Reflexões do companheiro Fidel

 

AS ARMAS NUCLEARES E A SOBREVIVÊNCIA DO HOMO SAPIENS

(SEGUNDA E ÚLTIMA PARTE)

 

Ontem, quinta feira, o professor emérito da Universidade de Ottawa, Michel Chossudovsky, foi convidado a comparecer no programa “Mesa Redonda” da televisão nacional de Cuba, no qual participou juntamente com Osvaldo Martínez, diretor do Centro de Investigações da Economia Mundial.

Como é lógico, escutei com especial interesse suas intervenções. Falou em espanhol e demonstrou domínio total sobre os temas que aborda. É escrupuloso com o significado das palavras, e inclusive frases feitas em inglês para expressar com exatidão determinada idéia, que não têm termos equivalentes no espanhol.

Expressou que, nos Estados Unidos, foi criada uma crise sistêmica da qual não pode escapar. Tentam resolver a crise com medidas que foram as causas da mesma. Explicou que nesse país todas as categorias sociais empobreceram, o qual afeta ainda mais os trabalhadores e as camadas médias do que a classe rica. O governo dos Estados Unidos exige medidas de austeridade a nível planetário, e aplica “remédios” e “receitas” que foram a causa da crise, ante a necessidade de financiar os gastos militares e resgatar os bancos.

Ratificou que desde 2003 se vem preparando a guerra contra o Irã e também ameaça à Rússia, China, Coeria do Norte, Síria, Líbano e outros países dessa ampla região.

Foi enérgico na crítica a justificar a introdução das chamadas mini-niuk entre as armas nucleares táticas, e a doutrtina, intensamente divulgada, que precedeu sua introdução, tentando fazer crer que não danavam os civis (safe for the surround civilian population, em inglês, como explicou ele). Com ironia expressou que entre as mini-niuk havia bombas que oscilavam entre um terço e seis vezes o poder da que destruiu Hiroshima.

A seguir, continuou com a síntese da intervenção do acadêmico Chossudovsky na presença de estudantes e professores da Faculdade de Economia da Universidade de Havana:

“…quero mencionar una coisa que é muito importante […] essa guerra não é uma guerra que gera empregos […]. É certo que a Segunda Guerra Mundial sim gerou empregos; na Alemanha, sob o regime nazista […]. É simplesmente uma observação factual. […] o mesmo nos Estados Unidos no início da Segunda Guerra Mundial, que para eles começou no ano 1941, foram criados empregos e isso foi a saída da grande depressão sob a presidência de Roosevelt. Porém essa guerra (refere-se a uma Terceira Guerra) não é do mesmo tipo, é uma guerra  de alta tecnologia, não é uma guerra de montagem de material militar. A guerra do Vietnã gerou emprego e a guerra da Coréia também.  Essa guerra é uma guerra caracterizada por um sistema de armamentos que é muito sofisticado e que vai mais utilizando uma mão-de-obra  maiormente científica, engenheiros e similares…”

“…qualquer estudante no primeiro ano sabe que se são impostas medidas de austeridade a nível nacional e mundial, que é o caso do que foi proposto nas reuniões do G-20 e também sob o patrocínio do banco Internacional Settlements, que representa os bancos centrais, que existe una espécie de consenso aí de que para solucionar a crise têm que ser implementadas medidas de austeridade, mas é bem sabido que as medidas de austeridade não são uma solução, mas sim uma causa da crise que, à medida que vai encurtando orçamento, encurtando gasto, encurtando crédito ao setor de pequena e  mediana empresa, ao mesmo tempo, aumentam os níveis de desemprego, esmagando o salário, que é o caso na maior parte dos países europeus.”

“Na Espanha e Portugal têm taxas de desemprego que ultrapassam o 20% oficialmente e a questão fundamental aí é que a solução que se propõe, não só a nível nacional, senão em todos os países do mundo, ditada por esse consenso neoliberal, é que há que implementar medidas austeras …”

“…mas a estagnação da economia civil devido, primeiramente, à transferência de riquezas, não somente nos últimos anos, podemos dizer desde o início dos anos oitenta, quando começou a chamada época de políticas neoliberais levando também à estagnação da economia civil […] se falamos dos Estados Unidos, são medidas que foram implementadas ao final do governo de Bill Clinton […] Lei de modernização dos serviços financeiros, porém criaram um sistema financeiro que não se regulamenta, que está metido em atos, digamos, semi-ilegais.  Em certa medida é a criminalização do aparelho financeiro, e a palavra não é dita por mim, são muitos os analistas, inclusive, do Wall Street Journal que fazem referência à criminalização, porque nos últimos anos houve fraude financeira, e aqueles que cometeram essa fraude agora não são tocados.”

“…uma crise econômica que, na minha opinião, é a mais grave da história, não existem precedentes, nem sequer os anos 30, que era uma crise muito localizada, não era uma crise global como tal, havia dinâmica em diferentes países e regiões do mundo.”

“…a guerra financeira está muito ligada à guerra no campo militar, inclusive existem vínculos entre o Banco Mundial e o Pentágono. […] antigos ministros de Defesa dos Estados Unidos que passam a ser presidentes do Banco Mundial […] a nova ordem mundial funciona por mecanismos de manipulação financeira […] mudanças de regime, desestabilização de governos e operações militares de diferente tipo […] o capitalismo tem instituições, tanto no campo civil como no campo militar, que operam conjuntamente, isso é muito importante, e por trás de isto estão os intelectuais, estão os thinks tanks de Washington, estão os clubes secretos das elites […] esse processo de guerra que ameaça a humanidade é importante a todos os níveis da sociedade.”

“…a guerra já é classificada como ato criminal, é o convênio de Nuremberg quem o diz […] É o supremo ato criminal. A guerra é um crime contra a paz. […] temos indicações de que esta crise econômica levou à concentração da riqueza em poucos anos e à centralização do poder econômico sem precedente na história […] esta crise não é algo espontâneo, como é apresentada na economia neoliberal, é o resultado da manipulação, da planificação e, finalmente, ao mesmo tempo existe esse componente militar.”

Com essas palavras concluiu Chossudovsky sua intervenção e expressou sua disposição para responder as perguntas: “…vou deixar a questão da resistência e como reverter esse processo para o debate com vocês”, disse.

Os estudantes fizeram perguntas inteligentes e sérias. Delas são escolhidas apenas as idéias centrais.

“Mediador.-  Acho que percebo o sentimento de todos os presentes, ao agradecer ao doutor Michel Chossudovsky pela excelente conferência ministrada, a qual nos permitiu tomar ainda mais consciência sobre as causas e conseqüências dos perigos reais que hoje ameaçam a humanidade…”

“…vamos começar com as perguntas que o auditório deseja fazer ao nosso convidado .”

“Um estudante.-  …gostaríamos de conhecer […] sua visão sobre o otimismo com que tem sido apresentado na mídia a situação da crise atual na América Latina, qual a sua opinião a respeito das possibilidades de enfrentar esta crise na região…”

“Muito obrigado”

“Michel Chossudovsky.-  O Caribe está identificado como uma região extraordinariamente rica também em petróleo e gás, e não é simplesmente a Venezuela e a Colômbia, certamente existem reservas que eles conhecem porque as empresas petroleiras possuem informação que não é divulgada; o que se sabe é que essa região e imensamente rica.

“A situação no Haiti também está ligada a um projeto de conquista de recursos […] a situação humanitária que existe […] permite ao capital ter acesso a recursos minerais e a possíveis recursos petrolíferos nessa região. […] não digo que essa é a única razão para a militarização dessa região. A outra é o narcotráfico.”

“…existem objetivos geográficos, geopolíticos, de recursos […] mas o narcotráfico também, porque é uma fonte muito importante de lucros para o capital.”

“…os dois eixos do comércio mundial do narcotráfico são, por um lado o Afeganistão e o Paquistão, que é o comércio de heroína; e pelo outro a Colômbia, o Peru e a Bolívia.  O traslado passa pelo Haiti e por outros países do Caribe para o mercado norte-americano. […] o Afeganistão é um país imensamente rico, gera anualmente por volta de 200 000 milhões de dólares em receitas produto da exportação de heroína, pelo menos  essa foi a estimativa que eu fiz; desde que as forças dos Estados Unidos entraram no Afeganistão a produção de heroína aumentou 30 vezes.  Bom, esse é um parêntese sobre a questão.

“A militarização dessa região, e as ações realizadas no Equador, potência petroleira; na Venezuela, potência petroleira; no México também potência petroleira. Todos são países que têm uma função estratégica dentro do quadro geopolítico económico dos Estados Unidos.”

“Um estudante.-  Sou estudante da Faculdade de Economia…”

“Minha pergunta é a seguinte: A globalização da maneira foi vendida, que foi apresentada pelos chamados países desenvolvidos, é atualmente viável ou existem outras alternativas, como é o caso dos esquemas de integração?

“Muito obrigado.”

“Michel Chossudovsky.- Certamente não é viável.

A globalização, da maneira em que é definida pelos centros de poder, não é viável. Possivelmente é viable    para um setor, uma minoria social que se enriquece, contudo leva ao empobrecimento, e já o temos muito bem documentado. Faz parte de um processo que tem afetado os países em desenvolvimento nos últimos 30 anos, e você pode ver as conseqüências nos países vizinhos, o empobrecimento que existe no Brasil, no México, no Peru produto desse modelo destruidor. [“…] muitos países apresentaram um modelo de desenvolvimento diferente, é o caso da Iugoslávia.”

“…A Iugoslávia tinha um sistema socialista, economia de mercado, economia mista com um alto nível de vida, serviços sociais, de educação, e, o que foi que aconteceu com ela?  Desde o começo  dos anos oitenta destruiu-se completamente e se fragmentou em quanto países, em meia dúzia de países. Por que?  Porque a Iugoslávia tinha um modelo, uma alternativa que não era conveniente.”

“…podemos ver as experiências da América Latina:  o Chile foi a formulação de uma alternativa, pero que foi motivo de um golpe militar e de um processo de desestabilização que foi levado a cabo pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos, por sabotagens, por embargos e tal; porque eu vivi esse golpe.

“São muitos os exemplos: a Tanzânia, na África; a Argélia, muitos países experimentaram; a Indonésia, nos anos sessenta houve um processo também muito importante […] Em 1965 um golpe militar, apoiado novamente pela CIA, morreram mais de 500 000 pessoas em assassinatos programados e foi imposto um regime militar, que respondia aos interesses dos Estados Unidos.”

“…temos que confeccionar um modelo de sociedade alternativa econômica ao capitalismo mundial, podemos fazê-lo; porém todas as alternativas, inclusive o modelo cubano, são alvos de sabotagem, de embargo, de medidas de desestabilização, de assassinatos. Essa é a verdade.”

“…o Iraque não é um país socialista, é um país com certa autonomia, tem um Estado que não deseja ser manipulado; eles nem sequer aceitam o capitalismo que não seja o seu.  Esse é o mundo agora, há países capitalistas que são inimigos dos Estados Unidos; a China é capitalista em certa forma, também a Rússia, mas não lhe convêm sua forma de capitalismo, e eles querem desestabilizar ou destruir pela via militar qualquer tentativa contra a hegemonia econômica, geopolítica dos Estados Unidos e seus aliados.”

“Um professor.-  Excelente sua apresentação, sua conferência. Antes eu tinha medo da guerra, depois de escutá-lo, realmente, meu sentimento é de terror; porém lhe pergunto o seguinte.

 “Atualmente ainda existem norte-americanos que não conheceram a guerra do Vietnã. Então o sentido da minha pergunta é o seguinte: O senhor acha que poderá ser feita alguma coisa capaz de criar consciência no povo norte-americano para evitar um fato que terá, se acontece finalmente, magnitudes realmente imprevisíveis, econômicas, políticas e sociais?”

“Michel Chossudovsky.-  Essa é nossa principal preocupação.  Em nosso sítio Global Research mais da metade de nossos leitores são dos Estados Unidos, e eu diria que a maioria dos autores também.  A questão acabar com a mentira da mídia, levar a cabo uma guerra contra as fontes de mentiras; porque se o povo dos Estados Unidos sabe a verdade, o poder, a legitimidade de seus dirigentes cai de um dia para outro; e o que existe nos Estados Unidos são meios de comunicação, tanto a televisão como a imprensa escrita e também a Internet, que transmitem uma visão tremendamente distorcida.”

“…porém com esses discursos inquisitórios eles aceitam a falsidade, aceitam a mentira, e uma vez que a mentira vira verdade, a gente não pode, realmente, reflexionar, o debate termina.  Faz parte de uma propaganda de guerra para todos os níveis da sociedade, que o rosto dessa guerra não deve ser conhecido.  Segundo nossas estimativas o número de mortos civis no Iraque é de 2 milhões, segundo fontes muito reconhecidas, como a Johns Hopkins School of Public Health, são 2 milhões de mortos civis desde que entraram em 2003; são 4 milhões de mortos no Congo; a quarta parte da população da Coréia morreu por bombardeios durante a guerra da Coréia.  Essas realidades são bem conhecidas, mas não publicamente. […] existe a censura, mais que censura uma manipulação da informação. […] temos que enfrentar a mídia, isso é fundamental; temos que estabelecer redes anti-guerra em todos os municípios dos  Estados Unidos, do Canadá, do mundo todo; temos que realizar debates, ganhar em conhecimento, porque temos uma população inteligente, porém sob a pressão persistente do conformismo a uma autoridade que lhes leva a verdade, mas essa verdade é mentira.”

“…vou me esforçar para responder mais brevemente, porém as perguntas são muito contundentes e algumas vezes não pode ser assim.”

“Uma estudante.-  Interessa-me saber se é viável ou  não, se é possível ou não conseguir uma mudança tecnológica a favor de tecnologias limpas, capazes de travar a crise tecnológica de estes momentos.”

“Michel Chossudovsky.-  Sim, é verdade que também é uma questão fundamental em nossas sociedades, porém as realidades ambientais são distorcidas cedendo aos interesses econômicos, que são os principais atores da destruição do meio ambiente.”

“…o desastre da British Petroleum no Golfo do México.  Existe uma cumplicidade por parte do Estado norte-americano, isto é, Washington, em esconder a realidade do que aconteceu.  A fauna, a vida no mar em toda a região costeira dos Estados Unidos e ainda mais estão ameaçadas .  Essa realidade é bem conhecida.

“E também é significativo, para estabelecer a conexão  desse acontecimento, dessa crise ambiental com a guerra, que a British Petroleum está metida no Oriente Médio e no projeto militar, em contrariedade, por um lado, e é a responsável pela pior crise ambiental na história do continente.”

“Uma professora.-  O senhor analisou brevemente a economia dos Estados Unidos. […] esta economia continua a ser a economia que define a dinâmica da economia mundial. […] minha pergunta visa conhecer suas considerações a respeito de se continuará a ser quem defina a dinâmica da economia internacional […] ou países como a China, ou os chamados emergentes, podem passar a exercer o papel que desempenham atualmente os Estados Unidos.”

“Michel Chossudovsky.-  Olha, a chamada dinâmica da economia, a liderança que têm os Estados Unidos desde o ponto de vista econômico não se baseia em sua capacidade produtiva […] nos últimos 30 anos quase toda a economia industrial vai se fechando, não mais montagem, a produção é pouca, existe uma economia de serviços, a propriedade intelectual é controlada; é uma economia de renda, é uma economia onde a maior parte do consumo é produzido na China.”

“…a economia dos Estados Unidos é maior do que a chinesa; porém é uma economia maior do que a chinesa, mas não produz, e o PIB é, como sabemos perfeitamente, é um  medidor do valor acrescentado, o fato é que nos Estados Unidos grande parte do PIB é resultado da importação de procedência chinesa.

“O mecanismo é muito simples: importas uma camisa produzida — estou mencionando preços que se correspondem mais ou menos com o real —, uma dúzia de camisas de boa qualidade são 36 dólares. Esses são dados dos anos noventa, agora é menor. […] uma boa camisa custa três dólares na fábrica; chega aos Estados Unidos e custa 30, 40, 50, e qual o aumento do PIB dos Estados Unidos?  É trinta menos três, são 27 dólares que se acrescentam ao PIB sem produção […] Pode existir crescimento sem produção, porque é a característica de um Estado de uma economia imperial onde a produção tem lugar em suas colônias ou em suas  semicolônias.”

“…a ficção dessa primeira economia mundial está baseada no fato do poder militar […] isso é o principal. […] As forças produtivas dos Estados Unidos são débeis demais e podemos constatá-lo nas bancarrotas de empresas, no desemprego, et cétera.”

“Um estudante.-  …gostaria de reconhecer sua postura, para nós é pouco usual ver alguém de sua procedência criticar com tanta força o sistema capitalista como o senhor fez, acho que isso é algo que leva um reconhecimento implícito.”

“Desde a postura marxista se crê que é uma crise sistêmica e não conjuntural.”

“ Segundo a sua opinião qual seria a capacidade real da opinião  pública mundial e de esta consciência que poderia ser criada no povo norte-americano para impedir um conflito de caráter nuclear levando em conta a forte pressão que exercem os pequenos círculos de poder dos quais se fala nos últimos tempos?”

“Michel Chossudovsky.-  …é uma crise sistêmica, mas não pode ser categorizada com pautas estabelecidas em El Capital, a metodologia marxista se dá para entender, porque isso baseia-se em conflitos sociais; porém temos uma arquitetura muito diferente à existente na metade do século XIX […] como economistas não podemos formalizá-lo estritamente com um modelo, temos que ver o caráter institucional, os vínculos entre atividades financeiras por um lado, operações encobertas.”

“…A CIA é uma entidade em Wall Street, uma das principais; […] tem Joint Venture com um número importante de entidades financeiras. […] como a CIA tem a capacidade de prever os acontecimentos, pode operar no mercado especulativo…”

“…a caracterização dessa crise sistêmica é muito importante, porém temos que formalizar o funcionamento do capitalismo, seu âmbito institucional, suas entidades secretas, as operações encobertas, tanto nos mercados financeiros como no campo geopolítico, a função dos militares, as decisões nos thinks tanks de Washington, as entidades do Estado e também identificar quais os atores.”

“Acho que a segunda pergunta é bem parecida com as anteriores, a necessidade de mudar a opinião pública; contudo respondo que temos que acabar com o consenso que sustenta esse sistema que é uma mentira. […] existem diferentes linhas de conduta nos países capitalistas, gente militante que costuma dizer:  ‘vamos fazer um pedido, por favor, presidente Obama, se puder deixe de fazer a guerra ao Afeganistão’, o enviam à Internet, ‘por favor, assina, vamos a redigir uma carta ao senhor Obama, etcétera’; isso não dá, porque seria uma aceitação do consenso, uma aceitação do Presidente que é um dos fatores, e temos que acabar com essa inquisição.”

“…fala-se da Inquisição espanhola, historicamente era uma coisa completamente louca; mas é ainda mais alucinante dizer: estamos combatendo Bin Laden e tem que nos apoiar e se não o faz você é terrorista.”

“Há duas semanas o FBI invadiu a residência e prendeu militantes anti-guerreristas e acusou-os de estar a trabalhar com  Bin Laden. Aparece nos jornais dos Estados Unidos, e em fim, é um bocado a dinâmica de fazer com que mude a opinião pública, é uma dialética, temos que reverter e acabar com o discurso que sustenta e dá legitimidade à guerra e ao projeto.  E a mentira, por exemplo, a dizer:  A crise acabou.”

“Tu lês o Wald Street Journal, lês o diário e diz:  ‘A crise acaba em janeiro de 2011’, ninguém lhe responde, e os economistas tampouco.  Esse ritual de aceitar, porque a gente não aceita por falta de conhecimento, aceita-o porque é algo que todos aceitam e temos que destruir esse ritual de aceitação do consenso  vindo do poder político e também dos mercados financeiros.”

Uma estudante.-  Um desenvolvimento sustentável, que para mim é totalmente incompatível com a guerra, porque não há nada mais destruidor de toda a humanidade que todas as últimas, não a que pode se desencadear, senão todas as últimas levadas a cabo pelos Estados Unidos.”  

“…insistem-nos em que tem que haver um desenvolvimento humano, que deve os ser ainda mais protagonistas nas localidades, nos territórios.  Estou com vontade de conhecer sua valoração sobre este discurso, quão objetivo é para nossos países?”

Michel Chossudovsky.-  Concordo com o objetivo real do desenvolvimento sustentável, não obstante temos que ver um pouco o jogo de palavras detrás desse objetivo.  Esse objetivo foi formulado por umas quantas organizações do meio ambiente, como Greenpeace, WWF, […] não estou criticando estas organizações, mas se vocês vêem as várias cimeiras realizadas no âmbito meio ambiente, o Fórum Social Mundial, as cimeiras populares do G-7, por exemplo, do G-20, quase nunca fala-se do impacto da guerra sobre o meio ambiente; eles apresentam seus trabalhos, a poluição na cidade, o aquecimento do planeta, porém no que diz respeito a estas cimeiras, as ONG do Ocidente não falam da guerra e não falam do impacto da guerra sobre o meio ambiente, algo que é fundamental.”

“Participei das cimeiras sociais até 1999, e a partir do momento em que falei da guerra da Iugoslávia não fui convidado de novo. Será possível falar da guerra num workshop, em um lugar qualquer, e a guerra não fazer parte do debate sobre ‘Outro mundo é possível’; não, este mundialismo que tem caracterizado os movimentos sociais, não os critico, acho que em estes grupos existe gente muito boa, porém há uma dinâmica e também na cúspide de estas organizações algo que não se corresponde. […] não podemos ter um movimento anti-globalização focalizando apenas alguns aspectos, sem levar em conta o quadro geopolítico […] os Estados Unidos e seus aliados... em guerra durante grande parte de uma época, que chamamos o período da pós-guerra, quer dizer, o último meio século, está caracterizado por operações militares, guerras, intervenções por parte dos Estados Unidos e seus aliados, e isto, segundo a minha experiência, não tem sido motivo de debate e intercâmbio nos diferentes fóruns mundiais onde o desenvolvimento sustentável é apresentado como uma linha de conduta.”

Com estas palavras concluiu sua intervenção na Universidade de Havana, que foi entusiasticamente aplaudida pelos estudantes da escola de Economia, seus professores e outras pessoas que encheram o teatro “Manuel Sanguily” esse día.

Ainda antes de algum encontro meu com o professor Chossudovsky, teve lugar de maneira espontânea uma grande coincidência, relacionada não só com os riscos de um conflito que, de forma inevitável, viraria em contenda nuclear global, mas também na necessidade de mobilizar a opinião mundial perante esse dramático perigo.

Além das armas nucleares, estão as armas cibernéticas. Outro fruto da tecnologia que, transferida à esfera militar, ameaça em se converter em mais outro grave problema para o mundo.

As Forças Armadas dos Estados Unidos possuem por volta de 15 mil redes de comunicação e sete milhões de computadores, como foi informado pela jornalista Rosa Miriam Elizalde no sítio web CubaDebate.

Também expressou que “Keith Alexander ― general de quatro estrelas ―, quem comparou os ataques cibernéticos com as armas de destruição em massa, asseverou que os Estados Unidos prevêem a aplicação ofensiva de este novo conceito de guerra sem levar em conta a opinião de seus aliados no mundo. Inclusive, poderiam atacar redes aliadas sem alerta prévia, se consideram que de alguma delas poderia ser gerado ou foi gerado um ataque.”

Rogo aos leitores que me desculpem pelo extenso das duas partes desta Reflexão. Não havia outra forma de fazê-la mais breve sem sacrificar o conteúdo.

Permitam-me expressar, não me esqueci que hoje se comemora o 43º aniversário da morte do Che, e há dois dias o 34º do brutal assassinato ianque dos compatriotas cubanos e de outros passageiros de nosso avião civil em Barbados.

Glória eterna para eles!

 

Fidel Castro Ruz

8 de Outubro de 2010

20h35