano de 1989, à qual convidou centenas de importantes personagens venezuelanos, para tratar de que intercedessem junto ao governo norte-americano, para que ele pudesse manter seu posto na Venezuela, porque realmente havia uma forte oposição à presença de Otto Reich na Venezuela, a seu atuar medíocre naquele país, a sua ingerência nos assuntos venezuelanos, e finalmente o tiro lhe saiu pela culatra, porque foi chamado – na verdade, uns dizem que renunciou, outros dizem que foi chamado – e encerrou suas funções como embaixador na Venezuela em 1989, depois de haver protagonizado, talvez, um dos mais escandalosos episódios da história dos embaixadores norte-americanos naquele país, que já é bastante escandalosa, ao haver ajudado na absolvição do mais conhecido terrorista, procurado naquele momento pelos Estados Unidos e ao apoiar, ademais, todas as gestões da máfia de Miami perante as autoridades norte-americanas, ante o governo norte-americano e especialmente ante o Presidente, para que fosse concedido o perdão presidencial a Orlando Bosch.

Sabe-se, ademais, que continuaram as visitas freqüentes a Miami, as relações de Otto Reich com a máfia anticubana, e que Orlando Bosch está muito presente e muito ativo nessa máfia anticubana.

Otto Reich regressou aos Estados Unidos, após haver terminado suas funções diplomáticas em Caracas, se podemos chamá-las assim, e naquele momento dedicou-se a fazer lobby em Washington, para promover, entre os congressistas, legislações favoráveis aos interesses das grandes companhias norte-americanas e apoiar todas as ações anticubanas que se promoveram no órgão legislativo dos Estados Unidos. Naquele momento, é bom lembrar, já estamos na década de 90, ocorre a queda do campo socialista, desaparece a União Soviética, e começam a recrudescer as ações do governo dos Estados Unidos contra nosso país, a apertar ainda mais o bloqueio, e em meio a essa arremetida do governo norte-americano contra a Revolução Cubana, é nomeado nada mais, nada menos que Otto Reich, como Embaixador alterno dos Estados Unidos na Comissão de Direitos Humanos de Genebra. Sobre esse assunto, Arleen Rodríguez tem detalhes.

Arleen Rodríguez – Sim, obrigada, Randy. Saudações a todos.

Creio que essa é a primeira grande ofensa à América Latina antes da designação de Otto Reich, a imposição, por decreto da nova administração norte-americana. Creio que esta é a grande ofensa, designar a esse conhecido terrorista – estou chamando de terrorista, por fomentar uma política de terrorismo de Estado na América Central –, é designar a esse homem, em 1991, como Embaixador alterno ante a Comissão de Direitos Humanos em Genebra, e nada menos que dando, de passagem, continuidade à presença de um personagem que todos recordam como um verdadeiro palhaço, aquele que se fazia passar por paralítico e que depois todo mundo viu fazendo exercícios, que, como recordava Miguel Barnet em uma mesa-redonda aqui, desceu em Paris caminhando como um cachorro ágil – agora não lembro a raça que ele mencionou aqui, mas me lembro de seu comentário.

Otto Reich, entre 1991 e 1992, nesses dois anos, atua como representante alterno dos Estados Unidos na Comissão de Direitos Humanos em Genebra, dando continuidade à política anticubana. Não é demais recordar que, desde 1987, começa a grande campanha contra nosso país, que tem a ver, precisamente – eu o relaciono, Randy, com o que estava dizendo, e que também foi dito publicamente, Cuba denunciou numerosas vezes –, com o papel protagonista de Cuba na denúncia das constantes violações aos direitos humanos em nossa região, na América latina e, em particular, quando se começam a levar à Comissão de Direitos Humanos casos como os de El Salvador e Guatemala, precisamente casos da América Central.

Isso ocorre no ano de 1987, começa toda essa política, que vai reiteradamente fracassando. É preciso recordar também aquele momento em que se consegue impor um representante do Secretário Geral para Cuba, que ao final de um ano renuncia, porque realmente não tinha nenhum sentido a tarefa que lhe haviam atribuído; e assim foi durante vários anos, essa política foi de fracasso em fracasso, não obteve resultados.

Entre 1991 e 1992, os anos de Reich na CDH, é quando se arremete com mais força contra Cuba na Comissão de Direitos Humanos. Como você recordou, é o momento dos oportunistas, quando se derruba o sistema socialista no leste europeu, e crêem então que é o momento de atacar a Cuba na Comissão de Direitos Humanos, que era, fazia muito tempo, o cenário para as manipulações políticas, a manipulação também das nações do Norte, como sempre tem sido, com fins políticos, como tem sido nos últimos anos, e precisamente isso se aproveita.

É preciso lembrar a tentativa norte-americana de utilizar a América Latina, a tentativa de usar a União Européia, que finalmente foi desembocar na Europa Oriental, e já na década de 90, época de Otto Reich, aparece o co-auspício dos tchecos para favorecer o Relator Especial para Cuba, que é imposto até 1998, quando se derrota definitivamente essa manobra dos Estados Unidos contra nosso país.

Essa é a trajetória desse personagem, que foi, evidentemente, como seu antecessor, Valladares, levado ali pela máfia cubano-americana, que historicamente esteve atrás de personagens como esses, embora se tenha dito por aí que essa não era precisamente a melhor proposta que levavam; mas, evidentemente, era uma proposta da máfia cubano-americana. Ou seja, que respaldou com as duas mãos a esse personagem. Mas – reitero – eu o vejo, sobretudo, relacionado com uma política dos Estados Unidos que é ofensiva à América Latina.

Colocar Otto Reich na Comissão de Direitos Humanos de Genebra, em 1991 e 1992, não apenas significa uma exacerbação da política anticubana dos Estados Unidos, ou uma demonstração mais – depois da passagem de Valladares – de que toda a representação dos Estados Unidos na Comissão está obcecada com o tema cubano e que o converteu em seu instrumento preferido de pressão política, mas também que é uma ofensa aos povos centro-americanos, precisamente porque os expedientes criminais contra esses povos se enriqueceram na época em que Otto Reich – como já se disse aqui – teve um papel destacado no fomento dessas políticas criminosas na América Central.

Randy Alonso – É preciso dizer que foi a política dos Estados Unidos e que continua sendo: primeiro nomearam a um terrorista como Armando Valladares, que pôs bombas neste país, que praticou o terrorismo em Cuba, e depois põem a Otto Reich, que praticou o terrorismo de Estado na América Central, que praticou o genocídio contra centenas de milhares de pessoas na América Central, como representantes desse governo na Comissão de Direitos Humanos da ONU. Esses são os personagens a que recorrem os governos dos Estados Unidos para praticar suas políticas contra os povos e, em especial, contra o povo de Cuba.

Arleen Rodríguez – Mas eu dizia que se havia alguma dúvida sobre a essência dessas manobras, ou seja, que os Estados Unidos não vão ali como uma país mais a defender uma política, que esse era o objetivo com que se criou inicialmente a Comissão de Direitos Humanos, de que se apresentassem relatórios periódicos sobre a evolução dos direitos humanos nos diferentes países, mas vai para exercer uma política abertamente contrária a Cuba, o que se confirma pela designação, ano após ano, de personagens de origem cubana e o que há de mais agressivo entre os políticos dos Estados Unidos, de origem cubana, da ultra-direita, este caso o prova. Ao nomear a Otto Reich, em 1991-92, estamos em presença de um reforço da idéia que Cuba sempre denunciou, de que a participação dos Estados Unidos ali é basicamente contra nosso país.

Randy Alonso – Obrigado, Arleen.

Como havíamos comentado, a década de 90 constitui um momento de reforço das mais agressivas políticas dos governos dos Estados Unidos contra a Revolução Cubana; para isso, é claro, serviram-se da máfia cubano-americana e de seus mais sinistros personagens. Otto Reich foi um participante direto na busca de reforço dessa política criminosa dos Estados Unidos contra Cuba.

Sobre alguns desses momentos, vai comentar Juana Carrasco.

Juana Carrasco – Randy, é preciso dizer que durante toda essa década e até agora, Reich dedicou-se a obstaculizar o comércio com Cuba, a reforçar o bloqueio, a apoiar aos grupelhos contra-revolucionários, a desenvolver atividades subversivas em setores como, por exemplo, a imprensa e os cientistas, a utilizar a SINA, a defender a Helms-Burton, a defender a Bacardi, a tentar que nosso pequeno Elián ficasse nos Estados Unidos, e utilizou, fundamentalmente, duas organizações; uma, a US-Cuban Business Council, ou seja, o Conselho de Negócios Estados Unidos-Cuba, e outra, o Center for a Free Cuba, ou seja, o Centro para uma Cuba Livre, de Frank Calzón. Vamos falar dessas duas instituições e a que atividades, digamos, "acadêmicas" – porque se dedicou muito a participar em programas, em foros, em seminários, em mesas-redondas –, dedicou-se Otto Reich nessa etapa.

A Cuban Business Council é uma organização dedicada a trabalhar, especificamente, nos setores políticos, acadêmicos e econômicos. Com que objetivo? Desestimular o estabelecimento de vínculos de tipo comercial, de compromissos de investimentos ou de negócios de qualquer firma estadunidense com Cuba e, é claro, se pudessem, com firmas de outros países também. Mas, além disso, com que argumento!

Sob o argumento de que estavam defendendo os direitos de propriedade – os "direitos de propriedade", dizem eles – daquelas firmas que estão reclamando, que foram nacionalizadas em Cuba e que entram, precisamente, na Lei Helms-Burton.

Além desse, qual era o outro objetivo? Desenvolver programas e estudos acadêmicos de diferentes índoles, com um só objetivo: desinformar sobre a situação sociopolítica e econômica cubana, para um intento substancial. Qual? Reforçar a política de bloqueio e tentar fomentar uma subversão interna.

Essa era a linha de trabalho subversivo que Otto Reich vai desenvolver durante todo esse tempo. Como atua? Por exemplo, no ano de 1991 participa de uma reunião da Fundação nacional para a Democracia (de sigla NED, em inglês), onde afirmou que "enquanto Fidel estiver à frente da Revolução Cubana, Cuba não vai mudar". E que sustentava, portanto? Que havia que seguir uma política encaminhada a tentar provocar mudanças no mais alto nível de nossa Revolução, e, nesse sentido, os Estados Unidos tinham que continuar fazendo pressões contra a Revolução Cubana.

Como ele fez um grande mestrado em "publicidade diplomática", que desenvolveu durante a guerra suja na Nicarágua, desenvolvia aqui também suas mentiras. Dizia, por exemplo, que "Cuba não tinha nenhum interesse em estabelecer laços políticos com a América Latina; que era necessário destruir a Revolução Cubana e que isso ia ocorrer de imediato, e de forma violenta". Estou falando do ano 1991. Já se passaram 11 anos desse prognóstico, que para ele era imediato, – e, é claro, insistia em que havia que observar contra Cuba a mesma política que haviam utilizado com a antiga União Soviética, em finais dos anos oitenta, precisamente para que se produzisse a queda da Revolução Cubana. Ou seja, esta organização, a Fundação nacional para a Democracia, trabalhou para a subversão de toda a situação na União Soviética e nos países socialistas, e queria reeditá-lo em Cuba.

E que sugeriu Otto Reich a essa NED? Que apoiasse aos grupelhos contra-revolucionários em Cuba e, além disso, nessa manobra, nessa operação de guerra, a dirigentes latino-americanos nesse esforço.

A US-Cuba Business Council – eu me esqueço de pôr o nome de Cuba, porque não é nada mais que o negócio dos Estados Unidos, vamos deixar claro – planejava desenvolver, por exemplo, em 1999 e no ano 2000, atividades de corte subversivo em nosso país, e também buscar apoio nos Estados Unidos; entre elas, publicar um boletim mensal. Esse boletim mensal foi intitulado Vozes de Cuba; pretendiam distribuí-lo nos Estados Unidos, mas também em Cuba, para o que tinha a RINA.

Randy Alonso – A colaboração do Repartição de Interesses dos Estados Unidos em nosso país.

Juana Carrasco – A colaboração do Repartição de Interesses para que esse boletim chegasse, sobretudo, a pessoas da imprensa, cientistas, da intelectualidade, isso pretendia, e supunha-se que as "notícias" que esse boletim continha saíam de informações telefônicas enviadas de Cuba. É evidente que seriam informações totalmente destorcidas de nossa realidade.

Eu dizia que foi muito amplo o labor "acadêmico" de Reich. Participou em numerosos eventos, e em todos tinha um mesmo tema, que era Cuba. Ele era o especialista cubano para defender toda a política de sanções, para defender toda a hostilidade contra Cuba.

Randy Alonso – O ódio visceral de Otto Reich contra a Revolução Cubana e contra o Comandante-em-Chefe não é uma moda passageira, é um ódio de longa data, e que se manifestou com muito mais paixão e intensidade naqueles momentos dos anos noventa, quando se falava da teoria do efeito dominó, e de que a Revolução Cubana cairia sob o peso dos acontecimentos.

Juana Carrasco – Muita oposição, inclusive, que teve a nomeação ou a designação de Reich é precisamente porque ele vai contra a corrente; é obsessivo na hostilidade e no ódio contra Cuba – como você disse bem, um ódio visceral – e dentro disso, uma das coisas que parece que não o deixam dormir, são as viagens dos norte-americanos a Cuba. Esse também tem sido um ponto central na atividade de Reich, ou seja, criticar as viagens de estadunidenses a nosso país.

Dedica-se também a mentir. A mentira é seu modus vivendi, um modus operandi desse senhor e, entre outras, tem, por exemplo, questionado a legitimidade do estudo que se realizou sobre o impacto que o bloqueio teve sobre a área de saúde em Cuba.

Randy Alonso – E que foi realizado por uma das mais prestigiosas instituições no campo da saúde nos Estados Unidos.

Juana Carrasco – Que foi um estudo do ano 1998, e ele se dedicou, precisamente, a dizer que não estava certo. Do impacto do bloqueio sobre a área da saúde, nosso povo conhece o suficiente, para saber que sim, é certo tudo que dizia esse relatório, e muito mais do que havia no relatório, e que esse homem diz que não reflete a realidade.

Além disso, ele promoveu múltiplos projetos de legislações dentro do Congresso dos Estados Unidos, sobretudo para sancionar as companhias de terceiros países que realizem investimentos em nosso país, no que eles chamam as propriedades estadunidenses, e que entram na Lei Helms-Burton. Eu não vou falar mais desse assunto, nesta mesma mesa vai se falar disso em outros momentos; mas, realmente, essas eram algumas de suas mentiras.

O cúmulo foi pretender converter também esse Conselho de Negócios Estados Unidos-Cuba em receptor de doações de remédios e alimentos para Cuba, no contexto proposto pelo acérrimo inimigo de Cuba, senador Jesse Helms, condições totalmente inaceitáveis, porque era praticamente dizer: Cuba deve render-se, e então entrarão aqui remédios e alimentos; mas que, além disso, seriam distribuídos por aqueles mesmo grupelhos contra-revolucionários, ou umas supostas organizações ou propriedades privadas daqui, que não sei aonde iam buscar, mas era por aí a brincadeira.

Reich, além disso, no ano 1994, foi a uma audiência parlamentar para falar contra um projeto de lei patrocinado por Charles Rangel, para tentar levantar o bloqueio a nosso país, e Reich foi propor o contrário, pedir que fossem intensificadas as sanções contra Cuba.

Em março de 1995, esteve em uma mesa-redonda organizada pela Fundação Heritage, que é um dos tanques pensantes mais ultraconservadores daquele país, e declarou, textualmente: "que nada deixaria Castro mais feliz, que os Estados Unidos invadissem a Cuba, mas que Washington não o faria, porque isso significava fazer o jogo dele". Como se nós quiséssemos que aqui entrassem as tropas norte-americanas, a invadir nosso país e a massacrar nosso povo; mas como ele, repito, é um Pinóquio inveterado, continua dizendo suas mentiras, e a repeti-las uma e outra vez.

Todo seu tempo está dedicado a denegrir a Revolução Cubana, a tergiversar a situação sociopolítica de nosso país, e inclusive chegou, em determinado momento, a pretender que o governo dos Estados Unidos enviasse mensagens a nossas forças armadas, a nossos militares, para ganhar seu respaldo, supostamente, para uma ação subversiva, contra-revolucionária. Ele acreditava que nossas forças armadas estavam dispostas a dar um golpe de Estado. Como eles se acostumaram a dar golpes de Estado em toda a nossa América Latina, pensam que é assim em qualquer lugar do mundo.

Meteu-se também em campanhas presidenciais. As campanhas presidenciais nos Estados Unidos são um bom caldo de cultura para todos esses elementos. No ano 1996, foi nada mais, nada menos que assessor de política exterior para a área da América Latina, de um dos candidatos, o republicano Robert Dole, e vocês podem imaginar o que ele estava aconselhando. Pensou que, se Dole tivesse vencido, ele teria ocupado um dos grandes cargos desse governo. Toda sua retórica e toda sua ação contaram com uma estreita colaboração dos personagens que são imprescindíveis em qualquer atividade contra-revolucionária, os congressistas Lincoln Díaz-Balart e Ileana Ros.

Dimas me dizia, agora há pouco, que ele formou e fez parte da direção, junto com Frank Calzón, do Centro para a Cuba Livre.

Randy Alonso – Uma entidade criada no ano de 1997, por Frank Calzón, sendo Reich um de seus principais dirigentes.

Juana Carrasco – Frank Calzón, que é um agente da CIA, recrutador.

Essa foi uma das atividades desse senhor, esteve atuando no Carril II da Torricelli. Tudo que se fez contra Cuba durante a década de 90 teve, como um de seus personagens principais, o senhor Otto Reich.

Randy Alonso – A isso, acrescentaria um momento que creio que ilustra a laia desse personagem que, além do mais, é bastante hábil em debates televisivos, pois o homem, durante um longo tempo, foi um dos participantes do programa "Choque de opiniões", da CNN em espanhol, onde defendia as mais reacionárias visões da extrema direita norte-americana e aparecia como porta-voz da máfia anticubana.

Arleen Rodríguez – Não apenas contra Cuba.

Randy Alonso – Não, contra tudo.

Arleen Rodríguez – Eu vi várias vezes debates desse tipo e, sobretudo, também como porta-voz da guerra fria. Era o tipo que sempre tinha o discurso mais retrógrado acerca daquilo, falar da União Soviética, e tudo mais.

Juana Carrasco – Randy, você deve estar se referindo – eu já mencionei no princípio – a sua participação em debates, tendo como oponente a José Pertierra, precisamente com o caso de Elián González; mas não foi só com Elián. Esse homem foi desde tentar impedir, de toda forma possível, o comércio com Cuba, até tratar de manter o seqüestro de Elián, e numa coisa tão simples, tão singela e tão queridas para os povos de Cuba e dos Estados Unidos, como tentar impedir os jogos de beisebol. Até isso.

Randy Alonso – Em 2 de dezembro de 1999, foi esse precisamente o debate na PBS, com o advogado José Pertierra, onde se demonstrou a laia desse sinistro personagem, ao defender até a morte a permanência de Elián González nos Estados Unidos, separado de seu pai, de sua família e de sua pátria, em função dos pérfidos interesses dessa máfia terrorista e criminosa que tem sua base em Miami.

Mas diz-se em Washington que, no Departamento de Estado, os hóspedes latino-americanos são recebidos, há alguns dias, com um trago de Bacardi, e não precisamente porque o Secretário de Estado dos Estados Unidos seja um aficionado dessa bebida, mas porque o senhor Otto Reich, que deve receber os hóspedes latino-americanos nessa instituição, é um dos grandes afilhados de Bacardi & Martini, a firma que se tem dedicado sistematicamente a promover ações contra a Revolução Cubana , e que foi a financiadora principal da Lei da Escravidão, como definiu o companheiro Raúl à Lei Helms-Burton. Creio que é um dos momentos definidores desse personagem, da atitude desse senhor frente à Revolução Cubana , uma demonstração de seu ódio visceral contra nosso povo, mas também contra todos os povos do mundo. Sobre esse momento, Rogelio Polanco.

Rogelio Polanco – Sim, a máfia toma Bacardi, seria o título para essa etapa de Otto Reich, na qual recebeu muito dinheiro dessa multinacional, que tentou despojar nosso país da marca Havana Club.

No ano 1994, Otto Reich começou o corporativismo de sua firma RMA-International, a favor de Bacardi-Martini Inc., e é a partir desse ano que começa a receber muitíssimo dinheiro, fala-se que no total, segundo fontes da própria máfia, a firma RMA-International, dirigida por Reich, recebeu 600.000 dólares da Bacardi, por sua atividade de lobby, o que, é claro, inclui o trabalho realizado para a aprovação da infame e criminosa Lei Helms-Burton e da Seção 211, sobre marcas e patentes, que todos recordamos, e pelas quais, essa firma teve importantíssimos benefícios. Além disso, é o período em que, como disse Juanita, está à frente desse chamado Conselho de Negócios Estados Unidos-Cuba, que é uma entidade que havia sido criada em 1993 e onde estavam Bacardi e outras multinacionais que a apoiaram, com o objetivo, supostamente, de buscar uma transição a uma Cuba pós-revolucionária; aí estavam Bacardi, como um dos principais sustentáculos desse Conselho, Kelley Drye and Warren, Chiquita, Coca-Cola, Ford-Motors, General Motors, o Miami Herald, Pepsi-Cola, Texaco, bem, várias transnacionais.

Mediante essas duas ações, tanto como assessor jurídico da Bacardi, com sua firma RMA-International, e também como presidente do Conselho de Negócios Estados Unidos-Cuba, esteve em numerosos momentos, inclusive em uma audi~encia do Sub-Comitê do Hemisfério Ocidental, do Comitê de Relações Internacionais da Câmara de Representantes, onde se pronunciou, no ano de 1995, a favor de incrementar o bloqueio a nosso país.

Também naquele momento, com a ajuda de Helms e da tríade de congressistas anticubanos, esteve fazendo numerosas ações legais para impedir os investimentos de companhias estrangeiras em nosso país. Vinculou-se ali, como já se disse, a seu amigo da Georgetown University, Frank Calzón, agente da CIA, e sublinhou em todos esses momentos a necessidade de que se mantivesse o bloqueio a nosso país.

Agora, na criação da Helms-Burton, ele joga um papel fundamental, e é que participou muito ativamente em oferecer alguns dos conselhos para essa infame lei. Recordemos que essa é uma lei extraterritorial, uma lei que poderia ser considerada o protótipo de uma ação francamente colonialista sobre outro país, uma legislação na qual se chega ao detalhe, para estabelecer o que seria uma Cuba pós-revolucionária e na qual se codifica completamente o bloqueio a nosso país; e onde se estabelece também que somente depois que tenha sido indenizadas as propriedades – como eles colocam – confiscadas por Cuba e que tenham sido devolvidas uma a uma aos proprietários norte-americanos, entre os quais eles incluem, é claro, todos os mafiosos cubanos dos Estados Unidos, então se poderia começar a falar da suspensão do bloqueio. E, para isso, seria designado um "coordenador", pelo presidente norte-americano, para assegurar esse período de transição, para assegurar a distribuição da assistência dos Estados Unidos a Cuba, a esse suposto governo de transição.

Observem que não se fala de um governo cubano, nunca se fala de um governo cubano; fala-se de um procônsul norte-americano e que, em consulta com esse "coordenador", se nomearia – observem a coincidência – um Conselho de Negócios Estados Unidos-Cuba. Que casualidade! que teria o mesmo nome do já existente Conselho de Negócios Estados Unidos-Cuba, cujo presidente era nada mais, nada menos que Otto Reich.

Isso aparecia na Seção 203 da Lei Helms-Burton, e esse conselho estaria orientado a coordenar as atividades do governo dos Estados Unidos e do setor privado, para dar resposta à mudança ocorrida em Cuba; ou seja, já estaríamos falando do momento em que, segundo eles – estão sonhando, é claro –, acabariam com a Revolução, todas as propriedades seriam entregues aos norte-americanos, essas pessoas seriam indenizadas, e então se começaria a pensar na ação desse conselho, em realizar encontros periódicos entre os representantes dos setores privados dos Estados Unidos e Cuba, a fim de facilitar o comércio bilateral. E isso ocorreu, dizem, ao próprio Reich; ou seja, o mesmo presidente desse conselho se auto-nomeava Presidente do Conselho de Negócios Estados Unidos-Cuba, ainda existindo o governo revolucionário cubano, existindo um governo soberano em Cuba, já está nomeado o presidente de um conselho, um procônsul, para a chamada "transição democrática" em Cuba.

Creio que essa é uma demonstração de toda a infâmia que provoca essa lei, de toda a atitude intervencionista do próprio Otto Reich, que se sentiu assim, como um invasor designado por seus amos norte-americanos para uma etapa pós-revolucionária, algo que, evidentemente, ele mesmo sabe e todos os cubanos sabemos, que nunca acontecerá e, portanto, seu posto ficará vago uma vez mais.

Randy Alonso – A isso, Polanco, acrescentar que Dan Fisk, ex-assessor legislativo do sinistro congressista Jesse Helms, e que foi – como se sabe – quem redigiu a Lei Helms-Burton, reconheceu que Otto Reich foi um dos que mais conselhos lhe deu para a redação da lei, e que foi, também, um dos personagens que se dispôs a testemunhar frente ao Congresso dos Estados Unidos como perito legal, nas audiências do criminoso projeto.

Ademais, a isso somaria, Polando – como você sublinhava –, que não há nada casual no papel de Reich nisso. Por um lado, está seu vínculo direto com a Bacardi, da qual recebeu dezenas de milhares, centenas de milhares de dólares, e, por outro, o fato de que, sob a Helms-Burton, o US-Cuban Business Council tem um importante papel. Mas, segundo essa lei criminosa, haverá mais financiamento para grupos como o Center for a Free Cuba, de cuja diretoria ele é membro.

É preciso dizer que, desde a aprovação da Lei Helms-Burton, no ano de 1996, o US-Cuban Business Council e o Center for a Free Cuba receberam mais de três milhões de dólares do governo norte-americano para atividades contra a Revolução Cubana.

Rogelio Polanco – Lei Helms-Burton, ou Lei Bacardi.

Randy Alonso – Ou Lei Bacardi, como muitos a conhecem, exatamente. Desde essa data, tanto o Center for a Free Cuba, como o US-Cuban Business Council receberam mais de três milhões de dólares para as atividades subversivas contra a Revolução Cubana, e deles, é claro, uma boa parte também foi parar nos bolsos de Otto Reich.

Agradeço seu comentário, Polanco.

(Passam vídeo)

Randy Alonso – A participação ativa de Otto Reich na política anticubana de sucessivos governos norte-americanos, ao longo de todo esse tempo e em especial na última década, está muito relacionada com os estreitos vínculos desse personagem com a extrema direita norte-americana e particularmente com a máfia terrorista anticubana. Sobre essas relações, Reinaldo Taladrid nos informará.

Reinaldo Taladrid – Com muito prazer, Randy.

Se você me permite, deixei uma idéia sem concluir. Eu disse que, aproveitando que era o Dia da Imprensa, tudo isso que dissemos sobre o processo de entrada da droga da contra nos Estados Unidos foi denunciado por um jornalista, Gary Weeb, no San José Mercury News, e fiz a alusão, mas não terminei a idéia. O problema é que, por denunciar isso, esse homem foi demitido do jornal, e anos depois o diretor da CIA reconheceu que era verdade o que ele havia dito, e pelo que foi demitido do periódico.

Curiosamente, a grande imprensa começou a atacá-lo em temas pessoais, quando fez os artigos, não nos temas do fundo do tráfico de droga, e publicaram, anos depois, o resultado da investigação que dava razão ao jornalista, um dia após as eleições, quando todo mundo está olhando outras coisas, em uma página interna, na quinta página do Washington Post, bem pequenininho, que é um bom exemplo para o Dia da Imprensa, porque, lembre-se que esse homem, Otto Reich, criou uma espécie de corpo seminazista, gestapiano, para perseguir jornalistas, intimidar a imprensa, etc., e esses métodos vão ficando, é a conseqüência de introduzir a máfia no governo. É uma idéia que me havia ficado inconclusa, e queria aproveitar a oportunidade.

Você falava dos vínculos de Otto Reich com a máfia. Eu prefiro não dizer que há vínculo, prefiro dizer que Otto Reich é parte da máfia terrorista cubano-americana.

Selecionei alguns momentos desses vínculos, que são bastante longos, dariam para muito, e gostaria de começar pelo seguinte, um pouco cronologicamente.

A época a que Polanco se referia, em que era embaixador na Venezuela. Já aí, em uma data como o ano de 1987, Otto Reich organizava reuniões privadas, com dinheiro do governo dos Estados Unidos e tudo isso, com Hubert Matos, por exemplo, com Carlos Alberto Montaner, que alguns dizem que é um dos terroristas mais precoces deste hemisfério.

Randy Alonso – Realmente, Taladrid, já que você está esclarecendo coisas. No tempo em que Otto Reich foi embaixador na Venezuela, um de seus mais estreitos aliados era, precisamente, o conhecido contra-revolucionário Hubert Matos, e era um dos que recebia em sua embaixada, com os quais coordenava suas ações naquele país, e creio que seria bom recordá-lo neste momento.

Reinaldo Taladrid – Sim, o problema de Hubert Matos é que Hubert Matos sempre competiu, pelo dinheiro, com a mãe de todas as máfias, que é a Fundação nacional Cubano-Americana. Ele tentou fazer uma coisa que se chamava TELECID, e a Fundação sacou a mal chamada tele "Martí", então sempre perdia as batalhas pelo dinheiro, e se desgastou muito nisso, coisas normais que acontecem entre as diferentes quadrilhas mafiosas, que lutam entre elas; mas se desgastou. Talvez Otto Reich tenha se equivocado em apostar, no início, por Hubert Matos, mas depois sua aliança com a Fundação foi até a morte, ainda é um aliado incondicional da Fundação.

Em uma reunião privada que ele teve quando era embaixador na Venezuela, para começar a falar de seus vínculos ou de sua participação como membro da máfia, ele promete a Hubert Matos e a Carlos Alberto Montaner o seguinte: "Que Washington está disposto a contribuir com a causa anticubana, mediante o incremento da ajuda financeiras às organizações contra-revolucionárias radicadas na Venezuela." Por que cito isso, Randy? Porque quem semeia ventos, colhe tempestade.

Todos esses grupos contra-revolucionários cubanos que receberam dinheiro de Miami, e até do governo norte-americano e que estão na Venezuela, hoje são parte de uma conspiração para derrocar um governo legítimo desse continente, do qual vai ser Sub-Secretário de Estado. Aí têm, como embaixador, alentou e financiou grupos desses radicados na Venezuela, grupos que hoje estão fazendo uma atividade ilegal, tentando derrubar um governo como o da Venezuela, e esse homem, Otto Reich, está na origem disso.

Em 1991 trabalhou – e aí, é claro, surge a Fundação, converte-se um pouco no embaixador de Reagan para todos os seus projetos anticubanos na Fundação – e põem Otto Reich a trabalhar em um projeto que se chamou Missão "Martí". Esse projeto era nada mais, nada menos o que a Fundação chamava de preparar os futuros dirigentes de Cuba.

Você imagina as disciplinas e o que se ministrava. Por exemplo, aí se ensinava como fazer desaparecer o dinheiro da Prefeitura de Miami e aparecer nas contas da Fundação, como cobrar por um metro de pavimento sete vezes mais do que custou, como comprar uma empresa telefônica na Espanha e desaparecê-la do mapa, deixando sem trabalho a milhares de trabalhadores, e então esse dinheiro, roubado da Espanha, roubado da prefeitura de Miami, roubado de outro lado, aparece depois misteriosamente em uma prisão do Panamá, meio milhão de dólares, em um cheque que acabam de dar a quatro terroristas, para que partilhem fraternalmente entre os quatro. Podem ser algumas das disciplinas que eles ensinaram. Também imagino que havia seminários e aulas práticas.

Randy Alonso – Como pôr uma bomba.

Reinaldo Taladrid – Aí estava Martín Pérez, ou Pepe Hernández, que se especializava em fuzis calibre 50, capazes de transpassar blindados, que era, talvez, o conceito que eles têm de como deve ser uma cúpula ibero-americana; talvez o conceito da Fundação do que deve ser uma cúpula ibero-americana é um tiro ao alvo.

Randy Alonso – Ou uma bomba em um teatro onde há estudantes.

Reinaldo Taladrid – Ou como assassinar prêmios Nobel, em um passeio de carroça por uma cidade que é Patrimônio da Humanidade, em Cartagena, ou como disparar em um balneário turístico, ou como explodir um avião. Podem ser algumas das matérias que essa "missão" ensinava.

Ele participou preparando os quadros da Fundação para esse projeto.

Otto Reich é um dos padrinhos da mal chamada Rádio "Martí". Ele teve dois momentos chaves: primeiro, para conseguir sua aprovação, quando estava como chefe desse gabinete de diplomacia pública.

Randy Alonso – Queria recordar que foi aprovada precisamente no período em que ele era o chefe de toda a mentira.

Reinaldo Taladrid – Lembre-se de que Alexander Haigh, que era secretário de Estado naquele momento, teve duas frases famosas, uma foi no atentado de Reagan, quando disse: "Eu estou aqui em controle", o que quase lhe custa o posto, ele exagerou, e outra foi quando disse: "Há que ir à origem do mal". Tudo era mal: o império do mal Moscou, a origem do mal Cuba; tudo era buscar a origem fora das verdadeiras causas que provocam os conflitos sociais da história.

Otto Reich teve dois momentos chaves na Rádio "Martí": um, para sua criação; e dois, anos depois, já nos noventa, para incluí-la dentro da programação da Voz das Américas. Aí há mais dinheiro.

Eu quero enfatizar uma coisa, porque aqui se falou, alguns dizem que é um fanático, um ideólogo. Eu não creio que nenhuma dessas pessoas seja fanática, eles são gângsteres e usam a política para viver, e fazem disso uma indústria, um modus vivendi. Eles não são fanáticos de nada, eles são fanáticos de si próprios, e são gângsteres, seja Sub-Secretário de Estado, ou dirija um gabinete de diplomacia pública, ou esteja em uma fundação.

Essa NED, por exemplo, que Juanita mencionou, para que se tenha uma idéia de por que são gângsteres e por que é uma máfia, e que isso não é retórica, há um estudo de John Nicole, professor da Universidade de Pensilvânia, que demonstra como, entre os anos 1983 e 1988, os anos de Otto Reich no Departamento de Estado, o governo deu à NED creio que 300.000 ou 400.000 dólares, não lembro exatamente a cifra. E essa mesma quantidade de dinheiro foi parar na Fundação, e essa é a mesma quantidade de dinheiro que a Fundação deu aos políticos norte-americanos para financiar suas campanhas, aos que depois votam em seus projetos. Ou seja, que, em última instância, o dinheiro do contribuinte ia parar nas campanhas, através da NED e da Fundação, para financiar objetivos políticos sujos, ilegais. Outra prova mais de por que são gângsteres e por que é uma máfia, à custa do contribuinte norte-americano e do sistema norte-americano, o que é um perigo.

Agora, quando dizia que Otto Reich é um dos padrinhos da Rádio "Martí", digo isso porque tudo que temos visto, nos últimos tempos, de Rádio "Martí" está perfeitamente de acordo com a filosofia de Otto Reich, do gabinete de diplomacia pública. Otto Reich assinaria o que fez Mayín Correa com os 30 cubanos que morreram em conseqüência da Lei de Ajuste: dizer que estavam vivos, para criar o caos; e do dano moral que fez a essas famílias, garanto que não se arrependeria, porque ele já disse que não se arrepende de nada que fez. Isso seria assinado por Otto Reich.

Incidentes como esses de manipular e dizer: "As portas estão abertas", e repeti-lo em manchetes, isso é típico desse gabinete, que eram métodos de serviços especiais que ele usou e incluiu ali, além do que, esse gabinete estava cheio de oficiais da CIA. Portanto esse espírito, o único que se pode esperar da Rádio "Martí", é que se incremente, com conseqüências graves de provocações, de mentiras e também de atacar a família cubana, como fizeram com as 30 vítimas da Lei de Ajuste, que disseram que estavam vivos e provocaram essa dor à família cubana; mas ele não se arrepende disso, porque tudo é pela "causa". Lembre-se de que em Miami, dizem a isso "a causa", não está claro o que é a causa, mas é "a causa".

"Em 29 de setembro de 1997, participa" – ele gosta muito de ir a audiências; já gostava, e agora irá também às audiências parlamentares, para introduzir idéias.

Randy Alonso – Não, agora ele deve gostar menos.

Reinaldo Taladrid – Sim, deve gostar menos, porque agora lhe cai em cima toda a América Latina. Eu quero ver como ele vai resolver esses problemas da América Latina; os problemas que ele ajudou a criar na América Central, como vai resolvê-los agora. Vamos ver se resolve a pobreza, o desemprego, as causas da emigração, que ele ajudou a criar com essa guerra suja, que incrementou todos esses problemas na América Central.

Há uma audiência que marquei aqui, entre as coisas que busquei, porque, em uma audiência a que convocou a loba feroz, Ileana Ross, para examinar o suposto perigo da Central Termonuclear de Juraguá, adivinhem quem foi seu convidado principal: Otto Reich; ou seja, especialista em centrais termonucleares e em perigos termonucleares. Se é contra Cuba, ele testemunha, sob juramento, seja onde seja. Aí têm, para que se veja como se faz a mentira, porque aí na audiência é preciso jurar, e em muitos desses comitês, se declara sob juramento. Ele jura sem nenhum problema, e testemunha em um caso de Central Termonuclear.

Mas esta eu selecionei, Randy, porque, numa data como o ano de 1997, Otto Reich, nessa turnê e nessa audiência, sacou uma tese – há que reconhecer que tem imaginação –, disse que "Cuba constituía um perigo para o comércio continental". E aí eu lhe dou razão. Se o comércio continental que deseja Otto Reich é a ALCA, Cuba, com seu exemplo, com o que diz e com as verdades que mostra, então, sim, é um perigo. E não se estranhe se esses obscuros projetos que já se vinham manejando há algum tempo estão entre as causas que levaram Otto Reich a dizer, em 1997, que "Cuba era um perigo para o comércio continental".

Quanto ao Center for a Free Cuba, já se disse aqui que Otto Reich fez parte de sua direção, junto com todo um conglomerado da máfia, em suas distintas partes, que vai desde o presidente da Bacardi, Cutilla, até Elena Amos, esposa do dono de uma importante companhia de seguros, passando por Modesto Maidique, o acadêmico estrela da Florida International University, e sua mentora, a Kirkpatrick, aquela que disse que Pinochet não era um ditador, que era um governo autoritário. Ela estabeleceu uma diferenciação teórica tão complicada, que devia ser reconhecida pelo maior trava-língua acadêmico da história, maior da história deste hemisfério, quanto a definir um governo, o que fez a Kirkpatrick, tudo para dizer que Pinochet não era um ditador, e que também é sua mentora dessa época de Georgetown.

Agora, ele foi vice-presidente de uma organização que se chama RAP, que se pode explicar mais adiante; mas aí teve um vínculo muito grande – porque isso se mistura – com Joaquín Jack Otero, porque toda essa gente vai mudando os nomes, que era presidente dessa organização.

Otero, que era membro da ALF-CIO – os sindicatos norte-americanos, que têm uma longa história – esteve muito vinculado à criação – de quê? – do Comitê Sindical para uma Cuba Livre. O que é isso? Essa é outra organização mais que vão criando, porque, quando há 200 milhões, 20 milhões, 30 milhões, o dinheiro flui, e a menor parte é o que chega aos empregados, a maior parte fica nos gabinetes, fax, carros, orçamentos, eventos, etc., então é preciso criar muitos organismos; como antes se criavam esses grupos de Miami, agora criam muitos centros para Cuba Livre, centros para Cuba não-sei-quê, centros para sindicatos livres, para receber esse dinheiro do contribuinte norte-americano e gastá-lo em todas essas coisas. Aqui também esteve envolvido Otto Reich.

Em princípios de março de 2001 – disso, há vários exemplos, mas eu selecionei este –, Otto Reich, em companhia de Jorge Mas Santos, Joe García, Francisco Pepe Hernández e Domingo Moreira, participou de um jantar na organização Diálogo Interamericano, dedicada a debater o tema das relações com Cuba. Aqui é onde eu queria deter-me.

Você tem organizações com mais ou menos prestígio, que têm determinada autoridade no mundo acadêmico, etc.; mas há coisas que eu realmente não entendo.

Veja, nesse jantar está Jorge Mas Santos, que é cúmplice de fraude econômica – como disse anteriormente –, e que misteriosamente envia depois o dinheiro ao Panamá, para financiar terroristas. Ou seja, há um cúmplice de terrorismo. Está Joe García, que agora é o maioral da Fundação, o maioral de Mas Santos, ele se encarrega de executar as coisas. Está Pepe Hernández, o homem do fuzil calibre 50, que se especializou toda a vida nessas coisas, ex-oficial do exército norte-americano, calibre 50, plano de atentado, o dono do fuzil. Então, com essa gente é que se discute e se fazem relatórios sobre – como disse? – "o tema das relações com Cuba". Que relações com Cuba? O que essa gente quer com Cuba está claro, e, sem dúvida, são convidados. Otto Reich, é claro, em companhia dessa gente.

Com respeito a sua nomeação – e isso é interessante –, eu selecionei algumas pessoas que se pronunciaram com relação e essa designação. Vou começar, nada mais, nada menos que por Raymond Molina – faz uns dias falamos dele aqui; Raymond Molina, organizações dessas põe-bombas de Miami, que depois estavam no narcotráfico; o homem que tentou subornar a comunidade negra de Miami, dizendo-lhes dizendo-lhe que votassem nele, e eles bem esclarecidos estavam, porque o denunciaram imediatamente; o homem que aspirou à Prefeitura de Miami e que, como perdeu, foi para o Panamá e agora é chefe da máfia no Panamá, e está encarregado da fuga de Posada Carriles e de subornar a meio governo panamenho para a fuga de Posada Carriles.

Esse homem disse o seguinte: que "apoiava a candidatura de Reich" e, além disso, é preciso reconhecer sua honestidade, "com a intenção de obter, em troca, algum posto como consultor para a América Latina e conseguir um salário mais alto"; o homem é honesto, o que ele quer é dinheiro e que lhe subam o salário, o da Fundação não é suficiente ou talvez tenha dois trabalhos, faz um part-time, como se diz nos Estados Unidos, e faz dois trabalhos, Fundação e representante de Otto Reich.

Raymond Molina – e há que reconhecer a honestidade, a verdade, a César o que é de César – expressou satisfação pelos procedimentos irregulares para a designação de Reich, ou seja, ele gosta que se viole a lei, gosta que se burlem do Congresso dos Estados Unidos; dá-lhe satisfação que, apesar da decisão do Comitê de Relações Exteriores, passem-lhe por cima; gosta que se ofenda a lei, gosta, simplesmente está acostumado, não se pode fazer outra coisa.

Agora, nesse mesmo sentido de satisfação pela nomeação de Otto Reich, o superbatistiano, pronunciaram-se Díaz Balart, a loba feroz Ileana Ros, Mas Santos, seu maioral Joe García, e Dennis Hays, o membro da realeza transformado em empregado, lembrem-se de que ele foi chefe do Escritório Cuba e terminou como empregado da Fundação; ou seja, tirou-se a máscara, estava escondidinho ali, agora é diretamente aqui, para que depois não se diga; porque às vezes se diz: "Não, ofende-se a um funcionário público"; não, vejam, senhores, este homem acabou de empregado da Fundação Nacional Cubano-Americana, que põe bombas e dá dinheiro para o terrorismo, e era chefe do Escritório Cuba. São os fatos que são teimosos, a gente não tem culpa de que seja assim, acabou de empregado e era chefe; supunha-se que planejara a política dos Estados Unidos em relação a Cuba, a cargo daquele escritório, imaginem vocês, e talvez nessa época já fosse empregado da Fundação, agora o é abertamente.

Agora, no final de 2001, Otto Reich participou, com Melquíades Martínez – eu gosto de chamá-lo Melquíades Martínez –, secretário de Habitação atual, em um jantar organizado pela organização Concílio para a Liberdade de Cuba, esse é o clone da Fundação, ou seja, lembrem-se de que eles brigaram pelo dinheiro de Mas Canosa, que o pôs em outra...

Randy Alonso – Ninoska, Martín Pérez e companhia.

Reinaldo Taladrid – Então um grupo se clonou, geneticamente são idênticos, se clonaram, a Fundação nacional Cubano-Americana incorporated já é mais uma empresa, como deve ser, e o Concílio para a Liberdade de Cuba, que é o clone, que é onde está Ninoska, é um pouquinho mais folclórico, porque está Ninoska, mas em essência é a mesma coisa.Pois bem, aí esteve também Otto Reich, para que vejam que ele é irmão de toda a máfia, de todos clones, de todos os grupos, ele continua sendo seu irmão.

Agora, com respeito às reações que isso provocou, Randy queria mencionar somente duas coisas: Jorge Mas Santos, presidente da incorporated – do original, não do clone –, disse que estava "muito agradecido ao presidente Bush por selecionar alguém com a experiência, integridade e ideais de Otto Reich". Experiência para o que eles querem, ele tem, disso não cabe dúvida, os ideais estão claros; e com respeito à integridade, não sei a que se refere, se é uma integridade, uma decisão a todo custo de violar quanta lei exista, de passar por cima do Congresso, do povo norte-americano, de todo mundo, para impor os objetivos da máfia, pode ser.

A loba disse que apoiava "a valente decisão", e a Fundação, como Fundação – este é Mas Santos como indivíduo – disse que "agora a política para a América Latina está em boas mãos". Seria bom, daqui a um ano, no mínimo, confrontar essa declaração com os resultados: se há paz na América Latina, se aumenta o emprego, se distribuem melhor as riquezas, se os índices sociais melhoram, se o narcotráfico melhora. Há que ver se essas coisas, daqui a um ano, com Otto Reich se resolvem. Por isso, disseram-no agora; seria bom confrontá-lo.

Mas, para terminar, parece-me que esta é a melhor:

Ninoska Pérez, porta-voz do clone, disse a EFE: "A ação de hoje do governo estadunidense sublinha seu compromisso de restaurar a liberdade e a dignidade humana em Cuba." Ou seja, para Ninoska Péres Castellón, a dignidade humana representa mentir ao Congresso, mentir ao povo nicaragüense, centro-americano, introduzir cocaína nos Estados Unidos, maconha na Flórida, traficar armas, aprovar leis para submeter a um povo. Bem, esse é seu conceito de dignidade humana; mas isto não é o mais importante.

Diz Ninoska Pérez Castellón: "O fato de que um descendente de cubanos – já não é cubano, é descendente de cubano; eu creio que está correto, é preciso reconhecer quando dizem algo correto –, "como Reich, ocupe um posto tão importante no atual governo dos Estados Unidos tem um grande significado e dá esperanças, em um ano que marca o centenário da República fundada em 1902."

Que história para a população cubana, para todos os que nos estão escutando! Que história, essa frase de Ninoska Pérez! A satisfação que lhes dá serem parte de um governo, porque estão celebrando o centenário da República de 1902. Ou seja, esse era seu sonho: ser uma província do império e ter um ministro em Roma.

Esse era seu sonho! Disseram-no claríssimo, a isso aspiram, a ter um ministro no império, e a província ocupada. Essa é a república que eles estão celebrando, e aí o têm. Observem como disse, eu repito: "... tem um grande significado e dá esperanças, em um ano que marca o centenário da República fundada em 1902." Que história, Randy, o que isso representa para Cuba e para a América Latina também!

Randy Alonso – Obrigado, Taladrid.

E a esse longo histórico de vínculos aos piores acontecimentos dos Estados Unidos nas últimas décadas que tem Otto Reich, soma-se sua associação a causas antitrabalhadores e às causas da violação dos direitos laborais. Sobre esse tema, Arleen Rodríguez pode dar-nos alguns detalhes.

Arleen Rodríguez – Obrigada, Randy.

Coincido com Taladrid em que esse senhor não é precisamente um ideólogo, como estão apresentando; é fundamentalista em suas atuações. Mas há que ir buscando a causa, porque, evidentemente, atrás de tudo o que está fazendo há algo.

Quando investigo em relação a Otto Reich, o que vejo é que é o mais perfeito bandido que já vi em minha vida, está em todas as partes onde há algo escuro, ou onde se está fazendo trambique, ou onde se está inventando algo contra interesses legítimos dos povos.

Por isso, é importante marcar que não é só contra Cuba, o personagem aparece – e aqui você mencionava – nas causas antitrabalhadores. Entre as críticas mais fortes levantadas pelo nomeação de Reich, a imposição de Reich por decreto – há que dizê-lo também –, está a de que ele continua vice-presidente da companhia Worldwide Responsible Apparel Production, que está vinculada à indústria têxtil norte-americana.

Essa é uma organização que se diz comprometida com os processos de avaliação das indústrias têxteis e de sapatos dos Estados Unidos, com respeito à atuação profissional e qualificada dessas empresas, foi criada em junho de 2000, e supõe-se que deve enfrentar qualquer atividade de superexploração. Pelas denúncias feitas historicamente, o que está fazendo é exatamente o contrário. As críticas mais fortes que há são precisamente que está encobrindo e amparando uma série de violações, desde as piores condições de exploração de trabalho em maquilas – e, em particular, são as organizações que defendem os direitos dos trabalhadores das maquilas que denunciaram a superexploração do trabalho, com baixos salários –, até empresas que estão utilizando o trabalho infantil em muitas partes do mundo.

A WRAP, que assim se chama essa organização, da qual Otto Reich é vice-presidente, é um apêndice da American Apparel and Footware Association, a Associação Estadunidense de Confecções e Calçados, que monopoliza 80% da produção de roupa e calçado dos Estados Unidos, e foi denunciado que são precisamente as atividades e legislações anti-sindicais, a guia por que se conduz essa companhia.

Mais que comentar isso, eu gostaria de ler um fragmento de um editorial assinado por Alex Dubró, que apareceu na imprensa no ano passado, por motivo do debate sobre a nomeação de Reich, que, entre outras coisas, dizia: "Bem, este homem, cujas indústrias favoritas sempre foram o álcool, o tabaco e as armas" – ele o diz claramente – que faz metido também na indústria têxtil?

Primeiro diz que é um programa fictício da indústria de confecções, fundado com o fim de socavar o crescente movimento contra a superexploração dos trabalhadores.

Diz que Reich se incorporou desde o princípio e se associou a uma operação, em que se combinam alguns dos desagradáveis elementos da guerra fria, com um novo enfoque, impulsionados por relações públicas, que se propõe a manter a produção em condições de exploração não sindicalizadas.

Nesse mesmo estudo denunciou-se, em muitíssimas mesas-redondas, sobretudo internacionais, o trabalho contra a sindicalização que há nos Estados Unidos, e o trabalho contra os movimentos operários que se atrevem a protestar e que ainda sobrevivem, porque já se sabe em que medida se perdeu a sindicalização real nos Estados Unidos. Uma rede mundial, é o que eles se propõem fazer. Nesse caso, o WRAP, como engendro da Associação de Confecções e Calçado, quer converter-se em uma rede mundial que supervisione as condições de trabalho nas fábricas de confecções em todo o mundo.

Segundo Terry Colinstuor, diz Alex Dubró nesse artigo, o WRAP, importante força que apóia a vigilância do trabalho infantil e das condições de exploração, estabeleceu-se como um projeto dominado pela indústria, precisamente para evitar a observação externa legítima. Em resumo, é uma artimanha, e assim é considerado por todos, salvo pela própria indústria.

Há algo mais importante, Randy, porque nesse artigo menciona-se que propugna precisamente o trabalho não sindicalizado, etc., mas o próprio articulista se pergunta, ainda não está claro o que faz Otto Reich dentro disso. Diz: "Como vice-presidente, ele não tem antecedentes, nem na indústria de confecções, nem na promoção dos direitos dos trabalhadores, jamais teve vínculo com isso, mas tem uma peculiar conexão com a direção do WRAP", e então cita a Joaquín Otero, Jack – Jack é pseudônimo –, ex-membro do Conselho Executivo da Federação Americana do Trabalho e Conselho de Organizações Industriais, AFL-CIO – da qual também se falou aqui –, era uma estrela do Comitê de Trabalho por uma Cuba Livre em 1990" – aí vem a conexão da máfia – "que recebia financiamento do governo norte-americano, por parte da American Institute for Free Labor Development, também da AFL-CIO. Esse é um dos institutos extraterritoriais da guerra fria, que pertenciam à AFL-CIO, criado para combater o comunismo, mediante a luta contra os sindicatos influenciados pelos movimentos de esquerda em todo o mundo.

"Mantinha conexões estreitas com a CIA, e foi fundado pelo governo norte-americano, fundamentalmente pela USAID", da qual também se falou bastante aqui. "Durante o decênio" – voltamos a essa época – "1980-1990, também recebeu financiamento do Fundo Nacional pró-Democracia. Em síntese, esse Fundo Internacional de Direitos Laborais, ao qual estão associadas todas essas pessoas, é bem conhecido por encontrar aliados nos países das Américas e ministrar-lhes fundos para criar e manter organizações sindicais alinhadas com os partidos de extrema direita." Esse é o papel que desempenha Otto Reich aqui, se não sabíamos.

Finalmente, pergunta-se o articulista: "Cabe perguntar-se, sem dúvida, que outra coisa pode fazer nesses dias" – foi no ano passado – "um profissional anticomunista, que não seja denunciar a Cuba, que é sua obsessão. Evidentemente está nos labores a favor da exploração dos trabalhadores, nas quais agora estão envolvidos os três aventureiros", os personagens citados no artigo.

"Se é que existe uma explicação mais precisa sobre a presença de Reich na indústria de confecções, ele a está guardando, realmente ele se reservou tudo nestes dias, não fala com a imprensa." É uma das coisas que se comentava muito seriamente, nos momentos em que já crescia a onda de repúdio ao projeto de nomear a esse homem, com tão triste e escuro passado, à frente da atenção ao hemisfério e, em particular, à região, no Departamento de Estado.

Randy Alonso – E é que, como você dizia, Otto Reich foi sempre, e é neste momento, um lobista, um representante das piores causas. Nisso, tem um histórico bastante grande, e Eduardo Dimas pode dar-nos alguns detalhes.

Eduardo Dimas – Eu tenho apenas um pedacinho desse editorial.

Efetivamente, a partir de 1998, Otto Reich passa a ser lobista. Os lobistas são pessoas às quais as grandes multinacionais, as empresas, pagam para que influam nas decisões dos parlamentares, representantes, senadores, etc., e ele vai representar, como lobista, a três empresas grandes, a Lockheed Martin, que é uma empresa do Complexo Militar-Industrial, produz os aviões F-16, como já se disse, a Bacardi-Martini, e, ademais, a American Tobacco Company, nos momentos em que essa empresa estava sujeita a determinados procedimentos estatais, a demandas em tribunais, etc., etc.

Mas o principal negócio de tudo isso era a Lockheed Martin, da qual era também assessor de vendas para a América Latina, e havia a proposta do Chile de comprar aviões F-16 por um valor de 600 milhões de dólares, e, de imediato, a Lockheed Martin queria que o Congresso aprovasse essa venda, porque há uma moratória estabelecida pelo presidente Carter, quando Carter era presidente, em 1977, que proíbe a venda de altas tecnologias para a América Latina, como uma maneira de manter um baixo perfil militar; ou seja, há um duplo propósito, mantêm tranqüilidade, evitam uma corrida, que não tem sentido na América Latina, porque eles são os que mandam, e, além disso, mantêm a situação tranqüila.

Agora vem essa venda; essa venda representaria para a Lockheed Martin 600 milhões de dólares, e o encarregado de fazer proselitismo, de convidar a jantar, de fazer todas as jogadas que se fazem para conseguir que os congressistas apóiem algo, era precisamente Otto Reich.

Se essa venda se produz, evidentemente se romperia um equilíbrio militar que está estabelecido há bastante tempo, e haveria outras nações também interessadas em comprar armas à Lockheed Martin ou a outras grandes multinacionais, falo de Brasil, falo do Peru, falo da Argentina – agora não pode, de imediato – e de outras nações que igualmente estarão interessadas. Ou seja, que esse era o negócio básico que tinha e seu grande objetivo, porque, a todas essas, eu creio que não se disse, mas ele tem uma grande necessidade de dinheiro, creio que não se disse aqui; ele tem uma enorme necessidade de dinheiro, pela situação familiar em que se encontra, etc., etc.

Com a Bacardi, já se disse, o problema é que a Lei Helms-Burton se pode chamar também, como dizia Polanco, a Lei Bacardi. E no caso da American Tobacco Company, há que destacar que essa empresa, como outras grandes empresas grandes produtoras de cigarros nos Estados Unidos, vocês sabem que durante o governo Clinton limitaram-se os lugares onde se podia fumar, estabeleceram-se demandas por milhares de pessoas que foram prejudicadas pelo fumo do cigarro nos Estados Unidos, que morreram de câncer, familiares de pessoas que morreram de câncer pulmonar, e tudo isso foi parar nas empresas de cigarro, e esse era um dos objetivos desse senhor Reich, evitar que essas empresas tivessem de pagar as grandes demandas, mediante a aplicação imediata de leis aprovadas pelo Congresso que impedissem isso.

O DNA foi descoberto em 1954, não? Ele nasceu em 1945, porque nos estávamos perguntando agora há pouco, Polanco, se era pré-fabricado; não, é natural.

E uma coisa importante, Randy, é que muitos dos que questionam sua designação, muitos congressistas, muitos analistas, observadores questionam sua designação precisamente por isso: como um homem que foi lobista, que defendeu os interesses de determinadas empresas, que defendeu a venda de armas que poderia romper o equilíbrio militar em uma região que teve o fenômeno do militarismo durante tantos anos, e que se pode romper esse equilíbrio e criar situações, pode desempenhar o cargo que é o principal cargo para essa região? esse é um dos fenômenos.

Randy Alonso – Nisso se baseiam muitasopiniões contrárias à presença de Otto Reich no governo norte-americano.

Tenho aqui um recente artigo, publicado em 8 de fevereiro na revista Guardian Unlimited, que seu autor, Dunkan Campbell intitula "Amigos do terrorismo", e diz que "a decisão do governo norte-americano de devolver Otto Reich a essas instâncias expõe a hipocrisia da guerra contra o terror" que se colocou nos Estados Unidos, assim diz esse artigo de Guardian Unlimited, uma revista que fala precisamente do regresso de Otto Reich ao governo norte-americano e uma demonstração da crescente e cada vez mais manifesta oposição de personalidades políticas estadunidenses e latino-americanas a essa nomeação.

Arleen.

Arleen Rodríguez – Eu não conheço realmente outro caso em que tenha sido tão massivo e tão generalizado o protesto pela nomeação de um homem.

Vou começar com o comentário de Larry Birns, da Organização do Conselho de Assuntos Hemisféricos, que disse que "com Reich, a Administração atual dos Estados Unidos está dando um salto atrás no fortalecimento das relações com a América Latina. Otto Reich é um ideólogo direitista radical", um fundamentalista – ponho eu esse termo, que é o que eles pretendem dizer com isso de ideólogo direitista radical –; "em primeiro lugar não é um diplomata, é um ideólogo compulsivo, estou seguro de que será para a Administração Bush o Vladimiro Montesinos dos Estados Unidos", nesses termos estão se expressando.

Também Larry Birns disse que o ódio de Reich ao regime do presidente cubano Fidel Castro é conhecido por qualquer pessoa que o tenha escutado falar do tema, e, segundo Birns, mencionou até a necessidade de que os Estados Unidos lancem uma invasão militar para acabar com o regime em nosso país.

Mas isso tem muito a ver também com sua formação e seu vínculo com a era Reagan e o documento de Santa Fé, que também colocava isso como princípio.

A ofensiva de críticas contra a nomeação de Reich incluiu uma criação de uma página na Internet, onde se publicam várias associações acadêmicas e centros de estudos para indicar quem é esse personagem, daí que toda a informação que nós damos hoje aqui é perfeitamente pública, está em toda parte, pode-se encontrar a informação, porque veio à tona com as denúncias que se estão fazendo por toda parte e, sobretudo, todas essas denúncias indicam o profundo dano que esse homem pode provocar nas relações com a América Latina.

Assinala-se explicitamente nesses materiais que esse é o pagamento político à extrema direita de origem cubana, que mantém como refém a política dos Estados Unidos para Cuba durante décadas e que tem propugnado consistentemente por endurecer a política do bloqueio, com a esperança de que um dia o povo de Cuba, aniquilado pelo bloqueio, faça um levante e acabe com a Revolução, acabaria consigo mesmo, porque a Revolução somos todos nós, o povo de Cuba.

Essa nomeação, segundo se diz em quase todos esses materiais que circulam na Internet, terá graves conseqüências para os estados agrícolas interessados na venda de produtos a Cuba, porque Reich nesse cargo implica também a continuidade de uma política, a mesma política do grupo que trabalhou em torno ao seqüestro de Elián, em que a imagem dos Estados Unidos acabou tão deteriorada, no manejo de um assunto político como esse. De um ponto de vista mais global, ademais, ele é descrito como um homem medíocre, um político medíocre, que não está capacitado a conduzir a política de uma região conflituosa como a América Latina, matizada pela situação na Colômbia e pela desestabilidade que se apresenta em vários países do Cone Sul.

O Centro de Política Internacional, que está entre os mais fortes críticos, afirma que a confirmação de Reich como sub-secretário de Estado, põe em risco a oportunidade da administração Bush de levar adiante uma política de Estado com respeito à América Latina e "dar-lhe esse importante posto hemisférico a um político largamente conhecido como concentrado em uma só causa, envia uma mensagem desencorajadora aos profissionais do Departamento de Estado. Esse homem divide, não une, e as políticas que ele estimula estão destinadas a ser polarizadoras, tanto internamente, como no exterior".

O Conselho de Assuntos Hemisféricos considerou também a Reich como de extrema direita e líder da facção de ultradireita da comunidade cubano-americana e recordou que foi o extremamente controverso chefe do gabinete da diplomacia pública, que Taladrid comentava no princípio, em tempos da administração Reagan, durante a guerra na Nicarágua.

"O senador democrata por Connecticut, Christopher Dodd fez uma declaração muito ampla e disse que teria votado contra a nomeação de Reich, se tivesse sido levada a votação. ‘Não creio que sob essas circunstâncias seja a pessoa adequada para esse posto, nestes tempos críticos’."

Também o senador democrata por Massachussets, John Kerry disse que "suas preocupações não se centram em que esse candidato tenha credenciais conservadoras ou não, mas nas atividades que desenvolveu", as atividades sujas que aqui se descreveram, durante seu desempenho no governo Reagan.

Oscar Arias, ex-presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz, escreveu no Los Angeles Times, que "a nomeação de Reich seria um retrocesso real para a cooperação hemisférica, e que o fato de que tenha sido cúmplice da campanha – como lobista da Lockheed Martin – para vender aviões F-16 ao Chile, acabando assim com a política norte-americana de opor-se à venda de sistemas de armamento avançado para a América Latina", faziam-no sentir-se "muito intranqüilo acerca de quais seriam os propósitos que se cumpririam com sua potencial liderança em nosso hemisfério".

 

Enquanto o ex-congressista Lee Hamilton, ex-membro do Comitê de Relações Internacionais da Câmara, a qual presidiu durante o escândalo Irã-Contras, afirmou que "a designação de Reich afetaria a política latino-americana dos Estados Unidos, pois é muito divisor e tornaria mais difícil a condução dessa política".

Enfim, Randy, creio que são de um amplo espectro, as vozes que se levantam por todo lado, não só na América Latina, como se vê. Por alguma razão, tomaram a decisão de impô-lo por decreto. Deve estar um ano sob essas condições, e eu terminaria dizendo o que você dizia, precisamente, no ano passado, quando se falou dessa nomeação, no jornal Juventud Rebelde: "Washington borrifado com Bacardi". Você recordava muitas dessas opiniões que já não me dá tempo de ler, longas, porque é infinita a lista de pessoas que se opõem a Reich, e dizias, finalmente, que "vendo os antecedentes do personagem, é de se esperar um período em que a política exterior do império para a América Latina se caracterize pela cubanização do cenário, a abertura das vendas militares a toda a região, mais chantagens e pressões aos organismos internacionais, e tudo abençoado com um pouco de Bacardi. Amargo trago".

Eu gostei muitíssimo da frase que você utilizou, para terminar o tema da rejeição a esse personagem em todo o mundo, e realmente custou muito caro à nova administração dos Estados Unidos essa nomeação por decreto.

Pois este obscuro personagem já é, desde esta semana, o Secretário Adjunto de Estado para a América Latina no Departamento de Estado dos Estados Unidos, e já começou a fazer das suas; pronunciamentos vão e vêm desde a segunda-feira passada, e na terça-feira fez uma de suas mais interessantes e cínicas colocações para nossa região. Com total impudência, Otto Reich pronunciou-se como a corrupção. Juana Carrasco nos comenta.

Juana Carrasco – Vou ler o que ele disse: "Não vamos deixá-los entrar nos Estados Unidos da América, não vão aposentar-se em Key Biscayne, nem irão à Disneyworld, e suas esposas não vão comprar na Quinta Avenida... Não irão a Houston para submeter-se a exames do coração. Quando estejamos certos de que há um indivíduo, ou indivíduos que roubaram o tesouro público em seu país, não os vamos deixar entrar. Não os quero como vizinhos, como não desejo ter como vizinhos a criminosos de guerra ou narcotraficantes."

Ainda que vocês não acreditem, esta é a forma com que Otto Reich está respondendo à pergunta que se fazia Taladrid de como vai resolver os problemas da América Latina. Vai resolvê-los combatendo a corrupção. Ele não quer corruptos como vizinhos; ele não quer narcotraficantes como vizinhos; ele não quer terroristas como vizinhos. O que se falou aqui é suficiente.

São coisas muito interessantes; o que Otto Reich quer dizer com isso é que não lhes vão dar visto, ou vão revogar os vistos desses indivíduos. Se fosse verdade, parece-me que diminuiria um pouco a população norte-americana entre algumas pessoas que já estão ali há algum tempo, ou dos que estão indo para lá ao longo de muitíssimos anos e, sobretudo, iria se ressentir um pouco a comunidade anticubana de Miami, se isso fosse verdade.

Realmente é cínico, ou essas palavras fariam rir, porque caem no ridículo; ou fariam chorar, como diria um de nossos maiores atores cômicos, "que haja padeiros que se levantam às 3 horas da manhã para que esse homem desjejue".

Realmente, o que está dizendo e fazendo Otto Reich tem muito, muito a ver com os problemas éticos, não com os dele, porque ele não tem problemas éticos, porque não tem ética; mas são dilemas para muitas pessoas que teriam de aprová-lo e que não puderam nem sequer discutir se devia ou não ser ele a executar esse papel de Secretário Adjunto para os Assuntos Hemisféricos.

Qual é o problema? Agora, ocupando esse cargo, ele tem que interpretar, formular e implementar a política dos Estados Unidos para a América Latina e, é claro, isso vai chocar com seus interesses e com seus negócios. É um indivíduo que esteve representando a todos esses lobbies de que falou Dimas, e tudo isso simplesmente se choca com a política latino-americana e choca com tudo isso.

Há opiniões colhidas em meios políticos de todas as suas posições de extrema direita, além do papel que desempenhou em toda a sujeira da política norte-americana; e também não estão muito claros quais são os assuntos financeiros privados de Otto Reich.

Dimas, você mencionava a mulher e seus problemas privados. A esposa, ou melhor dito, já se divorciou de Connie Zynn Dillinger (espero que essa senhora não tenha nada a ver com o famoso gângster; creio que não, porque seria o cúmulo se Reich tivesse se casado com essa mulher para ter também um sobrenome de bandoleiro. Não, não creio que seja assim), tem um pleito; no pleito, Reich perdeu e, é claro, um pleito de divórcio nos Estados Unidos implica muito dinheiro. Esses são os problemas financeiros de Otto Reich.

Ele tem que resolver também o problema de sua companhia consultora, a RAM, que representa a Bacardi e todas as demais, e tem que definir essa situação para poder exercer o cargo.

O que ele propôs, e que preocupa a muitos políticos nos Estados Unidos? Simplesmente, fazer um arranjo: ele se mantém com essa companhia consultora privada, mas a companhia não estará atuando, ele passa todos os negócios a uma companhia do estado de Virgínia, e esta lhe pagaria uma espécie de comissão pela transferência da clientela. É claro que ninguém acredita nisso, a clientela, tornamos a dizer, é Bacardi, essa que pagou mais de 600.000 dólares; são também os três milhões de dólares que o governo deu ao Centro para uma Cuba Livre, precisamente para tentar subverter a ordem em nosso país. É assim que está buscando a maneira de continuar recebendo esse dinheiro dessas empresas, inventando uma companhia fantasma no estado da Virgínia. Por certo, o estado da Virgínia é o estado tabaqueiro – digo isso porque pode ter algo a ver com a American Tobacco, não sei...

Realmente há toda uma turva operação que ele está realizando e onde quer meter os congressistas, para que apóiem o que realmente é um conflito de interesses desse indivíduo. Além disso, repito, mentiroso empedernido.

E digo mentiroso porque Otto Reich parece que omitiu algo, em suas declarações diante do Comitê de Ética da Casa Branca, em novembro de 2001: entregou um relatório ao Senado onde dizia que nunca havia feito lobby para a Bacardi. Isso é o cúmulo, senhores, de Otto Reich! "Que nunca havia feito lobby a favor da Lei Helms-Burton", esse é o outro cúmulo, quando há um relatório que diz bem claro que no ano de 1995 reuniram-se Otto Reich, os executivos da Bacardi e Lincoln Díaz-Balart, precisamente para que a Lei Helms-Burton fosse aprovada, para intercambiar sobre aspectos dessa lei.

Realmente esse indivíduo é o cúmulo da desfaçatez, o cúmulo do cinismo, o cúmulo de todos os trambiques e de todo negócio sujo que possa ocorrer naquele país, e ele diz que vai negar a entrada aos corruptos da América Latina, que não os quer de vizinhos. Não, é que não necessita, porque os Estados Unidos estão tão cheios desses elementos, tem o barco tão lotado, que não cabe mais nenhum.

Randy Alonso – Os corruptos estão dentro e estão, inclusive, no Departamento de Estado. O homem que ajudou a corromper também a sociedade norte-americana, introduzindo drogas nos Estados Unidos, e o homem que tem negócios tão sujos e tão turvos, agora se declara em guerra contra a corrupção, é a mesma guerra, parece, e na mesma corda de sua guerra particular contra a Revolução Cubana e contra o Comandante-em-Chefe.

Desde sua posse, Otto Reich declarou que sua obsessão continua sendo Cuba, e que a ela dedicará seu período nessa nova responsabilidade que tem no governo dos Estados Unidos. Tem dado várias declarações, só quero que vejamos um fragmento das que Reich ofereceu na segunda-feira ao porta-voz televisivo da máfia.

Repórter (do Canal 51) – Em Washington, esta tarde, o cubano-americano Otto Reich tomou posse de seu cargo como Secretário de Estado Adjunto para a América Latina. Momentos antes de prestar juramento, Reich concedeu-nos uma entrevista exclusiva. Jorge Lewis tem os detalhes.

Jorge Lewis – Sobre a atual revisão da política estadunidense para Cuba, disse:

Otto Reich – O Presidente ordenou uma revisão da política para a ilha e me pediu que a encabeçasse, porque é evidente que a política dos Estados Unidos não deu atenção, não deu prioridade a Cuba, e temos que examinar o que não foi bem feito e como se pode chegar a essa meta de uma transição pacífica e rápida para a democracia.

Jorge Lewis – E sobre o embargo estadunidense a Cuba, acrescentou:

Otto Reich – O embargo é, simplesmente, um elemento de um componente, que é o componente econômico, de vários componentes que devem formar uma política exterior. Esses componentes são políticos, econômicos, diplomáticos, informativos, de diferentes elementos. Em alguns casos, é preciso dar mais prioridade a uns que a outros.

Randy Alonso – Bem, pois isso é o que coloca o senhor Otto Reich: guerra total em todos os campos contra Cuba.

Rogelio Polanco – Eu quero referir-me a esses termos, que foram reiterados nos últimos dias, em vários artigos e entrevistas, de que "nós encontraremos as formas de comunicar-nos com o povo de Cuba e tentar conseguir uma transição tão rápida e pacífica quanto seja possível para a democracia", e que "a política dos Estados Unidos será conseqüente com nossa política em todo o mundo: avançar na causa da liberdade". Isso disse ao libelo da máfia em 16 de janeiro, mas vem repetindo, como vimos nessas imagens televisivas.

Em 8 de março disse essa outra idéia da revisão da política para Cuba, e na qual "estarão todas as áreas, incluídas as sanções econômicas" – como chamam eles –, e que "estaria pronta nas próximas semanas". Disse, portanto, que não vai amenizar o bloqueio a nosso país, e que "se o governo de Cuba não muda de política, não vejo como vamos poder tornar menos duras as sanções econômicas e comerciais contra Cuba".

Creio que essas são declarações às quais se somam as mais recentes desta semana, em que reiterou que não se vai flexibilizar o bloqueio para dar vida ao que ele chamou "um regime fracassado, corrupto, ditatorial e assassino, em Cuba". Observem o que está dizendo esse homem, essas insolências.

Creio, Randy, que o que é evidente e é um incremento da retórica e da hostilidade contra Cuba, para buscar a confrontação, para buscar que se produzam incidentes que agravem o clima bilateral entre os dois países. Essas declarações, que não são só as dele, mas também as de outros funcionários sob seu comando, desestimam qualquer possibilidade de uma melhora das relações bilaterais, indo contra a corrente das crescentes tendências e dos diferentes setores que nesse país estão se mostrando cada vez mais contrários a essa política de bloqueio. E, por essa via, ademais, Otto Reich está tentando impor condições políticas inaceitáveis a nosso país, além de frear essa crescente tendência de numerosos setores norte-americanos a uma relação normal com nosso país. Isso é mais uma evidência de se apoio prioritário ao que eles chamam a oposição interna, aos grupelhos contra-revolucionários, minúsculos em nosso país, apoiados e financiados pela Repartição de Interesses em Cuba e com o financiamento da USAID e de outras fontes subversivas e ingerencistas dos Estados Unidos.

Reich tem falado também de incrementar o "fluxo informativo", como o chamam, por todos os meios possíveis e, é claro, o fortalecimento das mal chamadas Rádio e Televisão "Martí", as quais causaram tantos incidentes e graves provocações contra nosso povo, como a mais recente que debatemos aqui em mesa-redonda.

Também fala dos regulamentos às viagens dos diplomatas cubanos aos Estados Unidos, como também de incrementar a política estrita, rigorosa, de perseguição às viagens e aos intercâmbios dos norte-americanos para Cuba, e de que se aplicarão sanções e regulamentos cada vez mais exemplares aos que violem essas leis.

Já é um fato a outorga de um milhão de dólares a um "Projeto para uma transição democrática" em Cuba, para a Universidade Internacional da Flórida.

Randy Alonso – Um projeto financiado pela USAID, aprovado pelo Departamento de Estado.

Rogelio Polanco – Que são fundos públicos que uma vez mais são usados e são escamoteados ao povo norte-americano, para subverter a nosso país. Não é preciso dizer que Otto Reich, é claro, estará a favor do fortalecimento da Lei Helms-Burton, de favorecer as pressões aos investidores estrangeiros em nosso país e favorecer aos interesses dos que lhe pagam, de Bacardi e companhia, e, além disso, usará e seguirá manipulando com o tema dos direitos humanos e com a suposta luta contra o terrorismo, que é o novo cavalo de batalha nessa política exterior da administração.

Hoje temos de dizer que Reich continua nadando contra os interesses mais legítimos do povo norte-americano; que suas declarações não podem intimidar a Cuba, que ninguém intimida a nosso país e a nosso povo, e menos ainda um terrorista transformado em funcionário público do governo dos Estados Unidos.

Não há procônsul, não há traficante de influências, nem corrupto, nem traficante de armas, nem de drogas, nem de mentiras que possa com a dignidade e a coragem de nosso povo.

O que é preciso revisar é a política. Sim, estamos de acordo, há que revisar integralmente a política dos Estados Unidos para Cuba, mas para que se acabe a hipocrisia, para que se acabe essa ingerência nos assuntos internos, para que se acabe a dupla moral, a arrogância com que os Estados Unidos atua em relação a Cuba e ao resto do mundo.

Por isso há que revisar a política, para que acabe o bloqueio criminoso contra nosso país. E por isso podemos afirmar, sem temor de equivocar-nos, que nenhum funcionário como esse, nenhum terrorista poderá nunca com a dignidade, com a coragem e com o exemplo de Cuba. Por isso, creio que hoje manifestamos nosso desprezo por esse terrorista travestido em funcionário do governo norte-americano.

Randy Alonso – Só acrescentar, Polanco, nesse momento final de nossa mesa-redonda, que a chegada de Otto Reich, que significa a chega do mais sinistro da máfia cubano-americana ao governo dos Estados Unidos, significou também o incremento das pressões contra nossa região.

Significativamente, esse homem, que foi soldado no Panamá, chegou ao poder no Departamento de Estado para atender às relações com a América Latina, no mesmo momento em que no Panamá se fala de libertar, de retirar acusações, de buscar alternativas, para a saída de seu amigo, de seu afilhado no terrorismo, Luis Posada Carriles, e quando se prepara uma visita do presidente dos Estados Unidos à região, onde se reunirá, em El Salvador, com os presidentes centro-americanos. Creio que é outro dos elementos que nos indicam para onde se encaminha a política da nova administração para a América latina, e que se espera dessa chamada revisão das relações com Cuba.

Quero agradecer a vocês, que me acompanharam nesse painel na tarde de hoje, creio que com elementos suficientes para a avaliação de nosso povo sobre esse sinistro personagem, hoje representante da política norte-americana para América latina; e agradecer também aos convidados que tivemos no estúdio.

Compatriotas:

Um obscuro e sinistro personagem é o novo Secretário Adjunto para a América latina, do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Um terrorista chegou às altas esferas do governo norte-americano pelo método da imposição.

Representante dos piores interesses da extrema direita norte-americana, fiel aliado da máfia anticubana, cúmplice do genocídio dos povos centro-americanos durante a guerra suja norte-americana, partícipe do escândalo Irã-Contras, fazedor profissional da mentira, cúmplice de tráfico de drogas, padrinho de conhecidos terroristas, como Luis Posada Carriles e Orlando Bosch, lobista da Bacardi e impulsionador da criminosa Lei Helms-Burton, promotor da corrida armamentista na América Latina, Otto Reich é repudiado por numerosos políticos e personalidades dos Estados Unidos e da América Latina.

Poderá a administração norte-americana propor uma política séria para América Latina, para combater o narcotráfico, lutar contra o grave flagelo do terrorismo e conseguir a estabilidade das nações, quando o representante de sua política para a região possui tão conhecido histórico como narcotraficante, terrorista e prolixo vendedor de armas?

Será possível saber que verdade proclamam os Estados Unidos, em sua relação com a América Latina, se seu principal porta-voz para a região é um profissional da mentira?

Poderá a América Latina encontrar um interlocutor apropriado em Washington, em um personagem considerado medíocre, compulsivo, lerdo e cuja única obsessão é a Revolução Cubana?

Quanto a Cuba, as petulantes, agressivas e pérfidas declarações do capo Reich, que destilam um visceral ódio contra nosso povo, não nos intimidam nem nos tiram o sono.

Como disse ontem Fidel, no emocionante ato de 13 de março, "já nada poderá evitar que as humildes marcas que nossa Revolução vai deixando em sua passagem pela história sejam seguidas por muitos outros povos no mundo.

"De uma forma ou de outra, Venceremos!

"Assim juramos!"

Seguimos em combate!

Boa noite.