Mesa-redonda "Quem são os verdadeiros terroristas?", realizada nos estúdios da Televisão Cubana, em 22 de maio de 2002, "Ano dos Heróis Prisioneiros do Império".

 

Randy Alonso – Muito boa tarde, caros telespectadores e ouvintes.

No dia de ontem, a administração norte-americana, com sua habitual prepotência de polícia mundial, tornou pública a chamada lista de nações que patrocinam o terrorismo, na qual incluíram a Cuba, sem provas ou argumentos que o sustentem.

Desenvolvemos esta tarde a mesa-redonda "Quem são os verdadeiros terroristas?", em cujo painel me acompanham o companheiro Juan Mendoza, vice-decano da Faculdade de Direito da Universidade de Havana; Lázaro Barredo, jornalista do Trabajadores; Manuel Hevia, diretor do Centro de Pesquisas Históricas da Segurança do Estado; Rogelio Polanco, diretor do jornal Juventud Rebelde; Juan Carlos Rodríguez, pesquisador e diretor da editora "Capitán San Luis"; e Reinaldo Taladrid, jornalista do Sistema Informativo da Televisão Cubana.

Acompanham-nos no estúdio, como convidados, representantes das Tropas Especiais de nossas Forças Armadas Revolucionárias, do Exército Juvenil do Trabalho e do Comitê Nacional da União de Jovens Comunistas.

(Projetam-se breves imagens sobre o tema)

Randy Alonso – No dia de hoje, o periódico Granma publicou o editorial "Batalha de Idéias", com o qual quero começar nossa mesa-redonda:

Como era de se esperar, no dia 20 de maio, o senhor Bush lançou, de Washington e Miami, seu virulento torpedo contra Cuba. Nessa mesma data, tiraram dos horários habituais sua emissora de televisão subversiva e a colocaram no horário de nossas Mesas-Redondas. Anunciaram mais gastos, medidas e tecnologias para semear veneno em nosso país.

Dias antes, em 6 de maio, já haviam lançado, através de um Sub-Secretário de Estado, a maldosa calúnia de que em Cuba se desenvolvia um programa de armas biológicas.

Ontem, 21 de maio, ao meio-dia, divulgaram o Relatório Anual do Departamento de Estado, no qual julgam e decidem, como em muitos outros temas, quem, no mundo, patrocina o terrorismo, apóia o narcotráfico, viola os direitos humanos, etc., etc., etc.

Como de hábito, incluíram esportivamente a nosso país em uma lista de países que apóiam o terrorismo. Não se trata, sem dúvida, de um ano e um esporte qualquer. Há apenas alguns meses, o povo norte-americano foi vítima de um brutal crime desse caráter. Se a isto se soma a repetida e arbitrária inclusão de Cuba na tal lista, para provocar temor e antipatia dos cidadãos norte-americanos contra nosso país, verifica-se quão cínica e irresponsável pode ser a atuação da máfia ignorante e sinistra que goza da maior influência no círculo íntimo do Presidente dos Estados Unidos. Era tão grosseiramente mentirosa e débil a calúnia sobre armas biológicas, que alguns altos funcionários do governo tiveram o bom-senso de afastar-se discretamente da estúpida falácia. Uma perigosa guerra política relâmpago, no estilo nazista, desatada contra Cuba, com a qual os muitos bobos pensaram que nos surpreenderiam e aturdiriam.

Pôde-se ver, pela televisão, o senhor Bush em Miami: rosto colérico, cara de mau, caretas estranhas. Parecia alguém com vontade de matar, não se sabe a quem. Falava e parava. Queria acrescentar e se bloqueava. Usava frases ameaçadoras,pretendendo, talvez, infundir medo a pessoas que, como ele sabe de sobra, ou deveria sabê-lo, nunca se impressionarão com o insulto grosseiro, a raiva furiosa e as armas assassinas de um poderoso imperador com o dedo no gatilho. Só faltou a espuma, na imagem televisiva dos lábios do senhor Bush.

O público histérico, composto de apátridas, mercenários, malversadores de ontem e de hoje, e especialmente terroristas que semearam luto e morte no seio de nosso povo ao longo de mais de quarenta anos, que aplaudia freneticamente toda frase ameaçadora que se pronunciava contra nosso país e a promessa de serem duros com Cuba, manter e intensificar o bloqueio econômico, provocou repugnância e nojo em nosso heróico povo, mais que nunca unido e disposto a lutar.

Os argumentos, enganos, truques, demagogia, mentiras e calúnias do senhor Bush serão demolidos um a um.

Não importa por quantos dias se estenda esse duro combate de nossa longa luta. Estamos envolvidos no fragor de uma grande Batalha de Idéias, em uma luta sem precedentes entre a verdade e a mentira, a ignorância e os conhecimentos políticos e históricos, a cultura e a barbárie, a ética e a total ausência de princípios e valores morais, a honestidade e o cinismo; entre a opressão e a libertação, a justiça e a injustiça, a igualdade e a desigualdade, os pesadelos do passado e os sonhos do futuro, a destruição e a preservação da natureza, o extermínio e a sobrevivência de nossa espécie.

Em 19 de maio, dia de sua caída em combate, montou-se guarda permanente diante da tumba de Martí. E para todos os tempos.

Não existe, nem existirá, força no mundo que nos faça desistir, abandonar ou trair nossas nobres causas!

E sem que nada nos afaste do caminho, continuaremos sendo inabaláveis amigos e aliados do povo dos Estados Unidos e de qualquer outro povo do mundo, na luta contra o terrorismo.

22 de maio de 2002.

Assim diz o editorial "Batalha de Idéias", publicado no dia de hoje no periódico Granma, e reproduzido também no órgão da juventude cubana Juventud Rebelde.

O editorial, que proclama a batalha de nosso povo frente às novas mentiras, os falazes enganos da administração norte-americana, iniciados com o chamado perigo bioterrorista, seguido dos discursos do presidente Bush na Casa Branca e em Miami, para a máfia terrorista, seus amigos de Miami, e ontem, com a publicação da chamada lista de países que patrocinam o terrorismo, que seria melhor se chamássemos de lista terrorista dos Estados Unidos. Uma lista que não traz nada de novo, mas talvez Taladrid possa ajudar-nos a entender quais são as novidades dessa lista terrorista dos Estados Unidos.

Reinaldo Taladrid – Com muito prazer, Randy.

Primeiro, eu gostaria de dizer que esse relatório anual que se faz sobre o terrorismo, que, por uma decisão do Congresso, o Departamento de Estado deve apresentar, é um entre uma lista de relatórios feitos pelo governo do império, em que julga ao restante do mundo: você se comporta bem no narcotráfico, ou não se comporta bem;você se comporta bem no terrorismo, ou não se comporta bem, etc., etc. Julga, avalia o restante do mundo, ameaça a quem eles considerem que não se comporta bem; mas, além disso, tem uma característica: julga ao restante do planeta Terra, mas não aos próprios Estados Unidos.

Esta é uma lista mais, um exemplo mais dessa prática.

Bem, e o que diz o relatório deste ano? Em sua introdução, por exemplo, diz que neste ano morreram por terrorismo mais pessoas que nunca antes, e dá uma série de dados. Esses dados, obviamente, não incluem a quantidade de pessoas que morreram no planeta por outras formas de terrorismo, chame-se pelo apelido que se queira; por exemplo, as pessoas que morreram de fome ou por doenças curáveis, evidentemente, não estão nessa lista. É claro que se concentra em oito norte-americanos que morreram neste ano, além de voltar a recordar a tragédia do World Trade Center e tudo o que aconteceu.

O curioso é que esses oito norte-americanos morreram em lugares como Equador, Filipinas, Jerusalém, Arábia Saudita e outros, onde não há absolutamente nenhuma relação, nem têm nada a ver, de nenhuma maneira, com Cuba e nossa realidade.

Quem são os sete mencionados nesse relatório como países ou governos que patrocinam o terrorismo? No primeiro lugar da lista, Cuba, é o número um; Irã, Iraque, República Popular Democrática da Coréia, Síria e Sudão. Estes são, segundo eles, os sete governos que patrocinam o terrorismo.

O que pode acontecer com os sete sancionados pelo império, os sete mencionados nesse relatório imperial? Bem, há diversas sanções, vou lê-las – algumas, não todas –:

Diz: "Aos países que estejam incluídos nesta lista, o governo dos Estados Unidos pode aplicar imediatamente as seguintes sanções:

"1. – Cortar todas as exportações e vendas de armas a esses países." Bem, no caso de Cuba, vocês sabem que isso não tem sentido.

"2. – Estabelecer controles sobre as exportações que tenham usos duais, de acordo com notificações do Congresso.

"3. – Proibir a assistência econômica.

"4. – Requerer que os Estados Unidos se oponham a qualquer tipo de empréstimo a esses governos, no Banco Mundial e em outras instituições financeiras internacionais.

"5. – Levantar a imunidade diplomática desse país, para permitir aos familiares das vítimas do terrorismo apresentar ações civis" – isso é dinheiro, ação criminal é outro tipo de coisa; ação civil, vamos interpretá-lo, traduzi-lo facilmente, isso é dinheiro –, "em tribunais dos Estados Unidos." Cuba tem o pioneirismo nesse tema. Já se permitiu que terroristas, ou seja, que gente que pôs bombas, que realizou atos terroristas, apresentem ações em tribunais dos Estados Unidos, para buscar apropriar-se de dinheiro que, ademais, havia sido roubado de outra maneira, ilegalmente, que era cubano.

Randy Alonso – Sim, Taladrid, como se fosse pouco o que roubaram, agora, além disso, um dos maiores terrorista dessa fauna, José Basulto, entrou com uma ação de 40 milhões de dólares, por "danos emocionais".

Reinaldo Taladrid – Bem, os familiares de gente que trabalhava e que pertencia a esse grupo já haviam cobrado dinheiro, as esposas haviam cobrado. Ele é o chefe desse pedacinho da máfia, e agora está pedindo 40 milhões, não é isso?

Randy Alonso – Quarenta milhões.

Reinaldo Taladrid – José Basulto está pedindo 40 milhões de dólares, de dinheiro que pertence a Cuba, para tratar de se apropriar dele.

Continuam dizendo essas sanções, que – como vocês vêem – não fazem absolutamente nada a Cuba, porque este é, possivelmente, o país mais sancionado pelos Estados Unidos que há no planeta.

"Recusar benefícios de impostos às companhias e indivíduos que comerciem com esses países." Bem, aqui perseguem a quem comercia com Cuba, sancionam, prendem, etc.

Lázaro Barredo – Pedem-lhes 200 anos.

Reinaldo Taladrid – Sim, exatamente, de maneira que isso não assusta a ninguém aqui.

Diz: "Proibir que qualquer pessoa norte-americana se envolva em qualquer transação financeira com os países incluídos na lista, sem uma autorização do Departamento do Tesouro." Bem, para Cuba, isso é história antiga.

E "Proibir ao Departamento de Defesa contratos de mais de 100.000 dólares com companhias controladas por países dessa lista".

Como vocês vêem, essas são as medidas, o que implica, segundo o governo norte-americano, a sanção por estar nessa lista. No caso de Cuba, além da calúnia, da infâmia de incluir a Cuba na lista, as medidas são conhecidas, pois, com outros pretextos, faz tempo que se aplica a Cuba esse tipo de medidas.

Quero, finalmente, comentar rapidamente três coisinhas:

Um: em que contexto se faz isso? Inclui-se a Cuba nessa lista, em determinado contexto; além do que diz o editorial, eu gostaria de acrescentar que agora, nos últimos dias, começaram a tornar pública uma imensa série de novas ameaças graves para o povo norte-americano. Digo ameaças graves, porque nenhuma se materializou: que vão explodir edifícios de apartamentos; que vão contaminar a água; que vão explodir a ponte de Brooklyn. Caiu um pacotinho e parece que fecharam a ponte de Brooklyn hoje, e era um pacotinho inofensivo.

Randy Alonso – Hoje de manhã.

Reinaldo Taladrid – Então, quando você está dizendo ao povo norte-americano todas essas coisas, todos os dias, e quem está dizendo são os mais altos funcionários do governo, e em seguida aparece essa lista, supõe-se que esses sejam os governos que patrocinam essas idéias, que podem ou não acontecer; podem, desgraçadamente, acontecer, ou podem não acontecer; mas nesse contexto sai essa lista.

Segundo:nesse momento, a política dos Estados Unidos em relação a Cuba está recebendo o maior questionamento, talvez, dos últimos 42 anos, dentro dos Estados Unidos, na opinião pública, na sociedade civil, nos políticos, nos homens de negócios. Nunca havia sido tão questionada, e todas as pesquisas de opinião ou de setores específicos dão que essa política não serve, sob nenhum ponto de vista, e isto é um esforço, mais uma tentativa de justificar a política que inclui o bloqueio, como todos sabemos.

Terceiro e último: observem quantas mentiras em apenas um mês, creio que em menos de um mês: armas biológicas, aviões na Venezuela, agora Cuba promotora do terrorismo, etc. etc. Quantas mentiras em tão pouco tempo.

Não se pode descartar, não se pode deixar de ter em conta, como um elemento a mais, a presença, como encarregado da política exterior dos Estados Unidos para América Latina, de Otto Reich, o grande desinformador, o maior mentiroso que teve, em sua história, a política dos Estados Unidos para a América Latina. Portanto todas essas mentiras coincidem com a presença de um homem que é o grande desinformador.

Essas são, Randy, algumas coisas que eu podia comentar sobre esse "Relatório sobre o terrorismo" apresentado pelo Departamento de Estado.

Randy Alonso – E um relatório que – como você dizia – coloca medidas que não são alheias a Cuba, porque todas já estão incluídas no bloqueio contra o nosso país; mas na questão política, sim, tem um enorme significado – como dizia o editorial – que, depois do 11 de setembro, se esteja classificando a Cuba como nação terrorista e que, ademais, encabece essa lista, para o Departamento de Estado dos Estados Unidos, para o governo norte-americano. Como você assinalava, não são apenas os argumentos que apresentam, porque não há nenhum argumento, mas que Otto Reich diga que essa é a lista, e que ele, além disso, possa dizer que Cuba é bioterrorista, que os cinco patriotas cubanos prisioneiros em cárceres norte-americanas iam semear o terrorismo nos Estados Unidos. O senhor Reich disse isso ontem, nessa comissão que estava discutindo o tema do comércio com Cuba. Parece que, além da área americana do Departamento de Estado, ele dirige o Departamento de Desinformação e, então, passou por cima de seu chefe, Colin Powell, que foi quem apresentou esse relatório.

O certo é que a apresentação da lista, ontem, provocou sérios questionamentos da imprensa norte-americana, que se perguntou quais seriam os argumentos para incluir a Cuba nesse relatório sobre o terrorismo, que as respostas obtidas demonstram que é uma falácia. Rogelio Polanco pode falar-nos sobre isso.

Rogelio Polanco – Sim, o embaixador Taylor, que é quem apresenta, junto com Powell, essa lista de países patrocinadores do terrorismo no mundo, coisa que os Estados Unidos vêm fazendo de maneira sistemática durante todos esses anos, teve de enfrentar as perguntas dos jornalistas, e ficou bem mal parado.

Há um jornalista que lhe pergunta: "O Departamento de Estado tem alguma evidência que nos possa dizer sobre planos terroristas, com ou sem êxito, que envolvam a Cuba, ou isso é simplesmente uma denúncia política?" Ou seja, as pessoas sabem o que está por trás disso. Então o embaixador Taylor diz:

"Quanto a Cuba, sua história em relação ao terrorismo, bem, é um pouco ambivalente, para ser sincero. O presidente Castro condenou os atentados de 11 de setembro, mas não renunciou ao terrorismo como legítima ferramenta política e de Revolução." Vejam isso, que infâmia! É claro que o jornalista não fica quieto. Diz o jornalista: "Mas como o senhor não menciona nenhum complô ou suspeitas diretas, infere-se que o Departamento de Estado não tem nada que vincule Cuba a ataques terroristas." Responde o embaixador Taylor: "Não temos nenhuma informação desclassificada a que possamos fazer referência publicamente neste momento." Ou seja, é evidente que ficaram novamente pendurados no pincel em relação a esse tema.

Lembremo-nos de que houve uma cortina de fumaça nos últimos quinze dias, desde que o senhor Bolton, o sub-secretário de Estado, no dia 6 de maio, lançou aquela infâmia de que Cuba era um Estado que produzia armas biológicas e que, além disso, comercializava-as com outros países, algo que foi totalmente desmentido por Cuba e, é claro, por muitos funcionários dos Estados Unidos.

Falando de lista de países promotores do terrorismo, há uma lista de vários funcionários norte-americanos que não puderam apresentar nenhuma prova, nesses quinze dias, de que aquele senhor tivesse razão. Pelo contrário, caiu totalmente no ridículo. Bem, recordemos que o próprio presidente Carter, em visita ao Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, negou essa acusação e, além disso, expressou claramente que, antes de sua viagem, havia-se reunido com funcionários da Casa Branca, do Departamento de Estado e da Inteligência, e que essas pessoas, a suas insistentes perguntas, disseram-lhe que não havia nenhuma evidência.

O secretário de Estado Powell, uma semana depois, no dia 13 de maio, contestou a Bolton, seu subordinado, disse-lhe que, de fato, não havia qualquer evidência sobre isso, desmentiu-o totalmente, e disse que isso que Bolton dizia não tinha nenhum sentido; não o disse assim, mas foi realmente o que se entendeu de suas declarações.

Randy Alonso – O senhor Powell dizia que não havia nenhuma evidência de que Cuba estivesse produzindo, mas que, bem, Cuba tinha a capacidade de poder produzir, por suas instalações, etc., etc., mas que não havia nenhuma evidência concreta de que isso estivesse acontecendo.

Rogelio Polanco – Algo que, é óbvio, têm os que contam com capacidade para fazer muitas coisas, o problema é como são usadas as capacidades tecnológicas dos países.

O secretário de Defesa, Rumsfeld, disse claramente que não tinha conhecimento de relatórios do Departamento de Estado em relação a esse tema. A conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, também hesitou, quando lhe perguntaram sobre esse tema. Isso foi no próprio 20 de maio, dia dos discursos do Presidente, quando um jornalista lhe pergunta: "Bem, a administração considera que Cuba é parte desse eixo do mal?", e ela disse: "Bem, veja, os cubanos não pertencem a nenhum grupo no hemisfério, estão fora de grupo, onde quer que se tente colocá-los", uma coisa assim; ou seja, que também não pôde dar nenhuma justificativa. E o presidente Bush, nos dois discursos, o de Washington e o de Miami, não pôde absolutamente nem sequer mencionar a palavra terrorista vinculada a Cuba, e muito menos a de bioterrorismo. Assim que é uma coisa que ficou acima de qualquer dúvida, de toda evidência.

Além disso, no próprio relatório se reconhece, de certa maneira, que Cuba foi um dos primeiros países que assinou e que completou o processo de adesão aos 12 acordos internacionais de luta contra o terrorismo. Recordemos: primeiro, que Cuba não hesitou, algo que o relatório diz aqui em relação a Cuba: "Bem, desde 11 de setembro, Fidel Castro hesitou na guerra contra o terrorismo". Não, Cuba não hesitou, Cuba foi o primeiro país que denunciou, que condenou os brutais atos terroristas de 11 de setembro e, além disso, o primeiro que expressou sua cooperação com os Estados Unidos, incluindo a possibilidade de abrir seus aeroportos aos aviões norte-americanos. Foi o primeiro país que, corajosamente, sendo um dos que tem sido vítima das ações terroristas durante mais de 40 anos, disse que esse problema não pode ser enfrentado com guerras, mas somente com a cooperação internacional e, além disso, fez um debate nacional em relação à lei antiterrorista em nosso Parlamento e expressou, como diz hoje o próprio editorial do Granma, que Cuba continua sendo aliada do povo norte-americano em sua luta contra o terrorismo.

É evidente, Randy, que foi um processo de mentiras e que, nas últimas semanas, esteve ligado a essas infâmias sobre o bioterrorismo, que não pôde ser sustentado nem na lista, nem no relatório, nem nas mentiras ditas por alguns de seus funcionários.

Randy Alonso – Sem dúvida, foi um exercício mental de imaginação, o que tiveram de fazer os governantes norte-americanos e o Departamento de Estado, para poder incluir a Cuba na lista de Estados terroristas. Não era sem razão que o jornalista lhe perguntava: "Mas, além das motivações políticas, quais são os argumentos?", porque estava claro para todos aí que a inclusão de Cuba naquela lista não era outra coisa senão o argumento político que a administração necessitava, para continuar com seu plano agressivo contra nosso país, para sustentar o discurso feito pelo presidente Bush em Miami, diante da inflamada massa de terroristas e seqüestradores de crianças que ali se reuniram, e que significa que os Estados Unidos novamente persistem em sua política agressiva contra nosso país. Todas essas mentiras, enganos, truques e falazes calúnias, como diz o editorial do Granma, calúnias do Presidente norte-americano e também de sua administração, ao longo dos últimos dias, que não são mais que pretextos para manter essa permanente política agressiva contra a Revolução Cubana, contra o povo de Cuba, obrigam-nos a não faltar com a história e a não faltar com a verdade, e lembrar hoje quem são os verdadeiros terroristas.

(Projetam imagens históricas sobre atos terroristas contra Cuba)

Randy Alonso – Diversos planos para impedir o triunfo do Exército Rebelde, e que os norte-americanos, em seus documentos, denominavam "a vitória de Castro", começaram a forjar-se antes de 1959. Documentos desclassificados revelam que a administração do presidente norte-americano Eisenhower urdiu planos alternativos para impedir o triunfo da Revolução, e para que tudo fosse uma mera troca de figuras, sem atentar contra a base do sistema neocolonial existente naquele momento em nosso país.

Em 23 de dezembro de 1958, o diretor da CIA, Allen Dulles, afirmou: "Devemos evitar a vitória de Castro". Mas como não puderam evitá-la, como no Primeiro de Janeiro de 1959 a Revolução triunfou e trouxe a liberdade a nosso povo, começaram, desde os primeiros momentos do triunfo, uma guerra suja e terrorista contra a Revolução e contra seu povo. Uma história que o povo cubano não esqueceu, que rememorou durante a Demanda contra o governo dos Estados Unidos, e que, em um momento como hoje, quando se fala e se pretende classificar a Cuba como terrorista, nosso povo pode recordar ao presidente Bush e a sua administração quem são os verdadeiros terroristas e quem foram as vítimas, por mais de 40 anos, desse terrorismo praticado a partir dos Estados Unidos.

O que começou tão cedo, já em 1959, pode dizer-nos quem foram os motivadores do terrorismo no mundo e, especialmente, contra nosso povo; 1959 marcou um momento em nossa história, e proponho a Lázaro Barredo que dele se aproxime.

Lázaro Barredo – Obrigado, Randy.

Em realidade, como você dizia, agora mesmo, quando falava da imaginação, eu creio que quem escreveu o discurso do presidente Bush de 20 de maio – falo do discurso pronunciado na Casa branca – devia receber pelo menos um Oscar pela ficção do roteiro, porque realmente o que ele disse está cheio de ficções. E uma das coisas que mais indigna é ter ouvido o presidente Bush dizer que "os Estados Unidos não têm intenções de definir a soberania de Cuba, essa não é parte de nossa estratégia nem de nossa visão; de fato, os Estados Unidos apoiaram de maneira enérgica e constante a liberdade do povo cubano".

Isso é uma imensa burla sobre o que aconteceu, porque, na raiz da história nacional, no centro de todo o nosso problema nacional, esteve precisamente a necessidade de enfrentar a hegemonia e a voracidade norte-americanas por impedir a independência de nosso país. E precisamente em Primeiro de Janeiro de 1959, começa nessa luta nacional a selvagem política de agressão dos Estados Unidos, cuja primeira ação contra nossa nação, contra nosso país, foi receber em seu seio os torturadores, esbirros, as pessoas que encheram de terror a nação cubana, que aterrorizaram a família cubana, a juventude cubana, recebê-las com total aceitação em território norte-americano, garantindo impunidade ao crime aleivoso que haviam cometido contra nossa nação, de cerca de 20.000 jovens assassinados; que haviam roubado o erário público, o ditador tinha levado 300 milhões, e seus principais colaboradores haviam desfalcado o país, haviam levado bilhões de dólares para o território norte-americano, e a primeira coisa feita por esse governo de Eisenhower, como política de agressão contra nosso país, foi receber aquelas pessoas que se foram ilegalmente, sem documentos, para os Estados Unidos. É o antecedente do que, depois, seria a Lei de ajuste; a Lei de ajuste que, naquele momento, como dissemos em outras mesas-redondas, foram os dos iates, os que roubaram os aviões e saíram, na madrugada do primeiro de janeiro, para o território norte-americano, que ali foram recebidos, que foram aceitos, e por quem os Estados Unidos – apesar de todos os crimes e de toda a documentação que lhes foi apresentada sobre esses crimes – violaram o tratado de extradição que tinham firmado com Cuba desde 1904. E essa política de agressão se acelera, ademais, a partir do pensamento independentista da geração que toma o poder em Primeiro de Janeiro de 1959.

Quero realmente chamar a atenção de nosso povo – porque há coisas que mostram a política de princípio imutável da Revolução e do pensamento revolucionário cubano – sobre um discurso pronunciado pelo companheiro Fidel em 13 de janeiro de 1959. Fidel havia entrado em Havana em 8 de janeiro, este discurso é de cinco dias depois:

"Acabou-se a Emenda Platt" – diz Fidel –, "que foi uma injustiça imposta a uma geração que lutou pela independência, aquela lei que precisamente lhe tirava a independência. Já não há regime castrense, já não há militares que possam trair a Revolução, tomando o poder, como aconteceu em 1933, e pela primeira vez há homens dignos à frente do país, que nem se vendem, nem claudicam, nem se acovardam diante de nenhuma ameaça, e que estão dispostos a agir serenamente, sem nenhum tipo de excesso, decididos a jamais usar a força; mas, atenção, que não se confunda uma coisa com a outra.

"Creio que este povo tem os mesmos direitos que outros povos de se governar, de traçar seu próprio destino, liberrimamente, e de fazer as coisas melhor e mais democraticamente do que fazem outros que falavam de democracia e mandavam tanques Sherman a Batista."

Esse é o discurso de 13 de janeiro de 1959, que respondia às campanhas que já se realizavam, a partir dos Estados Unidos, contra as medidas que estávamos adotando em nosso país, para, atendendo a um pedido de nosso povo, castigar os assassinos, torturadores e ladrões do regime batistiano, que tiveram de responder diante da justiça e diante dos reclamos sobre esses terroristas, que foram para território norte-americano e que receberam não apenas total benevolência por parte das autoridades norte-americanas, mas também todo o apoio para desenvolver suas atividades terroristas contra nosso país.

Para se ter uma idéia, em 15 de janeiro, dois dias após esse discurso do companheiro Fidel, um grupo de congressistas norte-americanos pediu a intervenção dos Estados Unidos em Cuba. O representante Wayne Hays – quem sabe, é parente de Dennis Hays, o atual vice-presidente da Fundação – declarava que se devia considerar o envio de tropas a Cuba, além da aplicação de sanções econômicas, como a diminuição da quota açucareira e o embargo comercial. Estamos falando já de 15 de janeiro.

Em 10 de março de 1959, o Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, que era o órgão assessor do então presidente Eisenhower, reúne-se em segredo para discutir as vias para colocar outro governo no poder em Cuba. Ou seja, institucionalmente, o governo dos Estados Unidos já está programando idéias para derrubar, por qualquer meio, a Revolução triunfante de Primeiro de Janeiro de 1959.

Em 30 de março, o general Maxwell Taylor, chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos, declara, diante do Congresso daquele país – estou citando – "a Revolução Cubana poderia ser o começo de uma série de convulsões na América Latina, que darão oportunidades aos comunistas para ocupar posições".

Em abril daquele ano, a revista Times expressa o pensamento dos conservadores norte-americanos, ao declarar que a neutralidade de Fidel Castro era um desafio para os Estados Unidos; porque, nessa concepção intervencionista, nem mesmo neutro podia ser nosso país. Realiza-se, então, a primeira visita do Comandante aos Estados Unidos, e aí está o memorando secreto que o então vice-presidente Nixon escreve, deixando sua impressão após o contacto com o companheiro Fidel, assinalando que Fidel era comunista e sugerindo, implicitamente, que se começasse a pensar na derrubada do poder revolucionário em Cuba.

Em julho daquele ano, um sub-comitê de segurança interna dos Estados Unidos realiza uma audiência para escutar aos conhecidos criminosos de guerra e assassinos do derrocado regime batistiano, como Manuel Ugalde Carrillo, ex-chefe do Serviço de Inteligência Militar; Francisco Tabernilla Dolz, ex-chefe do exército; Francisco Tabernilla Palmero, Cilito; ex-chefe das forças blindadas da tirania; Merob Sosa, ex-oficial do exército e conhecido assassino; Andrés Rivero Agüero, ex-presidente eleito na farsa eleitoral de 1958; Rafael Díaz-Balart, ex-ministro de Governo; Aurelio Arsenio Silva González, ministro do Trabalho; outros oficiais da ditadura batistiana e outros batistianos famosos.

Também há que dizer que nesse mesmo mês de julho realizam uma audiência especial, para escutar o traidor Pedro Luis Díaz-Lanz, que depois viria a Havana e faria atentados em nosso país, lançando bombas. Está o famoso atentado que realiza no dia 21 de outubro de 1959, em que duas pessoas são mortas, e 47, feridas, como conseqüência dessa ação terrorista de Pedro Luis Díaz-Lanz, que depois passeava impunemente pelos Estados Unidos, e que usava Miami como base para realizar essas ações.

A partir de território norte-americano, e com a anuência das autoridades norte-americanas, os batistianos constituíram uma organização terrorista, a primeira que acionaram contra nosso país, a Rosa Branca, que foi organizada pelo pai do atual congressista Lincoln Díaz-Balart, o mesmo que o presidente Bush saudou, abraçou, tanto em Washington como em Miami. O cabeça Rafael Díaz-Balart, que – como eu já disse – foi ministro de Governo no governo Batista, criou essa organização terrorista, integrada por Pilar García e seu filho Irenaldo, Merob Sosa – que já mencionei – e outros funcionários da ditadura batistiana, bastante comprometidos com todos os horrores cometidos por essa ditadura.

Essa mesma organização, com a cumplicidade dos Estados Unidos, associou-se ao ditador Fulgencio Batista e ao ditador dominicano Rafael Leónidas Trujillo, para organizar a conspiração trujilista, que foi descoberta e definitivamente liquidada pelas forças revolucionárias em agosto de 1959.

Com o conchavo dessas personalidades, realizaram-se os primeiros levantamentos contra-revolucionários em nosso país. Entre janeiro e abril, ocorreram os primeiros levantes armados realizados por esbirros da ditadura como, por exemplo, em Pinar del Río, o cabo Lara e "Cara Linda", para mencionar apenas dois exemplos; em Matanzas, Graciliano Santamaría Rodríguez. No último trimestre de 1959, em Las Villas, houve o levante de Pedro Ramón Rodríguez Hernández, e na antiga província do Oriente, Olegario Charlot Pileta e Carlos Caraballo Guzmán.

Naquele mesmo ano de 1959, começaram os bombardeios contra cidades e contra usinas açucareiras, a queima de cana, a sabotagem terrorista contra a economia de nosso país; incêndios e atividades de todo tipo em diversas usinas açucareiras; a metralha de um trem na província de Las Villas. Ou seja, uma porção de ações terroristas, que já oferecem uma imagem do monstruoso crime que a partir dos Estados Unidos, e com a anuência das autoridades norte-americanas e seu total apoio e compromisso, começaria a desenvolver-se nos anos seguintes.

Randy Alonso – Um exemplo evidente disso, Lázaro, é que, em 21 de outubro, como você assinalou, Pedro Luis Díaz Lanz, o traidor terrorista, em um avião procedente dos Estados Unidos, lançou propaganda contra-revolucionária aqui na Cidade de Havana e também bombardeou a cidade, com o saldo de duas pessoas mortas e 47 feridas; nesse mesmo dia, outro avião procedente dos Estados Unidos bombardeou a usina "Violeta", hoje "Primeiro de Janeiro", em Ciego de Ávila, e um avião, também procedente dos Estados Unidos, bombardeou a usina "Punta Alegre" hoje "Máximo Gómez", no município Chambas, de Ciego de Ávila. Três objetivos diferentes, num mesmo dia, com bombardeios em aviões que vinham de território norte-americano.

No dia seguinte, 22, outra pessoa morreu e mais uma ficou ferida, pelo bombardeio de uma vião B-26 sobre a mesma usina "Punta Alegre", em Chambas, Ciego de Ávila. Uma demonstração de como começaram esses ataques terroristas contra nosso país, impulsionados pela administração norte-americana, utilizando, como instrumento dessas ações, os batistianos que se foram do país, que traíram a Revolução naqueles primeiros momentos e que tentaram criar um caos no país, e, sobretudo, a partir daquela Lei de Reforma Agrária, que significou o golpe mais duro às propridades norte-americanas em nosso país, e que deu terra a seus verdadeiros proprietários, os camponeses.

O senhor Bush, que tanto fala da propriedade privada, devia saber que essa foi a maior distribuição de propriedade que já houve em toda a história de Cuba, que foi dar a terra aos camponeses de nosso povo. Aquela medida foi a que ocasionou que, entre outras coisas, se intensificasse a luta contra-revolucionária, contra o processo nascente, e que os Estados Unidos incrementasse suas ações contra nosso país. Tanto é assim, que, já nos primeiros meses de 1960, o governo norte-americano adota oficialmente um detalhado plano de agressão contra a Revolução Cubana, do qual Reinaldo Taladrid pode nos dar alguns detalhes.

Reinaldo Taladrid – Com prazer, Randy.

A primeira idéia que quero passar é que observem que são as mais altas figuras da administração, os políticos norte-americanos, os que estão avaliando e dizendo o que se deve fazer e, evidentemente, chamando todos os ramos do governo para sua execução.

Em 16 de março de 1960, aprovam-se esses dois planos no Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos.

Quero dizer uma coisa. O Conselho Nacional de Segurança está na Casa branca, é o coração do governo em tudo que tenha a ver com política externa, segurança nacional e temas internacionais, e nele está o Presidente dos Estados Unidos, participa o Vice-Presidente e toda a sua equipe. Ou seja, que é diretamente o coração da administração nesses temas. Evidentemente, vão especialistas de muitas agências do governo, mas é aí onde se tomam as decisões.

O que se aprova, em 16 de março de 1960, no Conselho Nacional de Segurança? Aprovam-se dois planos:

O primeiro se chama Programa de Ação Encoberta contra o regime de Castro. Aqui há uma coisa importante a ressaltar. Esse programa tem quatro pontos, mas o resultado final desse plano, não cabe dúvida de que a execução desses dois planos leva à ação direta de Playa Girón, como depois a vida mostra que o fracasso de Girón leva à Crise de Outubro, e isso está nos documentos. Não é especulação minha. Diz esse documento:

"Será feito todo o possível para executá-lo, de tal forma, que a capacidade de ação dos Estados Unidos aumente progressivamente" – Estados Unidos, não os peões – "no caso de uma crise". Ou seja, desde o princípio está previsto que os Estados Unidos terão de envolver-se diretamente, ou muito mais que o previsto.

Dizia que esse primeiro dos dois planos, o Programa de Ação Encoberta contra o regime de Castro, tem quatro pontos principais.

O primeiro diz: "Criar uma oposição cubana" – observem a palavra-chave, o verbo da oração já diz tudo: "criar", "fabricar", observem quanta atualidade, quanta vigência histórica tem isto – "que deve estar necessariamente localizada fora de Cuba" – como isto é revelador, para entender bem essa história –, "em forma de conselho ou junta, por meio da criação de três grupos de oposição" – e olhem esta palavra – "aceitáveis, com os quais a Agência Central de Inteligência está em contacto". Desde o princípio se diz: Criar uma oposição que seja aceitável para o governo dos Estados Unidos, esse é o primeiro ponto dos quatro.

O segundo: "Para que a oposição" – e estou citando a tradução do documento, entendam-me, por isso uso essa linguagem, estão ouvindo o que foi aprovado no Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos – "possa ser escutada, iniciar uma poderosa ofensiva de propaganda em nome da oposição" – veja que revelador! iniciá-la, quem? o governo dos Estados Unidos, em nome da oposição. Novamente se vê que, ainda que esteja falando um traidor de origem cubana, ou qualquer outro, quem está falando é o governo dos Estados Unidos, e isso diz o documento, em nome da oposição – "mediante a criação de uma emissora de rádio clandestina que transmitirá por ondas longas e curtas, e provavelmente se localize na ilha de Swan". Isso foi a Rádio Swan, que não foi mais que a antecessora do que hoje se chama Rádio "Martí", do governo dos Estados Unidos, paga pelo governo dos Estados Unidos, e que fala "em nome" dessa oposição que diz que já foi "criada" pelo governo dos Estados Unidos. Todo mundo sabe o que foi isso, um instrumento de guerra, de guerra psicológica, de desinformação, etc., a especialidade do atual Sub-Secretário de Estado para a América Latina, esses são os antecedentes.

Ponto número três desse plano: "Criação de uma organização secreta de inteligência e ação dentro de Cuba, que responderá às ordens e instruções da oposição no ‘exílio’" – eles mesmos aspeiam exílio – "cujo papel será, um, proporcionar informação importante de inteligência. Dois, promover a infiltração e retirada de indivíduos, ajudar a distribuição interna de propaganda, planejar a dissidência" – ano de 1960, março de 1960, e já se diz "planejar a dissidência" – "e organizar grupos como se indique". Novamente tudo isso concebido e criado pelo governo dos Estados Unidos.

O número quatro, o último desse primeiro plano, diz: "Criar uma força paramilitar adequada, fora de Cuba, bem como os mecanismos para o necessário apoio logístico a operações militares encobertas na ilha". De que se trata? Trata-se disso mesmo: "criar uma força militar", e as forças militares vêm para disparar, para pôr bombas e atirar granadas, não vêm fazer outra coisa, paga pelo governo dos Estados Unidos, para que atue de maneira encoberta na ilha. E o que é isso? de que se trata aqui? Está-se criando um grupo militar para que vá atuar em outro país, isso é terrorismo, ou o quê? Como se chama isso que foi aprovado pelo governo dos Estados Unidos?

Quero mencionar apenas mais uma coisa desse plano, antes de passar ao outro. Diz esse documento, em um ponto específico:

"A direção. Serão feitos todos os esforços possíveis para" – ouçam essa palavra – "selecionar um presidente, dada a urgência de um sucessor para Castro". Observem, "selecionar um presidente", diz aqui, em 1960. "Como a possibilidade de derrubar a Castro se faz mais iminente" – deixem-me confirmar, vejamos, isso foi em 1960, a iminência já tem 42 anos –, "deve-se selecionar um líder com apoio norte-americano concentrado nele".

Como selecionar o futuro presidente de Cuba? Aqui está em detalhes, e, bem, isso da iminência, vocês já viram, 1960, faz 42 anos.

O segundo plano que aprovaram nessa reunião é o "Programa de pressões econômicas contra Castro", chama-se assim. Outra coisa, este não foi desclassificado, possivelmente pela vigência que tem e porque isto não é mais que o bloqueio antecipado, como terrorismo; não como instrumento político, ou de mudança, como se diz, mas como terrorismo.

O que se sabe disso, ao contrário do primeiro plano, é pelas notas, que essas sim foram desclassificadas, de gente que estava na reunião do Conselho Nacional de Segurança que mencionei, por isso é que não se sabe o resto.

Que diz esse segundo plano?, "Programa de pressões econômicas contra Castro".

"Um: Sabotagem às negociações de Cuba." Isso continua em vigor.

"Dois: Sabotagens contra objetivos econômicos no país." Isso é fazer explodir uma bomba em uma usina, queimar um canavial em Cuba, com meios e métodos terroristas.

"Três: Cortar o abastecimento de petróleo a Cuba, por seu efeito devastador paralelo, em um período de um mês a seis semanas." Cortavam o abastecimento de petróleo a Cuba, cometiam um ato de genocídio, paralisavam um país, segundo eles, em um mês ou seis semanas.

"Quatro: Suspender toda relação entre ambos os países, tornando sem efeito os acordos comerciais de 1903 e 1934." Um exemplo do que é a liberdade de comércio, como o governo decide com quem devem ou não comerciar seus empresários.

"Cinco: Influir sobre os empresários norte-americanos, para que se retirem de Cuba e para que se suspendam os novos investimentos." Isso continua vigente.

"Seis: Redução do turismo norte-americano." Obviamente, continuam perseguindo-o.

"Sete: Redução da quota açucareira." Outra forma de estrangulamento econômico e de genocídio.

"Oito: Suspender a partir de 29 de setembro as operações da usina de concentrado de níquel em Nicaro, Oriente."

E um comentário: Um relatório um pouquinho posterior, chamado relatório Mallory, diz o seguinte: "O único meio previsível para reduzir o apoio interno" – refere-se à Revolução – "é através do desencanto e do desalento baseados na insatisfação e nas dificuldades econômicas. Deve-se utilizar imediatamente qualquer meio concebível para debilitar a vida econômica de Cuba."

E, se ainda resta alguma dúvida, de acordo com um documento desclassificado – estamos falando do ano de 1960 –, o presidente Eisenhower, presidente dos Estados Unidos, comentou com um de seus assessores que "caso fosse necessário, seria estabelecida uma quarentena contra Cuba, pois se o povo cubano" – diz o presidente dos Estados Unidos, dito no ano de 1960 –- "padecer de fome, derrubará a Castro." Este é o verdadeiro objetivo do que depois foi o bloqueio: asfixiar a Cuba, que o povo padeça fome. Todo esse discurso de que o bloqueio busca a democracia, etc., desnuda-se aqui: que a gente morra, que padeça fome, para que, segundo eles, dessa forma derrubem a Fidel Castro. Essa é uma forma de terrorismo, aprovada na Casa branca, pelo Conselho Nacional de Segurança, e que desnuda muitas das falácias ditas em 20 de maio, nos dois discursos.

Randy Alonso – Uma rememoração que o senhor Eisenhower queria fazer da Reconcentração de Weyler, em que tantos cubanos morreram, durante nossas guerras de independência.

Mas, como você dizia, um elemento central desse documento, que é, em si, um compêndio de ações terroristas contra nosso país, era a sabotagem, os atentados contra os dirigentes da Revolução, desatar um completo clima de terror dentro do país e provocar uma mudança de governo ou a derrubada da Revolução.

Muitas foram as ações terroristas durante o ano de 1960 e 1961, e eu proponho a Rogelio Polanco falar-nos de algumas das principais ações terroristas anteriores à invasão mercenária de Playa Girón.

Rogelio Polanco – Foi uma verdadeira escalada de terrorismo a dos anos 1960 e 1961. Quando alguém volta a repassar a história e ver o que se fez contra nosso país, e o que a Revolução teve de enfrentar, a Revolução triunfante, nesses primeiros anos, é realmente uma ação agressiva e terrorista terrível. E há um precedente, uma macabra ironia, que foi o uso dos aviões para provocar o terror em nosso povo durante todo esse tempo. Há um imensa lista de incursões ilegais e agressivas, terroristas, de aviões, a partir de território dos Estados Unidos, que, com absoluta impunidade e tolerância, entraram em território cubano, simplesmente para bombardear, para metralhar, para provocar o terror em nosso povo.

Há dados, por exemplo, de que apenas entre setembro e dezembro – nesses quatro meses do ano de 1960 – realizaram-se mais de 50 violações do espaço aéreo cubano no território da província de Havana; ou seja, que quase a cada dois dias se efetuava uma dessas violações do espaço aéreo e lançamento de propaganda terrorista, contra-revolucionária, sobre os povos e cidades.

Há um relatório do inspetor geral da CIA, Lyman Kirkpatrick, que diz que, durante esse período, deixaram cair sobre Cuba um total de 12 milhões de libras de volantes, convocando, é claro, à sabotagem, ao terror nas instalações de nosso país.

Evidentemente, a metralha e o bombardeio sobre povos e cidades provocaram numerosas vítimas e prejuízos materiais. Tenho alguns exemplos que devemos recordar, para que nossa memória histórica não se perca: o lançamento, em janeiro de 1960, de quatro bombas de 100 libras sobre os povos de Regla e Cojímar, aqui mesmo na capital, que puseram em perigo a população civil – e nessa incursão aérea vinham pilotos norte-americanos, Bob Spining e Eduardo Whitehouse que eram os pilotos desse ataque contra esses dois povoados da capital –; o lançamento, em 11 de fevereiro de 1960, nada menos que de fósforo vivo sobre o povoado de El Cano, também na capital, e metralha, em outubro e dezembro desse ano, das cercanias de Rio Cristal, de Rancho Boyeros e Arroyo Arenas, também na capital.

Produz-se realmente um açodamento contra as usinas açucareiras. Já se falou que isso vem desde o ano de 1959, mas em 1960 e 1961 realmente foram atacadas dezenas de usinas açucareiras, e milhões de arrobas de cana foram queimadas, e os danos materiais foram tremendos, inumeráveis, e provocaram, além disso, a morte de várias pessoas. Tenho aqui apenas um exemplo de um deles, o ataque a um objetivo econômico, como foi a usina Espanha, hoje Espanha Republicana. Nessa ocasião, explodiu em pleno vôo o pequeno avião Piper Comanche 250, tripulado também por um norte-americano, Ellis Frost, que estava acompanhado por Onelio Santana Roque, ex-membro dos corpos repressivos da ditadura. E entre os documentos que se encontraram com os tripulantes, evidenciava-se a relação com três ações anteriores e também que cobrariam 1.500 dólares por esse bombardeio.

Há as ações de abastecimento dos bandos terroristas, também por aviões; recordemos esse acontecimento, igualmente terrorista, desse período. O uso dos aviões também como meio de terror, ao seqüestrá-los, começou nessa etapa, em que foram roubados e conduzidos aos Estados Unidos, em primeiro lugar, por criminosos de guerra, os assassinos batistianos, primeiro em 1959, e isso depois continuou durante muitos anos, até converter-se também em um bumerangue contra o governo norte-americano.

Tenho alguns exemplos daquela época: houve um dia, 14 de outubro, em que seqüestraram quatro aviões da agricultura, na província de Matanzas, na cidade de Colón. Houve também mortes; por exemplo, em 29 de outubro de 1960, em um DC-3 de Aerovias Q, foi assassinado o soldado de escolta Cástulo Acosta Hernández, e foram feridos o piloto Candelario Delgado Ruiz e o menino de 14 anos, Argelio Rodríguez Hernández, passageiro desse vôo. E em 8 de dezembro, no DC-3, de matrícula CUT 172, da Cubana de Aviación, foi assassinado, em pleno vôo, o piloto Francisco Martínez Malo.

Aconteceu o mesmo, como também recordamos, com as embarcações.

As sabotagens terroristas foram muito freqüentes, nesses anos de 1960 e 1961: atos de terror contra instalações públicas, desde cinemas, teatros, escolas, comércios, todo tipo de instalações, e o objetivo, é claro, era criar o pânico, o terror entre a população.

Randy Alonso – Inclusive os meios de comunicação também sofreram sabotagens.

Rogelio Polanco – É verdade, o jornal Revolución, a revista Bohemia.

Randy Alonso – O jornal La Calle.

Rogelio Polanco – Tenho aqui outras instalações econômicas sabotadas, o aqueduto do Cerro, o frigorífico de Jovellanos, a usina elétrica de Tallapiedra, os estúdios de televisão CMQ, a refinaria Belot, hoje "Ñico López", também sofreram os ataques e as ações de sabotagens terroristas naquela época.

Há que recordar dois atos criminosos muito importantes, que são a sabotagem ao barco francês La Coubre, que naquele momento, 4 de março de 1960, encontrava-se no porto de Havana, descarregando – como recordamos – o armamento que nosso país importava, com as munições, precisamente para defender-se dessas ações terroristas e das agressões que o governo dos Estados Unidos já estava realizando contra nosso país, e que provocou aquelas explosões e a morte, nada mais, nada menos, que de 101 pessoas, feriu a mais de 200 e houve numerosos desaparecidos. Foram um ato criminoso, um ato cruel, aquelas duas explosões, que provocaram a morte de muito dos que haviam ido ajudar naquele resgate, e nosso povo recorda, porque, a partir daquele momento, surgiu também a consigna histórica de Pátria ou Morte.

Randy Alonso – Um ato, ademais, onde perderam a vida seis marinheiros franceses do barco, o que também demonstra o alcance do terrorismo que os Estados Unidos haviam implementado contra Cuba, que ia além dos próprios cidadãos de nosso país.

Rogelio Polanco – Evidentemente, o terrorismo, naqueles anos como agora, não tinha em conta quem eram as vítimas. Como aconteceu em 13 de abril de 1961, na loja El Encanto, aquela sabotagem também muito cruel, aqui mesmo na capital, que provocou a morte da trabalhadora e miliciana Fé del Valle. Foi uma loja, a maior do país, que ficou totalmente destruída. É algo que nosso povo recorda com muita dor, foi uma ação quase às vésperas da invasão de Playa Girón.

Como essas atividades, Randy, produziram-se também atentados contra objetivos cubanos no exterior, que foram numerosos, em território norte-americano, contra os escritórios de Cubana de Aviación; contra os escritórios de Miami. É algo que depois teve uma amplitude tremenda, nos anos setenta, e que não pode ficar fora de nossa análise.

Também o assassinato de muitas pessoas inocentes, entre elas crianças e adolescentes. Recordo aqui, dessa lista que tenho, no dia 7 de abril de 1960, o comandante Francisco Tamayo executado pelo traidor Manuel Beatón Martínez; em 10 de outubro de 1960, o menino Reinaldo Muñiz-Bueno Machado, executado por um bando contra-revolucionário.

Recordemos que os bandos contra-revolucionários, que durante esses anos foram abastecidos a partir dos Estados Unidos, provocaram a morte de inúmeras pessoas. Isso é algo que nosso povo também recorda, como também recorda os grupos de infiltração, que provocaram muitas mortes em vários lugares de nosso país, ou aqueles grupos que levaram a cabo os ataques piratas, a partir de embarcações na costa, como, por exemplo, a que ocasionou, em 13 de março de 1961 – em um dos fatos mais significativos, o ataque à refinaria de petróleo "Hermanos Díaz", em Santiago de Cuba –, a morte do combatente René Rodríguez Hernández e feridas ao combatente Roberto Ramón Castro.

São fatos que nosso povo não pode esquecer, e que demonstram que a Revolução foi genuinamente antiterrorista desde seu início, porque teve de enfrentar o terror que lhe foi imposto dos Estados Unidos.

Lázaro Barredo – Randy, eu queria mostrar o fac-símile do jornal Revolución de 30 de dezembro de 1960, que mostra a ocupação de uma fábrica de bombas e a detenção de 17 terroristas que serviam e seguiam instruções da embaixada dos Estados Unidos em Cuba. Entre esses 17 terroristas, que se dedicavam a colocar caixinhas com explosivos plásticos em lojas comerciais, há dois personagens hoje da contra-revolução, muito amigos dos dirigentes do governo dos Estados Unidos e de outros países: está o agora flamejante jornalista Carlos Alberto Montaner, que não foi condenado então porque era menor de idade, e se meteu em uma embaixada latino-americana para sair do país, e o estelar embaixador Armando Valladares, o "paralítico", "escritor", etc., etc. Esses dois personagens, em 1960 – está aí, na imprensa daquele dia, registrada a detenção e a tomada dos explosivos plásticos –, punham bombas em lojas comerciais, aonde iam inúmeras pessoas, mulheres, crianças, e não tiveram nenhum pudor em atuar como conhecidos terroristas em nosso país.

Randy Alonso – Sim, um desses atos contra lojas comerciais foi um dos mais horrendos – como dizia Polanco – de toda essa etapa, e queremos, nesse dia de hoje, em que estamos falando das novas e falazes mentiras do governo dos Estados Unidos, recordar ao senhor Bush e a sua administração quais foram as ações dos governos norte-americanos, ao longo de mais de 40 anos, contra nosso povo, e quem são os verdadeiros terroristas.

As imagens de El Encanto ainda estão na mente e nos olhos daqueles que as vivenciaram naquela época, e é também um testemunho excepcional para os jovens de hoje.

(Projetam vídeo com imagens do incêndio de El Encanto)

Locutor – Enquanto um povo pacífico se dedica ao trabalho, à construção de uma nova pátria, mãos assassinas colocam bombas incendiárias de fabricação ianque em El Encanto nacionalizado, um local de trabalho em que ganham seu sustento milhares de famílias cubanas.

No próprio centro de Havana, pondo em perigo a um grande número de lares cubanos, provocam um incêndio de grandes proporções. Não lhes importa a vida de crianças, mulheres e anciãos; não lhes importa a vida de nossos trabalhadores.

O povo se mobilizou para combater o sinistro. As milícias, o Exército Rebelde e os bombeiros conseguiram impedir que o incêndio se propagasse às casas vizinhas.

Não sabem, os imperialistas, que nunca poderão dobrar nossa bandeira.

Com esses atos de barbárie, o imperialismo ianque pretende destruir nossas riquezas nacionais e paralisar a produção e promover a escassez. Perderam até a última esperança de confundir e mobilizar traiçoeiramente a opinião pública, por isso, se atiram, cheios de ódio, ao terrorismo assassino, à violência e à agressão.

Reynol González (Agente da CIA) – Bem, nós aqui queimamos El Encanto, os Ten Cent, os cais, uma das torres dos cais, a fábrica de charutos, a papelaria de Puentes Grandes, uma fábrica de charutos que está aqui em Havana e vários mais que não lembro agora.

Então, o que acontece? Aqui há uma coisa que é preciso dizer, porque eu acho que é bom que se diga, e é conveniente que eu o diga. O problema é o seguinte: a verdade é que em alguns aspectos os americanos jogaram conosco; ou seja, utilizam-nos para manter o estado de agitação interna e de desastre, através da sabotagem, através disso e daquilo, para poderem fazer seus planos. Ou seja, nós lhes servimos de cobertura, simplesmente, e eles depois realizam seus próprios planos. Essa é a grande realidade. E então os que estão aqui morrendo e os que estão presos somos os cubanos.

Randy Alonso – Aquela era a cobertura – como dizia esse agente da CIA que participou na ação de El Encanto –; mas o verdadeiro plano norte-americano era produzir esse período de terror em nosso país, para chegar à invasão mercenária de Playa Girón, um sucesso na história da Pátria, que todo o nosso povo recorda e que, sem dúvida, constitui um dos momentos culminantes da defesa da Revolução, diante da agressão norte-americana. Sobre isso, pode falar-nos Juan Carlos Rodríguez, um conhecedor desse tema, estudioso e pesquisador dos acontecimentos de Playa Girón.

Juan C. Rodríguez – A operação de invasão foi uma operação de terrorismo, disso não há dúvida, e não pode ser vista isolada de tudo o que foi colocado pelos companheiros que me precederam.

Tanto as ações de sabotagens nas cidades, como esta, cujas imagens acabamos de ver, da queima de El Encanto, respondem a esse plano preparatório que culminaria com o desembarque; ou seja, criar um clima propício para desembarcar.

Esse mesmo ato de El Encanto, desenvolveu-se após o treinamento dado aos grupos de infiltração nos campos da base Trax, na Guatemala, onde se preparou a Brigada 2506, e a loja se reduziu a cinzas com dois artefatos incendiários de um material que somente se fabricava na indústria militar norte-americana, ou seja, não é um material caseiro, e foi trazido por um membro dos grupos de infiltração, a que, pertencia, por exemplo, José Basulto, conhecido hoje por todos nós.

O caso dos levantes foi igual. Foi também um trabalho prévio que se fez, que culminaria com a invasão. E dentro disso inscreve-se também a tentativa de assassinar o líder da Revolução Cubana com um veneno, a botulina sintética, que se fabricou exatamente para esse intento, meses antes da invasão, nos laboratórios do governo dos Estados Unidos, que inclusive não economizou para essa ação terrorista, porque era assassinar o Primeiro Ministro de um país, não era outra coisa; não economizou, por exemplo, para utilizar a máfia para fazer chegar a botulina sintética ao país e tratar de fazer o atentado algumas semanas, ou mesmo alguns dias antes da invasão, porque pensavam que poderiam criar então uma espécie de desalento nas forças revolucionárias, nas milícias, o que facilitaria o êxito da invasão.

Sem dúvida, a invasão é um ato de terrorismo, e de terrorismo de Estado; se não, como entender o que acabamos de explicar anteriormente, e explicar que os melhores especialistas do governo norte-americano trabalharam nela; isso não foi uma ação de outra natureza, foi o governo norte-americano e seus melhores especialistas.

A eles correspondeu o recrutamento dos futuros mercenários em Miami, Nova York, em casas preparadas para isso, o exame médico, a transferência para a base Trax, pelo que, inclusive, não apenas se cumpriu o que havia sido colocado pelo presidente Eisenhower, de que se utilizasse território fora dos Estados Unidos, para assim cobrir-se, mas também houve um batalhão completo, conhecido como Operação Marte, que foi treinado no lago Pontchartrain, em Nova Orleans, saiu do rio Mississipi, e foi o que fez o reconhecimento das costas de Cuba, porque tinha a missão de desembarcar por Imías, no Oriente, para distrair e fazer a direção da Revolução pensar que o desembarque seria por aquela região.

Esse batalhão foi treinado nos Estados Unidos. Os dos tanques foram treinados no estado da Geórgia, os homens-rã em Vieques; o principal chefe da Brigada 2506 foi um coronel da marinha dos Estados Unidos, Jack Hawkins, que não somente o foi na etapa preparatória, como nos dias de combate, que tiveram em centro nos Estados Unidos, em Quarter Eyes, como eles chamaram, que estava nas barracas do Pentágono, e aí dormiram todos aqueles dias chefes militares muito importantes dos Estados Unidos e os principais envolvidos nisso, que davam ordens a San Román, sim, San Román foi um peão dos próprios norte-americanos, naqueles dias.

Pouquíssimos documentos do que ocorreu em Quarter Eyes naqueles três dias foram desclassificados, porque envolve o exército, a marinha e a aeronáutica dos Estados Unidos.

A força aérea tática da brigada foi dirigida pelo general George (Reid) Doster, um general norte-americano que pertencia à Guarda nacional do estado do Alabama. Essa força aérea, de 16 avioēs B-26 que foram pintados com as insķgnias das Forças Aéreas Revolucionárias, em mais uma violação dos convênios internacionais sobre a guerra, atacou sem aviso prévio três aeroportos cubanos, sem prévia declaração de guerra, o que o converte em um ataque terrorista. No dia seguinte, durante a sepultura das vítimas desses bombardeios, Fidel disse: "Se o ataque a Pearl Harbor foi considerado, pelo povo dos Estados Unidos, como um crime e um ato traiçoeiro e covarde, nosso povo tem direito a considerar o ataque imperialista de ontem como um fato duas vezes criminoso, duas vezes ardiloso, duas vezes traiçoeiro".

O transporte da Nicarágua até a costa sul foi uma operação exclusiva da marinha. Poucos documentos dessa operação foram desclassificados, mas sabe-se, pelas próprias declarações dos invasores, que os elementos vieram pelo mar, que participaram submarinos, destróier, porta-aviões, e que foi totalmente dirigida pela marinha norte-americana. Inclusive o desembarque dos meios blindados, foi através de um navio-transporte dos Estados Unidos, o San Marcos (LSD), que chegou praticamente até a costa, onde desembarcou, através de lanchas trazidas pelo próprio navio, os tanques e caminhões artilhados. Ou seja, uma operação da marinha, totalmente militar.

Os pilotos cubanos foram treinados por pilotos norte-americanos, e seis deles, inclusive, participaram do bombardeio no último dia; e do bombardeio a um dos batalhões de milícia com napalm, cujo uso está proibido nas guerras, pelas convenções internacionais.

O governo norte-americano, para não reconhecer que forças norte-americanas haviam participado na invasão, manteve a um desses pilotos, Leo Francis Baker, que foi derrubado, congelado durante cerca de 20 anos, até que, durante o governo de Carter, fez-se oficialmente a reclamação desse piloto, que era uma testemunha eloqüente da participação de forças norte-americanas na invasão.

Há mais. O primeiro homem que desembarca, que chega próximo às costas em Girón é o chefe dos homens-rãs, que é um agente norte-americano, Grayston Lynch, e os primeiros disparos foram feitos por ele, sendo ferido por esses disparos um brigadista que estava no jipe que nesse momento passava pela zona. Ou seja, até mesmo o primeiro disparo aí foi feito por um norte-americano.

Para que não reste dúvida de que foi uma operação totalmente dirigida pelo governo norte-americano e de seu caráter terrorista, que eles sempre tentaram ocultar, em uma conferência realizada em Musgrove, Geórgia, em 1996, um acadêmico norte-americano, Piero Gleijeses, professor da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade John Hopkins, ao escutar alguns cubanos residentes nos Estados Unidos, que tentavam convencer acadêmicos norte-americanos de que a invasão tinha sido uma espécie de associação entre a chamada resistência anticastrista e o governo norte-americano, ou seja, algo como um plano de cooperação entre uma e outro, intervém e diz: "Espero que não percamos de vista o que realmente aconteceu. A operação da Baía dos Porcos não foi um acordo de cooperação entre os Estados Unidos e uma resistência cubana; os cubanos que participaram na Baía dos Porcos foram uma boa cartada dos Estados Unidos, e o que eles pensavam nem sequer era pertinente. Os planos foram feitos pelos Estados Unidos, os líderes foram escolhidos pelos Estados Unidos, de modo que, quando falamos da Baía dos Porcos, referimo-nos a uma agressão dos Estados Unidos contra Cuba".

Quem eram os que vinham na invasão? Sobre isso quero falar, porque tem vigência. Entre os que vinham na invasão, essa boa cartada de que fala Piero Gleijeses, cem dos invasores possuíam enormes extensões de terra, latifúndios que haviam sido expropriados e suas terras entregues aos que nelas trabalhavam; outros 67 possuíam dezenas de milhares de casas de aluguel, que a Revolução havia entregado a seus moradores; 214 pertenciam a ricas famílias que controlavam o comércio, os bancos e as indústrias; 194 tinham pertencido às forças armadas que apoiaram e sustentaram o ditador Fulgencio Batista, e outros 112 haviam se dedicado, em Cuba, a negócios erradicados pela Revolução, como a prostituição, o jogo e a droga.

Chama a atenção que, entre esses mercenários, havia alguns conhecidos membros da ditadura batistiana, entre eles, por exemplo, Ramón Calviño Inzua, autor de assassinatos, torturas, violações de mulheres, castrações de homens, conhecido pelo povo cubano, que veio na invasão, foi julgado com profusão de provas, pela televisão saíram os testemunhos dos familiares da gente que ele assassinou em sua própria presença; e 20 anos depois, em uma revista da Brigada, que se chama Revista Girón, órgão da Brigada 2506, número 1, de outubro de 1984, página 11, que se edita em Miami, li isto:

"No mês de setembro passado cumpriram-se 23 anos do fuzilamento de vários brigadistas aprisionados, são eles: Ramón Calviño, Jorge King, Rafael Emilio Soler Puig. Recebam, esses companheiros brigadistas, a emocionada lembrança dos que permanecem na luta pela liberdade de Cuba." Ou seja, esses mesmo que recordam com emoção a esses torturadores e assassinos da tirania batistiana são os que, dias antes, foram fotografados junto ao Presidente norte-americano. Evidentemente, terroristas têm de estar identificados com esses esbirros da tirania.

Que prejuízos ocasionaram as ações terroristas? Vou referir-me apenas a dois fatos, dentre todos os que ocorreram na Ciénaga de Zapata, que são muito, um lugar desprovido de benfeitorias antes do triunfo da Revolução: isolamento absoluto, miséria, índice de mortalidade elevadíssimo, que nem mesmo era controlado, de modo que a Revolução para eles foi um fato muito importante em suas vidas, pelo que lhes trouxe, e que foi interrompido no momento da invasão.

Vou referir-me a dois fatos. Em um dos momentos do desembarque, Trata-se de evacuar às famílias carvoeiras, e este é o testemunho de uma dessas famílias carvoeiras. Diz:

"Ao clarear, levaram-nos em um caminhão, iam tia Amparto Rotíz, seu esposo, sua irmã María Ortíz e seu marido; Cira María García e sua família; Dulce María, que era minha irmã, e eu. De repente, ali por onde está o cartaz do INRA começaram a disparar, o caminhão se levantou e foi contra a valeta. Dulce María caiu em minhas pernas, botava sangue pela boca e pelo nariz. Olho aquilo gritando e vejo a Cira María García estendida na estrada, com o esposo ao lado. Um pouco além, María Ortíz, que gritava pelas queimaduras. Olhem o que fizeram a minha irmã! gritei aos mercenários, quando me punham num caminhão. Tragam minha irmã! Um deles me disse: ‘Eu sinto, ela está morta, estamos em guerra.’ Então comecei a chorar. Eu gostava muito de minha irmã, ela ia fazer 15 anos, era jovem rebelde e estava na sexta série. Um mercenário dos que iam no caminhão, quando me viu chorando e gritando, quis me dar 10 pesos, não sei por quê. ‘Eu não quero dinheiro, eu quero minha irmã.’" Esse é o testemunho dessa jovem.

Em uma fotografia que correu o mundo, vêem-se duas mulheres de bruços, numa estrada, e um pouco mais atrás um homem. Essa que está adiante é Dulce María Martín, a irmã dessa que me dá o testemunho, Nora Martín. Tinha apenas 14 anos. Nora, a irmã, depois disso, sofreu da tensão pelo resto da vida, vive em Jagüey Grande, e continua sofrendo de tensão alta. A mãe declarou na Demanda, mostrou a fotografia da filha.

O outro caso é o de Nemesia Rodríguez, que todos conhecemos pela história dos sapatinhos brancos, mas que também tem outra história para contar. Ela também ia evacuada em um caminhão, e um B-26 desses da brigada mercenária baixa na estrada, persegue-os, chega um momento em que se alinha com o caminhão, na alça de mira do colimador desse B-26 mercenário, e ela conta: "Então meu pai disse a minha mãe: ‘Toca forte no chofer, para que pare’, e então empurrou meu irmão e lhe gritou: ‘Se joga no chão, que esse avião vai aterrar na estrada’. Eu ia sentada sobre uma caixa de madeira com latas de leite condensado, e levava no colo meu sobrinhinho de seis meses. Então o avião começou a disparar. Minha mãe caiu, tinha sido ferida na barriga e em um braço; minha avó foi ferida por uma bala na coluna e ficou inválida; meu irmão foi atravessado numa perna e num braço. Me agachei, minha mãe abriu os olhos, perguntei se estava ferida, ela levantou o braço e quis tocar-me, mas desmaiou. Então meu pai me desceu do caminhão. Se não descem a minha mãe e eu não vou, ela está viva. Meu pai tinha posto um lençol nela, e não se viam os ferimentos da cintura, por isso eu pensava que estava viva. Então o vento levantou o lençol, e eu vi o ferimento, estava tudo pra fora."

Depois, quando a levam para Jagüey, ela conta: "Já tinham levado minha mãe para Jagüey, eu queria vê-la e me levaram à funerária, continuava me lembrando de quando o vento levantou o lençol e vi aquele ferimento, eu vi a minha mãe por dentro".

Esse testemunho ela deu quase trinta anos depois, e o fez chorando, porque os cenagueiros que sofreram esses atos terroristas os recordam como se tivessem acontecido ontem. É algo que os traumatizou pelo resto da vida, e são ações que, se tivéssemos de inscrever um país em uma lista eventual de terrorismo, analisando esses fatos, Estados Unidos devia encabeçá-la.

E para finalizar, Randy, é preciso perguntar a que vinha essa gente, a quem iam libertar. Eu creio que uma amostra representativa é a própria Ciénaga de Zapata, tudo o que a Revolução havia feito ali apenas nesse ano e meio: estradas, serviços médicos, abriram-se os primeiro dispensários, os três aterros que cruzaram as águas, para romper o isolamento que havia – de fato, por essa razão muitas mulheres morriam de parto, porque enfrentavam o problema de que não havia como levá-las –, as cooperativas de crédito e serviços. O carvoeiro deixou de levar um vale com um pau, um tronco, uma trave de estrada de ferro, para poder cobrar dez centavos e comprar dez quilos de alguma coisa de comer. Abriram lojas a crédito, começaram a vestir, a calçar, a comer; sua estrada econômica passou de 1 peso a 10 pesos, humanizou-se seu trabalho, reduziram-se os sacos de carvão, de 13 para 10 arrobas. Bem, uma infinidade de medidas, que creio que podemos resumir o que significaram a Revolução e Fidel para os cenagueiros, como para todo o povo cubano, em uma coisa que talvez muita gente não saiba: Fidel decidiu passar a Noite de Natal do primeiro ano do triunfo da Revolução, no ano 1959, em um lugar muito pobre de Cuba, e foi a Ciénaga de Zapata, e chegou à casa de um camponês, teve de ir de helicóptero, porque não havia outra forma de chegar à casa daquele homem, era um ranchinho, uma tapera.

Este é o testemunho da filha, curto; seu pai também me deu seu testemunho, mas no da menina, que hoje já é uma mulher, ela conta sobre a Noite de Natal que o Primeiro Ministro de um país vai passar em um lugar muito pobre, isso é algo nunca visto no mundo. Diz: "A filha mais nova do carvoeiro recorda aquela Noite de Natal com Fidel. ‘Eu era menina, mas me lembro muito bem. Sentei-me ao lado de Fidel e tomei Maltina e refresco. A esposa de Núñez Jiménez presenteou-me umas meias brancas. Depois da ceia, veio um camponês dos arredores tocando violão. Ainda me lembro dos versos que ele cantou naquela noite a Fidel.

"Já temos estradas/ graças a Deus e a Fidel/ já não morre uma mulher/ de parto onde quer que seja./ Com teu valor sem igual/ obrigado, Fidel, Comandante,/ foi você quem nos libertou/ daquele açoite infernal."

Randy Alonso – Era o objetivo daquela invasão mercenária, financiada e organizada pelo governo dos Estados Unidos: acabar com a Revolução que havia devolvido os direitos àqueles camponeses; afogar em sangue a um povo em Revolução, uns 150 mortos e 350 feridos, aproximadamente, em menos de 72 horas, foi o saldo daquela invasão mercenária contra nosso país; que, se houvesse triunfado, tinham previsto operações de liquidação seletiva de pessoas revolucionárias, após a invasão mercenária de Playa Girón; aplicaram-se os métodos fascistas de pintar com a bandeira cubana os aviões agressores, naquele 15 de abril, em que mataram a Eduardo García Delgado, que escreveu com seu sangue o nome de Fidel em uma parede; aqueles dias 17, 18 e 19 de abril, quando atacaram ao povoado de Ciénaga de Zapata.

Foi uma invasão que tentou afogar em sangue, fazer desaparecer uma Revolução, que era um processo sem precedentes em nosso hemisfério, e um processo muito singular no mundo de hoje, que é a grande espinha que tem o governo dos Estados Unidos neste continente. Desde então, vem tentando afogar em sangue, não importa quantos morram, quantos sejam assassinados, quantos desapareçam por essas ações terroristas do governo dos Estados Unidos contra nosso país.

Por isso, seria bom, em um dia como hoje, ver esse testemunho dado por uma mãe que perdeu a sua filha querida sob a metralha da invasão organizada e financiada pelos Estados Unidos e que assim relatou ao tribunal do povo que realizou a Demanda contra o Governo dos Estados Unidos.

Hectolidia Ângulo – Eu fui prejudicada pelas agressões do imperialismo, já que foram eles que facilitaram as armas e prepararam militarmente aos mercenários que vieram aqui a Playa Girón, que acabaram com parte de minha família.

Minha filha, Dulce María Martín e Nora encontravam-se, aquele dia, em Caletón, em casa de uma tia, tia Amparo, que era uma tia-avó. Ali se encontrava também María Ortíz, que era irmã de Amparo, já que Amparo, fazia mais ou menos uma semana, no dia 9 de abril, tinha perdido um filho de um ataque de asma, e então minha família se encontrava ali até que ela se recuperasse, acompanhando-a, já que ela se encontrava sozinha com seu esposo.

Então, no dia 17 de abril, ocorreu o desembarque, e pela manhã, entre os vizinhos ali, decidiram levar as mulheres e as crianças que havia nessa zona para Jagüey Grande, que eram gente indefesa, para que não estivessem ali, naquela situação, pensando que pela estrada não havia nada e que podiam salvá-los.

Quando saíam de Caletón, que iam pegar a estrada de Jagüey Grande, no cruzamento de Playa Larga e Jagüey Grande, ali saíram os mercenários que estavam em trincheiras e metralharam o caminhão, um caminhão que ia descoberto, que se via que eram civis, crianças e mulheres e um velho que ia também...

Eu quero apresentar aqui a imagem de minha família morta na estrada. Esta que vocês vêem aqui é minha filha, esta é a tia, e este que se vê aqui é o esposo da outra tia, Ramón. Esta é a imagem de minha família, destroçada pelo governo imperialista dos Estados Unidos, e por isso venho aqui demandar com todas as minhas forças e dizer a Fidel que aqui estamos presentes, para tudo que necessite.

Randy Alonso – Antes de Girón, serviram como base de apoio para preparar a invasão mercenária, e depois de Girón, seguiram semeando o terror entre os camponeses cubanos e deixando enorme luto em nosso povo. Os bandos contra-revolucionários, em diversas partes do país, semearam a morte nas montanhas, entre os camponeses e entre as crianças cubanas.

Sobre isso, proponho ao doutor Mendoza, que foi advogado durante a Demanda e escutou os comoventes testemunhos de muitas mães, irmãos, pais das vítimas daquele banditismo, que nos fale dessa etapa do terrorismo norte-americano contra nosso povo.

Juan Mendoza – A primeira coisa a dizer nessa convocação que você me faz para que fale do banditismo, é que não é um convite a um exercício histórico-acadêmico; estamos necessariamente obrigados a repassar essas coisas, para dar resposta à convocação feita na mesa de hoje, de identificar quem são os verdadeiros terroristas.

O banditismo é um dos capítulos mais importantes e mais transcendentes do terrorismo dos Estados Unidos contra Cuba, e penso que é necessário esclarecer, primeiramente, a dimensão desse termo, porque esta transmissão é vista além de nossas fronteiras.

É necessário colocar que nosso povo batizou com a denominação de bandidos a essas pessoas, precisamente pelas felonias que cometeram, pelas ações que as caracterizavam; mas o banditismo é, em resumo, um fenômeno de terrorismo, e de terrorismo de Estado, porque sua planificação e financiamento provinham de um Estado estrangeiro.

Como você bem colocava na introdução desta reflexão, existiram dois períodos no banditismo: um primeiro, que começa aos 15 meses do triunfo da Revolução, e que se estendeu até um pouco antes dos sucessos de Girón. Após a vitória de Girón, adquire uma nova dimensão e um novo alcance.

O fenômeno do banditismo – como é historicamente conhecido por nosso povo – ocorreu por um período de cinco anos, até que em 1965 foi definitivamente eliminado.

É necessário mencionar que esse movimento terrorista abarcou quase todo o país; ou seja, registra-se a existência de 20 bandos na província de Pinar del Río, com 255 membros; em Havana existiram 10 bandos; em Matanzas, 43 bandos, com 605 integrantes; na zona de Las Villas, fundamentalmente no enclave do Escambray, que foi o vórtice de operações da atividade do banditismo em nosso país, registra-se a existência de 141 bandos, com mais de 2.000 integrantes; na zona de Camagüey, 14 bandos, e no Oriente, 51 bandos.

Isso dá uma quantidade aproximada de 300 bandos, operando em quase todo o território cubano, os quais estavam integrados por cerca de 4.000 pessoas.

Cabe agora perguntar quem foram as vítimas dessa atividade terrorista. Essencialmente, nosso povo.

Esses fatos foram objeto de um processo judicial em que tínhamos a obrigação de registrar documentalmente a existência de todas as pessoas com afetações, sobre as quais íamos cobrar responsabilidade, e então pudemos provar documentalmente a existência de 549 pessoas cubanas mortas, como resultado dessa atividade terrorista, e um sem-número de incapacitados. Há pesquisas históricas que registram a existência de muitas pessoas mais falecidas como resultado dessa atividade, mas nós nos restringimos aos provados documentalmente.

Fica difícil, nessa pequena síntese, rememorar o que passou diante de nossos olhos nos 21 dias que durou o processo da Demanda do povo de Cuba, e onde um pedaço de nossa história foi visto por todo o povo; mas, por sua especial dramaticidade, sempre me vêm à memória os assassinatos ocorridos no dia 5 de janeiro de 1961, do professor Conrado Benítez e do camponês Eliodoro Rodríguez; o assassinato do professor Delfín Sen Cendré, em outubro de 1961; o assassinato de Manuel Ascunce Domenech e do camponês Pedro Lantigua, em 26 de novembro de 1961, que – como você dizia – eram atos dirigidos a atacar dois valores fundamentais que a Revolução havia trazido: o primeiro era a Campanha da Alfabetização, ou seja, o movimento de irradiar a educação a todo o povo; o segundo, os camponeses que tinham sido beneficiados por aquela importante reforma de entrega da terra, que os converteu em verdadeiros proprietários.

Eu ainda tenho claro na memória o testemunho da mãe de Manuel Ascunce Domenech – já falecida – , pelo comovedor e transcendente que foi.

Há outros fatos que se podem mencionar e que, por seus destinatários, comovem, provocam a indignação de nosso povo, como, por exemplo, o assassinato de um grupo de adolescentes e de crianças. Nós pudemos provar, durante o processo, a afetação física de 17 crianças cubanas, oito delas falecidas. Recordo, especialmente, o assassinato das crianças de Bolondrón, Yolanda e Fermín, de 11 e 13 anos de idade, e o assassinato de Reinaldo Muñiz, de 22 meses de idade.

É inumerável a lista de acontecimentos criminosos que, como fruto dessa atividade terrorista do banditismo, realizaram-se em nosso país.

Por que falamos agora do banditismo? Por que o mencionamos agora, que estamos tratando de identificar quem são os verdadeiros terroristas? A razão está em que há um vínculo histórico demonstrado entre o governo dos Estados Unidos e essas pessoas que operavam dentro de nosso país, vínculos que foram provados e que foram documentalmente demonstrados durante o processo da Demanda do povo de Cuba.

Há questões que são incontroversas. Existe um famoso relatório, a que se fez referência anteriormente, de Lyman Kirkpatrick, Inspetor Geral da CIA, de outubro de 1961, que na década dos 90 foi desclassificado, um relatório em cuja confecção participaram 125 funcionários da CIA, era um relatório dirigido a tentar desentranhar as causas do fracasso da invasão mercenária de Girón. Nesse relatório, vinculado com o terrorismo, faz-se um claro reconhecimento – sobre o qual não se pode guardar nenhuma dúvida, tendo em conta de quem provém – das ações encobertas de financiamento dessas atividades, que começaram a realizar-se em data muito recente após o triunfo da Revolução.

Há referência, nesse relatório, a uma famosa operação encoberta, conhecida como Operação Silêncio, em que, por ordem do governo dos Estados Unidos, a CIA realizou 12 operações para o abastecimento de armas, munições e explosivos aos bandos armados que operavam em nosso país. Isso é terrorismo de Estado.

Há outra coisa que também confirma esse vínculo, esse nexo indispensável que existiu entre o governo dos Estados Unidos, seu centro de poder, e esses bandos armados; é a reunião do Conselho Nacional de Segurança, de 17 de março de 1960, onde se aprovou o Programa de ação encoberta contra o regime de Castro.

Estamos falando de uma reunião em que participou o vice-presidente Richard Nixon, o Secretário de Estado, o Secretário do Tesouro. o Secretário Assistente de Defesa, o Sub-Secretário de Estado, o Secretário Assistente de Estado, um almirante do Estado Maior Conjunto, o diretor da CIA naquele momento, Allen Dulles, um general, Goodpaster, e aí se aprovou esse plano em que, entre outras coisas, autorizava-se a criação de uma organização secreta de inteligência e de ação dentro de Cuba, e para isso se designavam fundos necessários à CIA, para que pudesse operar.

Há uma nota desse general que participou nessa reunião, que foi desclassificada, que eu leio e sempre que a leio me motiva à reflexão.

Diz Goodpaster, e cito: "O Presidente disse" – refere-se a Eisenhower – "que ele não conhecia plano melhor para manejar essa situação. O grande problema é o vazamento e a falta de segurança. Todo mundo tem de estar disposto a jurar que ele" – ou seja, o Presidente – "não sabe nada disso. Disse: ‘Nossas mãos não devem aparecer em nada do que se faça.’"

Dizia-lhes que sempre que o leio me move à reflexão, porque me dá a impressão, me lembra, e eu já mencionei o grupo de pessoas que estavam, me faz pensar em uma reunião de mafiosos. A ordem de que não se pode saber nada, que as mãos têm de estar limpas disso que se está tramando, é um exemplo de terrorismo de Estado.

Pode haver animosidade entre Estados, pode haver ódios entre Estados, mas isto evidencia uma falta de ética política que põe de manifesto, de maneira muito clara, o comportamento do governo dos Estados Unidos. Por isso quando, agora, com uma arrogância extraordinária, o governo estadunidense define quem são os bons e quem são os maus, o que está demonstrando é uma total amnésia histórica, entre outras coisas, e uma evidente conclusão que se desprende de tudo isso: que eles são os verdadeiros terroristas, e terroristas com pedigree, pela longa data que têm, o que está demonstrado por tudo que se falou na tarde de hoje.

Randy Alonso – Nesse longo histórico de assassinatos, de atos terroristas norte-americanos contra nosso país, o banditismo ocupa um lugar especial, deixou mais de 500 mortos em nosso povo e, sem dúvida, as novas gerações não o esquecemos e, é claro, não o esquece o povo cubano, que viveu aqueles terríveis acontecimentos. Proponho-lhes escutar o testemunho de duas mulheres, esposa e mãe, que sofreram o terror do banditismo: María Cristina Fuentes e Evelia Domenech.

María C. Fuentes – O dano que recebi dos agressores e dos bandos mandados pelos Estados Unidos foi que meu esposo saiu de madrugada para buscar leite, o sustento de seus filhos, e por lá o agarraram, torturaram-no, golpearam-no e depois vieram e o penduraram na porta da casa, no portal, deixando-me seis crianças indefesas, pequeninos, de 0 a 6 anos, cinco, e um de 15, que era o maior, um adolescente.

Interrogador – Come se chamava seu esposo, testemunha?

María C. Fuentes – Meu esposo se chamava Bernardo Jiménez Núñez. Imagine, o senhor, como eu me senti, com aquela agressão tão terrível, deixando meus filhos desamparados, sem pai, sem comida, sem dinheiro, sem casa e sem nada.

Companheiro, isso foi muito monstruoso. Aquilo foi terrível. Não nos deixaram onde parar nem aonde ir viver, porque não havia nada. Graças a alguns vizinhos dali, juntaram alguns pesos para que eu pudesse ir para a casa de meu pai, que o que tinha era um casebre, e onde estava minha irmã nas piores condições, como eu, porque também haviam matado a seu esposo.

Meu pai, velho e doente, que o que recebia eram 60 pesos, e eu apareço com seis, comigo, sete. Dormindo no chão, passando mil necessidades, porque arrancaram a vida a seu pai, que era o único sustento que eu tinha em minha vida.

Evelia Domenech – Fui prejudicada no mais importante que pode ser uma mãe.

A política agressiva dos Estados Unidos contra nosso país, através dos bandos contra-revolucionários, que todo mundo sabe que eram financiados, apoiados e armados pela CIA, na década de 60, na zona do Escambray, encontrava-se meu filho, Manuel Ascunce Domenech, que foi assassinado por um dos bandos contra-revolucionários, em 26 de novembro de 1961.

Ele se encontrava lá nas montanhas, realizando um dos trabalhos mais bonitos, mais humanos, que é o de ensinar. Neste caso, estava ensinando a ler e escrever aos camponeses, para acabar com o analfabetismo que existia tão grande em nosso país, fruto da exploração, do sofrimento que o imperialismo ianque sempre manteve em nosso país. Ele foi assassinado por um desses bandos, cruelmente se encarniçaram contra seu corpo ainda adolescente, pois tinha apenas 16 anos, nada mais. E embora as vidas humanas, para nós, não tenham preço, o imperialismo ianque não tem perdão, e eu considero que devem pagar por todo o dano que nos fizeram e que ainda nos estão fazendo, pois não sou só eu, foram milhares de mães neste país as que sentimos a garra criminosa deles cravada em nossas entranhas.

Estou muito de acordo com todas essas demandas contra eles, para que eles paguem por todos os crimes que cometeram aqui.

Randy Alonso – É a imagem da morte, é a juventude assassinada de Manuel Ascunce, é saber criminosamente apagada a figura desse jovem, como foi a de Conrado Benítez, como foi com cada um dos alfabetizadores, dos camponeses que, com esses jovens, trataram de chegar a essa luz do conhecimento, que lhes foi negada pelas mãos terroristas desses bandidos financiados e armados pelos Estados Unidos; é o testemunho das mães que perderam seus filhos, das esposas que perderam seus companheiros na vida e no combate; é o testemunho de um povo que teve de sofrer, ao longo de 43 anos, a agressão, o terror e a ameaça do governo dos Estados Unidos e dos bandos que financiou, das organizações que criou e das quintas-colunas que tentou organizar dentro de nosso próprio país; é o resultado da agressão terrorista por mais de 43 anos, e que hoje segue vigente, no enfrentamento dos governos norte-americanos contra a Revolução Cubana.

Muito há para continuar dizendo. Amanhã o companheiro Hevia poderá falar-nos de como o fracasso de Playa Girón transformou-se em novos planos agressivos contra nosso povo, na conhecida Operação Mangosta, e poderemos apresentar muitos testemunhos mais a nosso telespectadores e ouvintes.

Os testemunhos, as imagens, e a narração dos crimes terroristas dos Estados Unidos contra nosso povo são uma demonstração ao mundo de quem são os verdadeiros terroristas.

Quero agradecer aos participantes do painel que me acompanharam na tarde de hoje, aos convidados que tivemos em nosso estúdio, e recordar a nosso povo as frases finais do Editorial do jornal Granma de hoje:

"Os argumentos, enganos, truques, demagogia, mentiras e calúnias do senhor Bush serão demolidos um a um.

Não importa por quantos dias se estenda esse duro combate de nossa longa luta. Estamos envolvidos no fragor de uma grande Batalha de Idéias, em uma luta sem precedentes entre a verdade e a mentira, a ignorância e os conhecimentos políticos e históricos, a cultura e a barbárie, a ética e a total ausência de princípios e valores morais, a honestidade e o cinismo; entre a opressão e a libertação, a justiça e a injustiça, a igualdade e a desigualdade, os pesadelos do passado e os sonhos do futuro, a destruição e a preservação da natureza, o extermínio e a sobrevivência de nossa espécie.

Em 19 de maio, dia de sua caída em combate, montou-se guarda permanente diante do túmulo de Martí. E para todos os tempos.

Não existe, nem existirá, força no mundo que nos faça desistir, abandonar ou trair nossas nobres causas!

E sem que nada nos afaste do caminho, continuaremos sendo inabaláveis amigos e aliados do povo dos Estados Unidos e de qualquer outro povo do mundo, na luta contra o terrorismo."

Seguimos em combate!

Boa noite.