Mesa-Redonda Informativa sobre a implementação das brutais medidas de Bush contra o povo cubano, realizada no ICRT, em 17 de junho de 2004, "Ano do 45Ί aniversário do triunfo da Revolução".

(Versões Taquigráficas - Conselho de Estado)

Randy Alonso.- Muito boa tarde, caros telespectadores e ouvintes.

O Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros do governo norte-americano acaba de divulgar as regulamentações que põem em vigor as criminais medidas contra nosso povo e os cubanos residentes nos Estados Unidos, aprovadas no último 6 de maio pelo führer Bush, em uma clara tentativa de endurecer o bloqueio e estreitar o cerco contra a Revolução Cubana.

Desenvolvemos nesta tarde a Mesa-Redonda Informativa sobre a implementação das brutais medidas de Bush contra o povo cubano, e nesse painel me acompanham Rafael Dausá, diretor de América do Norte do Ministério de Relações Exteriores de nosso país; Lázaro Barredo, jornalista de Trabajadores; Rogelio Polanco, diretor do periódico Juventud Rebelde; Arleen Rodríguez Derivet, editora da revista Tricontinental, e Reinaldo Taladrid, jornalista do Sistema Informativo da Televisão Cubana.

No estúdio, estão conosco como convidados companheiros da União do Plástico e da Cerâmica do Ministério da Indústria Leve e também companheiros do Ministério de Cultura.

(Passam imagens)

Randy Alonso.- Ontem, 16 de junho, foram divulgadas pelo Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros do Registro Federal de Estados Unidos, as regulamentações que implementam as brutais medidas decididas e expostas pelo presidente George W. Bush no último 6 de maio e que são reflexo da permanente agressividade do governo dos Estados Unidos contra nosso povo.

Os canais de televisão da máfia de Miami imediatamente assumiram a tarefa de divulgar essas medidas, e assim o apresentava um desses canais.

Locutora do canal 51.- Sim, já é oficial. As novas regulamentações para viajar e enviar dinheiro a Cuba vão entrar em vigor em 30 de junho, segundo um comunicado emitido hoje pelo Departamento do Tesouro.

As que terão mais impacto para os cubanos residentes em Miami e na ilha são as que estabelecem que, a partir dessa data, somente se autoriza uma viagem a cada três anos para visitar parentes próximos, e, além disso, reduz a categoria de parentes a pais, filhos, avós, netos, cônjuges e irmãos, excluindo, por exemplo, tios e primos.

As novas regulamentações também limitam a quantidade de dinheiro a gastar durante visitas à ilha e que se pode enviar a título de ajuda familiar.

Randy Alonso.- Essa era a noticia ontem sobre as regulamentações divulgadas pelo Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros dos Estados Unidos e que implementam as medidas proclamadas pelo presidente George W. Bush em 6 de maio passado, como corolário de uma série de medidas agressivas adotadas contra nosso país nos últimos meses e que são apenas parte da agenda agressiva dessa administração, ao longo de seus quatro anos, contra nosso povo.

Lázaro Barredo pode falar-nos sobre isso no início de nossa mesa-redonda.

Lázaro Barredo.- Sim, Randy.

Nestes dias, estivemos falando do expediente, de como está sendo feito, e quero dizer que o expediente é muito mais amplo do que imaginávamos.

Se a gente busca nos sites norte-americanos, percebe que foram dedicadas centenas de declarações de importantes funcionários, dezenas de notas informativas do Departamento de Estado e informes de distintas agências governamentais para oferecer uma imagem bem negra de Cuba; ou seja, hoje há uma imagem bastante distorcida sobre a realidade de Cuba para o interior dos Estados Unidos, e, evidentemente, Randy, já não é apenas a confrontação ideológica ou o histórico litígio de nossa luta por ser independentes; eu creio que também estamos enfrentando, e de maneira mais encarniçada, a crueldade e o ódio do império, muito mais enfatizados nessa administração.

"Bush é abertamente apaixonado quando se trata de Cuba", disse diante de um seleto auditório mafioso, em 7 de maio, o senhor Otto Reich. E eu acho que nada disso deve surpreender ou chamar a atenção. Recordemos que, antes de ser eleito, Bush se comprometeu com os cubano-americanos a resolver o problema cubano, em primeiro lugar, tentando eliminar fisicamente o companheiro Fidel, a quem consideram – e isso ele reiterou recentemente, não disse só em 2000, mas agora, no final do ano passado, e o disse o senhor Roger Noriega – o principal escolho para acabar com nossa Revolução.

Recordemos que, em 21 de março de 2001, no rancho de Vicente Fox, na primeira entrevista que deu para um sistema de televisão em espanhol, o jornalista Jorge Ramos lhe perguntou: "O senhor acredita que ganhou as eleições graças ao voto dos cubanos na Flórida?" Resposta de Bush: "Acredito que tiveram muito que ver com isso, e estou muito orgulhoso, estou muito agradecido pelo forte apoio que recebi dos cubano-americanos da Flórida e por isso não vou esquecê-los."

Creio que é com base nesses elementos que podemos avaliar a espantosa escalada da administração Bush, em que se encontram, por exemplo – não pus em ordem, mas podem dar uma idéia de tudo que a administração fez nesses três anos, tratando de criar esse expediente contra nosso país –; o cancelamento das conversações migratórias; as imputações de que o governo cubano desestabiliza outros países da região; os intentos de vincula Cuba com o desenvolvimento de armas biológicas e as acusações de que nosso país constitui uma ameaça terrorista e bioterrorista para os Estados Unidos; o incremento das recusas de vistos a cubanos que desejam visitar seus familiares nos Estados Unidos; as crescentes proibições de que cientistas, acadêmicos, artistas e esportistas entrem em território dos Estados Unidos e de que se publiquem artigos e obras de artistas, intelectuais, cientistas e acadêmicos de Cuba em publicações norte-americanas; o recrudescimento da perseguição e a imposição de sanções aos cidadãos norte-americanos que supostamente violam as regulamentações do bloqueio.

Acrescentemos a isso os infames informes, em três anos, dos direitos humanos; a acusação a Cuba de preparar uma guerra eletrônica contra as comunicações dos Estados Unidos; a acusação de narcotráfico; a acusação de tráfico de pessoas; a acusação de falta de liberdade religiosa; a acusação de falta de liberdade de imprensa; as medidas adotadas pelo Secretário de Fazenda, em 9 de fevereiro passado, recrudescendo o bloqueio contra empresas sediadas na Argentina, Bahamas, Canadá, Chile, Holanda e Inglaterra – 11 empresas no total –, porque são especializadas em viagens a Cuba e, portanto, deviam ser sancionadas.

Recordemos que os Estados Unidos consideram que Cuba deveria ser livre e que é interesse do povo cubano, dos Estados Unidos e de todo o Hemisfério Ocidental, que Cuba seja livre, e foi isso que levou Bush a insistir em que Cuba deve mudar e em que é preciso tomar as medidas contra Cuba para fazer essa mudança, essa chamada transição, da qual vem falando há anos em seus encontros reiterados com a máfia de Miami.

Recordemos todo o escarcéu que fizeram, qualificando a reeleição de Cuba para a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas como um ultraje aos Estados Unidos, e considerando-a uma ofensa para os interesses norte-americanos, porque Cuba "tem o pior histórico de direitos humanos", ou a ridícula afirmação de que os delegados norte-americanos em Genebra são submetidos a "atos de intimidação, ameaças e agressão" pela delegação cubana.

Recordemos a expulsão dos diplomatas cubanos de Washington para acusar a Cuba de espionagem, acusação que vêm fazendo insistentemente, para apresentar-nos como um sério perigo à segurança nacional dos Estados Unidos.

Recordemos a acusação aos militares cubanos pela derrubada dos aviões e toda a campanha que se originou em torno dos cinco companheiros que estão presos atualmente.

Os protestos do governo dos Estados Unidos tentando dar uma imagem distorcida de que em Cuba não se podem receber livros, porque está proibido, depois que desfizemos sua manobra subversiva, como vimos aqui, creio que foi Taladrid quem mostrou todos os livros recebidos pelo Escritório de Interesses para o trabalho de subversão.

Recordemos que exatamente agora, quando se fala de questões migratórias, vemos que nos Estados Unidos, onde tratam de entrar ilegalmente mais de um milhão de cidadãos do mundo, segundo o programa de admissão de refugiados da América Latina e do Caribe, o único país que tem refugiados é Cuba. Quer dizer, o programa de concessão de vistos, que é um programa normal, como se faz com muitos outros países, agora, no caso da emigração econômica cubana é um programa de refugiados. É a tese de que de toda parte se emigra, mas de Cuba se foge.

Recordemos as declarações feitas sobre o sistema carcerário e a imagem que tentaram dar sobre a saúde dos presos em nosso país, e que na entrevista coletiva dada por nosso Chanceler, há algumas semanas, ficaram demonstradas todas as falácias e mentiras que há sobre isso.

Não deixo de incorporar – como já disse em outra oportunidade – as disparatadas e ridículas acusações que são parte da campanha para prejudicar a imagem de nosso país, quando na imprensa de Miami se disse que aqui criamos tubarões para atacar os banhistas (ilegível).

As opiniões, Randy, somam dezenas de declarações onde dizem coisas como estas:

"Nos últimos 17 anos, exerci periodicamente cargos na Segurança Nacional, disse o secretário Colin Powell, e em todo esse tempo Cuba tentou fazer todo o possível para desestabilizar parte da região."

Condoleezza Rice declarou: "Os Estados Unidos estão firmemente decididos a seguir uma política enérgica com relação a Cuba, que ajude o povo cubano em sua luta pela liberdade."

Através de uma teleconferência, há algumas semanas, o senhor Roger Noriega, no informe dessa famosa comissão, disse que "as medidas têm como objetivo incrementar as pressões para acelerar a caída de Fidel Castro e acabar com a brutal ditadura que há em Cuba", isso foi o que ele disse.

Um dia depois, o senhor Otto Reich, falando da transição, disse "que a importância da transição são as horas e os dias", sugerindo que a administração Bush não prevê uma mudança orgânica lenta em Cuba, mas uma rápida e provavelmente violenta.

Reich foi evasivo quando lhe perguntaram se havia planos diretos em preparação para apressar a transição, dizendo que se falava publicamente do tema se converteria muito rápido em um membro do público, ou seja, que perderia seu posto, "porque a administração Bush não aprecia os vazamentos."

Andrews Natsios, chefe da Agência de Cooperação Internacional, a USAID, também fez declarações: "Devemos nos preparar com grande cuidado para a transição final de Cuba."

Segundo uma nota do Nuevo Herald em que se fala sobre as receitas sugeridas ao presidente Bush, diante de cenários pouco alentadores, diz-se que "o Presidente deve empreender ações decisivas, entre as quais está a súbita derrubada, sem aviso prévio e sem apelações ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, de um tirano local", – fala-se de Fidel Castro –, "um par de meses antes das eleições, para impulsionar notavelmente a imagem de invencibilidade" – já ia dizer imbecilidade – "que Bush já projetou antes."

Não esqueçamos o fervor bélico antes dos ataques ao Iraque, as declarações do Embaixador norte-americano na República Dominicana, que dizia que esse era "um sinal muito positivo e um ótimo exemplo para Cuba", e as declarações feitas algumas horas depois pelo senhor Jeb Bush, de que "os Estados Unidos deviam voltar o olhar para a vizinhança e usar seu poder para pressionar a comunidade internacional no sentido de que o regime cubano não pode continuar."

Tenho aqui umas declarações feitas pelo senhor Wayne Smith, que foi o primeiro chefe da Seção de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, a alguns correspondentes norte-americanos de La Jornada, em que disse: "Se eu fosse cubano, prudentemente suporia que os Estados Unidos poderiam realizar uma ação militar. Mas o perigo – segundo Smith e outros peritos – "é que essa combinação da retórica agressiva de Washington e da conjuntura eleitoral poderia dar lugar a ações de provocação para gerar uma reação e com isso detonar um confronto militar."

Finalmente, Randy, quem quiser uma avaliação concreta de toda essa disparatada escalada agressiva, poderá encontrá-la no que disse o imperador no dia em que apresentou as medidas. Eu acho que Bush foi claro: "É uma estratégia que diz que não esperaremos que ocorra o dia da libertação de Cuba, estamos trabalhando para o dia da liberdade de Cuba."

Eu acho que estamos, com o perdão de Taladrid, diante de uma passagem ao conhecido, e que cada um tire suas próprias conclusões.

Randy Alonso.- Obrigado por seu comentário, Lázaro.

(Passam imagens)

Randy Alonso.- Como dizia Lázaro, um dos principais momentos dessa escalada agressiva dos Estados Unidos contra nosso povo, foi a proclamação por Bush, em 6 de maio passado, de um pacote de brutais medidas que afetam o povo cubano e também aos cubanos residentes nos Estados Unidos, a partir de um grupo de recomendações que a chamada Comissão para a Transição para uma Cuba Livre, presidida pelo general Colin Powell, já havia feito ao Presidente norte-americano.

Esse informe foi amplamente divulgado a todo o nosso povo, mas eu creio que seria bom, no contexto desta mesa-redonda, recordar quais são os principais elementos desse informe, Dausá, e também quais são os principais objetivos desse documento aprovado como política oficial do governo dos Estados Unidos.

Rafael Dausá.- Sim, Randy, obrigado.

Creio que a primeira idéia que devo mencionar é que, tanto essa Comissão para a Assistência a uma Cuba Livre como o informe apresentado ao Presidente dos Estados Unidos em 3 de maio passado, e que foi acolhido por este no dia 6 de maio, como as regulamentações que agora foram emitidas – que o que fazem é simplesmente instrumentar essas medidas da comissão – mostram claramente o ódio visceral dessa administração, do governo dos Estados Unidos, como se demonstra diariamente, contra nosso país.

Lázaro já apresentou uma extensa relação de declarações e ações que esse governo efetuou contra nosso país.

Como você dizia, em 6 de maio, em meio a uma grande operação de relações públicas, o Presidente dos Estados Unidos acolhia esse informe da comissão e o aprovava, assumia-o totalmente, e nesse momento se confirmava precisamente o interesse expressado pelo Presidente dos Estados Unidos, desde 10 de outubro de 2003, de levar a cabo medidas para a derrubada da Revolução Cubana, para a subversão, para o estrangulamento econômico da Revolução Cubana.

Como também nos recordava Lázaro, naquela ocasião o Presidente norte-americano colocava que os Estados Unidos não estão esperando simplesmente a caída do governo cubano, mas estão trabalhando pela caída do governo cubano. E eu chamo a atenção para essa frase, Randy, porque mostra exatamente a arrogância, mostra a ingerência e a violação dos princípios mais elementares do direito internacional, por parte do Presidente dos Estados Unidos.

Há alguns anos, esse tipo de plano, esse tipo de informe pertencia aos arquivos mais secretos da Agência Central de Inteligência; entretanto, neste momento se discute de forma aberta, se publica e se fala diretamente de como se vai derrubar o governo cubano.

Creio que tudo isso forma parte não só do desprezo dessa administração pelo direito internacional, senão que é parte também da doutrina Bush, doutrina violadora dos mais elementares princípios do direito internacional.

Como se sabe, Randy, o informe se compõe de 458 páginas, divididas em seis capítulos. Eu diria que, do ponto de vista metodológico, pode-se dividir em duas grandes partes: o capítulo um, que se dedica, precisamente, a projetar todas as medidas que o governo dos Estados Unidos se propõe a desenvolver para derrubar a Revolução Cubana; e cinco capítulos, que eu chamo capítulos de ficção científica, porque nunca irão ocorrer em nosso país, que contêm todos os sonhos anticubanos para desmontar a obra da Revolução.

Por sua importância, gostaria de enfatizar um pouco o capítulo um, que contém exatamente o fio condutor das 458 páginas desse informe.

Nesse primeiro capítulo, enunciam-se seis tarefas fundamentais, que são as de realizar o trabalho de influência, o trabalho de asfixia econômica, que supostamente acabaria com a Revolução Cubana.

Quais são essas seis tarefas?

Em primeiro lugar, ampliar o apoio à contra-revolução interna em nosso país, através do incremento ao financiamento, ao trabalho de instrução a essa contra-revolução, ao trabalho de abastecimento da contra-revolução.

Para esses fins se declaram abertamente 36 milhões de dólares. Chamo a atenção para o fato de que nessa ocasião o orçamento dos Estados Unidos para a subversão, para o trabalho inimigo em Cuba, era de 7 milhões de dólares. Isso se multiplicou e atinge a cifra de 36 milhões de dólares. Quero esclarecer que essa é a ponta do iceberg, essa é a grana que se aprova publicamente; mas estamos convencidos de que há dezenas de milhões de dólares secretamente destinados à destruição da Revolução Cubana.

Essa seria uma primeira tarefa, um primeiro elemento a mencionar nesse informe, o trabalho de subversão interna em nosso país.

Um segundo elemento seria o incremento das transmissões ilegais da Rádio e Televisão "Martí", para o que se vai dispor de 18 milhões de dólares, será adquirido um avião militar C-130, comando único, que supostamente voaria próximo do espaço aéreo cubano, para tratar de chegar com as ondas da Televisão "Martí" a nosso país, numa ação ilegal; porque, como já se demonstrou suficientemente, as transmissões da Rádio e Televisão "Martí", e de outras 24 freqüências que tentam chegar a nosso país violam os mais elementares princípios do Direito Internacional. É importante assinalar que conhecemos a Rádio e Televisão "Martí", mas devemos dizer que, além da Rádio e Televisão "Martí", os Estados Unidos transmitem por outras 24 freqüências para nosso espaço rádio-eletrônico, numa violação flagrante de todas as normas e princípios da União Internacional de Telecomunicações. Bem, essa seria uma segunda tarefa, a que vão dedicar 18 milhões de dólares.

Uma terceira tarefa, que é exatamente a que vamos analisar hoje, é como incrementar o bloqueio, como negar os recursos financeiros à Revolução Cubana, pelas vias mais variadas, basicamente aumentando as restrições às viagens de norte-americanos e de cidadãos cubanos residentes nos Estados Unidos, e através do aumento das restrições às remessas de cidadãos cubano-americanos a seus familiares no país.

Adicionalmente, no tema do aumento do bloqueio, esse primeiro capítulo, e o informe em sentido geral, fala e dá alguns sinais sobre a possibilidade de que se apliquem os títulos mais extraterritoriais da Lei Helms-Burton. Estamos falando do Título 3 e do Título 4. Como se recorda, o Título 3 é o que coloca a possibilidade de desatar uma longa corrente de demandas legais nos Estados Unidos contra pessoas, contra companhias que invistam aqui ou comerciem com nosso país. E o Título 4 é o que declara que se proibiria a entrada aos Estados Unidos de pessoas que também invistam aqui ou comerciem com Cuba.

Randy Alonso.- Algo que vêm fazendo e, de fato, nas últimas semanas, explicávamos na própria mesa-redonda, tem havido pressões a empresários e firmas que querem comerciar com Cuba.

Rafael Dausá.- Exatamente.

Um quarto elemento desse primeiro capítulo, Randy, que a nosso ver tem uma importância muito grande, é o incremento das campanhas internacionais contra a Revolução Cubana. A isso vão dedicar também cifras milionárias, para dedicar-se a mentir sobre Cuba, a mentir sobre a realidade cubana e sobre a obra da Revolução. São mestres na arte de mentir, já o demonstraram durante muito tempo.

Uma quinta tarefa que se propõe nesse capítulo para destruir a Revolução Cubana, é também incrementar os esforços internacionais para buscar o isolamento de Cuba nas Nações Unidas, a condenação de Cuba na Comissão de Direitos Humanos de Genebra e outros foros internacionais. E para isso também se propõem a dedicar uma grande soma de dinheiro.

E, por último, e não por ser último deixa de ser muito importante, é o fato de que planejam "socavar" – e o cito textualmente – "os planos de sucessão do governo cubano".

Ou seja, eles se opõem totalmente, e realmente chama a atenção a arrogância imperial desse informe: diz que se opõem a qualquer sucessão no governo cubano.

Indubitavelmente, esse informe, essas regulamentações que hoje vamos analisar aqui, demonstram também até onde chegaram os Estados Unidos em seu menosprezo, não só pelas idéias representadas por nosso país, mas pelas idéias que se debatem no mundo hoje, o menosprezo dos Estados Unidos pelo direito internacional. A arrogância imperial norte-americana estabelece que podem destruir governos que não se submetam a seus interesses, e o estão pondo em prática.

Eu creio que esse informe é um reflexo de até aonde chegou essa administração em seu menosprezo pelos mais sagrados princípios do direito internacional.

Como eu dizia há alguns instantes, Randy, os cinco capítulos restantes desse informe se dedicam a sonhar, a ver como se desmontaria a obra da Revolução, como se eliminaria a obra da Revolução, e dedicam extensas e longas páginas a planejar como seria tudo isso.

Em síntese, creio que seria importante destacar que esse informe, essas medidas constituem uma nova escalada contra a Revolução Cubana, que mostra a agressividade dessa administração. Creio que, sem dúvida, Bush aproveita de maneira oportunista a conjuntura eleitoral; os anticubanos estão chantageando o Presidente norte-americano, e Bush aproveita essa conjuntura eleitoral para lançar uma nova agressão contra nosso país, tratando de cortejar o voto e o dinheiro dos cubano-americanos na Flórida. Também é preciso dizer que mostra o ódio ideológico dessa administração pela Revolução Cubana.

Esse informe transcende a conjuntura eleitoral, eu creio que a aproveita, mas transcende; creio que mostra o ódio ideológico dessa administração pela Revolução Cubana e o que representa o exemplo da Revolução Cubana.

Para concluir, eu diria, para mostrar a pouca credibilidade desse informe, que o mesmo foi apresentado dois dias depois de que, com grande repercussão, foram divulgadas declarações do assistente pessoal de Colin Powell. Colin Powell, como se sabe, foi presidente dessa comissão; supõe-se que o presidente da Comissão para a Assistência a uma Cuba Livre assuma também esse informe. E o senhor Larry Wilkerson, assistente pessoal do senhor Colin Powell, mencionava claramente nessas declarações que considerava que a política para Cuba era a mais estúpida sobre a face da Terra.

Dito isto pelo assistente pessoal de Colin Powell, este informe e todas as suas regulamentações e medidas, para mim, e creio que para todos, perdem realmente qualquer credibilidade que se queira dar-lhes.

Randy Alonso.- Obrigado por seu comentário, Dausá.

Essas novas regulamentações, divulgadas ontem pelo Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros dos Estados Unidos, deixam praticamente prontas para entrar em vigor, no próximo 30 de junho – como já tinha sido anunciado – as medidas que Bush deu a conhecer em 6 de maio passado e que têm a ver, entre outras cosas, com a repressão às viagens dos cidadãos cubanos nos Estados Unidos a nosso país, com o envio de remessas desses cidadãos a seus familiares em Cuba, e, sobretudo, com a tentativa de cortar a relação normal e familiar entre os cubanos do país e os cubanos que se encontram no exterior, fundamentalmente nos Estados Unidos, e também com tratar de projetar esse futuro que os Estados Unidos pretendem para Cuba e cortar todo tipo de relações de nosso país com o exterior.

Não se pode esquecer que recentemente, além do já proclamado por Bush em 6 de maio, os Estados Unidos fizeram extraordinários esforços para impedir que Cuba possa utilizar seus ativos no exterior, em bancos internacionais, tratando de impedir também que Cuba possa adquirir produtos em determinados países, como parte das pressões que os Estados Unidos fazem em todo o mundo, numa ação que, mais que um bloqueio, é realmente uma guerra econômica total do governo norte-americano contra nosso povo.

Mas o que dizem essas regulamentações da OFAC em relação às medidas aprovadas por Bush em 6 de maio passado? Há alguns elementos da implementação dessas brutais medidas que eu proponho que conheçam inicialmente através da jornalista Arleen Rodríguez Derivet.

Arleen Rodríguez.- Sim, Randy, obrigada. Saudações a todos os telespectadores, ouvintes e aos que estão conosco no estúdio.

As medidas ditadas pelo führer Bush nos obrigam a começar a buscar um novo vocábulo para definir a guerra total contra Cuba que se está travando, porque me parece que bloqueio já fica aquém, porque bloqueio é o que estamos vivendo há 45 anos, isto é muito mais.

O que mais chama a atenção dos que estão acompanhando a evolução dessas medidas é que, desde que foram feitos os primeiros anúncios, desde a publicação no New York Times em abril e depois a apresentação formal em maio, até as que estão saindo já implementadas, há uma volta a mais do parafuso, se é possível; ou seja, se o que se anunciou já era brutal, já era criminal, o que saiu é ainda mais.

Vou ler as três primeiras medidas, tal como vão ser implementadas, por exemplo: as viagens totalmente custeadas. Em algum momento houve uma autorização para viagens totalmente custeadas por terceiros países, certo? Bem, "elimina-se essa autorização para viagens totalmente custeadas (fully hoster) a Cuba, cujos custos e impostos eram pagos por um cidadão de um terceiro país fora da jurisdição dos Estados Unidos ou assumidos por Cuba".

Agora "as regulamentações proíbem a aceitação de bens ou serviços em Cuba, se são dados gratuitamente ou presenteados, a menos que sua entrega seja autorizada por uma licença geral ou específica da OFAC".

Eu pergunto: o objetivo das medidas não era supostamente evitar que nosso país tivesse algum tipo de ganho, eliminar todo tipo de ingresso a nosso país? Então, creio que essa volta do parafuso, essa eliminação total de qualquer financiamento por um terceiro país, ou, inclusive, gratuito por Cuba, vem confirmar o que há por trás dessa medida: não querem que as pessoas vivam a verdade de nosso país, não querem que tanto cubano-americanos como norte-americanos descubram que é um monte de mentiras e de infâmias tudo o que o governo norte-americano diz sobre Cuba.

Dausá pode dizer se estou certa, mas eu tinha entendido que 115.000 cubano-americanos estiveram em Cuba no ano passado. Essa é uma cifra crescente de pessoas, que – como disse um cubano-americano – vem sendo uma manifestação silenciosa de que se está contra a política de guerra e de bloqueio a Cuba, mesmo que essa gente ainda não fale, não tenha espaço nos grandes meios, não sejam escutados pela administração norte-americana.

Felipe Pérez Roque, nosso chanceler, no discurso inaugural de "A Nação e a Emigração" fez uma comparação: de 37 000 cubano-americanos que vieram há 10 anos, no ano passado estiveram 115 000 em nosso país.

As medidas contra esse fluxo de visitas são uma clara advertência de: "Não quero que você vá, não quero que saiba que tudo o que digo é mentira."

A cifra de norte-americanos, eu não sei, Dausá.

Rafael Dausá.- Oitenta e cinco mil.

Arleen Rodríguez.- Oitenta e cinco mil, ou seja, também uma cifra crescente.

Essa contradição nos convida a distinguir entre o discurso com que se apresentam as medidas e a verdade por trás delas, agora que se implementam. Porque se diz: "Não queremos dar dinheiro ao regime cubano." "Está bem, quem vai pagar é uma terceira pessoa ou quem vai pagar é o próprio governo cubano, vai assumir o gasto outra pessoa." "Não, você não pode ir de nenhuma maneira, nem mesmo sem custo."

Vocês se lembram de que o senhor Führer anunciou as medidas pondo em sua boca uma frase de nosso José Martí: "com todos e para o bem de todos". E todos os dias se confirma que são contra todos e pelo mal de todos; ou seja, contra os cubanos de Cuba, contra os cubanos que residem nos Estados Unidos e contra os norte-americanos.

Há uma segunda modificação, sobre a importação de mercadorias cubanas. Escutem: "Fica eliminada a licença geral que autorizava a viajantes a Cuba fazer compras e voltar aos Estados Unidos com um máximo de 100 dólares em mercadorias cubanas para uso ou consumo pessoal." Estamos falando basicamente do que as pessoas levam: tabaco, rum, música, o tipo de mercadoria que se consome e o que mais se aprecia.

Além disso, acrescenta-se que "os viajantes não poderão comprar ou adquirir por outros meios" – ou seja, não podem adquirir de nenhuma maneira, nem como presente, nem como souvenir – "nenhuma mercadoria e trazê-la aos Estados Unidos, com a exceção de materiais informativos."

Segundo me dizia Dausá, no original das medidas, dizia que não se poderia importar nenhuma mercadoria produzida pelo Estado cubano, e aqui, na versão definitiva, fica esclarecido que não podem nem mesmo comprar na feira do Malecón um souvenir para levar para sua casa. Já está avisado.

Recordemos de novo outras cosas que se diziam: "É preciso eliminar todos os suportes do Estado cubano, nem um centavo para o Estado cubano." Agora, nem para os privados, porque não podem levar nada, ou seja, elimina-se a autorização de levar até coisas para consumo pessoal, de nenhum tipo, nem adquirida, nem como souvenir, nem como presente, não podem levar simplesmente nada de Cuba. Isso contamina, isso parece que muda a ideologia a das pessoas.

Randy Alonso.- Arleen, nem mesmo esperaram as regulamentações, porque de fato já estão fazendo isso com cidadãos cubanos que estão chegando a Miami e lhes estão tirando as coisas.

Arleen Rodríguez.- Ah, já faz muito tempo; creio que essa política nasceu torcida.

Há uma famosa história de um dos assessores de Kennedy, que dizem que Kennedy lhe pediu que comprasse não sei quantos charutos, antes de firmar a Lei do bloqueio; mas a verdade é que, já faz muito tempo, são humilhados, maltratados, e que se destroem as coisas de qualquer um com quem se encontre algo que tenha o sabor de Cuba, que tenha a marca de Cuba.

Muito bem, agora isso está implementado; mas vejam que é até com qualquer coisa que possam ganhar de presente. Eu imagino que até uma lembrança familiar que alguém leve, se diz "feito em Cuba", isso evidentemente será recolhido.

Creio que isso, se não significa que estão... E para mim está claramente dizendo que é contra todo o mundo, que não é só contra o Estado, é contra o povo de Cuba, a menos que seja uma aceitação tácita de que em Cuba o Estado e o povo somos a mesma coisa. De qualquer maneira, a medida vem a significar o mesmo, qualquer que seja a interpretação que se faça.

A terceira medida tem a ver com a bagagem acompanhada. O peso da bagagem levada a Cuba – ou seja, a maleta que as pessoas carregam –, por um viajante autorizado, que já é aquele que consiga uma autorização do imperador para vir a Cuba, essa bagagem trazida por um viajante fica limitada a 44 libras, 19,8 quilos por viajante, a menos que a OFAC autorize um peso maior; ou seja, na prática está-se falando de tornar tão difícil uma viagem, que as pessoas renunciem a fazê-la, porque tenho de pesar até a última librinha, porque se passo de 19,8 quilogramas, não posso levar essa bagagem.

Eu imagino que alguém que leia...

Randy Alonso.- Deixam uma "porta de saída", você tem de implorar a Washington para ver se pode passar essa librinha a mais. É uma coisa absurda!

Arleen Rodríguez.- Exatamente.

Eu conheço muitos norte-americanos que visitaram a Cuba, principalmente intelectuais, que viajam com livros, porque gostam de ler, como qualquer de nós, quando viajam; eu imagino que terão de baixar os livros, o Laptop, o que tragam, porque já completa o peso.

Eu dizia, Randy, que é preciso distinguir entre o discurso com que se apresenta e a verdade por trás do discurso, e a verdade está na implementação. Eu creio que é preciso ver isso também, porque agora, quando se acaba de anunciar essa implementação, ainda não se registrou a opinião de nenhum cubano-americano em Miami. Se você vê as reportagens das televisões, quase todas entrevistam a loba feroz, que me parece a guardiã do campo de concentração em que se está convertendo Estados Unidos.

E o que diz a Loba feroz? "Leiam tudo, porque vamos persegui-los." Ou seja, a guerra começou, creio que bloqueio já é uma palavra muito leve, ela está anunciando... Eu me lembro, porque há pouco tempo vimos um filme muito bonito na televisão, a história de Josephine Baker, quando ela volta para os Estados Unidos e a perseguição continua, e ela diz: "Mas se houve uma guerra e se uniram", depois da Segunda Guerra Mundial, e o militar norte-americano negro que a convidou para cantar para o exército, lhe diz: "Acabou uma guerra, mas começou outra mais dura; agora, queixar-se pode ser considerado como uma atitude comunista, e isso aqui se persegue."

Creio que estamos vendo isso em tudo o que está acontecendo, e creio também que, se é a Loba feroz que aparece dizendo essas coisas, evidentemente nos está dando o sinal de que o macarthismo, com toda a sua carga de ódio, com toda a sua fúria contra Cuba, já declarou sua guerra contra tudo o que seja cubano e contra o bem de todos os cubanos, de um lado e do outro.

Há por aí uma carta do padre Ramón Hernández, que tem um parágrafo que eu creio que vale a pena recordar. Ele esteve em "A Nação e a Emigração", e dizia: "Não ano de 1981, um sacerdote amigo em Madrid me disse que algum dia me arrependeria de vir para os Estados Unidos. O dia chegou" – diz Ramón Hernández—, "nunca pensei sentir-me tão arrependido de um erro, e, além disso, envergonhado por ter um passaporte que representa o que estamos vendo nestes dias, refletido em foto."

Não foi à toa que esse homem estabeleceu uma relação entre a infâmia que está acontecendo nos Estados Unidos e o que estão fazendo contra nosso país, e eu acho que também não é à toa que 30 de junho é o dia anunciado para uma paz com mentira para um povo que foi levado a uma guerra, e também para implementar outra guerra total contra nosso país.

Randy Alonso.- Sim, uma decisão que vai se implementar precisamente quando se supõe que fiquem mais quentes as disputas eleitorais nos Estados Unidos. Como dizia Dausá, tem um componente claramente eleitoral, por um lado; mas por outro, tem um componente profundamente ideológico, do ódio visceral que essa extrema-direita norte-americana, hoje não poder, carrega há mais de dois séculos contra nosso povo e que faz parte de toda essa guerra que Arleen anunciava. Não são só essas medidas que tratam de impedir as viagens para Cuba desses cidadãos cubanos residentes nos Estados Unidos, mas há também políticas claras de delimitação de quais são as possibilidades que você tem para vir a Cuba, que são cada vez mais escassas, e, além disso, em que condições deve fazê-lo.

Eu proponho ao companheiro Dausá que nos dê mais elementos também dessas regulamentações que a OFAC divulgou para implementar, a partir de 30 de junho, essa decisão de impedir – que é o que realmente faz – as viagens dos cidadãos cubanos nos Estados Unidos a seu país de origem.

Rafael Dausá.- Sim, Randy, com muito prazer.

Podemos identificar, nas medidas relativas às viagens dos cidadãos cubanos residentes nos Estados Unidos, cinco agressões contra a família cubana, cinco discriminações contra o povo cubano da ilha e os residentes nos Estados Unidos.

A primeira: Que situação tínhamos até agora? Bem, um residente cubano nos Estados Unidos, se desejava viajar a Cuba, podia pedir uma licença geral, uma autorização geral, que lhe permitia viajar a nosso país uma vez cada 12 meses. Adicionalmente, existia a possibilidade de solicitar uma licença específica, por algum conceito humanitário, e talvez vir uma segunda vez no ano, repito, sempre que houvesse alguma situação de emergência, alguma situação humanitária. Isso já significava uma medida discriminatória contra os cubanos residentes nos Estados Unidos.

Devemos recordar que, se um cidadão mexicano, um cidadão guatemalteco, equatoriano, de qualquer país, residente nos Estados Unidos, com sua situação migratória legalizada, deseja viajar a seu país de origem, não tem a menor restrição, pode viajar as vezes que deseje a seu país de origem; mas os cubanos já tinham uma discriminação sobre eles: só podiam fazê-lo uma vez por ano. As novas regulamentações incrementam essa discriminação, incrementam o golpe à família cubana: em vez de uma vez ao ano, agora é uma vez a cada três anos, o que, evidentemente, afeta a reunificação familiar, afeta a relação familiar entre os cubanos da ilha e os cubanos que emigraram.

Eu diria que essa medida está complementada com outra, que os norte-americanos vêm aplicando há um tempo já, e é a medida de reduzir o número de vistos para visitas de cubanos residentes em nosso país que desejam viajar aos Estados Unidos de forma temporária, para visitar seus familiares lá.

Randy Alonso.- É impedir o fluxo em ambas as direções.

Rafael Dausá.- É dificultar o fluxo em ambas as direções: de um ano, passo à possibilidade de que você venha uma vez a cada três anos, e, por outro lado, elimino ou reduzo a possibilidade de viajar de visita aos Estados Unidos. Ou seja, é uma ação realmente muito desumana, muito cruel, que afeta a família cubana, prejudica a família cubana, sem dúvida.

Como se traduz essa nova regulamentação? Bem, essa nova regulamentação se traduz da seguinte forma: "Você é uma pessoa que reside em Miami, viajou a Cuba não ano 2003; agora, para poder viajar a Cuba, você tem de esperar até 2006, três anos."

Randy Alonso.- Quer dizer que a medida, ainda que entre em vigor em 30 de junho, tem um caráter retroativo.

Rafael Dausá.- Tem um caráter retroativo; a isso, precisamente, queria dirigir meu comentário. Se você, por alguma casualidade – e esta é a segunda grande discriminação, de uma insensibilidade maiúscula, de uma crueldade tremenda –, viajou ao país em 2003 e, por desgraça, algum familiar seu falece em nosso país ou adoece gravemente, e você pretende viajar a Cuba, não poderá, porque uma das coisas que se estabelecem, precisamente – e eu a leio textualmente – é que "não se vão permitir viagens adicionais"; ou seja, você viajou uma vez e tem de esperar, sem nenhuma alternativa, três anos para voltar a visitar a Cuba.

Randy Alonso.- Diz a OFAC que nem mesmo por situações urgentes autorizarão.

Rafael Dausá.- Nem mesmo por situações urgentes. Quer dizer, o que eu estava explicando: há uma enfermidade, uma tragédia na família, e você não pode viajar a Cuba. A OFAC o diz muito claramente, que não se farão exceções.

Eu acho que isso reflete, de maneira muito clara, o caráter desumano dessa medida.

Uma terceira discriminação, um terceiro ataque à família cubana: até este momento, as pessoas podiam viajar a nosso país, e o período de estadia em Cuba dependia, basicamente, do trabalho da pessoa nos Estados Unidos, das possibilidades econômicas; enfim, não havia uma grande limitação nisso. Bem, agora se estabelece que somente podem vir por um período máximo de 14 dias.

Randy Alonso.- A cada três anos e só por 14 dias.

Rafael Dausá.- Três anos, 14 dias; nova medida discriminatória, porque a ninguém, a nenhuma outra nacionalidade nos Estados Unidos se limita o número de dias que pode estar em seu país de origem. Essa é a terceira discriminação.

Quarta discriminação: Até este momento, os cubanos que viajavam a nosso país podiam gastar diariamente 167 dólares; ou seja, tinham uma diária de 167 dólares, mais um dinheiro adicional, para gastos de transporte e gastos relacionados com a visita. Bem, esses 167 dólares – que eu reitero, já é uma discriminação, porque não se estabelece a ninguém esse limite de gastos, a nenhuma outra nacionalidade nos Estados Unidos – esses 167 dólares se convertem agora em 50 dólares. Quer dizer, uma pessoa que venha visitar a um familiar em nosso país por cinco dias, poderá gastar 50 dólares diários, poderá gastar unicamente 250 dólares, mais um presentinho da OFAC, de 50 dólares para gastos de viagem. Isto é, de um dinheiro que era indeterminado, agora fixam um máximo de 50 dólares. Nova discriminação e nova agressão à família cubana.

Por último, Randy, e quero deter-me um pouco nisso – creio que é muito interessante, muito importante –, Bush, de uma penada, acaba de limitar a família cubana. Para Bush, um tio já não é família, um sobrinho não é família, um primo não é família. O conceito que existia nas regulamentações anteriores, de "familiar próximo", converte-se agora não conceito de "membro da família imediata da pessoa que viaja". Isto é, estamos falando de que agora o cubano residente nos Estados Unidos que deseje visitar um familiar em nosso país, somente poderá visitar irmãos, avós, pais, filhos, esposos e acabou. Se quer visitar um tio, não pode, se quer visitar um primo, não pode, se quer visitar um primo segundo, um tio-avô, isso está proibido.

Gostaria também, Randy, de assinalar um subterfúgio que existe em todas essas regulamentações que acabam de ser implementadas. Antes existia a licença geral, agora é uma licença específica. Você tem de pedir licença, e quando você pede licença, existe sempre a possibilidade de que lhe digam: Não; ou seja, pode-se acrescentar uma discriminação, um golpe adicional à família cubana.

Creio que a OFAC, o governo norte-americano, com essa medida de restrição de viagem dá um forte golpe na reunificação familiar, dá um forte golpe nos direitos humanos do povo cubano, dos emigrados cubanos nos Estados Unidos e mostra uma vez mais o ódio visceral e o desprezo que sente pelos cubanos e pela obra da Revolução.

Creio, Randy, que são basicamente esses os elementos fundamentais deste tema de viagens. Isto é, já não há licença geral, mas licença específica, você pode viajar somente por 14 dias, você pode viajar somente uma vez a cada três anos, você pode gastar somente 50 dólares diários, e, adicionalmente, se nesses três anos sofre uma desgraça, nem se preocupe em solicitar uma autorização para viajar, porque não vão dar, a OFAC o diz muito claramente.

Randy Alonso.- E é prova da brutalidade que caracteriza a política dessa administração, uma brutalidade expressa para o mundo nas guerras de conquista que toda a humanidade presenciou nesse quatro anos de administração republicana; mas também uma brutalidade expressa nesse intento vergonhoso de dividir as famílias, de praticar políticas anti-humanas baseadas em mesquinhos interesses eleitorais, em seguir políticas vinculadas a uma minoria cada vez mais reduzida dentro dessa comunidade cubana nos Estados Unidos. E, como dizia Dausá, o que esperar de uma administração que, além de tudo, diz a você quem é sua família; que intenta estabelecer não só as regulamentações que deve cumprir como suposto cidadão dos Estados Unidos, mas que também diz a você com quem se relaciona, como é sua vida e quem é sua família nos Estados Unidos.

Rafael Dausá.- Randy, eu creio que também seria interessante acrescentar uma idéia básica nesse tema, e é que precisamente todas essas restrições estão sendo colocadas no momento em que Cuba flexibiliza enormemente as regulamentações para que os emigrados cubanos em todo o mundo viajem a seu país. Eu creio que mostra precisamente quanto ódio e quanta hostilidade gera esta administração.

Randy Alonso.- Vamos recordar aquela pergunta feita na declaração do Comitê Central do Partido e do Governo Revolucionário cubano: O que eles temem? Eu acho que aí está a chave de todas essas medidas brutais que o governo norte-americano implementou e que começarão a ser válidas a partir do próximo 30 de junho.

Eu lhes proponho escutar a opinião de um prestigioso advogado e também conhecedor das reações que essas medidas originaram na comunidade cubana, o advogado José Pertierra, residente em Washington e concordou em falar por telefone com nossa mesa-redonda.

Miguel A. Masjuán.- Tenho em linha diretamente de Washington o advogado José Pertierra.

Muito boa tarde, Pertierra.

José Pertierra.- Boa tarde, Masjuán. Minha saudação, desde a capital do império norte-americano.

Miguel A. Masjuán.- Bem, gostaria que você nos fizesse um comentário sobre a implementação das medidas contra Cuba tomadas pelo presidente Bush.

José Pertierra.- Bom, Masjuán, são medidas cruéis. O governo as anunciou ontem, eu as estive olhando com muito cuidado nos dois últimos dias, são piores do que muita gente poderia imaginar, porque os familiares que podem visitar a Cuba, teriam de fazê-lo somente uma vez a cada três anos e só podem visitar a um familiar muito, muito próximo: pai, mãe, esposo, esposa, filho ou avós. E o problema também é que têm de pedir uma licença específica ao governo norte-americano antes de poder visitar a mãe; e, se depois de visitá-la, a mãe tem a desgraça de ficar doente dentro do prazo dos três anos, essas novas leis da administração de Bush não permitem que a pessoa vá ver a mãe ou enterrá-la. Não há nem mesmo uma permissão que possam pedir para fazer isso.

São as medidas mais antifamília, mais cruéis que uma pessoa pode imaginar, decretadas por um governo que, supostamente, pretende ser pró-família, e impulsionadas por um grupo de cubano-americanos de Miami que pretende ser cubano e defender o povo cubano, e faz exatamente o contrário em Miami.

Basicamente, são medidas impostas por alguns grupúsculos batistianos, a um governo que neste momento, nos Estados Unidos, pensa que é o dono do mundo.

O que espero é que o povo cubano que reside nos Estados Unidos perceba que são medidas dirigidas principalmente contra eles e contra seus familiares em Cuba, e que façam todo o possível para derrubar as medidas, e, se não conseguem derrubar essas medidas, pelo menos consigam derrubar este governo que impulsionou e aprovou essas medidas, porque isto é insustentável em longo prazo.

Creio que os laços familiares entre cubanos são muito mais fortes que qualquer medida que nos possa impor o governo do presidente Bush e que ou as medidas caem, ou o governo cai, mas as duas coisas não podem continuar em longo prazo.

Essas medidas incluem também uma série de restrições, incluindo que só se podem mandar 100 dólares em remessas a Cuba, e apenas a parentes muito, muito próximos; você não pode mandar dinheiro a um primo ou a um tio necessitado em Cuba; se você tem um filho necessitado, não pode mandar-lhe nada mais que 100 dólares por mês; se vai visitar sua mãe em Cuba, só pode gastar 50 dólares nessa viagem, incluindo hotel e transporte. São umas coisas que, se estivessem escritas num romance, a gente pensaria que são algo de ficção científica.

Com estas medidas, pretendem asfixiar o povo cubano em Cuba, asfixiar o povo cubano-americano aqui; querem também afundar as agências de viagem em Miami, que estão batalhando há muitos anos para conseguir que os cubanos que vivem nos Estados Unidos possam visitar a seus familiares. Eu creio que são medidas que, em parte, o que querem fazer é acabar com essas agências de viagem, para que quebrem.

São coisas impulsionadas por esse senhor Otto Reich e seus seguidores e pessoas no Congresso dos Estados Unidos, que pretendem chamar-se cubano-americanos, mas que de cubanos não têm um pêlo, e eu gostaria de ver o fim das medidas ou o fim do governo, ou, oxalá, das duas coisas.

Migual A. Masjuán.- Bem, muito obrigado, Pertierra, muito obrigado por suas palavras para nossa mesa-redonda.

José Pertierra.- Obrigado a você, Masjuán, estamos numa situação muito difícil.

Miguel A. Masjuán.- Estaremos em contacto, Pertierra. Boa tarde.

Randy Alonso.- Essas foram apreciações do advogado José Pertierra, que, como sabemos, entre outras cosas, é também um dos mais importantes advogados de imigração, que tem a ver com o assunto dos hispânicos, dos latinos, nos Estados Unidos, e que conhece bem de perto qual é a política que os Estados Unidos seguem para outro tipo de cidadãos, para outro tipo de imigrantes, de residentes hispânicos ou latinos nos Estados Unidos, e as que segue com os cubanos, essas medidas discriminatórias, como ele destacava, que são insustentáveis e que têm um caráter essencialmente anti-humano.

Mas essas novas medidas do führer Bush e suas regulamentações, aprovadas pelo Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros do governo dos Estados Unidos, não apenas estão dirigidas a torpedear, a boicotar os vínculos familiares, as viagens familiares de cubanos residentes nos Estados Unidos, mas também apontam diretamente aos próprios cidadãos norte-americanos.

Como se dizia nesta mesma mesa, a política odiosa do governo dos Estados Unidos não só é contra o povo de Cuba e os cubanos residentes nos Estados Unidos, mas contra o próprio povo norte-americano, que também verá reduzir-se ainda mais as escassas possibilidades que tinha de intercâmbio com nosso povo, de conhecimento de nossas realidades, de visitas a este país, que é cada vez mais admirado no mundo pela extraordinária obra social que nele vem sendo construída, apesar do bloqueio, da guerra econômica, da hostilidade permanente do governo dos Estados Unidos; restrições aos norte-americanos que aparecem claramente delimitadas nessas decisões da OFAC, e sobre as quais irá comentar o jornalista Rogelio Polanco.

Rogelio Polanco.- Recordemos que são novas restrições sobre as restrições já existentes contra os cidadãos norte-americanos, que há décadas têm totalmente proibido viajar a Cuba. Ou seja, que é uma demonstração de que agora estas medidas também estão sendo desenhadas contra o cidadão norte-americano, não somente contra os cubanos residentes nos Estados Unidos.

Vale lembrar que um cidadão norte-americano que viaje, como diz o governo dos Estados Unidos, ilegalmente a Cuba, pode ser sancionado com até 10 anos de prisão e 250.000 dólares de multa, pelo "delito" de viajar a nosso país. É realmente obsessivo o que a administração norte-americana tem em relação às viagens a Cuba, uma perseguição total, uma humilhação ao cidadão norte-americano.

Antes havia apenas uma janela mínima no chamado intercâmbio povo a povo, que pretendeu ser usado como uma via de subversão, como parte do chamado Trilho II contra nosso país, e que incluía, entre outros, os intercâmbios acadêmicos, profissionais.

Lembremos que em março de 2003 já tinha sido anunciado, pela OFAC, que esses intercâmbios povo a povo se eliminariam. Ou seja, que aquela licença geral para esses intercâmbios educacionais, acadêmicos, profissionais se eliminariam, e essa eliminação foi instituída a partir de 1Ί. de janeiro de 2004; desde este ano, esse tipo de intercâmbio foi totalmente eliminado, com o argumento colocado pelas autoridades norte-americanas de que encobria uma espécie de turismo para o nosso país, que é o argumento que usaram para justificar essa perseguição contra os cidadãos norte-americanos que desejam uma relação normal com Cuba.

E o que é que se anuncia nessas novas medidas, nas novas regulamentações que começam a vigorar em 30 de junho? Restringe-se ainda mais o que restava dessa janela, e o que resta agora é, realmente, uma fresta; e são tão emaranhados os sistemas burocráticos para conseguir essas viagens educacionais a Cuba, que praticamente se tornarão impossíveis; chega-se, então, a uma situação aberrante, kafkiana. Vou explicar quais são essas regulamentações.

No caso das atividades educacionais, as licenças específicas ficam limitadas às instituições universitárias e de pós-graduação; quer dizer, não se outorgará nenhum tipo de licença a instituições de nível secundário, e tais licenças, que eram possíveis com uma duração de até dois anos para estudar em Cuba, organizar alguma atividade profissional ou acadêmica em nosso país, reduzem-se a um ano; ou seja, de dois anos a um ano. Só poderão fazê-lo os estudantes matriculados na instituição que recebe a licença, de maneira que nenhum estudante poderá viajar a Cuba sob a licença de uma instituição educacional que não seja a sua, ainda que essa instituição educativa aceite o programa da instituição que recebe a licença. Ou seja, não é possível que um estudante que venha, por exemplo, com uma universidade, fazer um curso em Cuba, possa fazê-lo, se, ao mesmo tempo, não pertence a essa universidade, ou se a sua própria universidade não solicitou una licença específica para esse curso.

Mas, além disso, os funcionários que viajem sob licença devem ser empregados permanentes dessa instituição educacional, a tempo completo; quer dizer, não podem ser empregados temporários ou contratados, têm de trabalhar permanentemente nessa instituição para poder receber este tipo de licença específica.

Como eu dizia, é uma tentativa de que essa pequena janela que existia para o intercâmbio, para o contato acadêmico entre os dois países fique reduzida a uma fresta; cada vez será menos possível que estudantes norte-americanos conheçam a obra social, a obra educacional, as possibilidades do nosso país na área de educação, a melhor educação do mundo.

Randy Alonso.- Polanco, me chama a atenção, especificamente, que as reduções, entre outras coisas, estão dirigidas às escolas secundárias norte-americanas, no momento em que Cuba faz uma extraordinária obra de transformação do ensino secundário, que pode ser um exemplo para o mundo; e as medidas norte-americanas falam de deixar um pequeno espaço para as universidades, com muitíssimas travas, mas nada para o ensino secundário norte-americano.

Regelio Polanco.- Não querem que os estudantes do ensino secundário dos Estados Unidos verifiquem a realidade do modelo inédito que Cuba está levando em frente no ensino secundário cubano, que além disso seria muito útil para aplicação em outros países, especialmente nos Estados Unidos, quando sabemos que esse é o nível educacional que enfrenta mais problemas no mundo.

Por outro lado, aqueles que já tinham licença para viagens desse tipo a Cuba, que pretendam fazê-lo, teriam que estabelecer sua aplicação antes do dia 15 de agosto, para poder submeter-se às novas regulamentações; ou seja, que a lei não deixa nenhum espaço para aqueles que tinham viagens acadêmicas já organizadas.

Agora, com relação aos eventos esportivos, clínicas, ateliês e outras atividades desse tipo, fica eliminada a licença geral para as competições amadoras ou semiprofissionais, auspiciadas por uma federação internacional de esporte; e a OFAC só autorizará tais atividades sob uma licença específica, após avaliar cada caso, o que equivale a dizer que não autorizará nenhuma dessas participações em eventos esportivos internacionais. Lembrem que aqui se fala de eventos internacionais, auspiciados por federações internacionais. Ou seja, isto é um golpe, um atentado ao olimpismo, é um golpe ao nobre sentido do esporte como um ato de paz.

Também é um golpe ao intercâmbio acadêmico em matérias como a saúde, uma decisão que vai contra o interesse legítimo do povo norte-americano de ter intercâmbio com Cuba em matéria de saúde, o país que tem o sistema de saúde mais avançado do mundo; de conhecer os avanços de Cuba em matéria de biotecnologia e outras pesquisas importantes que poderiam ser úteis e poderiam beneficiar aos cidadãos norte-americanos com esses descobrimentos científicos cubanos.

Tanto na área esportiva, quanto nos ateliês acadêmicos que se realizariam em nosso país, como nas clínicas, fica eliminada a política de licenciar a participação específica nessas atividades.

Mas a obsessão fica evidente, quando vemos que um cidadão norte-americano, para viajar a Cuba, em visita a um estudante que esteja estudando aqui sob licença da OFAC, ou que esteja freqüentando algum curso acadêmico em nosso país, tem de cumprir os seguintes requisitos. Vejam que não estou falando dos cubanos residentes nos Estados Unidos de América, mas de qualquer outro não-nacional cubano: tem de ser um familiar imediato; tem de vir a Cuba em circunstâncias graves, ou seja, uma situação verdadeiramente de emergência, uma enfermidade grave que o impossibilite de viajar; e que essa situação seja comunicada pela pessoa ao Escritório de Interesses em Havana e que, além disso, o Departamento de Estado seja consultado.

Ou seja, se um estudante norte-americano, após passar por todo esse labirinto burocrático para poder realizar um curso em Cuba, tem uma situação de gravidade, um acidente, uma enfermidade, e um parente quer vir, tem de submeter-se a todas essas situações para poder vir a Cuba.

Acho que estamos frente a uma flagrante violação dos direitos dos cidadãos norte-americanos, da Constituição dos Estados Unidos e das leis internacionais.

É também uma decisão absolutamente antidemocrática a que tomou o governo norte-americano a respeito das viagens dos cidadãos norte-americanos a Cuba, contra os genuínos interesses do povo norte-americano e contra a vontade crescente dos setores cada vez mais amplos da sociedade norte-americana, que o expressam, por exemplo, no Congresso dos Estados Unidos, que durante vários anos aprovou em ambas as Câmaras importantes decisões contrárias às proibições de viagens.

Mais uma vez, fica demonstrado que o que desejam por essa via é estrangular a Cuba, estrangular e asfixiar a Cuba, tentando impedir o turismo ou a viagem de cidadãos norte-americanos a Cuba; mas, acima de todas as coisas, não querem que vejam a realidade escamoteada durante décadas.

Randy Alonso.- Essa política que foi – poderíamos dizer – referendada por essas regulamentações da OFAC, que complementam as medidas tomadas pelo presidente norte-americano, é algo que reforça a política desse governo dos Estados Unidos, o que mais multas aplicou a cidadãos norte-americanos que viajaram a Cuba, o que mais processou judicialmente a esses cidadãos norte-americanos e o que, ainda nestes dias, inclusive sem estar em vigor essas decisões, tem sabotado também qualquer intercâmbio entre cidadãos norte-americanos e cidadãos cubanos, e punido severamente aos cidadãos norte-americanos que viajaram à Ilha.

Arleen Rodríguez Derivet pode dar detalhes de alguns desses exemplos.

Arleen Rodríguez.- Sim, Randy. Creio que se trata de provar, às vésperas da campanha eleitoral do Senhor Bush, que se está apertando ao máximo. Mas, sobretudo, creio que tudo isso também tem a ver com o clima de perseguição existente hoje nos Estados Unidos, e que não é só contra os cubano-americanos ou contra os norte-americanos que desejam viajar a Cuba, é um clima semeado desde o 11 de setembro de 2001, já se sabe sob que argumentos.

Aqui há uma notícia de ontem: "Três religiosos da Igreja Metodista dos Estados Unidos estão sendo multados pelo governo norte-americano, em 25 000 dólares cada um, por uma viagem não autorizada a Cuba em 1999." Quer dizer, como se disse há pouco, isso não é só contra o que está acontecendo agora, mas tem caráter retroativo também.

"Segundo o advogado dos religiosos, a viagem, realizada via Canadá, tinha interesses humanitários.

"A tardia punição aos religiosos é mais uma demonstração do endurecimento de todas as sanções do governo estadunidense contra Cuba", diz este reporte de Ward Data Service, datado de quarta-feira.

Mas o que mais chamou a atenção, que aparece nas notícias mais recentes, é a acusação e o julgamento de duas pessoas que organizavam regatas de Tampa até Cuba, Peter Goldsmith e Michelle Guessling. Diz que enfrentam acusações – aqui aparece um termo que conhecemos bastante pelo caso dos Cinco – de "conspiração para violar o embargo" – já se sabe que, quando faltam provas, as pessoas são acusadas de conspiração; chamem de bloqueio, ou embargo, como desejem chamá-lo – "e outro por infringi-lo desde outubro de 2000 até maio do ano passado, ao propiciar, sem ter licença, as regatas de Cayo Hueso a Cuba, que se realizaram em novembro de 2000 e em maio de 2002".

"Se forem declarados culpados, os acusados enfrentam, pela primeira acusação" – isto é, a de conspiração para violar o embargo, apenas conspiração para fazê-lo – "cinco anos de prisão e uma multa de 250 000 dólares; enquanto, pela segunda, seriam penalizados com 10 anos de prisão e 100 000 dólares de multa".

A própria imprensa norte-americana disse que "em menos de uma semana, e em sintonia com a promessa eleitoral de W. Bush aos cubanos do sul da Flórida," – bem, aos cubanos da extrema-direita, certo? – "o sistema judicial formulou acusações a supostos violadores do embargo e impôs pesadas penas".

"O caso mais recente não tem antecedentes" – refere-se a esses residentes de Cayo Hueso que organizavam regatas entre os cayos da Flórida e a ilha, e que foram presos. "É a primeira vez que se impõe uma medida tão severa a promotores desse tipo de atividades".

Esse outro caso é da quarta-feira passada: "Um juiz de Chicago sentenciou um advogado a três anos de prisão, por vender charutos cubanos nos Estados Unidos" – revender charutos, evidentemente. Richard Connor foi considerado culpado de contrabandear com o inimigo e de mentir a funcionários de emigração, entre outras acusações.

"O embargo contra Cuba não pode ser ignorado ou burlado – declarou o promotor federal do sul da Flórida, Marcos Jimenez –, as leis de segurança nacional como as que aplicamos existem" ... bem, vocês conhecem esse discurso, que – como dizia – não tem nada a ver com a verdade.

O passeio de 90 milhas entre Key West e Cuba, as regatas, tinham se realizado em 1997, 2000, 2002 e 2003, e tinham sido feitas algumas advertências, eles disseram que cumpririam; mas dizem que isso já provocou fortes comentários, dizem que é uma ofensiva do governo, que não é mais que uma tática eleitoral.

Um advogado de Milwaukee, vinculado a uma rede de juristas que estão contra o bloqueio, qualificou o processo contra os dois organizadores da regata como "ultrajante".

Diz: "Acho que a melhor explicação disso é a política atual no sul da Flórida. A administração Bush está tentando ganhar os elementos da extrema-direita da comunidade cubano-americana, e eles vão levar pessoas a julgamento para demonstrar que são duros com eles."

Queria lembrar, já que agora mesmo estivemos escutando o José Ignácio Pertierra, que a mãe dele, Olga Pertierra, fez a intervenção mais emotiva e mais comentada no evento "A Nação e a Emigração". Ela tinha vindo em março e disse a seu filho: "Vou para ver o lugar onde vão me enterrar" – queria que a enterrassem aqui.

Bem, pois "quando cheguei a Cuba" –diz – "decidi que não ia morrer, que ia viver, e decidi isso porque vi outra Cuba..." Ela foi embora em 1961...

Randy Alonso.- Nunca tinha voltado, era sua primeira vez.

Aleen Rodríguez.- Exato.

"...vi uma sociedade antes, e tudo o que vivi antes da Revolução não se parece em nada com esta sociedade assentada em valores. Quando conheci a Cuba" – porque ela diz que era outra Cuba – "decidi que ia viver".

Olga Pertierra é uma dessas pessoas que agora só poderá voltar depois de três anos; ela tem mais de 80 anos, e vocês sabem quanto pesa o tempo para pessoas de tanta idade.

Queria terminar, a propósito disto que ela dizia, com o que escreveu Max Lesnick, quando se anunciaram estas medidas, em fevereiro deste ano. Disse. "O vergonhoso de tudo isto é que há cubanos aqui em Miami, que alentam esses planos. Eu disse cubanos? Perdão, esses não podem ser filhos de Cuba, são outra coisa". Coloquem vocês a palavra que corresponde."

Randy Alonso.- Justamente, Arleen, a isso acrescentaria que hoje se divulgou pelos meios de comunicação que um grupo de hip-hop, um grupo de rap que esteve recentemente em Cuba, participando de um festival dessa manifestação artística, também foi acusado nos Estados Unidos e lhes pedem punições por ter visitado nosso país. É um processo que começou e que é mais uma demonstração dessa perseguição implacável do governo norte-americano contra todo cidadão norte-americano que tente olhar para o outro lado do estreito da Flórida e ver a realidade que há num país diferente, que está a 90 milhas dos Estados Unidos.

Como se dizia no começo desta mesa, no relatório apresentado pelo general Colin Powell, aprovado pelo presidente Bush, também se estabelecem regulamentações estritas para tratar de estreitar o cerco sobre as remessas familiares que residentes cubanos nos Estados Unidos enviam a seus familiares em Havana, e que também fazem parte do plano de tentar sufocar economicamente o país e de impedir qualquer intercâmbio, qualquer fluxo de dinheiro que provenha dos Estados Unidos para Cuba.

Dessas medidas, do que estabelecem as regulamentações da OFCA publicadas ontem, Reinaldo Taladrid.nos comenta na mesa-redonda

Reinaldo Taladrid.- Sim, Randy. Com muito prazer.

Em primeiro lugar, o que é que acontecia com as remessas? Bom, como já foi dito anteriormente com os outros temas: a minoria cubana, os nacionais cubanos eram os únicos nos Estados Unidos que tinham uma limitação, um teto da quantidade de dinheiro que podiam enviar a seu país de origem. Já isso era uma discriminação que existia antes dessas medidas.

Agora, como foi o processo – e isso é interessante – para o tema da remessa nessa comissão? Primeiro, o que se propôs. Sabe-se, por exemplo, que o clone da Fundação, o Conselho pela Liberdade de Cuba, Ninoska e companhia, propôs eliminar, levar a zero as remessas, essa foi sua proposta à comissão. Debateu-se muito, havia prós e contras pelos temas eleitorais, pela rejeição que provocaria nos votantes nas eleições, não por nada humanitário, nem por nenhuma razão ética, e no dia em que se anunciam as medidas, acontece uma coisa realmente interessante: convoca-se uma coletiva de imprensa e distribui-se um documento em espanhol à imprensa, com as medidas que a comissão ia anunciar, e esse documento em espanhol diz que as remessas são rebaixadas de 300 por trimestre a 225, ou seja, do teto se diminui mais; mas quando Roger Noriega vai falar, recolhe-se o que tinha sido entregue à imprensa em espanhol e se diz que oficialmente não se toca o montante da remessa. Ou seja, até o último momento estiveram tentando cortá-la, suprimi-la, mas foi tanta a rejeição que encontraram por toda parte, que não puderam.

No entanto, apesar de deixar o montante igual, aqui o mais importante é a palavra "mas"; o montante fica igual, "mas": primeiro, elimina-se uma categoria aberta anteriormente, na administração anterior, que era a de que os norte-americanos podiam enviar ajuda a um cubano por alguma razão. "Elimina-se" – diz assim – "a licença geral que autoriza as remessas trimestrais enviadas por qualquer pessoa estadunidense, de pelo menos 18 anos, a qualquer lar ou cidadão de Cuba"; ou seja, elimina-se totalmente aos norte-americanos.

Segundo, diminui-se arbitrariamente – da mesma maneira que com as viagens – os destinatários familiares de remessas.

Isto é curioso, porque, quando se debateu o acordo migratório, não com esta administração, os norte-americanos, o governo dos Estados Unidos aceitou o conceito cubano de família, que eles às vezes não compreendiam, o concunhado, o afilhado, o sobrinho, etc. Quando se explicou e se debateu, aceitou, e agora está rejeitando o que o próprio governo norte-americano, em outra administração, tinha aceitado. Já se explicou que não se pode enviar remessa, exceto a um conceito mínimo, muito reduzido, de família; destruíram o conceito cubano de família, embora o tivessem aceitado anteriormente, para evitar que venham mais remessas.

Número três: o montante que pode trazer um viajante. Esta é outra coisa interessante. "O montante total", diz, "de remessas familiares que um viajante autorizado pode levar a Cuba fica reduzido de 3.000 para 300". Um viajante podia trazer remessas para aproximadamente 10 destinatários, para facilitar a chegada das remessas; agora só pode trazer 300, diminuiu de 10 receptores a um.

Essa é outra maneira, vejam. Porque a armadilha está em dizer: "Deixamos idêntico o montante da remessa", mas vejam como se vai cortando por diversas vias a quantidade de dinheiro que pode entrar por remessas a Cuba, e este é muito sutil, mas eu diria que com muita má intenção. Anunciam oficialmente um grupo de operações policiais, com meios e métodos sofisticados – contra quem? – Contra as vias informais de fazer chegar dinheiro a Cuba.

Que coisas são as vias informais de fazer chegar o dinheiro a Cuba? Bom, há duas razões para que existam essas vias: Primeiro, que já existia uma discriminação de um teto. Você queria enviar mais dinheiro a sua família, a sua mãe, sua avó, mas havia um teto permitido pela lei, e se você podia enviar mais, a lei não o permitia, e então se recorria às vias informais para enviar mais dinheiro. E, segundo, o medo semeado na comunidade cubana nos Estados Unidos por toda essa repressão a tudo que tenha a ver com Cuba: viagens, envio de dinheiro. Então não confiavam, tinham medo. Se estão processando pessoas do ano de 1999, se processam a pastores, a religiosos, a uma avó, por vir andar de bicicleta em Cuba, isso semeia medo – que também é um dos objetivos – e se recorre a vias informais.

Por essas duas razões, muita gente enviava o dinheiro por vias informais, ao que eles chamam de "mulas" também.

Muito bem, e o que vão fazer com as mulas? Eu resumiria desta maneira: vão fazer com as mulas tudo o que não fazem com os balseiros, exatamente isso. Todos os procedimentos policiais, todos os organismos federais, o FBI, penetrar esses grupos, conhecê-los policialmente, operar contra eles; tudo o que não fazem contra os balseiros, contra o tráfico de pessoas, agora vão fazer contra as mulas ou as vias informais para enviar dinheiro a Cuba. Mais uma prova do farisaísmo de que falamos ontem e do farisaísmo de toda essa política.

Mas lhe acrescentaram um toque especial, muito digno do fascismo: as delações, estimular as pessoas a delatar ao que se saiba que é uma "mula" e que está trazendo dinheiro a Cuba; estimular a delação, a intriga, todo esse ambiente muito típico da Alemanha nazista, das delações que eram feitas dos judeus, dos comunistas, de muita gente, isso está presente aqui.

Esse é um ataque ao coração da família cubana, não porque alguém dependa das remessas; ninguém depende das remessas para viver, e aqui ninguém vai ficar num estado de abandono e inanição, não é isso; mas é uma coisa muito familiar, que existe em no mundo todo, que quando alguém emigra, se pode, se tem êxito, ou se tem uma condição qualquer, ajuda um pouquinho a sua família.

Eu quero dizer uma coisa: cerca de 40% dos cubanos que vivem nos Estados Unidos, vivem abaixo do nível de pobreza daquela sociedade, que é a mais rica do mundo, e têm de trabalhar muito duro, e têm de trabalhar muitíssimo, e alguns com dois e três trabalhos, para poder ajudar a suas famílias aqui ou para poder viajar a Cuba, e isso é um ataque direto ao esforço que realizam em muitos lugares, e também à família aqui, que é uma ajuda, um extra que eles recebem.

Mas, além disso, isto é um ato maior de farisaísmo – eu uso a palavra farisaísmo, que vem da Bíblia e significa uma grande hipocrisia, uma dupla moral – porque se acaba de reunir, como vocês sabem, o Grupo dos Oito países mais ricos e poderosos do mundo, nos Estados Unidos, em Sea Island, que é uma ilha do estado da Geórgia, e nessa reunião o presidente dos Estados Unidos aprovou, junto com os sete líderes dos países mais desenvolvidos do mundo, o seguinte: reduzir as tarifas cobradas pelas empresas dedicadas ao envio de remessas para os países do Sul, para facilitar que venham remessas dos países desenvolvidos aos países do Sul.

O presidente dos Estados Unidos estava ali, votou e disse que concordava com isso e, dias depois, está proibindo brutalmente tudo aquilo que tenha a ver com remessas a Cuba. Isso é farisaísmo da pior espécie, porque é farisaísmo e fascismo juntos.

Randy Alonso.- Obrigado por seu comentário, Taladrid.

(Projetam imagens)

Randy Alonso.- E, segundo parece, muito satisfeito por ter implementado as mais atrozes medidas contra nosso povo. Precisamente ontem, quando se divulgavam as regulamentações da OFAC para implementar essas brutais medidas contra Cuba, também se dava a conhecer o fim das atividades, no governo norte-americano, do terrorista Otto Reich.

Sobre isto, eu lhes proponho o comentário de Lázaro Barredo.

Lázaro Barredo.- Você sabe, Randy, hoje diversos peritos afirmavam que muitos governantes latino-americanos estavam suspirando com alívio, porque realmente não suportavam a prepotência desse homem, que tinha gerado muitas contradições. Inclusive, dizia-se que numa recente reunião latino-americana, alguém chamou a Reich de "palhaço", e imediatamente surgiram vozes clamando: por favor, não ofenda a essa honorável ocupação.

Bom, hoje a srta. Condoleezza Rice anunciou que Otto Reich já saiu do ar. Ela disse que agradecia o serviço oferecido pelo senhor embaixador Reich, aos Estados Unidos. Disse, ademais, que aceitava a renúncia muito contrariada, porque Reich tinha sido um membro destacado e de confiança do governo – sócio de Bush, e disso ninguém tenha nenhuma dúvida; dois cavacos de um mesmo pau têm de se reunir e se dar muito bem.

A Conselheira agradeceu especialmente seu trabalho e seus esforços na Comissão de Ajuda para uma Cuba Livre – lembremos que esse invento repressivo é o "bebê" de Otto Reich, reconhecido por ele em Miami –, "que recentemente enviou suas recomendações ao presidente Bush, sobre como o governo pode acelerar a que Cuba se converta num país livre.

Reich, segundo diversos meios hispânicos nos Estados Unidos, disse que vai sair agora para fazer parte da equipe de campanha de reeleição de Bush, por isso digo que "sai do governo" entre aspas, porque, em minha opinião, o que vão fazer é mandá-lo como grande coordenador para Miami, para a Flórida, certamente para coordenar todos os esforços da máfia na batalha pela fraude que se aproxima agora, e disse que depois se dedicará a consultoria numa firma que ele próprio criará, com a esperança de ser "rico" algum dia. Vamos ver. A máfia, a Bacardi e toda essa gente podem dar-lhe dinheiro, que ninguém duvide.

Reich disse, em sua renúncia, que ia embora com duas matérias pendentes, eu diria que se vai com duas frustrações, Cuba e Venezuela. Não vamos esquecer que, em meados do ano passado, Reich disse a Silvio Berlusconi, na Itália, que "os dias do governo de Fidel Castro em Cuba estão contados; está chegando sua fase final" (vai passar vontade nesse prognóstico). E, ademais, com sua derrota quando coordenou o golpe de Estado frustrado de Pedro o Breve, em 11 de abril de 2002 na Venezuela, contra o governo do presidente Chávez.

Reich vai embora, ademais, com o antecedente humilhante de ter sido rejeitado pelo Congresso dos Estados Unidos, de ter ocupado esse cargo sem aprovação do Congresso, e inclusive sem o respaldo de Colin Powell, essa é a realidade. Bush se aproveitou do subterfúgio das férias do fim de 2001 e o nomeou subsecretário de Estado para assuntos latino-americanos, e um ano depois ele foi destituído em ausência, com uma boa dose de humilhação, pelo próprio Congresso. Estando Reich no Brasil, o Congresso o destituiu, botou-o na rua sem nenhuma cerimônia, e depois, então, Bush ajudou-o para não deixá-lo na mão e o nomeou enviado especial.

Bem, Randy, já para terminar, Reich hoje insinuou que pode voltar ao governo no futuro, disse-o dessa maneira, que ele já tinha estado em três oportunidades, levando em conta essa última, e que ele poderia voltar.

Eu diria que da banca examinadora da rua, ele vai receber a seguinte avaliação:

"O Senhor Reich carece de capacidade para ser um bom administrador, de bom senso, com sensibilidade apropriada perante potenciais conflitos de interesse, com a confiança de outro governo na região e capacidade para superar divisões partidárias dentro do Congresso", que foi o que escreveu o senador Christopher Dodd, então presidente da Comissão do Senado, opondo-se à nomeação: "Otto Reich não está qualificado para o cargo", rematou, e esse critério foi assumido e continua sendo hoje, de maneira similar, por muitos políticos nos Estados Unidos.

Randy Alonso.- Obrigado por seu comentário, Lázaro.

(Passam imagens)

Randy Alonso.- Que reações houve em Miami a essas brutais medidas do governo norte-americano e o anúncio, desde ontem, das regulamentações que devem levar a sua implementação contra nosso povo, a partir de 30 de junho, medidas que também incidem diretamente, que são um atentado contra a própria projeção dessa comunidade cubana nos Estados Unidos? Quais são as notícias a esse respeito, Taladrid?

Reinaldo Taladrid.- Bem, são notícias muito interessantes, mesmo para um sociólogo que tenha estudado essa comunidade durante anos.

Acabadas de anunciar, a cadeia Univisión fez uma pesquisa onde dizia –cifra não verificada, mas foi dito pela cadeia – que aproximadamente 70% dos cubanos estavam contra as medidas, e que não gostavam das medidas.

Escreveram-se editoriais. Por exemplo, a Rádio Progresso Alternativa, fez um editorial contra as medidas, e na Rádio Miami, em seu comentário diário, Max Lesnick disse: "O que o governo do presidente Bush acaba de fazer contra Cuba, nossa pátria, é una infâmia atroz.

"As disposições draconianas sobre as viagens à ilha, acabadas de ditar pela atual administração republicana com fins de absoluto cálculo eleitoreiro, para ganhar votos na extrema-direita de Miami, constituem uma agressão lacerante contra a unidade e os direitos humanos da família cubana.

"Por seu lado" – e isso é muito importante, já o analisamos outro dia aqui; inclusive projetamos as cenas da primeira reunião –, "criou-se o Comitê Cubano-Americano pelos Direitos da Família, esta é uma primeira tentativa unitária de diversas organizações, de diversas pessoas, por diversos motivos, unidos contra as medidas". Ou seja, essas medidas provocaram o que não tinha acontecido anteriormente, o que não aconteceu antes no cenário político de Miami.

Embora não seja um grupo político precisamente, sim se agrupa contra essas medidas e tem um claro matiz político. Vimos aqui a reunião e vimos cenas da reunião aonde, aliás, mandaram a dois batistianos, que foram expulsos a pontapés por algumas das mulheres que estavam ali – não literalmente a pontapés, mas os empurraram fora da reunião.

Agora, outra opinião que isso despertou, de Alvaro Fernández.

Randy Alonso.- Um comentarista da Rádio Progresso Alternativa.

Reinaldo Taladrid.- E que, ademais, está na direção desse Comitê Cubano-Americano pelos Direitos da Família. Diz:

"Como já escrevi e declarei, as medidas são as mais cruéis e nada americanas que um presidente dos Estados Unidos tenha tomado nos 44 anos em que vivo neste país.

"Isto deve nos surpreender? George W Bush precisa do voto da extrema-direita cubana em Miami, em novembro, mas isso pode afetar a comunidade cubana; um mau conselho de uns poucos extremistas pode fazê-lo perder mais votos que ganhar."

E de que se está falando aqui? Isto é interessante. Ele está se referindo a que isso pode converter-se num bumerangue eleitoral. Isto se fez por razões eleitorais e, logicamente, tem a componente ideológica que já se explicou aqui.

As pesquisas mostraram o seguinte:

No ano 2000, 85% da comunidade cubana votou por Bush – ou seja, votou quase em bloco por Bush em 2000 –; agora, as pesquisas dizem que só votariam por Bush entre 65% e 66% dos cubano-americanos. As causas? Porque não tinha acabado com a Revolução Cubana. Irritados com o governo porque não invadiram a Cuba, não acabaram com a Revolução, vamos puni-lo não votando; nunca votando pelos democratas, mas sim não votando contra eles. E para agradar a esse setor, planejaram isso tudo.

Mas o que está acontecendo? Muita gente diz que pode estar acontecendo uma transformação na comunidade cubana nos Estados Unidos.

Quando se fizeram pesquisas perguntando: "Você concorda com invadir a ilha? Você concorda com ações militares do exílio contra a ilha? Você concorda com que se mantenha a proibição de viajar, e o bloqueio, e de fazer comércio com a ilha?"

Quando se pergunta aos que chegaram nos anos 60 e se pergunta o mesmo aos que chegaram nos anos 90, respondem de forma radicalmente diversa. Os dos 60 dizem: "Sim", e os que chegaram nos 90 dizem: "Não", em proporções muito semelhantes, quase 70 a 30.

Esses que chegaram recentemente, nos anos 90, muitos ainda não são cidadãos norte-americanos, muitos ainda não estão registrados para votar, mas por aí podem vir. Já ocorreu uma coisa inédita: o prefeito de Hialeah, Raúl Martínez, acaba de desafiar a Lincoln Díaz Balart a um debate público sobre esse tema; e também iniciaram uma campanha para que se registrem esses recém chegados ou os chegados na década de 90 – alguns os levam mais atrás, até o Mariel, até o ano 1980. –, para que se registrem e, com seu voto contra Bush, castiguem essas medidas nas próximas eleições.

E num estado que se decidiu por 537 votos – segundo me disseram e conforme alguns cálculos – se apenas se registram de 5.000 a 10.000 de toda essa massa, que é muito maior, pode ser um fator decisivo e um verdadeiro bumerangue eleitoral contra a origem politiqueira e eleitoreira dessas medidas.

E, finalmente, há gente a favor: "Me agrada que a administração e o Departamento de Estado estejam implementando estas medidas. As novas pressões impostas à economia de Castro reduzem os recursos financeiros da ditadura para seguir oprimindo ao povo cubano", afirmou Ileana Ros-Lehtinen.

Devia dizer que é para oprimir a família cubana, da que ela não considera que faz parte, e que o prejudicado é a família cubana de ambos os lados do estreito da Flórida.

Outra opinião: "O presidente George W. Bush é o melhor amigo que a causa da liberdade de Cuba teve na Casa Branca. Agradeço ao presidente Bush a implementação dessas regulamentações, que fortalecem de maneira importante o embargo contra a tirania cubana", afirmou alguém, mal chamado Lincoln, e de sobrenome Díaz Balart, um rufião, ou melhor, para lembrar a frase exata que Fidel disse na praça; "um rufião mal chamado Lincoln, e de sobrenome Díaz Balart".

Ninoska Pérez Castellón, para que saibam os cubanos que nos estão vendo e ouvindo, o que disse Ninoska: "Zero festas de 15 e zero aniversários, se acabaram os aniversários e se acabaram as festas de 15 com dinheiro do exílio", disse Ninoska textualmente, atacando a nobreza de uma família que queira celebrar reunida um aniversário, atacando a uma família que queira celebrar juntos os 15 anos de uma pessoa.

Ninoska, a mulher de Martín Pérez, a porta-voz do terrorismo, disse à família cubana, a todos os que estão aqui e lá: "Zero festas de 15 e zero aniversários". Ou seja, também há gente que apóia essas medidas.

Randy Alonso.- Taladrid, você falava do comentário de hoje na Rádio Miami, feito pelo jornalista Max Lesnick. E justamente Max está conosco por telefone, com suas apreciações sobre o que está acontecendo em Miami, a partir das reações a essas medidas.

Miguel A. Masjuán.- Tenho na linha, diretamente de Miami, ao jornalista Max Lesnick. Boa tarde Max.

Max Lesnick.- Boa tarde, Masjuán.

Miguel A. Masjuán.- Gostaria que você fizesse um comentário sobre a repercussão que teve em Miami a implementação das medidas tomadas pelo presidente Bush contra Cuba.

Max Lesnick.- A reação geral da comunidade foi de surpresa, porque não podem entender como o governo dos Estados Unidos afeta a unidade das famílias cubanas, por razões estritamente eleitorais. Essas medidas, que estão ditadas por instigação de cubano-americanos da extrema-direita, afetam fundamentalmente o critério geral da comunidade, de que a família está acima de todas as divergências políticas que possam existir. E nesse momento há uma grande consternação, porque as medidas são tão radicais, e estabelecem que os cubanos que moram no exterior, aqui nos Estados Unidos, não podem visitar suas famílias durante três anos; o que implica que uma família que está divida pela distância, agora estará dividida pelo tempo de três anos para ver a sua mãe, talvez num leito de morte, de 90 anos, e um familiar aqui que tem a esperança todos os anos de reunir-se com seus seres queridos e que agora, por essas medidas, ditadas fundamentalmente por razões das próximas eleições presidenciais, e com a aspiração, em minha opinião equivocada, de que os cubano-americanos se somem a essa campanha.

Em outras palavras, a consternação é geral, e acho que se está criando um movimento de opinião pública entre os cubano-americanos do sul da Flórida, que pode redundar numa resposta negativa para a posição do Presidente em sua reeleição presidencial do próximo mês de novembro.

Acho que o grande ganhador disto é o governo americano, o grande ganhador neste caso seria o Partido Democrata, que tentará buscar uma abertura dos cubano-americanos, em função do sentimento humanista de juntar-se família com família, apesar da distância. E o grande perdedor, definitivamente, é o povo de Cuba e a comunidade cubana no exterior, que somos os que sofremos esses embates de uma política equivocada, que redundará em prejuízo dos cubanos, e que não creio que seja em benefício da aspiração presidencial do senhor Bush.

Miguel A. Masjuán.- Muito obrigado, Max, por suas palavras para nossa mesa-redonda.

Max Lesnick.- Obrigado a você e uma saudação a todos os cubanos, e tomara o tempo mude essa circunstância, e possamos continuar vendo-nos uns aos outros com o carinho e o amor que sempre teve a família cubana.

Miguel A. Masjuán.- Boa tarde, Max. Até logo.

Randy Alonso.- E como as brutais medidas de Bush vão contra, não só esses cubanos que residem nos Estados Unidos, mas contra o próprio povo norte-americano e do crescente desejo de setores políticos, econômicos, sociais, dos Estados Unidos, de relações normais entre os nossos dois povos, também dentro da opinião pública norte-americana houve expressões imediatas de rejeição a essas regulamentações que implementam as medidas do presidente Bush contra Cuba. Rogelio Polanco dará detalhes em nossa mesa-redonda.

Rogelio Polanco.- Tenho três exemplos de importantes setores da sociedade norte-americana, que já disseram que não deixarão impunes essas regulamentações, essas medidas anunciadas pela Casa Branca.

O primeiro exemplo: uma nota de imprensa que acaba de sair ontem do Centro de Informação para a Defesa, formado, como se sabe, por importantes estudiosos em temas militares, por ex-altos oficiais do exército dos Estados Unidos, alguns generais; lembro aqui alguns que foram mencionados por declarações feitas em relação a Cuba, de que Cuba não é uma ameaça militar para os Estados Unidos, como Wilheim, Sheehan e McCaffrey; alguns deles, inclusive, visitaram nosso país.

Agora acaba de sair uma declaração de imprensa em que dizem que as autoridades cubanas vêem o uso de um avião militar EC-130 Comando Único, para a transmissão da Rádio e Televisão "Martí", como parte de um modelo de crescente antagonismo em relação ao governo de Cuba, que incrementa a possibilidade de um incidente que pode conduzir a fatos violentos. Ademais, considera que isso é visto como algo particularmente provocador pelos cubanos.

Lembra essa declaração de imprensa do Centro de Informação para a Defesa, que esse avião EC-130 é usado tradicionalmente em apoio a operações psicológicas em tempos de guerra; que diversos funcionários cubanos afirmaram que o fato de esse avião ser operado em tempo integral pelo Gabinete de Transmissões a Cuba, que, como se sabe, é dirigido majoritariamente por cubanos de Miami ligados a extremistas que buscam um incidente violento, pode criar o pretexto para uma ação militar contra Cuba, e esses cubanos de Miami poderiam ver esse avião como um instrumento para esse incidente; e ao mesmo tempo recordam o incidente ocorrido em 1966.

Essa é uma importante declaração de imprensa que acaba de ser publicada ontem, dia 16 de junho, pelo Centro de Informação para a Defesa dos Estados Unidos.

O outro exemplo de reações de setores importantes da sociedade norte-americana é a declaração que também acaba de firmar a Aliança dos Estados Unidos em favor das viagens, que qualificou as regulamentações do governo dos Estados Unidos contra Cuba como draconianas, num comunicado emitido em Washington no dia de ontem. Conhecida por suas siglas em inglês ATRIP-USA-Engage-Alliance, a organização respondeu dessa maneira à publicação das regulamentações. Considerou que estas prejudicam também aos homens de negócios norte-americanos e à própria política exterior dos Estados Unidos. Afirma, ademais, esta organização, que está formada pelo Conselho Nacional de Comércio Exterior e a Associação de Profissionais da Indústria de Viagens nos Estados Unidos, ou seja, agências de viagens daquele país, que essas medidas afastam, ademais, aos cubano-americanos de suas famílias na ilha; pronunciaram-se contra as limitações do envio de remessas aos familiares e disseram que essas medidas estão dirigidas essencialmente contra o povo cubano; além disso, que as regulamentações terão impacto em custo, emprego e obrigações legais em diversos setores, e as consideram um produto do capricho da administração do presidente dos Estados Unidos.

Alertam que o governo dos Estados Unidos poderia estar tolhendo o direito constitucional dos cidadãos norte-americanos de viajar, o que, inclusive, atenta contra os interesses do país.

Finalmente, o terceiro exemplo que tenho, Randy, a respeito das reações de setores da sociedade norte-americana ao anúncio das regulamentações das medidas já estabelecidas pela administração Bush, que vigorarão a partir de 30 de junho, é a declaração da Associação Nacional de Advogados dos Estados Unidos: "O National Lawyer Guild, dos Estados Unidos, conclamou o Departamento do Tesouro a rejeitar as novas regulamentações propostas pela Casa Branca para as viagens a Cuba, numa declaração emitida no dia de ontem.

"A associação dos advogados estadunidenses considerou essa medida uma interferência do presidente Bush na liberdade para viajar e um instrumento de censura ao direito dos cidadãos de visitar terceiros países.

"Opõe-se, ademais, essa associação, à proposta de Bush de cortar os contatos dos estadunidenses com Cuba em matéria educativa, e considera essa medida contrária à tradição de liberdade acadêmica e aos valores da Primeira Emenda da Constituição norte-americana.

"Além disso, critica o propósito de limitar as visitas familiares dos cubano-norte-americanos a Cuba, estipuladas a cada três anos e por apenas 14 dias.

"No mesmo sentido, pronunciou-se contra as restrições ao direito dos residentes nos Estados Unidos de enviar remessas a seus parentes na maior das Antilhas, e o considerou um ultraje humanitário.

"A National Lawyer Guild condenou também as proibições para os contatos esportivos, e caracterizou como ridículo que as viagens de equipes amadoras de beisebol a Cuba pudessem constituir uma ameaça à segurança nacional.

"Afirmou, ademais, essa organização, que seu país não teria nada a temer e tudo a ganhar, ao permitir a seus cidadãos viajar livremente ao estrangeiro. Este é exatamente um tempo em que devemos aprender mais sobre outras culturas e estilos de vida, em lugar de eliminar o diálogo com as pessoas de outros países."

Creio que é uma declaração importante, Randy, a que acaba de fazer a Associação Nacional de Advogados dos Estados Unidos, que se une – como eu dizia – a esses outros setores da sociedade norte-americana, que, evidentemente, dessa forma estão dizendo que as medidas da administração Bush não ficarão impunes.

Randy Alonso.- A propósito da última informação que você nos deu, Polanco, agora temos, por telefone, o advogado norte-americano Bruce Nestor, membro da diretoria do National Lawyer Guild dos Estados Unidos, que também se ofereceu gentilmente para dar suas declarações a nossa mesa-redonda.

Miguel A. Masjuán.- Tenho em linha direta de Minneapolis, Minnesota, a Bruce Nestor, que é membro da National Lawyer Guild.

Boa tarde, como vai?

Bruce Nestor.- Muito bem. Boa tarde.

Miguel A. Masjuán.- Bem, gostaríamos que você fizesse um breve comentário sobre a declaração feita pela Associação Nacional de Advogados sobre as medidas do governo do presidente Bush contra Cuba.

Bruce Nestor.- A Associação Nacional de Advogados, que é uma organização de mais de 5.000 advogados e estudantes de Direito, condenou fortemente as restrições sobre as viagens e o intercâmbio de idéias e pessoas entre Cuba e os Estados Unidos.

Consideramos que as ações do governo Bush são objeto da oposição não só da maioria do povo estadunidense, mas de muitos membros do Congresso, tanto republicanos como democratas.

Em todos os pontos do debate político, as restrições impostas por esse governo não servem a nenhum objetivo legítimo, são apenas uma medida política relacionada com as próximas eleições em novembro, e estão destinadas a fortalecer o apoio ao presidente Bush entre os elementos mais reacionários e mais direitistas da comunidade cubana do sul da Flórida.

As medidas são uma questão humanitária, um problema em si, e estão destinadas a separar as famílias, a impedir as comunicações e os contatos entre os familiares nos Estados Unidos e parentes que ainda têm em Cuba, e elevam a tensão, em lugar de fazer um esforço por reduzir a tensão no mundo, e realmente afetarão o povo estadunidense e impedira que tenha mais informação sobre a realidade em Cuba, e terão de depender mais da desinformação e das mentiras que a gente lê sobre Cuba nos meios de comunicação estadunidenses.

Por todas essas razões, condenamos firmemente as restrições sobre as viagens, as restrições sobre a capacidade dos estadunidenses de ir como turistas a Cuba, e as restrições sobre intercâmbio entre parentes e familiares que já não vivem na ilha; consideramos que essa é uma medida política, e esperamos que o povo estadunidense trabalhe contra essas restrições e continue pressionando, através do Congresso, para estabelecer relações normais com Cuba e para reduzir a pressão econômica de outro tipo que os Estados Unidos exercem sobre Cuba neste momento tão difícil.

Miguel A. Masjuán.- Bem, muito obrigado, Nestor, muitíssimo obrigado. Estaremos em contato com o senhor novamente. Agradeço a oportunidade.

Bruce Nestor.- Bom, meus melhores desejos para todos os seus ouvintes. Muitíssimo obrigado. Até logo.

Randy Alonso.- Uma rejeição manifestada também na sociedade norte-americana, em seus advogados, a essas medidas que têm o fim de destruir a sociedade de maior igualdade social deste continente, segundo acaba de reconhecer um prestigioso estudo de 18 economistas de quatro universidades brasileiras, em São Paulo, publicado ontem no âmbito da Conferência da UNCTAD em Brasil, e que pretende também fazer esta sociedade retroceder a um passado já conhecido, em que podem acontecer coisas como as que hoje vivem os Estados Unidos e que são divulgadas por grupos daquele país.

Segundo uma agência de notícias, "82 milhões de pessoas careceram de seguro médico nos Estados Unidos, em algum momento nos últimos dois anos, e os mais afetados foram os hispânicos e os negros, segundo um estudo divulgado hoje pelo grupo Families USA.

" ‘Essas conclusões demonstram que a carência de seguro de saúde já não é só um problema de pobreza, nem se limita às pessoas idosas, mas que é uma preocupação para as famílias trabalhadoras e de classe média’, disse o diretor do grupo Ron Pollack. ‘O problema é enorme e continua crescendo’ – acrescentou – ‘é verdadeiramente uma enorme epidemia’.

"O Gabinete do Censo dos Estados Unidos calculou que em 2002 houve 43,6 milhões de pessoas sem a proteção de um seguro médico, que nos Estados Unidos se obtém principalmente através da empresa para a qual se trabalha.

"A contratação de um seguro médico é onerosa para a grande maioria dos trabalhadores e até para os pequenos empresários.

"Ao contrário do estudo do Gabinete do Censo, que considera sem seguro médico às pessoas que necessitaram dele durante um ano inteiro, o estudo realizado pela Firma Consultora de Saúde Lewin Group tomou em conta o ocorrido num período de 24 meses.

"O relatório indicou que 60% dos latinos, isto é, 22,4 milhões de pessoas, e 43% dos negros, 13,7 milhões de pessoas, não tiveram seguro médico em algum momento durante os dois anos anteriores. Isso se compara a 24% dos brancos, 39,4 milhões de pessoas que não tiveram seguro médico. Além disso, 27 milhões de pessoas sem seguro médico eram menores de 18 anos. Isso é quase um terço das crianças dos Estados Unidos".

É para aí é que as novas medidas do presidente Bush querem fazer-nos retroceder.

Peço a Dausá um comentário final nesta mesa-redonda.

Rafael Dausá.- Sim, Randy, muito obrigado.

Há diversas idéias gerais que gostaria de expressar. Em primeiro lugar, essas regulamentações que se acabam de anunciar estão em total consonância com a política agressiva, com a política hostil desenvolvida por essa Administração nesses três anos e meio de mandato, e que incluem dezenas de ações contra nossa economia, dezenas de ações contra nosso povo, e uma retórica sumamente hostil com a Revolução cubana.

Em segundo lugar, penso que essas novas regulamentações demonstram que essa Administração está totalmente alinhada com o setor mais recalcitrante da extrema-direita cubano-americana, e que o presidente norte-americano não se interessa absolutamente em escutar os reclamos de importantes setores dessa comunidade cubana nos Estados Unidos, que exigem uma relação normal com sua pátria.

Uma terceira idéia, Randy, seria que, indubitavelmente, essas regulamentações, esse relatório da Comissão tem um penetrante cheiro a interesses eleitoreiros, mas creio que seria um erro pensar que são apenas isso. Acho que transcendem em muito o interesse eleitoreiro e mostram o sentimento de vingança ideológica contra a Revolução cubana, da camarilha fascista que governa os Estados Unidos neste momento.

Uma quarta idéia que acho importante sublinhar, é que essas medidas são uma violação da Constituição norte-americana; vão contra os direitos constitucionais dos cidadãos norte-americanos, que teoricamente são livres para viajar a qualquer lugar do mundo, exceto Cuba.

Uma quinta idéia é que essas ações também são contrárias ao sentimento da vasta maioria dos congressistas norte-americanos, que, durante três anos consecutivos, aprovaram importantes emendas que se dirigem a flexibilizar as restrições de viagens a Cuba. Em 2001, 2002 e 2003, aprovaram-se importantes emendas, e essa administração ignorou essa vontade do Congresso dos Estados Unidos e, através de mecanismos antidemocráticos, seqüestrou a vontade do Congresso dos Estados Unidos.

Uma sexta idéia– como já se falou aqui amplamente – seria a afetação que essas regulamentações, que essas medidas significam para os direitos humanos do povo cubano e do povo norte-americano também.

Essas medidas constituem uma brutal agressão à família cubana e uma violação de seus direitos de família, e é igualmente uma brutal discriminação contra os cidadãos cubanos residentes nos Estados Unidos e uma mostra do racismo que impera e caracteriza essa administração.

Uma sétima idéia, Randy, seria a de que essas relações, essas medidas violam princípios sagrados que vigoraram nos Estados Unidos durante séculos. Ocorreu um golpe de Estado contra o Congresso dos Estados Unidos. A administração, adjudicando-se poderes legislativos, acaba de emendar, acaba de alterar leis nos Estados Unidos, o que é uma violação do próprio ordenamento interno dos Estados Unidos.

Por último, e considero que é o mais importante dentro dessas avaliações gerais, creio que é importante dizer que nem essas medidas nem outras que possam vir – porque estamos certos de que poderiam vir outras medidas adicionais, isso está apenas começando, ainda não começaram as transmissões no EC-130, não se instrumentaram outras medidas que virão – mas nem essas nem as outras que possam vir serão capazes de subjugar o povo cubano.

A confiança infinita na fortaleza da Revolução, na sabedoria da Revolução, na sabedoria e na fortaleza dos líderes cubanos nos dá a certeza de que esse relatório e todas as suas medidas, mais cedo ou mais tarde, farão parte da longa lista de ridículos e de fracassos que o governo dos Estados Unidos acumula nesses 45 anos de assédio à Revolução Cubana.

Por último, lembrar que, como se disse na Declaração do Governo Revolucionário de Cuba e do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, em 7 de maio passado, Cuba não voltará jamais à horrível, impiedosa e inumana condição de colônia dos Estados Unidos.

Randy Alonso.- Obrigado por seu comentário, Dausá; obrigado também aos demais participantes do painel que me acompanharam nesta tarde, e aos convidados que estiveram conosco no estúdio.

Compatriotas:

O Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros do governo norte-americano divulgou ontem as regulamentações necessárias para fazer vigorar as brutais medidas contra nosso povo, aprovadas pelo führer Bush em 6 de maio passado, com o objetivo de estrangular economicamente a Cuba, reforçar o bloqueio genocida e derrubar a Revolução Cubana.

Anunciadas para entrar em vigor no próximo 30 de junho, em meio à tensa conjuntura eleitoral norte-americana, essas criminais ações são expressão do ódio visceral da extrema-direita norte-americana contra a nação cubana, da arrogância imperial da atual administração e do pensamento fascista e totalitário que a anima.

Obcecados em seu empenho ancestral de apoderar-se de Cuba, os Weyler de novo tipo se lançam cegamente contra a família cubana, tentando impedir seus contatos, reduzindo-os ao mínimo, decidindo que tipo de família os cubanos devem ter, estreitando cada vez mais a possibilidade do envio de remessas.

Chegam, inclusive à absurda nimiedade de estabelecer o peso da bagagem dos viajantes que venham a Cuba e a proibir os residentes cubanos nos Estados Unidos de regressar sequer com um presente recebido na ilha.

Tudo de mesquinho e odioso tenta-se contra o povo cubano, em busca do apoio eleitoral de um grupo decrescente de renegados e mercenários, carentes de qualquer ética ou princípio, e capazes das mais atrozes ações terroristas contra nosso povo.

Sonham com submeter-nos e converter-nos novamente em colônia ianque, com fazer-nos retroceder à sociedade corrupta e frustrada que nos legaram com a intervenção de 1898; mas desconhecem a tradição histórica de luta de nosso povo, as ânsias independentistas que nos fundaram como nação, os valores forjados no povo pela Revolução e a extraordinária obra criada nessas quatro décadas por esse mesmo povo.

Desconhecem e ofendem a uma nação que aprendeu, e bem, de Martí, que um povo livre e justo é a única homenagem própria dos que morrem por ele.

Que não se enganem! Somos milhões os dispostos a lutar com Fidel na primeira trincheira, frente aos que pretendam manchar nossa pátria.

Seguimos em Combate!

Muito boa noite.