Mesa-redonda “Quem são os verdadeiros terroristas?”, realizada nos estúdios da Televisão Cubana, em 24 de maio de 2002, “Ano dos Heróis Prisioneiros do Império”.

 

        (Versões taquigráficas – Conselho de Estado)

 

 

Randy Alonso – Muito boa tarde, caros telespectadores e ouvintes.

Por mais de quatro décadas, nosso povo sofreu horríveis sabotagens, traiçoeiros ataques contra instalações econômicas e sociais, banditismo, invasões mercenárias, guerra biológica, ameaças militares e outras centenas de ações terroristas, organizadas e financiadas por sucessivos governos norte-americanos.

Continuamos, esta tarde, nossa mesa-redonda “Quem são os verdadeiros terroristas?”, em cujo painel me acompanham: Reinaldo Taladrid, jornalista do Sistema Informativo da Televisão Cubana; Jorge Ovies, diretor do Instituto de Pesquisas de Saúde Vegetal; Lázaro Barredo, jornalista do Trabajadores; Manuel Hevia, diretor do Centro de Pesquisas Históricas da Segurança do Estado; o companheiro José Pérez Fernández, pesquisador do Ministério do Interior, e que atuou como perito durante a Demanda do povo de Cuba ante o governo dos Estados Unidos; o companheiro José Luis Méndez, também pesquisador do Centro de Pesquisas Históricas da Segurança do Estado; Arleen Rodríguez Derivet, editora da revista Tricontinental; e Eduardo Dimas, jornalista e comentarista internacional do Sistema Informativo da Televisão Cubana.

Acompanham-nos, como convidados, companheiros do Ministério de Comércio Exterior, do Ministério para o Investimento Estrangeiro e Colaboração, e do Ministério do Interior.

(Passam breves imagens sobre o tema.)

Randy Alonso – Quando, há apenas 15 dias, o sub-secretário de Estado John Bolton levantou a infâmia contra nosso país, de que Cuba era um Estado bioterrorista, todos os cubanos recordamos, sem dúvida, com raiva quantas agressões biológicas sofreu nosso povo, geradas nos Estados Unidos. Tivemos de sofrer inumeráveis ataques contra nossas plantações, contra nossos animais e também contra todo o nosso povo.

É uma história que não podemos esquecer e que faz parte do apanhado de terríveis ações realizadas por sucessivos governos norte-americanos contra o povo de Cuba, com essas ações terroristas que estivemos recordando nessas três mesas-redondas “Quem são os verdadeiros terroristas?”, a guerra biológica contra nosso país, uma das modalidades terroristas utilizadas pelos Estados Unidos contra nosso povo.

O companheiro Jorge Ovies nos fará um resumo delas.

Jorge Ovies – Esse é um tema que foi amplamente abordado em uma mesa-redonda instrutiva realizada em 8 de dezembro de 2000; sem dúvida, vemo-nos na necessidade de voltar a tratá-lo, de forma resumida, ante o fato de que agora os agressores nos acusam de ser bioterroristas.

Gostaria, em primeiro lugar, de falar de coisas comuns entre as agressões que temos sofrido na parte do reino vegetal e das agressões que temos sofrido na parte animal.

Há algo que coincide plenamente: precisamente, a incidência de pragas e enfermidades exóticas sempre tem coincidido, desculpem a redundância, com importantes programas de desenvolvimento agropecuário do país, este é um fator presente tanto em plantas como em animais, e algumas delas – ou seja, das pragas e enfermidades exóticas – sem obedecer a padrões de distribuição natural e sem nenhuma explicação científica de seu aparecimento no país, e outras em que se pôde comprovar sua introdução intencional.

Vamos enumerar, em ordem cronológica, as enfermidades, a cultura e o ano de aparecimento, tanto na parte vegetal como animal, como uma recopilação, mas vamos abordar, de forma breve, apenas algumas delas.

Temos, na parte vegetal, a “roya” (fungo parasita) da cana, em 1978; o mofo azul do tabaco, em 1979; a broca do café, em 1995; o Thrips palmi, que é uma praga polífaga, ataca várias culturas, como a batata, o feijão, o pimentão, o pepino, a vagem, a berinjela, que foi introduzido no ano de 1996; e o ácaro do arroz, em 1997.

Na parte animal, a enfermidade de Newcastle, na avicultura, em 1962; a peste suína africana, por duas vezes, em 1971 e, depois, em 1980; a pseudodermatose nodular bovina, em 1981, e a mastite ulcerosa, no ano de 1989, no gado vacum; a enfermidade hemorrágica viral do coelho, em 1993; e a “varroasis” das abelhas, em 1996.

Nós gostaríamos de falar brevemente de algumas dessas pragas e enfermidades, caracterizar seus danos, suas formas de manifestação, para exemplificar, porque seria impossível falar de todas.

Na parte vegetal, gostaríamos de falar da broca do café, que se detectou em 1995, precisamente, em um fundo exportável importante para nosso país, que é o cafeeiro, e também quando o se tratava de desenvolver o Plano Turquino, iniciado anos antes, em nossas montanhas.

Esta praga vive unicamente nas bagas do café, tanto as larvas como o adulto – ou seja, é uma praga monófaga, come apenas uma planta hospedeira – e, ademais, todo seu ciclo ocorre dentro da baga do café. Os danos que causa podem chegar a 80% da colheita, tem uma capacidade de vôo limitada, é incapaz de trasladar-se a grandes distâncias, e sua disseminação é fundamentalmente pelo homem. Já havia aparecido na Jamaica em 1978, no México em 1980, em Porto Rico em 1983, e nós tínhamos um programa de prevenção contra a introdução dessa praga, que abarcava um conjunto de aspectos e que se atualizava cada vez que aparecia em algum dos países vizinhos, até com modelação dos lugares onde era provável que pudesse aparecer, em determinado momento, devido ao tráfico normal de algum tipo de produto ou outros, acerca dos quais sempre se tomavam medidas; mas todos os prognósticos praticamente se desbarataram, com o aparecimento da mesma em meio ao maciço montanhoso onde es encontram os municípios de Guamá, de Santiago de Cuba, e Buey Arriba e Bartolomé Masó, de Granma, em áreas adjacentes de cafezais.

Fizeram-se prospecções sistemáticas antes do aparecimento, que demonstraram que não se havia referido a praga anteriormente, e isso podemos assegurar, visto que, no final do ano 1994, uma mancha que começou a aparecer no grão utilizado para exportação obrigou-nos a fazer uma pesquisa em massa, a, praticamente, todo o café do país, e teria sido muito fácil detectar os grãos carunchados. Ou seja, que podemos asseverar a data de introdução, precisamente devido a todas as prospecções que se estavam realizando e também à pesquisa do grão manchado.

Descartou-se também, depois do aparecimento, a presença em outros lugares e a introdução por outras vias que não fosse o homem.

As perdas diretas pela mesma, ou seja, os danos diretos, foram de 48,1 milhões de dólares, e os prejuízos por incremento de gastos anuais são de 21,4 milhões de dólares.

O Thrips palmi, que apareceu no ano de 1996 e que, como dissemos antes, ataca a importantes cultivos, sobretudo para a cesta básica, é uma praga polífaga.

Randy Alonso – O Thrips palmi que, ademais, como já se demonstrou incontestavelmente que foi introduzido em nosso país por um avião que sobrevoou o território nacional, dispersando uma substância, foi avistado por uma aeronave de Cubana de Aviación que fazia um vôo para o oriente do país. Nesse mesmo território onde se avistou essa aeronave cruzando nosso céu, começou essa epidemia contra as plantas, o que, sem dúvida, é uma das demonstrações mais palpáveis e com provas irrefutáveis dessa agressão biológica contra nosso povo.

Jorge Ovies – Exato.

Além disso, essa aeronave de fumigação tinha matrícula do registro de aeronaves civis dos Estados Unidos e estava sendo operada pelo Departamento de Estado.

A manifestação do Thrips palmi foi detectada em 18 de dezembro de 1996, no cultivo da batata, precisamente na zona onde se detectou o vôo do avião. Foi demonstrado, na denúncia que se fez, que essa praga não existia antes, pelas características do cultivo e outras pragas que incidiam.

Pelo Thrips palmi, tivemos perdas diretas de 32,4 milhões de dólares e prejuízos de 2,9 milhões por gastos anuais. Somente no cultivo da batata, gastamos 2,0 milhões de dólares para seu controle.

Randy Alonso – Todos os anos?

Jorge Ovies – Todos os anos.

É preciso dizer que atualmente esta praga já se reduziu, independentemente de sua nocividade, segundo um conjunto de resultados de muitos centros de pesquisa de produtores.

Randy Alonso –Foi necessário dispor de muito pesquisadores e vários centros de pesquisa, para poder enfrentar essa terrível agressão.

Jorge Ovies – Exato.

Diante de cada manifestação, tanto no campo vegetal como no animal, há uma união interdisciplinar e multi-institucional, que trabalha aceleradamente para procurar soluções para essas coisas e se contra-ataca o que eles tentaram causar-nos.

A última praga vegetal, o ácaro do arroz, aparece em setembro de 1997, em uma granja de sementes, no município Nova Paz, uma granja muito importante para a produção de sementes de arroz, exatamente quando se impulsionava a popularização do cultivo de arroz, cuja importância todos  connhecemos para atingir o auto-abastecimento de muitas empresas, famílias, e cooperativas.

Provoca grãos manchados e ocos, e facilita a entrada de um fungo, o Sarocladium oryzae, que já existia aqui, mas não incidia; sem dúvida, em simbiose com esse ácaro, que causa o apodrecimento da vagem, o ácaro facilita a penetração do fundo e potencializa o dano causado por esse fungo; por isso, é vulgarmente conhecido como complexo ácaro-fungo, no caso do arroz.

Randy, veja que interessante: essa praga não existia no continente americano, existia somente, como praga registrada, há mais de vinte anos, em Taiwan, na República Popular da China. Nós não tínhamos nem programa de vigilância. Normalmente temos programas de vigilância para as pragas que atacam os cultivos próximos.

Randy Alonso – Que estejam no Caribe, América Central, em zonas próximas.

Jorge Ovies – Não estava em nenhum modelo de prognóstico que isso pudesse chegar da Ásia diretamente a nossos arrozais e a uma granja de sementes.

Mas, além disso, o ácaro, que é o que foi introduzido, não se transmite por semente botânica, que é o que nós importamos. Independentemente de que sejam submetidas a um processo quarentena, se pudesse ser transmitida em semente, alguém poderia dizer: “Bem pode ter vindo na semente”; mas não se transmite por semente, só em plantas. Nós nunca importamos plantas. Sim, se translada, esse é um inseto que se translada a grandes distâncias a partir de zonas infestadas e, realmente, depois se distribuiu por todos o país de maneira muito rápida, exatamente devido à forma de transmissão; mas é algo que realmente não tem nenhum tipo de explicação científica, como isso chegou a Cuba e como coincide exatamente com as outras coisas, quando o programa da popularização do arroz tinha o maior incremento.

As perdas diretas por esse ácaro foram de 24,3 milhões de dólares, e os prejuízos por gastos anuais, de 20 milhões de dólares.

No caso do reino animal, quisemos trazer o exemplo da enfermidade de Newcastle, que foi o primeiro ataque biológico aos animais, no ano de 1962, quando se iniciava o desenvolvimento da avicultura de forma intensiva – ou seja, que na avicultura de nosso país, passa-se, dos quintais e afins, a um desenvolvimento intensivo –, provocou mais de 80% de mortalidade na população avícola.

Comprovou-se, ademais, que foi uma vacina contaminada que provocou essa epidemia.

Também gostaria de referir-me ao primeiro surto da peste suína africana, em 1971, coincidindo com a criação do Combinado Nacional Porcino e o desenvolvimento, em Havana, de um plano especial para essa atividade, e foi precisamente na província de Havana que incidiu a praga. Esta, também, não estava no hemisfério, é de origem africana, e nos custou meio milhão de porcos sacrificados.

O segundo surto da peste suína africana foi em 1980, na província de Guantánamo, e tinha por objetivo estabelecê-la nas montanhas, coisa que teria sido impossível de erradicar, caso tivessem podido estabelecê-la. Também foi erradicada, e o custo foi de 300.000 animais sacrificados.

Nesse caso, existia a presença do vírus, mas com um comportamento diferente do que apresentou em 1971, o que evidencia, precisamente, a manipulação a que foi submetido, tentando despistar nossos sistemas de diagnóstico que já tinha se estabelecido a partir da epidemia de 1971.

Randy Alonso – Combateu-se em 1971 um tipo de epidemia, e depois tratou-se de introduzir noutra variante.

Jorge Ovies – O mesmo vírus, mas modificado do ponto de vista de sua patogenicidade.

Randy Alonso – Exato.

Jorge Ovies – E custou trabalho o diagnóstico, mas pudemos realizar.

Randy Alonso – E sabia-se que naquela época havia laboratórios norte-americanos que estavam trabalhando precisamente com o vírus que provoca a febre suína africana, e que não era casual que também aparecesse em um território como Guantánamo. Como você dizia, que daí tinha a possibilidade de estender-se também às montanhas, na zona oriental do país.

Jorge Ovies – Sobre esses dois casos, existe um amplo expediente que evidencia a participação dos serviços especiais, por ordens do governo dos Estados Unidos, e dos grupos contra-revolucionários radicados nos Estados Unidos.

Isto é, Randy, à guisa de resumo, o que nós queríamos expor, de maneira a recordar e poder ajudar a identificar quem são os verdadeiros bioterroristas nesse caso.

Randy Alonso – Sem dúvida, é a confirmação de que os culpados tentam jogar a culpa nos que temos sido vítimas, durante todos esses anos, da guerra biológica que vem sendo preparada contra o mundo, no Forte Detrick e em outros laboratórios norte-americanos, e que teve um caráter especial no caso de Cuba, nestes mais de 43 anos de Revolução.

Muito obrigado, Ovies, por haver-nos apresentado essa parte de nossa história.

A agressão biológica contra nossa pátria custou também valiosas vidas humanas, incluindo crianças e mulheres grávidas.

A epidemia da dengue, introduzida em Cuba em 1981, foi um dos infames atos de agressão contra nosso povo. Aquele momento é recordado em nossa mesa-redonda de hoje por Arleen Rodríguez Derivet.

Arleen Rodríguez – Obrigada, Randy. Saudações a todos os presentes, aos telespectadores e ouvintes.

Como você disse, essa foi possivelmente a agressão mais horrenda, mais abominável. E pode ser parte da história para muita gente; mas tenho certeza de que,para quase meio milhão de famílias cubanas, não é parte da história, é parte de uma dor, de uma angústia que durou praticamente quatro meses, desde 1º de junho  até  10 de outubro de 1981, quando se registrou o último caso: 344.203 casos se apresentaram; deles, mais de 30.000 com hemorragias, e mais de 10.000 com febre hemorrágica e choque, que atacava principalmente a crianças e era, evidentemente, mortal no caso das crianças. Há 158 lares em que falta uma pessoa, por causa dessa agressão terrorista. Consta no Capítulo VII da Demanda do povo de Cuba ao governo dos Estados Unidos, e há 101 lares onde ficou para sempre o vazio de uma criatura que hoje teria entre 20 e 30 anos, hoje seriam parte da juventude que desfruta a Revolução e que nos foram roubadas em 1981; 101 criaturas pereceram como conseqüência dessa agressão.

Por que dizemos que é uma agressão terrorista? Eu creio, Randy, que neste caso, como em poucos casos, ou como em quase todos que têm relação com a agressão biológica, mas mais que em qualquer outro, há uma boa porção de provas para confirmar que foi uma agressão biológica.

Primeiro, esta variante dois da dengue, nesse momento, incidia somente no sudeste asiático, que sabemos a que distância está de nosso país. Com o tempo, se descobriria, inclusive, que a cepa que se identificou como transmissora da dengue hemorrágica naquele momento não existia no mundo, ou seja, que é, evidentemente, uma cepa de laboratório.

Rosa Elena recordou, em uma mesa aqui, que naquele momento os cientistas diziam: Se não é uma agressão biológica, parece muito. Ou seja, todos os elementos indicam isso.

Os anos e pesquisas posteriores levaram à confirmação dessa terrível tese, de que era um ato de agressão biológica contra o ser humano, mas basicamente também contra a infância, sem dúvida, tentando semear o pânico.

Mas há vários elementos que tornam esse ato de bioterrorismo mais terrível que os outros, e que são também provas de que é uma agressão biológica. Primeiro, o fato de que aparece simultaneamente em todas as províncias, e não se reporta na Base Naval de Guantánamo, que está encravada em território cubano. Por quê? Porque os Estados Unidos, o próprio exército norte-americano informou publicamente que tinha uma vacina para essa enfermidade, e que foram vacinados os residentes na base naval. A epidemia não chegou à base naval de Guantánamo. É um dos elementos para fazer a afirmação.

Há, também, antecedentes na história da pesquisa. Sabe-se que em Forte Detrick, que é também um conhecido laboratório de estudo de armas biológicas, produziam-se mosquitos com o interesse de produzir febre amarela, dengue, antraz. Há outras tantas patologias também desenvolvidas em laboratório ali, e havia planos, inclusive, de levar a febre amarela à União Soviética, a um lugar assim distante, houve planos de levá-la, em determinado momento da guerra fria. Sabe-se que não se chegou a aplicar, mas que havia, em segredo, a pretensão de aplicá-la contra a União Soviética.

Além disso, se faltasse algum elemento, há a confirmação de um terrorista, Eduardo Arocena, que no ano de 1984, em um julgamento dele em Nova York, não precisamente por esse crime, bem, ele informa, entre os elementos que dá, sem nenhum rubor, que ele era um dos que haviam introduzido o germe da dengue, nessa variante dois, que é a mais criminosa. Quero esclarecer que provocou a morte de centenas de milhares de pessoas, afetadas no sudeste asiático, chegou a ter milhões de casos, e se neste país não aconteceu o mesmo, sabemos que isso tem a ver com uma sociedade organizada, que tem a ver com um sistema de saúde em função disso, que tem a ver com uma mobilização social que serviu de base também a todo o trabalho que nosso país realizou mais recentemente, para, em 70 dias, erradicar de novo uma epidemia; mas, sobretudo, tem a ver com um conceito de defesa da Revolução, de considerar que o tesouro mais precioso é o ser humano e, em particular, as crianças.

Esse Eduardo Arocena, em seu testemunho no julgamento de Nova York, em 1984, que foi apresentado no juízo da Demanda do povo de Cuba, confirma que ele o introduziu e que, além disso, através de grupos afins em Cuba, havia sido introduzido o germe do vírus da dengue hemorrágica.

Randy Alonso  – Arocena, certamente, Arleen, que era cabeça da organização contra-revolucionária Omega 7, uma das mais tenebrosas naquela etapa, autora de dezenas e dezenas de atentados com bombas, de sabotagens a diferentes instalações, inclusive em território norte-americano, e que foi condenado pelas ações que realizou dentro dos Estados Unidos.

Arleen Rodríguez – Por algumas delas, que foram bombas, porque o homem era um homem de bombas, é um homem de bombas; sem dúvida, não creio que tenha passado essa história nesse sentido. Mas Arocena não é julgado por essa causa, não é condenado por essa causa, e sem dúvida confessa-a ali. Ou seja, que se faltava algum elemento para confirmar que a terrível epidemia de dengue hemorrágica que afetou, que converteu em um verdadeiro trauma nacional os quatro meses de angústia – porque era lutar, como também se explicou em uma mesa aqui, contra uma enfermidade desconhecida, contra uma variante quase desconhecida, e era quase um ato de impotência –, esse elemento estava ali.

É preciso lembrar – e o lembraram os testemunhos dados tanto na Demanda do povo de Cuba como na imprensa cubana, naquele momento, que o povo se mobilizou, porque era dramático de ver, e contava, por exemplo uma doutora de Holguín que apareceu uma mãe com uma criança nos braços e outra pela mão, e as duas vomitavam sangue.

Houve um médico que contou aqui durante longas horas, sem descanso. Que ele chegou a ter 20 crianças que estavam em choque da dengue e, ademais, com vômitos de sangue ao mesmo tempo.

As secretárias dos hospitais, quando terminavam seu trabalho, limpavam os hospitais, porque era preciso ver em que condições estavam nossos hospitais, totalmente ocupados, a ponto de que foi necessário converter escolas em hospitais.

É preciso lembrar, as pessoas que têm crianças, que tinham crianças nessa época, famílias muito jovens, têm de lembrar a angústia com que viviam, com a possibilidade de que seu filho adoecesse e de que seu filho morresse, porque era uma enfermidade que matava rapidamente.

Daí surge a grande capacidade também da Revolução, para enfrentar assuntos como esse: surgem hospitais, desenvolvem-se institutos, como o próprio “Pedro Kourí”, surgem instituições que vão enfrentar decididamente as agressões biológicas a nosso país, e, além disso, surgem experiências como “a mãe como enfermeira”, que é também uma das mais bonitas que houve.

Fidel recordava, em algum momento, que não há melhor enfermeira que a mãe, e isso se provou nos dias de enfrentamento da dengue hemorrágica, a participação popular, a solidariedade com que se atuou.

Creio que somente uma sociedade organizada, solidária, humanista podia resolvê-lo. Em qualquer outro país do Terceiro Mundo, em qualquer outro país da América Latina, isso não teria causado as 158 mortes, as 101 crianças mortas; teria causado centenas de milhares de mortos. Essa é a verdade.

Creio, ademais, que é preciso destacar, Randy, a extraordinária capacidade científica que começou também a emergir, ao dar resposta em muito pouco tempo à pesquisa do que se buscava, e que hoje nos estão questionando, e pergunto-me se não será por isso que há quem se atreve, em um ato doentio de agressividade contra nosso país, a crer que se pode gerar guerra biológica neste país, quando este país sofreu como ninguém, na própria carne, o bioterrorismo.

Quem não sabe que o maior prazer que há na vida é trazer uma criança ao mundo, e que a maior dor é perder uma criança? Bem, pois em 1981, 101 famílias perderam crianças, perderam ao mais caro que tinham. E há também a história de toda a angústia sofrida pela população cubana frente a esse drama.

O esforço feito pela Revolução, tudo que desenvolveu, que permitiu derrotar em 70 dias, como agora, a epidemia, convertê-la em uma vitória e erradicar totalmente a enfermidade, é a maior prova de que a capacidade que desenvolvemos está contida na principal arma da Revolução, que de fato é biológica, que é o ser humano; o ser humano, que cresce mais que qualquer outro, para enfrentar a adversidade e também para vencer aos bioterroristas, aos verdadeiros terroristas, que há exatamente 21 anos levaram a dor às famílias cubanas, onde nunca mais houve o sorriso de uma criança e onde se continuará chorando eternamente sua ausência.

Randy Alonso – Sem dúvida, Arleen, aquela foi uma ação canalha; foi também a tentativa de semear o terror entre nosso povo, a incerteza de quem podia morrer ao dia seguinte.

É preciso lembrar, eu era pequeno, mas meus pais sempre me recordaram essa etapa em que Fidel praticamente não dormia, visitando os hospitais, vendo as crianças, trabalhando para que se abrissem as novas unidades de terapia intensiva em cada um daqueles hospitais.

Arleen Rodríguez – Há um caso que se recordava em uma das mesas-redondas aqui, que aconteceu em um hospital de San Miguel del Padrón – recordava uma doutora –, de uma criança que saiu da tenda de oxigênio e fez a saudação pioneira quando viu a Fidel, e lhe disse: “Comandante-em-Chefe, ordene!” Não era uma consigna em um momento dramático, tinha relação com o fato de que todo mundo sabia que Fidel havia dito: “Não pode morrem mais nenhuma criança em Cuba”.

E sobre a disposição de enfrentar aquela dor terrível, além daquela angústia de saber que um filho podia estar em perigo, eu creio que o povo cresceu como nunca, e embora seja um dos capítulos mais abomináveis da história do terrorismo contra Cuba, é um dos mais bonitos, quanto ao crescimento espiritual e da capacidade intelectual de Cuba, para enfrentar também essas terríveis agressões.

Randy Alonso – Aqui, na mesa-redonda, os médicos falavam-nos também da consagração do pessoal de saúde, como quase não dormiam naqueles dias, tentando salvar as vidas, sobretudo das crianças, de como se decidiu então ampliar e modernizar o IPK (Instituto “Pedro Kourí”), como você assinalou, e como foi também uma batalha de todo o povo; uma batalha que se repetiu, já com médicos da família, já com uma ciência mais desenvolvida, já com uma disposição popular e uma educação popular muito maior, e, como naquele momento, também com a permanente direção de Fidel, nessa batalha de 70 dias que a capital e o restante do país acabamos de travar, para eliminar a transmissão da dengue e reduzir ao menor nível a presença do mosquito Aedes aegypti em nosso país.

Por isso também, dói profundamente quando se lêem informações como essas que lemos há pouco, da campanha que os congressistas anticubanos fizeram nos Estados Unidos, para tentar tirar da cadeia esse Eduardo Arocena, que se confessou como um dos autores materiais da presença da dengue em nosso país, que matou a 101 crianças, que matou a mais de 150 pessoas, e que foi um dos agentes que o governo norte-americano utilizou para essa ação criminosa contra nosso povo.

Seria bom recordar o testemunho dado durante a Demanda do povo de Cuba contra o governo dos Estados Unidos por danos humanos, pela companheira Mauria Herrera Lobato, que, durante a epidemia da dengue, trabalhava como enfermeira no hospital pediátrico de Centro Havana e que viu falecer, nessa mesma instituição de saúde, a uma de suas sobrinhas.

Mauria Herrera – Começarei dizendo que Seagne Herrera Suárez, de 5 anos, veio de Guantánamo passar as férias em minha casa, aqui em Havana, e nesse dia em que chegou a vimos assim... como vinha da viagem, pela tarde a mãe me disse: “Sinto a menina quentinha”. Digo: “Vamos pôr o termômetro”, eu sou enfermeira. Daí, nós a levamos ao Pediátrico, fizeram todos os exames que se faziam às crianças, o médico mandou que a observássemos. Voltamos para casa, passou aquela noite bem, não apresentou mais hipertermia. No outro dia de manhã fui trabalhar e disse a meu irmão: “Se ela sente qualquer coisa, vão para o hospital, que eu estou trabalhando”. Mais ou menos às 10 horas da manhã do dia 14, levaram-na para o hospital, o médico voltou a examiná-la, fez tudo.

Quando lhe perguntei por que a havia levado, disse que estava com febre outra vez, com 38,04, 38,30. O médico do Pronto Socorro a viu, fez todos os exames que se faziam às crianças, e não detectou nada para interná-la. Diz: “Vamos interná-la porque já veio duas vezes”. Como vinha de Guantánamo, a mãe diz que a notava abatida, mas aquela menina corria pelo Pronto Socorro, parecia que não tinha nada; porque eu, que sou enfermeira, não lhe havia visto nada que justificasse uma internação, mas, bem, deixaram-na internada ali.

Nesse dia a menina foi para a enfermaria, passou esse dia bem, o 14, até o dia 15, bem também; já pela tarde, a menina voltou a ter febre outra vez, pela noite caiu em choque, no dia 15, passou assim toda a noite. Eu estava trabalhando em outra enfermaria, e me disseram: “Uma menina de ‘Agramonte’ está passando muito mal”. Eu não pensei que fosse minha sobrinha, porque não a havia deixado com uma gravidade para que morresse assim. Foi uma coisa rápida. Levaram-na com urgência para terapia, e já na terapia entrou em choque.

Todos os médicos e todo o pessoal voltaram-se para aquela menina, que faleceu ao amanhecer do dia 16 de julho, às seis da manhã.

Nesse mesmo dia, nosso Comandante-em-Chefe, que já havia ido várias vezes ao hospital, chegou – eu estava fora, chorando com a mãe –, viu o rebuliço no hospital e disse: “Que aconteceu, como está a coisa?” Disseram-lhe: “Não, é que acaba de morrer uma sobrinha de uma trabalhadora do hospital”. Todos os meus companheiros estavam ali, dando-me pêsames. Então foi para o grupo onde nós estávamos e me pôs a mão no ombro e fez assim, como com raiva; então todos nós estávamos chorando ali.

Fomos para fora, e depois a trasladamos para Guantánamo. A morte dessa menina nos criou... a única menina de meu irmão, ele ficou muito mal dos nervos. Quando chegamos a Guantánamo, nós o levamos ao médico. Antes, estávamos chorando, a mãe da menina e eu, meu irmão desapareceu, saiu do hospital correndo, fora de si, atirou-se ao piso, desesperado, e o levamos ao pronto socorro, onde lhe aplicaram uma injeção, e ele mais ou menos se acalmou em pouco e pudemos levá-lo para Guantánamo, onde fizemos o enterro. Depois, no mesmo dia, nós o levamos ao hospital, para acalmá-lo um pouco, e à mãe da menina também.

Fomos para casa, ele acabou dormindo, e no dia seguinte amanheceu muito alterado, foi para onde estavam as coisas da menina, queimou o berço, queimou a roupa, como um louco, queimou-se nas mãos e nas coxas. Em seguida, levamo-lo ao médico, um psiquiatra atendeu-o. Devido a isso, ele continua mal dos nervos. Eu gostaria que ele pudesse vir depor, mas não pode, está muito mal, chorando constantemente, saíram-lhe umas manchas no pescoço devido a isso. A mãe também, depois não pôde trabalhar mais, porque se tornaram muito suscetíveis, choram por tudo; por qualquer coisa que lhes digam, se vão, porque já começam a chorar. E ainda agora, depois de tantos anos, eles ainda estão afetados pela morte da menina. Nós também, porque, ao ver a meu irmão assim, tristonho, com o olhar muito triste, ele era alegre – é o mais novo dos irmãos –, quando ve alguma garotinha mais ou menos da idade: “Assim estaria a menina”. Nós mudamos de assunto, mas ele não vai esquecer isso nunca, nem ele, nem nós, os familiares, todos.

A mãe é igual, como estou dizendo; de vez em quando suas pernas inflamam, e os braços. Já a levamos ao médico, voltam, desinflamam, não dá nada, os exames negativos, e também está em tratamento.

Nós queremos aproveitar que estamos aqui, para agradecer a todos os empregados do Hospital Pediátrico de Centro Havana, porque a verdade é que fizeram todo o possível para salvar a menina.

Instrutor – Testemunha, você é enfermeira pediátrica?

Mauria Herrera – Enfermeira do Hospital Pediátrico de Centro Havana.

Instrutor – De Centro Havana?

Mauria Herrera – De Centro Havana.

Instrutor – Conheceu outros casos de crianças ou de adultos?

Mauria Herrera – Sim, muitos. Eu, como enfermeira, trabalhava aí. Eram 12 horas todos os dias, descansávamos no próprio hospital, preparou-se aí para que descansássemos, principalmente médicos, enfermeiras, empregados, cozinheiras. É difícil dizer, na verdade, todo mundo ficou no hospital. As pessoas que viviam longe ficavam aí, preparava-se para eles, dava-se comida, dava-se tudo, para descansar um pouco e continuar trabalhando, porque aí não se parava, era constante. Eu mesma, que tinha uma sobrinha internada, estava trabalhando em outra sala.

Em geral, eu não posso determinar se foram as enfermeiras, se os médicos, as empregadas, as copeiras, todos. Inclusive o pessoal de escritório dizia: “E nós, que fazemos, em que podemos ajudar? Podemos ajudar, ainda que seja limpando o chão.”; havia algumas crianças cujas mães estavam desesperadas, gritando, eles se punham a ajudar as mães a cuidar deles. Isso foi geral, todos em geral, por isso aproveito a oportunidades para agradecer a todos que ajudaram naquele desastre, porque, como disse agorinha a companheira, são muitas as mães que estão sofrendo. Não apenas as mães, todos os familiares, em geral, estamos sofrendo isso da menina.

Randy Alonso – Aqueles acontecimentos se enquadravam na chegada ao poder da ultradireita norte-americana, com Ronald Reagan como presidente, que marcou uma nova e, sem dúvida, muito perigosa etapa de agressões contra nosso povo. Aquele momento, pode definir-nos, através de vários documentos e de importantes testemunhos, Lázaro Barredo.

Lázaro Barredo – Obrigado, Randy.

A periculosidade da administração Reagan e de todo o pensamento neoconservador que chegou ao poder nos Estados Unidos, que é uma corrente muito forte, que foi se enquistando na sociedade norte-americana, reflete-se no fato de que nós fomos obrigados a desenvolver uma doutrina militar, para enfrentar a enorme agressividade que significou a ascensão de uma administração tão belicosa como essa de Ronald Reagan. E daí desenvolvemos para aquele momento, para o futuro e para sempre, uma doutrina de defesa muito importante, que nossa população conhece, a doutrina da guerra de todo o povo.

Ou seja, desenvolveu-se, a partir daquele momento, como doutrina, uma nova concepção, para enfrentar os embates de uma ameaça que se pode resumir, por exemplo, em uma frase como esta, que está no pensamento dos políticos conservadores que apoiaram a Reagan para chegar ao poder naquelas eleições realizadas em 1980, e que diz o seguinte: “Cuba foi um problema para os artífices da política norte-americana por mais de duas décadas” – estamos falando do ano 1979, que é quando se faz o Programa de Santa Fé; Santa Fé um, porque houve quatro programas de Santa Fé, que significou o programa do governo de Ronald Reagan –. “O problema não está mais próximo de uma solução agora do que esteve em 1961” – Playa Girón é a referência –; “pelo contrário, o problema cresceu até adquirir proporções verdadeiramente perigosas.”

Assim viam eles a Cuba, os novos conservadores, já no final da década de 70, e naquele programa estabeleciam-se coisas como estas: “Os Estados Unidos somente podem restaurar sua credibilidade sobre Cuba empreendendo uma ação imediata”, e nessa ofensiva política e ideológica dessa ação imediata, encontravam-se algumas medidas muito concretas:

“Transmissões por rádio diretas para Cuba e com programação totalmente destinada aos cubanos.” Daí saíram rádio e TV “Martí”.

“A promoção da chamada dissidência, a partir de supostos grupos de direitos humanos.” Esse documento é de 1980.

E uma ação não descartada: “A intervenção armada”, porque, segundo os proponentes do programa de Reagan, “não deve ser um preço baixo o que Havana tenha de pagar” – cito-o textualmente – “pelo desafio”.

Dessas medidas do Programa de Santa Fé, surgem, imediatamente após Reagan chegar ao poder, duas decisões muito concretas: Uma delas é a Diretriz de Segurança Nacional nº 77, emitida em 1981 pelo presidente Ronald Reagan, mais conhecida como Projeto Democracia, em que se define que, com relação a Cuba, o objetivo é desenvolver pressões públicas, e para isso delineia como estratégia o propósito múltiplo de desgastar a Revolução com processos de dissidência interna, para criar a imagem de que a situação cubana não se deve a seu enfrentamento histórico com os Estados Unidos, mas à incapacidade e intolerância do Governo Revolucionário cubano em buscar uma solução “entre cubanos”, ao recusar o suposto diálogo como solução para instrumentar uma chamada abertura política. Essa é a Diretriz de Segurança Nacional que Reagan adota como aval ao Projeto Democracia, em 1981.

A segunda decisão é a criação da Fundação Nacional Cubano-Americana, que está enquadrada no propósito de mudar a política em relação a Cuba e levá-la até onde fosse necessário “para resolver o problema cubano”. Por isso concebem a criação dessa Fundação, que alguns chamaram a Falange dos Nostálgicos Cubanos Endinheirados, com o propósito de mudar o rumo e dar a impressão de que não iam atuar diretamente, como tinham feito as administrações norte-americanas anteriores, mas que o governo dos Estados Unidos devia responder a pedidos supostamente feitos pelos emigrados de origem cubana. Eles deviam propor as medidas concretas, deviam ter um lobby que propiciasse a adoção de medidas, por parte do governo dos Estados Unidos, para oferecer uma visão totalmente diferente ao mundo.

Sem dúvida, os promotores dessa idéia depararam com um sério problema: a maioria dos emigrados conhecidos estavam associados ao terrorismo, às operações sujas e à violência; tinham de buscar como mudar, como fazer uma metamorfose, mais exatamente, como travestir os antigos terroristas, convertendo-os em políticos, e, para isso, deu-se a tarefa a duas pessoas importantes da equipe de Segurança Nacional de Ronald Reagan: Roger Fontaine, um dos ideólogos de Santa Fé e mais tarde responsável pela política para Cuba no Conselho de Segurança Nacional de Ronald Reagan, que era quem havia colocado a possibilidade de criar esse lobby cubano ante o Congresso, para justificar a implementação de uma política mais agressiva, e o veterano da CIA, Richard Allen, assessor de Segurança Nacional de Reagan, que é quem formaliza a idéia de aglutinar os cubanos em “uma efetiva tarraxa para favorecer a agressiva política exterior do Presidente”.

Allen reuniu-se com a gente que ia formar a Fundação e encomendou-lhes a tarefa, como confessou ele a meios públicos norte-americanos: “Eu disse a eles que a melhor coisa que podiam fazer era criar uma organização que falasse com uma só voz”. Isso foi reconhecido por Richard Allen. É assim, então, que começa a FNCA e toda a atividade de pessoas como Mas Canosa e outros diretores da Fundação, que até aquele momento tinham estado vinculados a operações secretas da Agência Central de Inteligência e a outras atividades contra nosso país, instrumentando o funcionamento das organizações terroristas mais agressivas que se desenvolviam em território norte-americano. É assim que eles, os velhos guerreiros, transformam-se em políticos, começam a ir a Washington, começam a fazer contribuições a campanhas políticas, a buscar toda a imprensa possível e a servir aos interesses que lhe havia pedido a camarilha da segurança nacional de Reagan, no ano de 1981.

Por exemplo, quando se começa a preparar já a invasão norte-americana à ilha de Granada – para dar um exemplo, depois do que aconteceu com o movimento revolucionário nessa pequena ilha, e todo o fracionamento –, a CIA iniciou uma operação ultra-secreta para a qual se reativaram, em poucos dias, a vários terroristas de origem cubana. Lembremos que se golpeia o governo revolucionário de Granada, assassina-se a Maurice Bishop, e imediatamente os Estados Unidos, que tinham saído fugindo do Líbano, depois da ação em que morrem duzentos e tantos norte-americanos no Líbano, as tropas voltam para os Estados Unidos, e nesse momento acontece o de Granada, produz-se a intervenção norte-americana.

Randy Alonso – Com o ridículo pretexto de assegurar ou de garantir a vida dos estudantes de medicina norte-americanos que estavam lá.

Lázaro Barredo – A vida dos estudantes de medicina que estavam lá. Produz-se toda a intervenção, produz-se a agressão sobre os trabalhadores cubanos que estavam trabalhando na construção do aeroporto.

Bem, nesses dias eles já tratam de preparar imediatamente um grupo de homens das equipes de infiltração, para apoiar a operação na ilha de Granada; mas descobrem que muitos daqueles agentes estavam presos por atividades de narcotráfico, e é aí que pedem a Mas Canosa e aos demais dirigentes da Fundação nacional Cubano-Americana que tramitassem a libertação de alguns daqueles agentes, que os pusessem em liberdade condicional, para poder utilizá-los naquela operação. Esse é um exemplo.

Há também, como parte da fidelidade, todo o apoio que dão ao metamorfoseado (esse homem sofreu muitas metamorfoses), o terrorista Armando Valladares, que tinha sido detido no princípio da década de 60, por ter colocado explosivos plásticos em lugares públicos – como já explicamos em uma destas mesas-redondas. Bem, esse homem primeiro foi transformado em paralítico, depois o transformaram em poeta, finalmente em político, até convertê-lo no flamejante embaixador dos Estados Unidos, nada mais, nada menos que diante da Comissão de Direitos Humanos em Genebra. Mas Canosa e toda a Fundação lhe deram todo o apoio.

Assim também com toda a operação, isso está verificado em uma audiência do Congresso e foi provado pelas próprias denúncias feitas por Ricardo Mas Canosa, sobre o dinheiro que foi buscar no Panamá, para entregar a seu irmão, 50.000 dólares, dinheiro que se utilizou para ajudar o terrorista Luis Posada Carriles a fugir da prisão de San Carlos, na Venezuela, onde estava preso pelo monstruoso atentado contra o avião da Cubana de Aviación. Foram Mas Canosa e outros dirigentes da Fundação nacional Cubano-Americana; aí está Gaspar Jiménez, que agora também está preso no Panamá, e Rolando Mendoza, os que vão para apoiar as gestões para a saída de Posada Carriles de Caracas.

Há toda a gestão da participação no processo da Nicarágua, do Irã-Contra, feita pelos antigos dirigentes da CIA. Há uma enorme reportagem de um pesquisador, Gaeton Fonzi – um pesquisador, inclusive, que faz trabalhos para o Congresso dos Estados Unidos – em uma importante publicação norte-americana, onde relata uma cena em um restaurante de Miami, no restaurante Marabella, para o qual foram convocados todos os diretores da Fundação Nacional Cubano-Americana, e aí havia um homem junto com Mas Canosa, recebendo-os, um homem que sorria e se alegrava de vê-los, e muitos dos diretores da Fundação não sabiam de quem se tratava; mas Fonzi, esse pesquisador, diz que o significativo é que, muitos dos que estavam ali não apenas não sabiam quem era aquele homem que estava ao lado de Mas Canosa, mas também não sabiam que em algum momento haviam trabalhado para ele. Esse homem era Theodore G. Shackley, que foi chefe da estação CIA JM-WAVE, como ontem se explicou, como parte da Operação Mangusto.

Shackley convocou-os a essa reunião para explicar-lhes que eram necessários de novo seus serviços, e que se lhes pedia que apoiassem ao presidente Reagan em seu esforço secreto para buscar formas de abastecer aos contras nicaragüenses e brecar o comunismo na América Central. Foi nessa reunião que nasceu a idéia de que o caminho para Havana passava por Manágua, e é ali que essa gente se vincula à Operação Irã-Contra.

Ali estão Alberto Hernández, que foi vice-presidente e presidente da Fundação, está Félix Rodríguez, está o próprio Mas Canosa, há uma série de personagens que ali estão, não só a pedido de Reagan, mas também de Bush pai, que havia sido diretor da CIA e que havia tido, inclusive, vínculos com a maioria desses terroristas, no princípio da década de 60, porque, não se pode esquecer, há que lembrar aqui, que a família Bush tem forte vínculo com a máfia cubano-americana terrorista de Miami, desde o princípio da década de 60.

Bush pai foi um dos oficiais da Agência Central de Inteligência que receberam, em 1960, a tarefa de recrutar um grupo de cubanos que tinham ido para os Estados Unidos, os cubano-americanos que haviam chegado nas primeiras levas de 1959 e 1960, precisamente para preparar um grupo dos que depois viriam na invasão mercenária de Playa Girón, como agentes da contra-inteligência; ou seja, como oficiais da contra-inteligência; foi esse Bush que, junto com Félix Rodríguez, que era seu subordinado, começou a captar esses oficiais. Ali captaram a Luis Posada Carriles, ali captaram a Mas Canosa, ali captaram a um grupo de personagens que depois vieram a ser chefes, líderes dos grupos terroristas de Miami ou dirigentes políticos metamorfoseados, como esses que explicamos aqui.

O atual presidente dos Estados Unidos passou sua adolescência conhecendo a muitas dessas pessoas; o atual governador do estado da Flórida, Jeb Bush, também se encontrou com essa gente no princípio da década de 80. O milionário em cuja casa se deu o jantar de arrecadação de fundos em 20 de maio passado, Armando Codina, é um dos homens que trouxe Jeb Bush a Miami, no princípio dos anos 80.

Jeb Bush tinha sido uma espécie de ovelha desgarrada, e era preciso ajudar a família, a George e a Bárbara Bush, a resolver esse problema, e levaram-no, ele e Raul Masvidal, ou Carlos Salman, que também estava entre os primeiros dirigentes da Fundação, e ajudaram-no, e então ele se radicou em Miami, fez sua vida empresarial, seus negócios, casou-se com sua atual esposa.

Ou seja, a família Bush deve agradecimento a muitas dessas pessoas que estão vinculadas à atividade contra-revolucionária e terrorista contra nosso país.

Mas Canosa teve também, como a Fundação Nacional Cubano-Americana, um papel importante durante a guerra de Angola, na década de 80. Havia uma emenda aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos, a emenda Clark, que proibia a assistência econômica, militar ou paramilitar à força da UNITA, de Jonas Savimbi. E foi Mas Canosa, a pedido dessa equipe de segurança nacional, quem negociou, fez lobby no Congresso dos Estados Unidos para abolir essa emenda; e não por acaso, imediatamente depois de abolida a emenda, o presidente Reagan designou 30 milhões de dólares à força da UNITA, para toda a atividade antigovernamental que estavam desenvolvendo contra a força do governo angolano do MPLA.

Randy Alonso – E Reagan recebeu a Savimbi na Casa branca, com honras de Chefe de Estado, um homem que havia desatado uma guerra feroz em Angola, que causou a morte de milhares de pessoas naquele país, aplicando, inclusive, métodos terroristas de guerra naquela nação.

Lázaro Barredo – Anos depois, Savimbi também receberia pomposamente a Mas Canosa em seu acampamento em Angola e ainda lhe daria, como agradecimento, uma réplica de um AK-47 talhado em marfim. Ou seja, essa é uma velha história, muito comprometida, que Washington não pode negar.

Raúl Masvidal, que foi um dos três fundadores da Fundação, declarou que “entre 1981 e 1985 Mas Canosa começou a aproximar-se mais e mais da Casa Branca e da comunidade de inteligência em Washington; ordens de todo tipo eram trazidas de Washington. Jorge, obviamente, estava marchando sob as ordens da Casa Branca”.

E como parte dessas missões, havia recebido a tarefa de unificar as organizações contra-revolucionárias de Miami. E foi assim que se aproximou de fez todo o esforço para aglutinar a todas essas organizações terroristas, inutilmente, porque nesse pantanal de esterco cada um quer buscar sua fatia do dinheiro da indústria anticubana; mas ele esteve todo o tempo tentando aglutinar essa força e aglutinar também aos batistianos. Não por acaso, no final da década de 80, um de seus trabalhos essenciais foi oferecer uma homenagem muito importante a mais de 150 oficiais da ditadura de Batista; porque, para Mas Canosa, outro de seus grandes ídolos tinha sido o senhor Fulgencio Batista.

Randy Alonso – Muito obrigado, Lázaro, por esse comentário.

(Projetam breves imagens sobre o tema)

Randy Alonso – Com Ronald Reagan no poder e o lobby anticubano da Fundação Nacional Cubano-Americana, a agressão por rádio a Cuba chegou, nesse período, a seu nível mais alto, e depois viria a televisão agressora.

Dessa história, Eduardo Dimas pode falar-nos um pouco.

Eduardo Dimas – É preciso dizer, primeiro, que quando vemos o conjunto da política norte-americana para Cuba, temos em primeiro lugar um bloqueio econômico, ou seja, a tentativa de submeter um povo pela fome; temos, por outro lado, as agressões biológicas, as sabotagens, as tentativas de assassinato a nossos dirigentes, a promoção das saídas ilegais do país, toda uma série de leis nos Estados Unidos que buscam promover, exatamente, essas saídas ilegais, e falta um elemento, esse elemento é precisamente a guerra psicológica.

Toda propaganda tem o objetivo de exercer influência sobre as idéias, a consciência dos homens; o homem pensa como vive, portanto suas ações estão determinadas pelo que pensa. E desde setembro de 1959, o governo dos Estados Unidos começou a tentar influir na mente dos cubanos.

Em setembro de 1959, por exemplo, segundo documentos desclassificados da Agência Central de Inteligência, dedicaram-se a buscar um lugar no Caribe, que foi a ilha Swan, para ali instalar uma emissora de rádio; em maio de 1960, começaram as transmissões dessa emissora de rádio. Caracterizou-se desde o princípio, nem é preciso dizer, pelo uso descarado da mentira, da manipulação das informações e pelo caráter claramente subversivo e terrorista de suas mensagens.

Dou-lhes um exemplo clássico de guerra psicológica, a Operação Peter Pan, o envio de 14.000 meninos, a partir de um boato, de um rumor que se lança – estávamos nos primeiros anos da Revolução –, em que se dizia que se ia retirar dos pais o pátrio poder, lembram-se? Ou seja, estava-se lançando um rumor, uma mentira contra pessoas que haviam sido penetradas por toda a propaganda anticomunista que tínhamos sofrido em Cuba, durante todos os anos anteriores, e deu resultado.

Um dos muitos crimes; e 14.000 meninos se viram separados de seus pais, como conseqüências desses boatos, que não apenas foi um boato que se lançou através da rádio, mas também por outras vias e outros meios, ao interior do país.

A Rádio Swan vai desempenhar um papel de desinformação durante o ataque a Playa Girón. Lembremos que Howard Hunt, que depois esteve no escândalo Watergate, era o chefe da propaganda naquele momento. A propaganda e a desinformação não lhes serviram de nada, todos sabemos que em menos de 72 horas foi liquidada Playa Girón.

Em 1961, a Voz das Américas, emissora oficial do governo dos Estados Unidos, começa a transmitir “Encontro com Cuba”, com o objetivo de promover as saídas, sobretudo, de profissionais, principalmente de médicos. Durante a Crise de Outubro, essa emissora transmitia durante as 24 horas, tentando influir também na mente dos cubanos.

Todo esse empenho subversivo obteve, evidentemente, o mais rotundo fracasso. A Rádio Swan desaparece em 1970, e quatro anos depois, em 1974, a Voz das Américas elimina o programa “Encontro com Cuba”. Entre 1974 e 1979 diminui a agressão por rádio e, apesar disso, realizaram-se cerca de 3.904 transmissões em ondas curtas por emissoras piratas, entre elas a do grupo terrorista Alpha 66, que é uma criação da Agência Central de Inteligência.

Lázaro referiu-se ao papel desempenhado pelo documento de Santa Fé, guia de governo do presidente Ronald Reagan, que assume em 1981, por um lado na criação da Fundação Nacional Cubano-Americana e, por outro, em 22 de setembro de 1981, Reagan emite a Ordem Executiva 12323, pela qual foi criada a Comissão Presidencial para Radioemissões e Idéias para Cuba. Nesse documento definia-se que o propósito do plano seria promover a livre comunicação de informações e idéias a Cuba e, particularmente, a comunicação ao povo de “informação fiel” sobre nosso país.

Esse processo é que conduz à criação da mal denominada Rádio “Martí”; dentro disso, Lázaro já se referiu também ao papel desempenhado por Mas Canosa. Mas Canosa, como chefe do grupo de assessores, vai desempenhar também um importante papel na criação da Rádio “Martí”.

Ou seja, que, se queremos defini-lo, podemos dizer que, com o governo de Reagan, as transmissões para Cuba convertem-se em uma política de Estado do governo dos Estados Unidos, violando as normas internacionais e as normas de relações entre os Estados.

Em 16 de outubro de 1981, é Bush, o pai do atual Presidente, quem anuncia a entrada no ar da chamada Rádio “Martí”. Desde então, temos uma agressão sistemática contra nosso país, em nome, precisamente, do governo dos Estados Unidos.

O desaparecimento do campo socialista incrementa essa agressão dos meios radiofônicos contra nosso país. Para ter-se uma idéia, transmitem-se mais de 200 horas diárias de veneno informativo radiofônico contra Cuba, e há semanas em que se chegou a 1.900 e até mais horas de transmissão.

Entre 1990 e 1998, 63 emissoras contra-revolucionárias, 60 delas com sede nos Estados Unidos, transmitiam a Cuba, e atualmente 13 emissoras de rádio operam contra Cuba, sem incluir as emissoras de ondas médias, que também chegam aqui às vezes, Rádio Fé, Rádio Mambí, Pérez Roura, “o almirante”, etc., etc.

Todas as emissoras tratam de promover a mesma coisa: saídas ilegais, às vezes utilizando métodos subliminares, precisamente em virtude dessa lei assassina de Ajuste Cubano; promovem sabotagens, atentados, vendem o modo de vida norte-americano, tratando de penetrar com suas idéias nas consciências dos homens.

Está, por exemplo, o caso da Rádio “Camilo Cienfuegos”, outro nome que realmente ofende que seja dado a uma emissora contra-revolucionária, que promove atentados, sabotagens, etc., etc.

Também continuam as campanhas de boatos e mentiras, rumores, tentam desprestigiar nossos dirigentes máximos, e fazem campanha, por exemplo, para que a população não vote nas eleições, essa é uma de suas campanhas. Em todos os casos, tudo que têm conseguido é o mais absoluto fracasso.

Algumas coisas que se podem ter em conta, para verificar como a agressão pode ter alguns ouvidos receptivos, são os acontecimentos de 5 de agosto de 1994, ou os recentes acontecimentos da Embaixada do México, em que tomaram algumas palavras do Chanceler mexicano, que hoje creio que podemos afirmar que foram ditas com esse objetivo, divulgaram-nas, divulgaram-nas para provocar os acontecimentos de 27 de fevereiro na Embaixada do México.

Há também ouvidos assalariados aqui, ouvidos que recebem salários do Repartição de Interesses, ou seja, do governo dos Estados Unidos, e se convertem em propagadores e, além disso, são inclusive seus repórteres, sobretudo da Rádio “Martí”, e há também aqueles que se acostumaram a escutar os cantos da sereia, que gostam de escutar os cantos de sereia que emite.

Essa é, em traços gerais, a agressão radiofônica, que nunca conseguiu atingir seus objetivos. Por outro lado, também com a chegada de Reagan, começa a atuação da TV “Martí”, a TV fantasma.,

Veja, há duas primeiras tentativas de enviar sinais de televisão para Cuba. Uma tentativa em 1962, colocando dois aviões DC-6 no ar; a segunda tentativa, em 1975, que também se descarta, e em 1987 são feitos estudos de exeqüibilidade, o governo entrega 100.000 dólares, para fazer estudos de exeqüibilidade. Em 1988 destinam-se – tudo isso do contribuinte norte-americano, é bom lembrar – 7,5 milhões, para a compra de equipamentos e outros gastos, e em 1989 é aprovada a entrada no ar da TV “Martí”, e a isso são destinados, naquele ano, 16 milhões de dólares. E em 1990, destinam-se também 16 milhões de dólares.

É sintomático que em todas as análises feitas pelo Senado, feitas pelo Congresso dos Estados Unidos, com o objetivo de verificar a efetividade real da TV “Martí”, que enfim é uma TV fantasma, tenham dito que o melhor que se pode fazer é fechá-la; sem dúvida, não foi assim, a TV “Martí” continua indo ao ar, para que ninguém a veja. Em traços gerais, Randy, é assim.

Randy Alonso – Tudo isso, Dimas, é parte do que o professor Alfredo Jalife, estudando as guerras dos Estados Unidos em todos esses anos, considerou terrorismo informativo. Um terrorismo informativo que foi estabelecido contra nosso país desde o início mesmo da Revolução, e que teve seu clímax coma criação das mal denominadas Rádio e TV “Martí”, financiadas com centenas de milhões de dólares do contribuinte norte-americano; alguns falam em mais de 400 milhões.

Você lembrava um dos fatos que foi resultado direto dessa agressão e desse terrorismo radiofônico, que é a incitação às saídas ilegais, para provocar uma pressão social que leve a explosões dentro de nosso país, e também o fato de promover, através das emissoras que transmitem de Miami em nome dessas organizações contra-revolucionárias, a queima de canaviais, os atos de sabotagem, tudo o que, durante esses anos, tivemos de ir denunciando oportunamente, através dos mais diversos meios de comunicação e também pelos discursos de nossos dirigentes.

Arleen Rodríguez – Não se podem esquecer os três dias para matar, que decretaram em determinado momento, quando acreditaram que era momento de vir de novo com suas maletas. “Três dias para matar” era uma das ofensivas terroristas da rádio inimiga.

Randy Alonso – E Lázaro lembrava também, em uma mesa-redonda em que analisávamos o tema da Embaixada do México, aqueles acontecimentos de 5 de agosto de 1994, e o papel jogado pela rádio inimiga em seu intento de provocar uma explosão social em nosso país.

Lázaro Barredo – O problema, Randy, é que todas essas emissões radiofônicas sempre tiveram como objetivo a desestabilização do país; ou seja, criar uma situação interna de violência, fazer uma permanente convocação para desestabilizar, para tentar criar um ambiente de desobediência, um ambiente de crise nacional; esse é um dos propósitos, e aí se insere o que ocorreu em 5 de agosto de 1994, quando começaram a incitar, tal como fizeram depois com a Embaixada do México, a que as pessoas se reunissem no porto, porque propagaram o falso rumor de que viria um barco, que entraria no porto para recolher as pessoas que queriam sair do país, e aí começam a concentrar-se na zona do porto de Havana várias centenas de pessoas anti-sociais, as quais começam a impacientar-se, quando vêem que não entra nenhum barco, e então seqüestram as lanchas de Regla.

Nesse intento, matam a um companheiro da polícia, atropelam a outros cidadãos e tratam de sair, pondo em perigo a vida das pessoas, e é aí então que toda essa gente vê a oportunidade de – como dizemos os cubanos – “marcar pontos” com o Escritório de Interesses, para obter visto, criando toda a incitação dos acontecimentos de 5 de agosto, que trouxe consigo as manifestações que todos recordamos, e a réplica contundente de nosso povo, a resposta contundente que de imediato se materializou, poucos minutos depois de ocorrerem os incidentes.

Randy Alonso – Claro, esses meios do terrorismo informativo dos governos norte-americanos também serviram para exaltar as infiltrações armadas contra nosso país, existentes e inexistentes, as muitas que se executaram e as muitas outras que se reivindicaram, mas nunca puderam realizar, as organizações contra-revolucionárias financiadas pelo governo dos Estados Unidos, e que incluíram, durante a década de 90, numerosas ações, entre elas os ataques contra instalações turísticas. O companheiro Manuel Hevia tem um resumo dessas inumeráveis agressões contra nosso país durante a última década.

Manuel Hevia – Obrigado, Randy. Muito boa tarde.

Em realidade, a década dos anos noventa marcou um avanço importante na extensa corrente de agressões terroristas do governo dos Estados Unidos contra Cuba, iniciada 30 anos antes, em 1959.

Nosso centro conta com muitas informações que atestam que no princípio da década de 90 reaparecem com muita força novos planos e ações terroristas, estimulados por setores da máfia anticubana e pela ultradireita norte-americana, partidárias da violência e do terror.

Todos recordamos como as novas estimativas dos governantes norte-americanos, naquele momento, no final dos oitenta, indicavam novamente a “hora final” em Cuba. Tinha chegado – segundo eles – o momento de acelerar a queda da Revolução, depois do descalabro sofrido no campo socialista europeu e na URSS.

Novamente, após alguns anos, na década de 80, em que algumas tipicidades terroristas contra Cuba se haviam limitado – refiro-me à colocação de bombas, às infiltrações e aos ataques piratas contra nossas costas –, por razões ou por conveniências políticas táticas do governo norte-americano, que dedicava naquele momento um esforço particular ao desenvolvimento de operações de subversão política, pendia a ameaça de uma agressão militar contra Cuba. O fato certo é que o fantasma do terrorismo ressurgia com força na década dos noventa. Tratava-se, em nossa apreciação, de um “Mangusta” revitalizado, em que a Fundação Nacional Cubano-Americana, o novo instrumento do neoconservadorismo norte-americano, assumiria a liderança, sob a tolerância e cumplicidade das autoridades norte-americanas. Disso, temos provas irrefutáveis.

A nova onda terrorista teria os seguintes propósitos, que vou enquadrar em três objetivos básicos:

Primeiro: Durante os anos mais difíceis de período especial da década de noventa, a Fundação Nacional Cubano-Americana e a máfia de Miami revitalizariam com toda a força, esforços e recursos, os planos para atentar contra a vida de nosso Comandante-em-Chefe.

Segundo objetivo: dirigir o peso principal de suas ações terroristas para tentar afetar as fontes de divisas do país, com ênfase especial no setor turístico.

Terceiro objetivo: promover novos ataques piratas a nossas costas e infiltrações de mercenários de origem cubana, com armas de todo tipo, adquiridas, neste caso, a baixo preço em lojas de Miami, e quilos de explosivos plásticos C-4, de grande poder destruidor, comprados também em algumas lojas de Miami e em outros lugares da América Central, com o objetivo de promover ações terroristas e atos de sabotagem internos, dentro do país.

Algumas dessas infiltrações tinham também como objetivo tratar de revitalizar novos levantes nas montanhas, o que, é claro, não deixava de ser uma ficção, à altura dos anos noventa; mas, em nossa apreciação, talvez exista certa diferença em relação às mais de 150 infiltrações de “Mangusta” e de outras operações posteriores, dos anos sessenta e setenta, e é precisamente o afã publicitário de quem as enviava, para arrecadar mais fundos, à custa, inclusive, da vida desses sujeitos que se prestam a participar dessas ações como mercenários. Refiro-me a grupos como Alpha 66, Brigada 2506, Comando F-4 e outras muitas organizações em Miami, que vivem, precisamente, de coletas e bingos, à custa dessas ações terroristas.

A partir dessa década, a Fundação Nacional Cubano-Americana organiza, em segredo, seu novo braço armado clandestino, a que chamou, entre outros nomes, Comissão de Segurança. Com essa estrutura e uma verba milionária, assumiria, a partir daquele momento, a execução de ações terroristas contra Cuba, ou o financiamento de outros grupos de Miami para que as executassem.

Entre 1990 e 2001, nossas autoridades procederam à neutralização de um total de 10 penetrações marítimas por nossas costas, e a detenção de 28 elementos terroristas. Suas características: todos residentes nos Estados Unidos; todos saíram daquele país para tentar infiltrar-se em Cuba e realizar suas ações, provocando o terror e o crime dentro de nosso território; todos vinham com cargas de explosivos plásticos de alto poder destrutivo. Em um caso triste e conhecido por todos, assassinaram a um companheiro revolucionário, o companheiro Arcelio Rodríguez García, em uma dessas infiltrações.

Nosso povo conhece, e pode recordar perfeitamente, o mais recente caso de tentativa de infiltração – que foi objeto, inclusive, de análise nesta mesa-redonda – efetivada em 25 de abril de 2001, por três terroristas da máfia estreitamente vinculados a outros cabecilhas de Miami, que, por sua vez, mantêm estreitos vínculos com o criminoso Luis Posada Carriles.

Todos recordam também aquela conversa telefônica entre um daqueles terroristas – chefe do grupo de infiltração –, já detido, e Santiago Álvarez, cabecilha da máfia cubano-americana de Miami.

Nesse mesmo período – é importante estabelecer as diferenças – nossas autoridades impedem a realização de dez infiltrações e detêm um grupo de elementos terroristas. Em outros 10 atos de infiltração e ataques piratas contra nossas costas, põe-se em evidência a política tolerante e a cumplicidade das autoridades norte-americanas.

Permitam-me comentar sucintamente alguns desses fatos.

Em 4 de julho de 1992, um grupo de terroristas procedentes dos Estados Unidos tenta atacar objetivos econômicos situados nas costas havanesas. Ao serem detectados por patrulhas cubanas, dirigem-se para águas próximas de Varadero, onde a embarcação sofre avarias, sendo posteriormente resgatados por guardas-costeiros norte-americanos. Nessa ocasião foram tomadas armas, mapas, videocassetes filmados durante a viagem, e após serem interrogados pelo FBI, foram postos em liberdade.

Em 7 de outubro de 1992, realiza-se um ataque armado contra o hotel Meliá-Varadero, a partir de uma embarcação tripulada por quatro elementos da máfia terrorista, os quais foram detidos posteriormente a essa ação e interrogados pelas autoridades do FBI, sendo também postos depois em liberdade.

Em janeiro de 1993, são detidos, pelo Serviço de Guarda-Costeira norte-americano, cinco terroristas a bordo de uma embarcação armada com metralhadoras pesadas e outros armamentos, que se dirigia rumo às costas cubanas. Foram postos em liberdade quase de imediato.

Em 2 de abril de 1993, foi metralhado, cerca de sete milhas ao norte de Matanzas, um navio-tanque de bandeira cipriota, que realizava cabotagem entre distintos portos cubanos. Da embarcação tripulada por terroristas que provinham de Miami, atiraram contra o navio e puseram em perigo sua travessia e a segurança de seus marinheiros. Posteriormente, ao regressar a seu lugar de origem, os terroristas não foram molestados.

Em 21 de maio de 1993, foram detidos, pelo Serviço Aduaneiro dos Estados Unidos, nove elementos terroristas da máfia, a bordo de uma embarcação, quando se dispunham a viajar a Cuba, também para atacar objetivos. Foram tomadas armas e explosivos.

Posteriormente, alguns meses depois, o juiz Lawrence King rejeitou as acusações, e eles foram postos em liberdade.

Em 11 de março de 1994, grupos terroristas de Alpha 66 realizam disparos, desde uma embarcação, contra o hotel Guitart-Cayo Coco. Retornam aos Estados Unidos, oferecem declarações à imprensa desse país e não são molestados.

Em 6 de outubro de 1994, outro grupo armado de Alpha 66, em outra embarcação, procedente do mesmo lugar, realiza novos disparos contra o hotel Guitart-Cayo Coco. Tratava-se do segundo ataque. Retiram-se, fazem declarações, e não acontece nada.

Em 20 de maio de 1995, pela terceira vez é atacado por Alpha 66 o mesmo hotel, na província de Ciego de Ávila. Não se aplicaram medidas.

Em 12 de julho de 1995, são detidos, nos Estados Unidos, três elementos terroristas, quando se dispunham a infiltrar-se em Cuba, aproveitando a manobra de uma flotilha provocadora, e apesar de lhes serem tomadas armas, de lhes serem tomados explosivos, foram também liberados pelas autoridades norte-americanas.

Como último exemplo, em 23 de janeiro de 1996, as autoridades dos Estados Unidos interceptam, na ilhota Maratón, uma embarcação com cinco terroristas armados, quando se dirigiam a Cuba. Foram também libertados, no mesmo dia, pelas autoridades do FBI.

Creio que a posição tolerante das autoridades norte-americanas não deixa dúvida de sua verdadeira posição ante as ações terroristas a que Cuba é submetida, apesar de já terem passado quase 43 anos.

Randy Alonso – E um exemplo evidente, Hevia, dessa conivência das autoridades norte-americanas com todos esses atos terroristas, de seu conhecimento, de sua permissão de que isso tudo aconteça, e também, é claro, da conexão entre as autoridades norte-americanas e essa máfia terrorista de Miami, que já foi demonstrado durante nossas mesas-redondas, algo que você recordava e que nosso povo viu em uma mesa-redonda, mas que considero um testemunho inestimável também para nossa mesa-redonda de hoje, é a conversa telefônica entre o chefe da equipe de infiltração que foi detido na ilhota Jutía e seu chefe mafioso em Miami. Proponho-lhes recordar essa conversa telefônica.

Iosvany – Alô, Santiago, sou eu, Iosvany.

Santiago Álvarez – Caramba! Como anda isso por aí?

Iosvany – Ih, cara! Isso aqui está fervendo, brother.

Santiago Álvarez – É?!

Iosvany – É, você sabe como são essas coisas.

Santiago Álvarez – Aqui disseram que houve um tiroteio em Sagua Grande.

Iosvany – Ah, não sei, não sei nada disso, não fiquei sabendo.

Santiago Álvarez – É, disseram que tinham pegado três homens de Miami, em um tiroteio em Sagua Grande.

Iosvany – Não, não soube disso.

Santiago Álvarez – E você, pôde andar?

Iosavany – Bom, eu ainda estou aqui metido nas montanhas.

Santiago Álvarez – Não me diga onde você está.

Iosvany – Eu estou pregado.

Santiago Álvarez – Você conseguiu andar bastante?

Iosvany – Ainda não, mas estou nisso, em alguns dias espero avançar...

Santiago Álvarez – Não, não, é melhor fingir de morto. Pega leve, que aqui não tem pressa. OK?

Iosvany – OK.

Santiago Álvarez – Tua família está muito bem.

Iosvany – Hã-hã!

Santiago Álvarez – Todo mundo bem.

Iosvany – OK.

Santiago Álvarez – Mas superbem, muito contentes de saber de você; resolvemos aquilo como tínhamos combinado.

Iosvany – Tá. E os meninos?

Santiago Álvarez – Superbem. Têm muita saudade e tudo isso, mas estão bem. Não se preocupe. Lembre-se de que isso é problema meu.

Iosvany – Sim, eu sei.

Escuta, deixa eu fazer uma pergunta. Se eu tivesse de sair daqui, fazemos como você me disse, saio até a primeira ilha habitada das Bahamas e daí te chamo?

Santiago Álvarez – Exatamente.

A coisa está tão difícil?

Iosvany – Quê?

Santiago Álvarez – A coisa está tão difícil?

Iosvany – Não, é que as ruas estão cheias de polícia, e tem gente da Segurança do Estado, você entende? Não quero me arriscar de me mexer.

Santiago Álvarez – Você tem de ficar tranqüilo. Fica tranqüilo, até que a coisa se acalme, porque parece que essa gente de Sagua botou a perder a situação.

Iosvany – Quê?

Santiago Álvarez – Parece que houve um problema em Sagua e...

Iosvany – OK.

Santiago Álvarez – Parece que foi esse o problema, entendeu? Fica tranqüilo, desaparece um pouco, não se mexa, e você vai ver que as coisas saem bem. Não tenha pressa, que a calma nisso é imprescindível.

Iosvany – OK, OK.

Deixa eu fazer uma pergunta. No outro dia, que você me falou do Tropicana, você quer que eu faça alguma coisa lá?

Santiago Álvarez – Se você quer fazer isso, melhor. pra mim dá no mesmo. Ali se entra por uma janela com um par de latinhas e se acaba com aquilo, e é menos arriscado.

Iosvany – OK.

Santiago Álvarez – Você entendeu?

Iosvany – Sim, não, não, o que me preocupa é que você sabe, não perder o contacto.

Santiago Álvarez – Você faz o que achar melhor e mais seguro, não se arrisque desnecessariamente, e nos próximos dias não se mexa, fica quieto debaixo de uma pedra.

E os outros dois, estão bem?

Iosvany – Sim, os outros dois estão bem.

Santiago Álvarez – Você fica tranqüilo, fica trancado uma semana, 10 dias mais, que parece que teve esse problema em Sagua, que isso é que botou a perder o de vocês. Eu estava preocupado e, pra dizer a verdade, agora mesmo eu estava olhando o telefone pra ver se você chamava (risos).

Olha, desliga agora, tá?

Iosvany – Tá, eu desligo.

Santiago Álvarez – Desliga, que eu vou desligar rápido.

Iosvany – Eu te chamo de novo quando tenha uma chance.

Santiago Álvarez – Tá, não tenha pressa.

Iosvany – OK.

Santiago Álvarez – Mas some.

Iosvany – Sim, sim, eu vou desaparecer agora, tranqüilo.

Randy Alonso – Bem, é sem dúvida um testemunho revelador de quem paga, de quem participam dessas ações e de que se propõem: atacar instalações turísticas, semear o terror, provocar também a morte, não apenas de cidadãos cubanos, senão de cidadãos estrangeiros que visitem nosso país e, enfim, tentar, com esses métodos, derrubar a Revolução Cubana.

Um dos mais conhecidos atos terroristas da década passada, em nosso país, foi a série de bombas contra instalações turísticas em 1997. Nosso povo tem frescos na memória aqueles momentos, mas há elementos que podemos seguir analisando em nossa mesa-redonda. Sobre isso, proponho que nos fale o companheiro José Luis.

José L. Méndez – Bem, como parte do plano terrorista para debilitar o desenvolvimento econômico de Cuba, havia outras ações, como as ameaças terroristas contra linhas aéreas e agências de viagem de vários países, nos Estados Unidos, Brasil, Equador, Porto Rico, Canadá, México, Espanha; também as bombas e atentados contra instalações e residências de emigrados cubanos opostos ao bloqueio; as ameaças e ataques contra representações cubanas no exterior. Tudo isso, no período de 1990 a 1995. Sem dúvida, a partir dessa data, os terroristas priorizam trazer o terrorismo a Cuba, para criar o terror na população, e o mesmo se organiza a partir da América Central, com a presença, nessa região, particularmente em El Salvador, do terrorista internacional Luis Posada Carriles. Daremos apenas dois exemplos, para caracterizar essa etapa:

Em 20 de março de 1995, são detidos dois terroristas na capital, recrutados pela Fundação Nacional Cubano-Americana em Miami, para realizar atos terroristas. Anteriormente, esses mesmos terroristas haviam introduzido grande quantidade de explosivos no país e colocado uma bomba em um hotel de Varadero.

Em 12 de fevereiro de 1996, são detidos outros dois infiltrados da Fundação Nacional Cubano-Americana, quando transportavam explosivos em Pinar del Río. E em 21 de agosto desse mesmo ano, é detido em Cuba um cidadão estadunidense recrutado pela estrutura terrorista da Fundação, para realizar atos de terror em Cuba.

Tudo isso foi o prelúdio de um vasto plano urdido na sede da Fundação Nacional Cubano-Americana, que já estava em marcha, para ser executado no interior do território nacional, com a participação de mercenários centro-americanos.

Assim, em 1997, entre março e setembro desse ano, são colocadas 10 bombas em diferentes hotéis de Havana e Varadero.

Primeiro, em 12 de abril de 1997, produz-se a detonação de uma bomba no hotel Meliá-Cohíba de Havana; em 30 de abril do mesmo ano, encontra-se outra bomba nesse mesmo hotel; em 12 de julho de 1997, explodem duas bombas, nos hotéis Capri e Nacional, em pleno mês de férias de verão, e enquanto se celebrava uma atividade infantil no hotel Capri; em 4 de agosto, e em meio ao Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, com a assistência de mais de 12.000 delegados do mundo inteiro, é detonada uma bomba no hotel Meliá-Cohíba, que estava lotado de turistas em férias.

E o mais incrível, em 11 de agosto de 1997, alguns dias depois desses ataques, a imprensa de Miami publica uma declaração da Fundação Nacional Cubano-Americana apoiando as ações terroristas com explosivos contra objetivos turísticos em Cuba.

Em 22 de agosto de 1997, produz-se uma explosão no hotel Sol Palmeras, em Varadero.

Finalmente, um mercenário centro-americano, em 4 de setembro de 1997, detona bombas nos hotéis Triton, Chateau Miramar, Copacabana e no restaurante La Bodeguita del Medio, sempre muito concorrido. Na ação terrorista do hotel Copacabana, é vitimado Fabio di Celmo, jovem italiano de apenas 32 anos, que ali se encontrava – sobre isso, como sabem, Posada declarou que aquele italiano estava no lugar errado no momento errado, e que ele sempre dorme como um bebê; ou seja, não tem nenhum tipo de remorso –; além disso, são feridas 11 pessoas de Cuba e de outros países.

No total, são 23 atos de terror durante aquele ano, até o momento em que é detido, em 4 de setembro, pelas autoridades cubanas, um dos terroristas executores dos mesmos.

É importante destacar que Posada Carriles especializou-se na utilização de mercenários, como fez na sabotagem do avião de Barbados, como fez também na América Central, durante o Irã-Contra, e para enviar terroristas a Cuba, salvadorenhos e guatemaltecos naquela ocasião, para realizar essa onda de terror em nossa capital.

Posada recebeu dinheiro da Fundação Nacional Cubano-Americana para organizar esses atos de terror; mas o mais interessante, e parece-me que devemos destacá-lo, é que o governo dos Estados Unidos sabia das atividades de Posada Carriles em El Salvador, Honduras e Guatemala, por duas evidências fundamentais: primeiro, Posadas foi entrevistado em Honduras, por dois agentes do FBI, dentro da Embaixada dos Estados Unidos, os quais, em seis horas de interrogatório, não lhe fizeram nenhuma pergunta acerca de suas atividades terroristas contra Cuba. Saiu da embaixada naquele momento, apesar de ser fugitivo da justiça venezuelana, nada menos que por haver organizado a sabotagem do avião da Cubana de Aviación que explodiu em pleno vôo em Barbados.

A segunda evidência, que me parece muito importante, é que Posada Carriles, há muitos anos, tem estreitos vínculos com o agente do FBI George Kusinsky, amigo íntimo de Posadas desde quando esse funcionário controlava os terroristas cubanos que atuavam na contra nicaragüense.

Os Estados Unidos conheciam, ademais, as intenções de Posadas de afundar um barco que saía de Puerto Limón, na Costa Rica, com mercadorias para Cuba; sabiam dessa mesma intenção, de afundar um barco cubano em Puerto Cortés, Honduras, e sabiam, além disso, da intenção de explodir aviões de pequeno porte que seriam contratados por Cuba na América Central, para vôos internos, para uso em turismo.

Por diversas vias e em diferentes momentos, essas informações foram enviadas oportunamente pelo governo de Cuba às autoridades estadunidenses e, inclusive, com a sugestão de observar discrição sobre essas graves informações. Isso não foi cumprido, e a parte norte-americana divulgou-as.

Posada, é claro, atuou com a anuência, conhecimento e tolerância das autoridades dos Estados Unidos e de governos dos países que lhe deram refúgio na América Central, naquele momento, onde obteve documentação falsa e se moveu livremente.

Randy, como um resumo desse período terrorista e dessa onda de terrorismo contra nossa população, contra o turismo e contra todos os cidadãos, devemos destacar que nesse período de 1999 a 2000, foi executado um total de 108 ações terroristas contra Cuba, em território nacional e no exterior.

Também foram afetados, como dizíamos ontem, 10 países: Estados Unidos, Cuba, Panamá, México, Brasil, que foram afetados por essa onda de terror desatada contra Cuba; inclusive, nesse mesmo ano de 1997, explodem duas bombas, nas Bahamas e no México, fruto dessa ação.

Penso que é necessário fazer dois comentários inevitáveis, para concluir, e recordava o que dizia Arleen sobre Eduardo Arocena. Eu me pergunto: Como se explica à opinião pública dos Estados Unidos que Eduardo Arocena, terrorista que realizou dezenas de ações de terrorismo, à cabeça de Ômega-7, que detonou 52 bombas, 29 dentro dos Estados Unidos, esteja a ponto de ser liberado e incorporado à sociedade norte-americana, graças ao esforço dos congressistas federais da Flórida Ileana Ros e Lincoln Díaz-Balart? Que, além disso, Arocena é o único terrorista de origem cubana preso nos Estados Unidos, depois de haver assassinado a um funcionário cubano em Nova York, que era representante diante da ONU em 1980, e a quem os Estados Unidos, como país hospedeiro, devia proteger; e isso após haver assassinado também a um emigrado cubano em Nova Jersey, na presença de seu filho de 12 anos.

Mas, além disso, há outro elemento que é inevitável mencionar. Como explicar que dois terroristas como José Dionisio Suárez Esquivel e Virgilio Paz Romero, que assassinaram, em pleno coração da capital dos Estados Unidos, ao embaixador do Chile, Orlando Letelier, a uma cidadã norte-americana, Ronnie Moffitt, e que também provocou ferimentos graves, com seqüelas, a seu esposo, da mesma nacionalidade, ao explodir o auto em que viajavam, em 21 de setembro de 1976? Suárez Esquivel não pôde ser encontrado pelo FBI, nos Estados Unidos, até 11 de abril de 1990, catorze anos de lenta busca; e Paz Romero, até 21 de abril de 1991, 15 anos. Por esse crime, foram sancionados a apenas 12 anos de prisão, e cumpriram somente seis anos.

O mais insólito é que em 24 de julho de 2000, apenas um mês e meio antes do terrível 11 de setembro, foram inseridos novamente na sociedade norte-americana e ambos manifestaram seu interesse em continuar exercendo o terrorismo. E para terminar, Randy, creio que esses são dois exemplos que ratificam a nossa convicção de onde estão e quem são os verdadeiros terroristas.

Randy Alonso – Foi uma década, a de 90, especialmente intensa quanto a ações contra objetivos econômicos em nosso país, no intento de sufocar o desenvolvimento econômico do país, no momento em que nosso país sofria o período especial, fruto da perda de mercados, e também no intento de afogar em sangue qualquer possibilidade de desenvolvimento econômico da nação através do turismo.

É preciso lembrar, nunca serão esquecidas as imagens desses hotéis sinistrados por aquelas bombas. Também não se esquecerá a imagem de Fabio di Celmo, o jovem italiano, a dor de seu pai Giustino e também, é claro, todos os ferimentos que causaram, a numerosos cidadãos cubanos e estrangeiros, aqueles atos terroristas, provocados por um dos maiores criminosos de nosso continente, Luis Posada Carriles, que nunca se arrependeu – sua consciência, obviamente, não lhe permite chegar a isso – daqueles atos que provocaram a morte e o terror em nosso povo.

Proponho-lhes ver este fragmento de uma entrevista concedida pelo terrorista Luis Posada Carriles.

Repórter – No ano passado, explodiram em Cuba, alguns dizem meia dúzia, outros dizem uma dúzia, vamos dizer uma série de bombas, no verão do ano passado, em Havana.

Luis Posada Carriles – Sim.

Repórter – O senhor foi o autor intelectual dessas explosões, sim ou não?

Luis Posada Carriles – Bem, autor, sim, vou dizer, autor intelectual.

Repórter – Foi o senhor quem pensou, quem organizou e mandou que as pessoas as pusessem?

Luis Posada Carriles – Por qualquer ação, dentro do território cubano, contra o regime de Havana, eu me responsabilizo totalmente.

Repórter – O senhor disse, supostamente diz o New York Times, que esse salvadorenho de 25 anos que está detido neste momento em Cuba, Raúl Cruz León, trabalhava para você, é verdade?

Luis Posada Carriles – Raúl Cruz León foi contratado por alguma pessoa que trabalhava para mim, nunca tive contacto com ele, cumpriu seu encargo por dinheiro.

Repórter – E o senhor não acredita que essas declarações que está fazendo lhe estão firmando uma sentença de morte?

Luis Posada Carriles – Ele já tem a sentença de morte firmada, isso não depende do que eu fale ou do que eu diga.

Repórter – Mas o senhor, supostamente, diz também no artigo, senhor Posada, que logo haverá notícias muito interessantes.

Luis Posada Carriles – Claro.

Repórter – O que significa isso?

Luis Posada Carriles – Estão-se gerando outros tipos de sabotagens dentro de Cuba.

Repórter – Dentro de Cuba.

Luis Posada Carriles – Sim.

 

Randy Alonso – Esse é o testemunho de um criminoso que prognosticava novas ações terroristas dentro de Cuba, mas que também preparava numerosos atos terroristas fora de nosso país, entre eles, tentativas de assassinato de nosso Comandante-em-Chefe Fidel Castro.

Sobre Luis Posada Carriles, um dos mais conhecidos terroristas da história deste continente, pode dar-nos alguns detalhes Reinaldo Taladrid.

Reinaldo Taladrid – Sim, Randy.

Vamos a partir do que você acaba de dizer, ninguém discute, inclusive fora de Cuba, que Luis Posada Carriles é um dos maiores terroristas, organizou, financiou e idealizou ações terroristas, cometeu pessoalmente assassinato, torturou e planejou todo tipo de atentados terroristas, isso ninguém discute, é um fato aceito dentro e fora de Cuba. Luis Posada Carriles, aí está tudo o que fez.

Agora vamos a um segundo elemento. Quem é responsável pelo que tem feito, durante mais de trinta anos, Luis Posada Carriles? Há dois tipos de responsabilidade, quando se avalia isso, por ação e por omissão.

Você é responsável por ação, quando executa ou participa diretamente na execução do que se está fazendo. E você é responsável por algo, por omissão, quando sabe ou pode evitar, e sua inação provoca que ocorram os fatos. Ou seja, você não fez o que devia fazer, e podia ter evitado os fatos. Vamos à história, aos sessenta.

Primeiro: Luis Posada Carriles aprendeu a pôr os explosivos que acabamos de ver, técnicas de demolição, explosivos, treinamentos militares, onde? Em Forte Benning, no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, o exército dos Estados Unidos preparou-o e treinou-o para esse tipo de atividade. É claro que não por uma vontade do exército, mas cumprindo, como uma instituição que está obrigada a cumprir as instruções da administração, do governo dos Estados Unidos: “Façam isto, treinem esta gente”.

Assim que, em primeiro lugar, ali aprenderam tudo. Para quem está trabalhando Posada ali, para quem está se preparando? Para o governo dos Estados Unidos. Por que razão? Porque, quando termine em Forte Benning, ele sai como oficial do exército norte-americano, ou seja, trabalhando para a administração.

Segundo: Quando começa a trabalhar, uma das primeiras coisas que faz, o que é curioso, é começar a trabalhar diretamente para o governo norte-americano e não diretamente contra Cuba, e um dos primeiros lugares em que aparece Posada Carriles é na operação que levou à invasão da República Dominicana, no ano de 1965, e aparece aí em um navio, Vênus, que estava nas imediações da República Dominicana, e de onde se faziam operações de apoio à invasão, e precisamente Posada Carriles, com outro de seus cupinchas, foi responsável por colocar uma bomba em um ato em que estava falando Francisco Caamaño. Para quem estava trabalhando? Para o governo dos Estados Unidos.

Depois da República Dominicana, vem um conjunto de operações em que Posada Carriles é a peça principal. A CIA as denomina “operações autônomas”, e ao chamá-las assim, em relatórios desclassificados, está reconhecendo seu controle sobre essas operações, mas a CIA é uma entidade que presta contas ao governo norte-americano e responde a suas orientações. Portanto não pode fazer todas essas coisas que faziam contra Cuba, sem pelo menos uma indicação da administração.

E o que eram essas operações? Bem, tanto nas ilhotas como na América Central, em distintas bases, organizar uma série de infiltrações em Cuba, para fazer terrorismo, sabotagens, introduzir armas, introduzir homens, planos de atentados, etc. Tudo isso é feito. É feito como queria o governo dos Estados Unidos, ou não? Vejamos.

Eu vou ler. Isto que está aqui não é mais que a avaliação anual de Luis Posada Carriles, que lhe fazem por esses anos. Diz este fragmento da avaliação anual de Posada Carriles: “Tem um bom caráter. É muito confiável, consciente em matéria de segurança.” E em outra avaliação anual, de um ano depois, diz-se: “É muito eficaz no cumprimento de todas as tarefas que lhe foram designadas. Realmente foi excelente”.

Esta é a avaliação que o governo norte-americano faz de Posada, em dois anos desse período.

Essa avaliação nos explica por que, em um momento posterior de sua vida, no ano de 1967, o governo dos Estados Unidos envia-o à Venezuela. Por que razão? Bem, enviam-no como um dos principais chefes de uma agência de segurança que estão criando na Venezuela, a DISIP. A essa agência, por interesse dos Estados Unidos, envia-se Posada, para que organize o que eles chamam o Serviço de Contra-Insurgência da DISIP venezuelana. O que é isso, traduzido ao bom cubano? Isso se chama perseguir, deter, torturar e assassinar a quantos revolucionários pudessem, naqueles anos na Venezuela. Mas vai por um interesse do governo americano, porque é um graduado do governo americano, porque é um perito do governo americano em fazer todas essas coisas. Como comissário Basilio, que era o nome que usava, de triste memória para todos os revolucionários venezuelanos da época, tinha um enorme poder, porque tinha sido o homem de Washington na DISIP, e por interesse de Washington. Agora, jamais abandona o terrorismo contra Cuba, mesmo nessa nova missão – que todos já sabemos para quem continua trabalhando Luis Posada Carriles, para o governo norte-americano –, e concilia seu cargo na DISIP com planos de atentado contra a vida do companheiro Fidel, especificamente, e este é muito interessante: Posada Carriles é o artífice principal daquela caçada humana que organizaram na viagem de Fidel ao Chile. Estamos falando do ano 1971. Por que razão? Um dos planos mais perigosos foi aquele em que conseguiram introduzir um revólver em uma câmara de televisão e realmente conseguiram aproximá-lo, praticamente à distância de tiro, do companheiro Fidel.

A verdade histórica é que lhes faltou a coragem e o valor, que não têm os terroristas, e não têm esses mercenários.

Essa equipe que conseguiu isso tinha a documentação venezuelana, o passaporte venezuelano, e tudo o que Luis Posada Carriles coordenou para essa equipe. Mas, como se isso fosse pouco, como fracassou, Posada pessoalmente organiza – no regresso a Cuba, o companheiro Fidel faz escala no Peru e no Equador –, no aeroporto do Equador, que dois dos terroristas a seu serviço disparassem contra Fidel a partir de outro avião e tratassem de escapar no mesmo. Isso foi organizado pessoalmente por ele. No do Chile, a documentação, a logística e a operação, mas esse foi organizado por ele, em um momento em que está trabalhando para o governo norte-americano em uma missão na Venezuela, e com dinheiro, neste caso, do contribuinte venezuelano.

Lázaro Barredo – No do Chile, é bom lembrar que também estava envolvida, como fachada, a agência USAID.

Reinaldo Taladrid – Bem, isso já seria entrar nos detalhes dos planos do atentado. É verdade, Antonio Veciana, outro terrorista famoso, vinculado a muitas coisas, não apenas a isso, tinha documentação da Agência Internacional de Desenvolvimento, na Bolívia, e daí entra na Venezuela.

Agora, vamos aos anos setenta. Já estamos nos setenta, e Posada está na DISIP. Deixa a DISIP e cria uma agência de informação privada; sem dúvida, os documentos da CIA, publicados pelo New York Times em seus famosos artigos, dizem que, até o ano de 1976 – e vamos aceitar, nesse momento, o que diz o New York Times – que até o ano de 1976, Posada continua informando-lhes. Portanto, desde que sai da DISIP até 1976 – segundo a própria CIA –, Posada continua relatando ao governo americano, e continua informando ao governo americano.

O que acontece nessa etapa? Bem, todos sabemos. Cria-se o CORU, vem toda a onda de atentados do CORU, e finalmente vem Barbados – explicou-se aqui, ontem, em detalhes –, de que, não há dúvida, Luis Posada Carriles foi o autor intelectual, junto com Orlando Bosch em tudo isso. E não apenas foi o autor intelectual dessas ações terroristas; diz-se que, quando revistaram o escritório de detetives AIP, uma agência de investigação que tinham criado, encontram um mapa do lugar onde depois ocorreu o atentado de Letelier, em Washington. Ou seja, no escritório de Posada em Caracas, encontrou-se um mapa com o itinerário que fazia Orlando Letelier antes de ser morto em Washington. Isso foi encontrado ali. Assim, que nos dá uma idéia das coisas em que também estava envolvido.

Naquele momento, Luis Posada Carriles continuava informando ao governo norte-americano, porque a verdade é que a CIA diz que em uma data de 1976, creio que em fevereiro, ele deixa de ser informante, e depois disso ele continua informando à CIA, segundo documento da própria CIA. Portanto a verdade é que continuou informando ao governo norte-americano, ainda depois do aparente “rompimento”.

Bem, todos sabemos que Luis Posada Carriles vai para a prisão; começa todo aquele escandaloso processo que foi suspenso, em que as provas foram perdidas, etc., vai para a prisão, e a Fundação Nacional Cubano-Americana, outros agentes da CIA, que também trabalham para o governo norte-americano, organizam sua fuga da prisão, e a organizam, entre outras coisas, porque Posada, que por essa razão dá essas entrevistas que vocês viram aqui, quando se sente um pouquinho incomodado, sempre chantageia ao pessoal da máfia com quem vai começar a falar, e Mas Canosa realmente se assusta e se convence de que Posada, se não fosse tirado da prisão, ia começar a falar, e foi por isso que gastaram todo aquele dinheiro de que se fala, para tirá-lo da prisão.

E, que curioso!, para onde vai Posada? Simplesmente para a América Central, à base aérea de Ilopango, onde é recebido por alguns dirigentes da Fundação Nacional Cubano-Americana, e ali estava acontecendo, naquele momento, a operação mais secreta e importante do governo norte-americano de plantão, o Irã-Contra, dirigida da Casa Branca.

É impossível, impossível! que você não tenha conexão com o governo americano e esteja trabalhando na base de Ilopango no momento em que Posada Carriles aterrissa ali, porque naquele momento Oliver North controlava tudo que acontecia na base aérea de Ilopango, e Oliver North tinha um gabinete no Conselho Nacional de Segurança, tinha acesso à Casa branca, diretamente ao gabinete do vice-presidente dos Estados Unidos George Bush, pai. Assim, que era impossível que acontecesse em Ilopango alguma coisa que o governo norte-americano não soubesse.

Portanto Luis Posada Carriles começa de novo a trabalhar para o governo norte-americano na Operação Irã-Contra; mas há vários testemunhos que dizem que, além de trabalhar para o governo norte-americano, em todo o Irã-Contra, em Ilopango, os vários aviões – há uma reportagem da CBS e há vários artigos que o afirmam – que vinham com as armas e descarregavam em Ilopango – Luis Posada e Félix Rodríguez controlavam toda aquela descarga –, eles os enviavam de volta aos Estados Unidos com drogas. De maneira que também contra os Estados Unidos, Luis Posada Carriles enviou drogas aos Estados Unidos, e é narcotraficante, de acordo com a lei norte-americana, mais uma coisa nessa história: cria corvos, que eles te comem os olhos.

O Irã-Contra se acaba, e Posada continua ali. E o que fez? Já se falou um pouco disso aqui: misturou-se com todos aqueles governos da área, governos que, como o de El Salvador, denunciou-se aqui, tiveram amplos contactos com ele, em toda essa etapa do Irã-Contra, em toda essa etapa da guerra suja contra a Nicarágua e os movimentos revolucionários, e Posada começa a ser assessor de alguns, e se vê envolvido em algumas guerras mafiosas internas, em tentativas de assassinatos a políticos, etc.; mas, com o controle – pensem nisso – que os Estados Unidos tinham de todos esses políticos, que foram fruto de toda essa guerra suja, de tudo que fizeram, de todos esses governos, é impossível que não soubessem onde estava e o que fazia. E a prova que Méndez nos apresentou há alguns momentos, de que no ano de 1998 o FBI vai até Honduras, e na embaixada dos Estados Unidos reúne-se com Posada Carriles, tem uma longuíssima entrevista com Posada Carriles.

O FBI, de ofício, tinha de deter a um homem que introduziu drogas nos Estados Unidos, que era fugitivo da justiça venezuelana, com a qual têm tratados de extradição, acordos; tinham de detê-lo de ofício.

Randy Alonso – E, além disso, Taladrid, havia as numerosas informações que as autoridades cubanas haviam dado às autoridades do FBI, a congressistas e às mais altas autoridades norte-americanas, através de importantes personalidades políticas que haviam estado em Cuba, a quem se fornecia toda a informação de que se dispunha sobre os atos terroristas cometidos contra nosso país, nos anos noventa, e onde aparecia, de maneira destacada, a figura de Luis Posada Carriles e suas atividades na América Central.

Reinaldo Taladrid – Exatamente, Méndez o mencionava, que, além daquela reunião, antes, inclusive, daquela reunião, o governo cubano tinha dado informação detalhada, informação que permite prender a uma pessoa e, além disso, demonstrar por quê. Não é que você a prenda só porque eu digo que ela é má. Não, deve prendê-la porque está preparando duas bombas aqui; ameaçou explodir um avião; quer recrutar a este; enviou gente e está planejando isto. Ou seja, com muitas razões concretas, o governo norte-americano tinha essa informação.

Lázaro Barredo – A reunião ocorre em 7 de fevereiro de 1992, às 9 horas da manhã, no gabinete 426 da embaixada dos Estados Unidos em Tegucigalpa, Honduras, com dois oficiais do FBI.

Reinaldo Taladrid – Com dois oficiais do FBI. Claro que, devido ao tempo, não posso dar todos os detalhes; ademais, há muitas coisas que vazaram dessa reunião, não muitas, algumas coisas, como sempre acontece nesses casos.

Agora, que explicação podemos dar a isso? Vamos ouvi-lo da boca do próprio Posadas. Isto que vou ler foi dito por Luis Posada Carriles ao New York Times, e foi publicado.

“Como podem ver” – diz Posada –, “o FBI e a CIA não me incomodam. e eu sou neutro com eles, sempre que posso ajudá-los, eu o faço.” Isso foi um julho de 1998, na boca de Luis Posada Carriles. Portanto, voltando ao ponto inicial, sabemos tudo que Posada fez. Quem é, em última instância, responsável direto também por tudo que fez Posada? Bem, por ação, durante muitos anos, diretamente o governo dos Estados Unidos, que participou junto com ele nas coisas que fez durante muitos anos; e, dando-lhe o benefício da dúvida, que é muito difícil dar neste caso em particular, pois até por omissão, por tudo que sabia, por toda a informação que lhe foi dada, por ter localizado fisicamente a Posada Carriles, sabendo toda a informação que lhe havia dado o governo cubano, mais tudo o que eles sabiam por sua conta, até por omissão, o governo dos Estados Unidos é responsável por tudo que fez Luis Posada Carriles: pelos mortos que Luis Posada Carriles tem em sua consciência, ainda que ele diga que dorme tranqüilo; pelo terrorismo, pelos assassinatos, pelos atentados, pelas famílias, porque há muitas famílias de revolucionários na América Central e na Venezuela, das quais Luis Posada Carriles também tem muitos mortos em sua consciência, não apenas cubanos, mas também desses países.

Tudo isso é responsabilidade do governo dos Estados Unidos, que é quem tinha de tomar uma decisão política, de cumprimento obrigatório por alguma agência daquele governo, seja a CIA, seja o FBI, seja quem for, e nunca a tomou, e, se não a tomou, obedece a essas obscuras manipulações que você vê em atos como o de 20 de maio. Essa é a causa pela qual não se tomam as medidas que qualquer pessoa decente, com um sentido elementar de consciência humana, teria tomado ante uma pessoa como Luis Posada Carriles.

Portanto, respondendo à pergunta que dá origem a esta mesma, no caso de Luis Posada Carriles, quem é o verdadeiro terrorista? Luis Posada Carriles e os distintos governos norte-americanos, que por essas causas apanharam-no, não o prenderam e são responsáveis por dezenas ou quem sabe quantas mortes, neste hemisfério.

Randy Alonso – Uma prova dessa cumplicidade, Taladrid, é que hoje, que Luis Posada Carriles continua detido pela última tentativa de assassinato de nosso Comandante-em-Chefe e está nas prisões do Panamá, o governo norte-americano sabe das coletas públicas feitas pela rádio de Miami para o terrorista Luis Posada Carriles; sabe também das seguidas viagens de representantes daquela máfia, de Miami para o Panamá, para levar dinheiro e para buscar uma maneira de tirar o terrorista das prisões panamenhas, e como, também, manobram em função da defesa, Santiago Álvarez e outros terroristas, desde Miami; e isso as autoridades norte-americanas sabem. Creio que é uma prova também de quem são os terroristas, quem patrocina verdadeiramente e quem são os que, durante mais de quatro décadas, vêm cometendo horrendos crimes contra nosso povo.

Agradeço aos comentaristas que me acompanharam na tarde de hoje nesta mesa-redonda e também aos convidados que tivemos e nosso estúdio.

Compatriotas:

Uma longa e vergonhosa lista de milhares de criminosas ações terroristas contra nosso povo, executadas, financiadas e toleradas por sucessivos governos norte-americanos, foram recordadas em comentários e testemunhos, durante nossas três últimas mesas-redondas.

Qual crônica da infâmia, passaram ante nossos olhos imagens do horror, da dor e da morte semeada em nosso povo pelo terrorismo que provocou 3.478 mortes e mais de 2.000 incapacitados; mas ainda há outras provas para inculpar ao verdadeiro Estado terrorista: as mais de 600 tentativas de assassinar a nosso Comandante-em-Chefe, que o professor Fernández nos ajudará a desentranhar; as mortes provocadas pela Lei assassina de Ajuste Cubano; o seqüestro de Elián González; os terroristas e torturadores de origem cubana que vivem placidamente em território dos Estados Unidos, e as dezenas de ações terroristas executadas por essas máfias no próprio território norte-americano.

Sobre esses temas, estaremos falando domingo a nosso povo, em mesa-redonda. Enquanto isso, amanhã, prosseguirá o combate de todo o nosso povo na tribuna aberta da Revolução, em Sancti Spíritus.

Desde as 8 horas da manhã, estaremos em nova trincheira da Batalha de Idéias, em ato de protesto contra o bloqueio, as calúnias e as ameaças do governo dos Estados Unidos contra Cuba, e para condenar todos os atos terroristas contra nosso povo.

Em qualquer das variantes de ato que as condições climáticas permitam desenvolver, daremos uma contundente e demolidora resposta ao adversário. Será um ato de profundo conteúdo humano, patriótico e revolucionário.

Seguimos em combate!

Muito boa noite.